quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

X-Men: Divididos Lutaremos - No Direction Home

Ao trágico fim da saga Complexo de Messias, os X-Men foram debandados pelo líder Ciclope e seus integrantes seguiram rumos diferentes. Está achando o assunto um pouco ultrapassado? E com razão. Graças a um vacilo da Panini, a série de histórias especiais que mostra o destino de alguns mutantes após o fim dos X-Men não chegou aqui no momento cronológico devido, sendo que apenas a primeira delas, protagonizada pelo Míssil, deu as caras meses atrás. Mesmo perdendo um pouco do impacto que teriam no momento certo, mais destes breves contos chegam a nós. Em X-Men 97, temos três deles, protagonizados por diferentes integrantes de um dos maiores acertos da história recente dos Filhos do Átomo: os Novos X-Men. Confira abaixo.

Divided We Stand capa

Lar
(Escrita por Craig Kyle e Chris Yost e ilustrada por Sana Takeda)

Nehzno, que até três dias atrás era aluno do Instituto Xavier, está voltando para casa, em seu país natal, Wakanda, acompanhado da rainha da nação e sua companheira de equipe nos X-Men, a Tempestade. Em seus pensamentos, ele conta que as condições na escola eram inaceitáveis, seus colegas eram desorganizados e caóticos, enquanto ele precisa de ordem. Seu dever era representar seu país adequadamente, mas os X-Men quase o destruíram com sua insanidade. Ele quase morreu no instituto, e ainda pode morrer agora. Mas pelo menos estará cercado por seu próprio povo.

O rei T’Challa, também conhecido como Pantera Negra, o recebe em praça pública. O jovem agradece, meio sem jeito, pelo transporte, e o soberano explica que ele está sob custódia da família real, e é responsabilidade dele – afirmando ainda que o país estava incompleto sem ele. T’Challa precisa ordenar que o povo saúde o recém-chegado, e diz a Nehzno que é difícil mudar velhos costumes, mas que ele é wakandano aos olhos do rei.

Divided We Stand 1

Em seguida, o médico do Pantera Negra examina o jovem mutante, e conta que sua situação piorou durante a estada fora do país (lembrando que a força de Nehzno aumenta constantemente, além do que seu corpo pode suportar, o que provavelmente lhe dará uma morte prematura). O mutante conta que aprendeu técnicas de meditação e controle com os X-Men, mas foi forçado a usar seus poderes em situações críticas. Segundo o doutor, que diz que o pai russo de Nehzno não o ajudou em nada lhe transmitindo o gene mutante, ele precisará de mais tatuagens.

Enquanto tais tatuagens são feitas, Nehzno explica que esta é uma técnica antiga usada para eliminar espasmos e sintomas similares, onde vibranium puro é aplicado à pele. Normalmente é temporário, mas sua mutação funde o metal a sua epiderme e músculos, o que o xamã acredita ser um sinal divido. Esta é a única coisa que consegue conter sua força, mas até isso está começando a falhar.

Divided We Stand 2

O tempo passa, e a solidão proporcionada por seu povo o ajuda a manter o controle de seu corpo e mente. Enquanto senta à mesa de um restaurante, a primeira pessoa a falar com Nehzno desde que chegou ali é uma criança, um menino que quer entender o porquê dele estar pintado daquele jeito. Mas a mãe do garoto logo ordena do outro lado da rua que este volte para ela imediatamente. Ao obedecer, ele fica na rota de um caminhão em alta velocidade. Nehzno o salva, e a mãe ordena que ele solte seu filho. O mutante logo percebe que aquela também é sua mãe. Ela apenas diz que ele não deveria ter voltado, e que nem o menino que acabara de conhecer nem ela são nada dele.

Sentado na varanda, à noite, o jovem explica que os Homo superior são conhecidos e aceitos em Wakanda, ao contrário dos estrangeiros. Por seu pai ter vindo de outro lugar, Nehzno nunca será aceito por seus compatriotas, nem mesmo por sua mãe. Já aqueles que o aceitaram e queriam sua presença, seus colegas da Mansão Xavier, foram rejeitados por ele, que agora sente falta de suas interrupções e assuntos inúteis. Mas os X-Men não existem mais, e ele está ali... em casa.

