sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Resenha 616: Inumanos nos Cinemas



Depois de um período de antecipação ao lançamento bem conturbado, finalmente chegamos ao dia em que Inumanos chega aos cinemas. E o que tudo mundo deve estar se perguntando antes de ir ao cinema é, eu devo gastar uma entrada (geralmente cara) de cinema com tecnologia IMAX para ver algo que não é exatamente um filme, mas o início de uma série de TV que todo mundo está pondo em cheque. Bem, vamos tentar responder isso de um jeito mais elucubrado a seguir:

O problema mais grave de Inumanos certamente vem antes mesmo de você sentar na sala do cinema com sua pipoca. A série que instigou a curiosidade de todo mundo assim que foi anunciada no começo do ano, acabou no decorrer do caminho se vendendo muito mal. O andamento da produção parecia estar guardando um segredo com sete chaves, querendo revelar pouco, mas deixando transparecer que as coisas ainda estavam se formando quando o elenco principal ainda estava sendo anunciado faltando seis meses para a estreia. Até aí, se especulava que seus nomes estavam já escalados muito antes, mas só foram revelados ali de uma maneira arbitrária cuja a razão desconhecíamos. Foi então que veio a primeira foto de divulgação oficial, um fiasco assim que caiu nos olhos do público. Seguiu-se com um trailer que custou a sair por vias oficiais e que parecia primário demais. O resto da história vocês conhecem bem, fizeram parte dela inclusive.

O curioso é que com o volume das críticas surgindo, o pessoal da produção, principalmente o dirigente-mor da Marvel TV, Jeph Loeb, parecia não só não aceitar os comentários, mas custava a entender o porquê da enxurrada de dedos apontados para eles. Afinal, era uma produção de alto custo, filmada com câmeras IMAX de qualidade de cinema, e os efeitos especiais foram melhorando e melhorando a cada nova 'footage', algo raramente visto na TV. Só que a única coisa que faltou foi preparar o público para o fato de que mesmo com tudo isso, a alma de Inumanos era ainda a de um seriado como todos os outros que são feitos para você assistir em casa.

Mesmo sendo levada aos cinemas e adaptados seus dois primeiros capítulos para virar um produto só, a história criada para essa "estreia" de Inumanos nem de longe tem uma estrutura de filme. Com o passar dos minutos e o ritmo que segue a narrativa, dá pra perceber que tudo que você verá nos cinemas é o que poderia ser um grande primeiro ato se aquilo fosse um filme. Temos cerca de uma hora e meia em que é preciso não só apresentar sete personagens principais, um cachorro gigante, o contexto de uma cidade alienígena que vai saber como foi parar na Lua e toda uma estrutura da sociedade Inumana. Isso, claro, contando que você subtenda que o público que vai aos cinemas deve conhecer a outra série da ABC "Agentes da SHIELD" e esteja familiarizado com a própria palavra "Inumano".



Para os que desconhecem os personagens, imagino que corra o risco de ter saído do cinema um pouco perdido em entender qual a função de cada um ali na história. Mas partindo do princípio que você já tenha uma noção básica das relações da família real inumana, até que dá pra se divertir bastante com as novas interpretações das personalidades e demonstrações dos poderes de Gorgon, Karnak e Crystalis. Serida Swan como medusa não compromete a personagem, mas não é nada excepcional. Os problemas com o cabelo que tanto foi criticado nos trailers, sinceramente não chega a incomodar tanto (ou talvez eu tenha me acostumado). Já Anson Mount como Raio Negro parece se encaixar muito bem. O trabalho com a linguagem de sinais ficou bacana e suas expressões confusas no momento em que pisa na terra e convive com os humanos são divertidíssimas. Já Iwan Rheon como Maximus tem tanta eloquência que não duvido que poderá acabar confundindo o público ao fazê-los acreditar que ele é o protagonista. E talvez essa seja a intenção em Inumanos.

