sábado, 23 de junho de 2012

Em Foco: Os Mais Estranhos Super-Heróis de Todos?

Atenção! (Algumas) informações inéditas no Brasil!


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 Nesta semana, a Marvel passou por um momento histórico: O primeiro casamento gay numa revista de super-heróis. Em Astonishing X-Men #51, o maior ícone gay dos quadrinhos de heróis, o Estrela Polar, casou-se com Kyle Jinadu, que é seu namorado nas histórias já há alguns anos. O casamento amplifica a visibilidade e atrai atenção para a questão, que ganha cada vez mais importância, dentro e fora do mundo dos quadrinhos.

Amanhã, dia 24 de junho, completa-se um ano desde que o Estado de Nova York legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Recentemente, o presidente dos EUA Barack Obama fez um pronunciamento apoiando o casamento gay. Scott Everhard, de 39 anos, gerente de um site de assistência médica em Ohio pensa que os quadrinhos estão refletindo a importância do assunto nos Estados Unidos.

Está se perguntando quem é esse cara? Então, nesta quarta-feira, dia 20, dia do lançamento de Astonishing X-Men 51, Scott e o arquiteto Jason Welker, de 33 anos, se casaram na loja de revistas em quadrinhos Midtown Comics.


A festa teve decoração temática e até uma banda tocando canções como “Spider-Man”, na versão dos Ramones e “Iron Man” do Black Sabbath. O casal, na verdade, respondeu a um anúncio da Marvel, que estava procurando um casal homossexual que quisesse oficializar sua união dessa forma.

Scott contou que lê gibis desde os 18 anos e que um dos primeiros encontros que teve com Jason foi numa loja de quadrinhos, para ver o que ele pensava desse mundo, conforme noticiado pelo site da Uol.


A Marvel sempre foi uma editora ousada que, mesmo dentro de seus padrões comerciais, tomou decisões corajosas e possivelmente polêmicas, mostrando que o mundo, ou mesmo os Estados Unidos, são se resumem a cristãos brancos e heterossexuais. Desde o fim dos anos 60, com a ascensão do Pantera Negra, não apenas um herói negro, mas um rei africano, a editora veio gradativamente introduzindo personagens de diversas etnias, credos e sim, orientações sexuais.

No caso da homossexualidade, até meados dos anos 80, era proibida pelo código dos quadrinhos e pressões políticas, a existência de um herói gay. John Byrne, um dos grandes mestres criadores da Marvel e escritor da Tropa Alfa, já falou abertamente sobre sua intenção desde o começo de criar o Estrela Polar como um personagem gay. Porém, eram os anos 70 e a falta de interesse por mulheres de Jean Paul era atribuída à sua grande dedicação aos esportes, como esquiador.



Durante quase duas décadas, a questão da homossexualidade do herói canadense ficou subentendida, com piadinhas e pequenas dicas. Ela quase foi revelada em 1987, quando uma história onde o Estrela teria contraído AIDS foi montada por Bill Mantlo, mas abandonada na última hora por pressões editoriais. Até que, em 92, Jean Paul adotou uma recém-nascida infectada pelo HIV que logo morrera e revelou publicamente que era gay numa tentativa de fazer a mídia de interessar mais pelo assunto da AIDS e levantar a discussão, já que até então a doença era vista como um mal mais próximo aos homossexuais. Para saber mais sobre essa história toda, confira meu Em Foco sobre a AIDS e os super-heróis de dezembro passado.

O Estrela Polar, desde então, é o personagem que melhor representa a homossexualidade nos quadrinhos. O casamento de Jean Paul Beaubier e Kyle Jinadu foi celebrado no Central Park, em Nova York, estado no qual o Estrela Polar recentemente voltou a morar. Isso nos leva a crer que não apenas a data, mas também a localidade foi escolhida a dedo.

Outro acerto de escolha foi a revista na qual o casamento aconteceu, a dos X-Men. Poderíamos até dizer que isso deve-se ao fato de que é a essa equipe que o Estrela pertence, mas isso também não tem cara de coincidência.

