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Nesta semana, a Marvel passou por um momento histórico: O
primeiro casamento gay numa revista de super-heróis. Em Astonishing X-Men #51, o
maior ícone gay dos quadrinhos de heróis, o Estrela Polar, casou-se com Kyle
Jinadu, que é seu namorado nas histórias já há alguns anos. O casamento amplifica
a visibilidade e atrai atenção para a questão, que ganha cada vez mais
importância, dentro e fora do mundo dos quadrinhos.
Amanhã, dia 24 de junho, completa-se um ano desde que o
Estado de Nova York legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Recentemente,
o presidente dos EUA Barack Obama fez um pronunciamento apoiando o casamento
gay. Scott Everhard, de 39 anos, gerente de um site de assistência médica em
Ohio pensa que os quadrinhos estão refletindo a importância do assunto nos
Estados Unidos.
Está se perguntando quem é esse cara? Então, nesta
quarta-feira, dia 20, dia do lançamento de Astonishing X-Men 51, Scott e o
arquiteto Jason Welker, de 33 anos, se casaram na loja de revistas em
quadrinhos Midtown Comics.
A festa teve decoração temática e até uma banda tocando
canções como “Spider-Man”, na versão dos Ramones e “Iron Man” do Black Sabbath.
O casal, na verdade, respondeu a um anúncio da Marvel, que estava procurando um
casal homossexual que quisesse oficializar sua união dessa forma.
Scott contou que lê gibis desde os 18 anos e que um dos
primeiros encontros que teve com Jason foi numa loja de quadrinhos, para ver o
que ele pensava desse mundo, conforme noticiado
pelo site da Uol.
A Marvel sempre foi uma
editora ousada que, mesmo dentro de seus padrões comerciais, tomou decisões
corajosas e possivelmente polêmicas, mostrando que o mundo, ou mesmo os Estados
Unidos, são se resumem a cristãos brancos e heterossexuais. Desde o fim dos
anos 60, com a ascensão do Pantera Negra, não apenas um herói negro, mas um rei
africano, a editora veio gradativamente introduzindo personagens de diversas
etnias, credos e sim, orientações sexuais.
No caso da
homossexualidade, até meados dos anos 80, era proibida pelo código dos
quadrinhos e pressões políticas, a existência de um herói gay. John Byrne, um
dos grandes mestres criadores da Marvel e escritor da Tropa Alfa, já falou
abertamente sobre sua intenção desde o começo de criar o Estrela Polar como um
personagem gay. Porém, eram os anos 70 e a falta de interesse por mulheres de Jean
Paul era atribuída à sua grande dedicação aos esportes, como esquiador.
Durante quase duas décadas,
a questão da homossexualidade do herói canadense ficou subentendida, com
piadinhas e pequenas dicas. Ela quase foi revelada em 1987, quando uma história
onde o Estrela teria contraído AIDS foi montada por Bill Mantlo, mas abandonada
na última hora por pressões editoriais. Até que, em 92, Jean Paul adotou uma
recém-nascida infectada pelo HIV que logo morrera e revelou publicamente que
era gay numa tentativa de fazer a mídia de interessar mais pelo assunto da AIDS
e levantar a discussão, já que até então a doença era vista como um mal mais
próximo aos homossexuais. Para saber mais sobre essa história toda, confira meu
Em Foco sobre a AIDS e os super-heróis de dezembro passado.
O Estrela Polar, desde
então, é o personagem que melhor representa a homossexualidade nos quadrinhos. O
casamento de Jean Paul Beaubier e Kyle Jinadu foi celebrado no Central Park, em
Nova York, estado no qual o Estrela Polar recentemente voltou a morar. Isso nos
leva a crer que não apenas a data, mas também a localidade foi escolhida a
dedo.
Outro acerto de escolha
foi a revista na qual o casamento aconteceu, a dos X-Men. Poderíamos até dizer
que isso deve-se ao fato de que é a essa equipe que o Estrela pertence, mas
isso também não tem cara de coincidência.