Diferente do que acontece em Agentes da SHIELD, os Inumanos aqui não são apenas pessoas randômicas com poderes que são imcompreendidas e perseguidas. Dentro da redoma escondida na Lua, ter os poderes certos é ter um melhor status e dependendo de como eles se manifestam, sua vida vai estar marcada para sempre. É aquilo que já conhecemos nos quadrinhos e que foi retratado muito bem no filme em uma cena bacana da transformação de dois jovens pelo ritual da Terrígenese. Quem leu a minissérie de Paul Jenkins e Jae lee, certamente reconheceu alguns pontos nesta cena e pode até extrapolar acontecimentos futuros da série com base nela.



Maximus é vítima desse sistema de castas. Para a adaptação do UCM, ele é alguém que - aparentemente, vamos deixar isso marcado bem aqui - nasceu sem qualquer poderes. Ele é chamado até mesmo de "apenas um humano" e olhado com aversão por muitos, até mesmo parentes. Se não fosse irmão do Rei, certamente seria enquadrado para trabalhar na pior posição de Attilan, nas minas. Ele mais do que qualquer um ali sabe o que é sofrer por não ter uma "boa estirpe de seus dons". E ciente dessa insatisfação que não é só sua, ele aos poucos intoxica outros inumanos da baixa casta reclamando do rigor do sistema que são submetidos. Ele notoriamente ocupa o papel de "Príncipe dos Pobres" e vai ressoar no brios da população para que ela esteja ao seu lado.

Mas há algo mais que incomoda recentemente o reino de Attilan. Mandado para entender melhor um "vazamento" de terrígenese na Terra (ver o final da segunda temporada de Agentes da SHIELD), o primo Tritão desaparece em ação. Raio Negro então é obrigado a revelar a verdade, que andou espionando a terra para achar esses descedentes perdidos com o gene Inumano e quem sabe trazê-los para viver com eles. Maximus discorda diametralmente da ideia, afirmando que Attilan sequer tem condições de suportar bem todos os que já estão lá e na verdade conclama que eles tomem a Terra para si e busquem melhores condições para viver. Esse é talvez o estopim final para o rompimento dos dois irmãos e que desencandeie o golpe que Maximus certamente já estava planejando a tempos.



Daí, vou deixar para vocês acompanharem - seja no cinema ou na TV - o desenrolar da ação e as cenas de fuga da família real com a ajuda providencial de Dentinho, e a chegada complicada dos Inumanos na pequena ilha da Terra chamada Havaí. O que posso adiantar é que em separado cada membro da família real vai ter uma perda e certamente vão ser colocados a prova. Como foi prometido pelo produtor, de alguma maneira todos os protagonistas usam seus poderes (e eu particularmente gostei da retratação dos dons de Karnak). Há também algumas pequenas participações de outros inumanos cujos nomes serão familiares aos leitores.

No fim, o que acabou faltando nessa estreia de Inumanos nos cinemas foi ousadia. Para algo que se comprometia de ter o peso de uma qualidade IMAX, visualmente a série só se empenha no que eu acho que pode ser definido como o primeiro capítulo. Attilan até que é parcialmente mostrada, tentando linkar visualmente com elementos de escritas que já vimos em Agentes da SHIELD. Contudo, o figurino é pobre, seja pra figurantes ou membros da família real. Para representar uma sociedade tão destoada da nossa, acho estranho usarem objetos como copos de vidro tão comuns e aparelhos de barbear tão iguais ao que você encontra em qualquer cabelereiro e coisas deste tipo.

Colocando na balança, o que posso dizer é que como proposta que o IMAX tinha de levar um produto diferenciado aos cinemas, Inumanos falhou miseravelmente. Ainda assim como série da ABC, eu ainda vejo algum potencial a ser explorado. Certamente, vou dar meu voto de confiança pra acompanhar os oito episódios e ver se eu confirmo algumas suspeitas quanto aos planos de Maximus. Fora que é algo bem assistível, não chega a doer e nem desonrar os personagens.

Coveiro

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