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X-Men sempre tratou da temática do preconceito, de pessoas que nasceram diferentes e só querem viver normalmente e fazer o bem, mas são constantemente perseguidas por grupos políticos e religiosos que os acusam de serem abominações. Seu slogan antigo era “os mais estranhos super-heróis de todos”. Temidos e odiados por um mundo que juraram proteger, os pupilos de Xavier foram os primeiros, em 1975, a terem um grupo com grande diversidade étnica e internacional. Constantemente, em suas histórias, tocaram no assunto do preconceito e de como ele pode ser algo destrutivo e sem sentido.

Há poucos anos, os X-Men mudaram-se para São Francisco, cidade que tem uma história forte na aceitação e luta pelos direitos homossexuais. Lá, os mutantes foram recebidos de braços abertos e encontraram uma luz em tempos sombrios. As adversidades derivadas do preconceito e perseguição social que eles sofreram lá remetem bastante a fatos ocorridos no mundo real, com a luta dos gays por seus direitos civis nos anos 70. Recomendo altamente para os interessados o filme Milk: A Voz da Igualdade, protagonizado pelo excelente Sean Penn, que fala justamente sobre isso.


A história que mostra a união em si foi muito bem conduzida pela escritora Marjorie Liu e mostra de forma realista a questão do casamento gay. Em meio aos preparativos, uma recente companheira de equipe de Jean Paul, a alienígena Warbird, diz a ele que não irá à cerimônia porque não reconhece a validade dos votos e, embora não esteja feliz em dizer isso, sua presença seria uma mentira.

Dois amigos de longa data do Estrela, Pigmeu e Destrutor, conversam sobre a questão e admitem que estão felizes pelos noivos, mas ainda veem o assunto com certa estranheza, do tipo “o que minha avó iria pensar?”.  Outro momento interessante é o de Vampira pensando nas suas mães, Mística e Sina, em como seria se elas tivessem se casado e se isso teria feito diferença.

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Os pais de Kyle estão presentes e orgulhosos, embora entranhando um pouco não a homossexualidade, mas o fato de que o filho está casando em meio a uma horda de pessoas super-poderosas e questionam sobre essa diferença entre ele o noivo. Outro ponto de vista interessante sobre a questão.

Um pouco antes do início da cerimônia o casal se encontra e brinca sobre a tradição de que o noivo não poderia ver a noiva antes do casamento e sobre qual dos dois deveria se preocupar com isso. Quando sobem ao altar, Jean Paul comenta que há alguns acentos vazios, que não importam, segundo Kyle.

O casamento é realizado e o casal se beija.

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Recentemente, a DC Comics anunciou que em seu novo universo o Lanterna Verde é gay. Somado ao casamento do Estrela Polar, podemos ver que a questão está realmente em alta no mundo dos quadrinhos. Embora a existência de personagens de certo destaque e casais gay não seja novidade nas histórias, a visibilidade que eles estão ganhando é, de fato, inédita.


No caso da Marvel, o casamento foi muito bem feito, de forma natural , realista e nada forçada, já que o Estrela Polar é o maior exemplo de super-herói gay e seu agora marido Kyle já existe nas histórias há algum tempo.

Sobre o casamento e a visibilidade de personagens homossexuais nos quadrinhos, o recém-casado Scott Everhard disse que “isso mostra que existe uma juventude lá fora que é como eles. Talvez em uma cidade pequena, essas crianças possam se identificar não só conosco, mas com esses personagens. O mundo de X-Men, o universo que a Marvel criou, mostra todos os tipos, independente se eles são gays, hetero ou homossexuais, sua orientação ou cor”.

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De fato, a Marvel está pensando na importância social do seu trabalho, inclusive já tendo feito há pouco tempo uma edição de Geração Esperança que lida com a questão do suicídio de adolescentes homossexuais nos Estados Unidos. Como leitor, fico satisfeito com o realismo e a mentalidade colocados na história, provando que os criadores não veem as questões essenciais dos X-Men como simples pano de fundo para ficção científica.

Léo

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