X-Men sempre tratou da
temática do preconceito, de pessoas que nasceram diferentes e só querem viver
normalmente e fazer o bem, mas são constantemente perseguidas por grupos
políticos e religiosos que os acusam de serem abominações. Seu slogan antigo
era “os mais estranhos super-heróis de todos”. Temidos e odiados por um mundo
que juraram proteger, os pupilos de Xavier foram os primeiros, em 1975, a terem
um grupo com grande diversidade étnica e internacional. Constantemente, em suas
histórias, tocaram no assunto do preconceito e de como ele pode ser algo
destrutivo e sem sentido.
Há poucos anos, os X-Men
mudaram-se para São Francisco, cidade que tem uma história forte na aceitação e
luta pelos direitos homossexuais. Lá, os mutantes foram recebidos de braços
abertos e encontraram uma luz em tempos sombrios. As adversidades derivadas do
preconceito e perseguição social que eles sofreram lá remetem bastante a fatos
ocorridos no mundo real, com a luta dos gays por seus direitos civis nos anos
70. Recomendo altamente para os interessados o filme Milk: A Voz da Igualdade,
protagonizado pelo excelente Sean Penn, que fala justamente sobre isso.
A história que mostra a união em si foi muito bem conduzida pela escritora Marjorie Liu e mostra de forma realista a questão do casamento gay. Em meio aos preparativos, uma recente companheira de equipe de Jean Paul, a alienígena Warbird, diz a ele que não irá à cerimônia porque não reconhece a validade dos votos e, embora não esteja feliz em dizer isso, sua presença seria uma mentira.
Dois amigos de longa data
do Estrela, Pigmeu e Destrutor, conversam sobre a questão e admitem que estão
felizes pelos noivos, mas ainda veem o assunto com certa estranheza, do tipo “o
que minha avó iria pensar?”. Outro
momento interessante é o de Vampira pensando nas suas mães, Mística e Sina, em
como seria se elas tivessem se casado e se isso teria feito diferença.
Os pais de Kyle estão
presentes e orgulhosos, embora entranhando um pouco não a homossexualidade, mas
o fato de que o filho está casando em meio a uma horda de pessoas
super-poderosas e questionam sobre essa diferença entre ele o noivo. Outro
ponto de vista interessante sobre a questão.
Um pouco antes do início
da cerimônia o casal se encontra e brinca sobre a tradição de que o noivo não
poderia ver a noiva antes do casamento e sobre qual dos dois deveria se
preocupar com isso. Quando sobem ao altar, Jean Paul comenta que há alguns
acentos vazios, que não importam, segundo Kyle.
O casamento é realizado e
o casal se beija.
Recentemente, a DC Comics
anunciou que em seu novo universo o Lanterna Verde é gay. Somado ao casamento
do Estrela Polar, podemos ver que a questão está realmente em alta no mundo dos
quadrinhos. Embora a existência de personagens de certo destaque e casais gay
não seja novidade nas histórias, a visibilidade que eles estão ganhando é, de
fato, inédita.
No caso da Marvel, o casamento foi muito bem feito, de forma natural , realista e nada forçada, já que o Estrela Polar é o maior exemplo de super-herói gay e seu agora marido Kyle já existe nas histórias há algum tempo.
Sobre o casamento e a
visibilidade de personagens homossexuais nos quadrinhos, o recém-casado Scott
Everhard disse que “isso mostra que existe uma juventude lá fora que é como
eles. Talvez em uma cidade pequena, essas crianças possam se identificar não só
conosco, mas com esses personagens. O mundo de X-Men, o universo que a Marvel
criou, mostra todos os tipos, independente se eles são gays, hetero ou
homossexuais, sua orientação ou cor”.
De fato, a Marvel está
pensando na importância social do seu trabalho, inclusive já tendo feito há
pouco tempo uma edição de Geração Esperança que lida com a questão do suicídio
de adolescentes homossexuais nos Estados Unidos. Como leitor, fico satisfeito
com o realismo e a mentalidade colocados na história, provando que os criadores
não veem as questões essenciais dos X-Men como simples pano de fundo para
ficção científica.
Léo