Divided We Stand 3

Se Enturmando
(Escrita e ilustrada por Skottie Young)

Enquanto um mutante corre em alta velocidade e comunica a Scott Summers que está quase chegando a seu destino, o narrador conta como é engraçado o que é dito aos pais de jovens mutantes pelos representantes do Instituto X quando lhes mostram o panfleto da escola, usando adjetivos como “talentoso”, “especial” e “extraordinário” para descrever os filhos deles, deixando-os mais tranqüilos com a complicada situação de serem pais de jovens Homo superior, que agora poderão estudar e viver em uma escola tão bela e gratuita. Então, você se vê morando na lendária Mansão Xavier, onde te fazem acreditar que você será um deles, que faz diferença e que todos estão sendo treinados para serem iguais. As palavras “desvantagem”, “perigoso” e “dispensável” parecem mais adequadas ao nosso protagonista, quando ele relembra que metade de seus colegas foi morta, a outra metade passou uma temporada literal no Inferno e, quem sobrou, foi caçado pelo que define como um tipo de rinoceronte cromado e um exército saído de O Código Da Vinci. Depois disso, os X-Men acabam, subitamente. Seu líder é tão centrado em si mesmo que decidiu acabar com tudo, achando que seria mais fácil para estes jovens voltarem para casa...

Divided We Stand 4

Com a imagem acima, Anole nos é revelado como o autor do monólogo que narra a história, e o Estrela Polar como aquele que corria a seu encontro. O canadense não é bem-recebido, quando Victor relembra seu último encontro, quando foi atacado pelo zumbificado ex-professor. Jean-Paul explica que, após os três meses passados desde o fim da equipe, seus colegas estão preocupados com a falta de notícias sobre Anole, e por isso foi enviado ali. Ele ainda tenta se aproximar com piadinhas sobre um suposto envolvimento amoroso do jovem com o Pedreira, mas Victor não está para brincadeiras, e não quer ser procurado por ninguém, afirmando que, mesmo se alguém voltar ali atrás dele, será em vão, pois está de partida. Para onde ele iria com dezesseis anos de idade é o que o Estrela Polar questiona, tentando confortar o jovem com típicos conselhos sobre a dificuldade em fazer parte de minorias, sendo que os dois, além de mutantes, ainda são gays.

Mas não se trata de nada disso, Anole explica, ele é aceito como é ali. Todos se alegraram com sua volta, quase organizando em desfile em praça pública. Problema não são os outros, é ele mesmo. Dizendo que Jean-Paul e os demais não fazem idéia do que está errado, Victor conta que chegou pretensioso na escola de sua cidade, como aqueles caipiras poderiam competir com alguém que andava com X-Men? Mas logo se abateu, notando que estava atrasado nos estudos. Afinal, sua escola passava metade do ano sendo reconstruída após explosões e ataques.

Seus pais logo começaram a agir como se ele nunca tivesse partido, como uma família feliz e normal. Numa excelente cena em flashback, o pai de Victor se despede da família, a caminho do trabalho, e acaba deixando sua caneca de café cair no chão. Ao ouvir o barulho inesperado, o filho salta instintivamente, de forma agressiva, e o estrangula contra a parede, se desculpando de um jeito assustado em seguida.

Divided We Stand 5

Anole explica ao Estrela Polar que não é mais o filho de que eles se lembravam. Quando saiu dali, era mutante, mas agora ele é diferente. E aí está o que os X-Men não entendem: eles eram, e são, crianças. Deveriam estar fazendo o que as pessoas de sua idade fazem, não enfrentando o demônio em pessoa. O grupo de heróis tirou a “normalidade” deles, e eles deixaram, por não conhecerem as implicações do que faziam, devido justamente à inocência da idade. Eles eram crianças que adoravam os X-Men, e eles os acolheram, modificaram, transformando no que precisavam e dispensaram no fim de tudo. Victor simplesmente não pertence mais àquele lugar.

Jean-Paul pergunta sobre a casa na árvore em que se encontram, e Victor conta que aquele é o primeiro lugar onde seus pais o procurarão, quando perceberem que sumiu. Quando era criança e fingia ser um x-man, aquela era sua Mansão X. Ironizando o fato de as coisas não serem como vemos na infância, Anole se despede do Estrela Polar com um violento golpe no rosto e o manda dizer a todos para que fiquem longe, pois está cheio de cada um deles. O que ele deixa para trás é um lagarto de pelúcia com um bilhete aos pais onde diz apenas que sente muito e os ama.

Divided We Stand 6

Afiliação
(Escrita por Chris Yost e desenhada por David LaFuente)

Sentado à mesa de um café, Julian Keller, o Satânico, conta a um interlocutor misterioso que não existem mais X-Men, e que o nascimento da primeira mutante após o Dia M devera trazer esperança, mas só jogou tudo no inferno. Seu grupo, os alunos, foi atrás dos Purificadores, sob pretexto de salvar a bebê, mas todos sabiam que estavam ali por vingança. Eles lutaram as batalhas dos X-Men, e ele pagou caro por isso, relembrando os graves ferimentos que sofreu graças à Lady Letal, na referida missão. Ferimento responsável pelo estado de coma do qual só saiu depois de resolvida a situação da messias, acordando em um quarto de hotel, onde Emma Frost o aguardava com a bombástica notícia sobre o fim da equipe. Chocado, ele pergunta sobre o paradeiro de alguns dos seus amigos, que ele crê que não o abandonariam. Mas Frost apenas o põe para dormir e desaparece.

Divided We Stand 7

Depois disso, foi procurar seus pais, algo que o grupo e Ciclope provavelmente já havia feito. Eles venderam a casa e desapareceram, preferindo isto a aceitar o filho de volta. Seu hotel e despesas estão garantidos pelo dinheiro do Anjo, mas sua vida foi jogada fora, os X-Men o abandonaram. Sendo assim, “pro inferno com eles” é a resolução de Julian.

Então, o Satânico conta ao homem que sempre soube que eles estava por aí em algum lugar, observando, e que voltaria em algum momento. Por isso, resolveu procurar. Ele afirma que os heróis cometeram um grande erro, pois ele é agora um dos mutantes mais poderosos do planeta, e aquele com quem conversa precisa de seu poder, precisa dele.

Mas o homem com quem fala, ninguém menos que Magneto, lhe explica que não é bem assim. Ele compara Julian a seu filho, em sua arrogância e desespero por aprovação. Só que não foi o Satânico quem o encontrou, e Erik explica que não é pai dele, e nem é mais um professor. Keller se enfurece, dizendo que Magneto deve é estar assustado, agora que é só um velhote sem poderes. Agora que ouviu a opinião do jovem, o antigo Mestre do Magnetismo dá a sua própria opinião.

Divided We Stand 8

Em sua visão, tudo o que Julian penso que fosse acabou. O que lhe resta agora é o fato de que, um dia, foi x-man. Todos à sua volta morreram ou o abandonaram. Sua crenças foram abaladas, e os X-Men falharam com ele. Então, ele foi atrás de Magneto, o maior inimigo do grupo. Keller ama tanto a equipe de Xavier que, devido à decepção sofrida, quer feri-los. Mas Lensherr não vai usá-lo ou matá-lo, pois ele é um dos poucos mutantes que restam. Ele finaliza afirmando que Ciclope deu um presente ao jovem: tempo. Que ele deve aproveitar, pois, em breve, os Homo superior voltarão a entrar em guerra, e esta guerra os consumirá...

Divided We Stand 9

Por enquanto, é só. A grande surpresa aqui foi a qualidade do texto de Skottie Young, que eu só conhecia como desenhista e que, neste caso isolado, chegou a me agradar mais que o de Kyle e Yost, pela temática crítica e realista de sua história. Fora que é sempre bom para nós, fãs dos Novos X-Men, vê-los nas mãos daqueles que os consagraram. Agora, é torcer para a nossa editora compatriota finalizar a série de especiais. Só posso dizer que ainda restam histórias com protagonistas promissores e até surpreendentes e que, mesmo curtas, estão longe de serem inúteis. O erro cronológico já foi cometido, agora é esperar para que seja ao menos remendado. Como dizem, antes tarde do que nunca.

*Título do artigo baseado no do documentário No Direction Home, de Martin Scorcese, e nos versos de Bob Dylan, tema de tal documentário.

Léo

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