“O que aconteceria se...?” É com base em perguntas assim que a Marvel apresentou aos leitores as famosas (ou às vezes infames) realidades alternativas. Já vimos heróis conhecidos levando vidas bem diferentes das que estamos acostumados a ver, fosse na brutal Era do Apocalipse, fosse na utópica (mas nem tanto assim) Dinastia M. Desta vez, somos apresentados à Era X. Mas quem ainda não leu esta história e já pensa em julgá-la como “mais uma realidade alternativa” está bastante enganado...
Isto porque, embora A Era X apresente uma realidade diferente vivida pelos X-Men (com esse nome, quem mais vocês achavam que seria?), ela é na verdade uma história de suspense, onde segredos terríveis se escondem em cada canto e nada é o que parece ser.
Mas vamos à apresentação deste novo mundo. Pra começar, esqueçam Utopia: aqui, os mutantes vivem na Fortaleza X, último reduto da espécie. Aqui, eles também estão em extinção, mas pelo extermínio cometido pelos governos ao redor do mundo (aparentemente motivados por um surto da Fênix – sempre ela...). Aqui, não há espaço pra diplomacia: a ilha em que a Fortaleza X se encontra é diariamente atacada pelos Precursores, exércitos humanos antimutantes; todo dia é dia de guerra.
Nesse mundo, cada mutante é uma pessoa bem diferente daquela que estamos acostumados a ver. Passados diferentes, aparências diferentes, codinomes diferentes, relacionamentos diferentes e até corpos diferentes em alguns casos (Psylocke, estamos olhando pra você). A Fortaleza X é comandada por Magneto, com auxílio da inteligência artificial conhecida como X. Míssil é o líder de campo da resistência mutante, enquanto Danielle comanda o Esquadrão Moonstar, responsável por lidar com ameaças internas. Um grupo de telecinéticos compõe os Guerreiros da Força, que ao fim de todo dia erguem uma barreira telecinética ao redor da fortaleza para dificultar o ataque dos Precursores. Logan, outrora um feroz guerreiro mutante, hoje vive como um infeliz bartender após ter seu gene X neutralizado pela doutora Kavita Rao. Por fim, a solitária Legado – também chamada (contra sua vontade) como "Ceifadora" – é encarregada por absorver as memórias dos colegas que foram mortalmente feridos em combate, caso recente da corajosa Tempo.
A realidade na Era X poderia continuar assim por muito tempo, até que um dia Legado vê Katherine Pryde, fugitiva do cárcere da Fortaleza X, vindo de fora da barreira telecinética e escondendo uma câmera fotográfica entre escombros antes de ser recapturada. Ao analisar o conteúdo da câmera, Legado e o doutor Madison Jeffries encontram apenas fotos em branco. A partir daí, vários mistérios começam a surgir: o que realmente há atrás da barreira? Por que Scott Summers, o Basilisco, encontra a mesma placa de identificação em Precursores diferentes, como se fossem a mesma pessoa? O que há na sala central da Fortaleza X, que existe nas plantas do local mas onde ninguém jamais conseguiu entrar? E por que uma menina de olhos vendados está presa no cárcere e implora insistentemente para Legado perguntar pro professor sobre uma cicatriz?
Legado decide encontrar o professor, mas ao fazer isso desobedece as leis da Fortaleza X e se torna a inimiga pública número 1 do lugar. Correndo da carcereira Perigo, ela encontra uma cela com um homem sedado que nunca viu na vida – mas que de alguma forma sabe que se chama Charles Xavier. Ao tocá-lo, ela e várias pessoas na fortaleza têm suas mentes invadidas por lembranças de coisas que nunca vivenciaram – mas que sentem como se as tivessem vivido. Mas ela não tem tempo para buscar respostas, pois Magneto e X imediatamente enviam o Esquadrão Moonstar para caçá-la. Fugindo de tudo e de todos, ela encontra um aliado inesperado em Gambit, mas os dois acabam esmagados por toneladas de metal arremessadas por Magneto.
Ou assim o líder da Fortaleza X queria que todos pensassem. Na verdade, Magneto apenas os escondeu em meio aos destroços; assim como os dois, ele também tem a sensação de que algo está errado. Foi Magneto quem enviou Pryde, às escondidas de X, para investigar o que há no mundo fora da barreira telecinética; agora, ele envia Gambit e Legado para investigarem a sala central da Fortaleza X, a sala em que ninguém jamais entrou. Lá, eles encontram um homem vestido de branco congelado no tempo e uma caixa bem no meio da sala. E nela... está o universo.
Enquanto isso, X já está ciente da traição de Magneto (que liberta Pryde e Xavier do cárcere) e envia o Esquadrão Moonstar para exterminar os três. Quando o esquadrão escuta as palavras de Xavier e reluta em cumprir as ordens, os Guerreiros da Força derrotam Magneto e assumem o controle da Fortaleza X, mas também eles são convencidos por Xavier de que todos estão vivendo uma farsa. Nesse mesmo dia, os Precursores não atacam a fortaleza, para surpresa dos mutantes acostumados aos ataques rotineiros. Míssil tenta convencê-los a permanecerem em guarda, enquanto Basilisco tenta convencê-los a ouvir Xavier. Aos poucos, todos seguem Basilisco; eventualmente, até Míssil.
Mas quem está por trás da farsa? Quem alterou as vidas de todos na ilha e quem prendeu o universo numa caixa? A mãe adotiva de Legião, dos Guerreiros da Força: Moira MacTaggert é a culpada! Mas calma, esta não é realmente a Moira que conhecemos; hora do flashback: lembram-se daquela história de X-Men: Legado publicada há alguns meses, em que Doutor Nêmesis e o Professor X discutiam a ética e os efeitos colaterais causados pela iniciativa do cientista na destruição das múltiplas personalidades de Legião? Pois é, essa prática acabou gerando o que Xavier define como um “anticorpo psíquico” na mente de David Haller. Esta perigosa criatura, que devastou e tomou conta da mente de Legião, assumiu a aparência de Moira e usou os poderes de David para remodelar a realidade, criando um mundo em que ele é o grande herói de seu povo. Se os mutantes da Fortaleza X passaram por uma vida inteira de combates, na verdade tudo aconteceu em apenas sete dias.
O problema é que Moira, ou X, não quer ver seu trabalho desfeito, e envia um ataque maciço de Precursores – segundo Basilisco, cem mil para enfrentar cada mutante – para acabar com tudo e poder recomeçar a criação de seu mundo para seu filho amado. Apesar da morte iminente, toda a população da Fortaleza X luta mais unida do que nunca; até Legado e os Guerreiros da Força, normalmente poupados do campo de batalha, juntam-se à linha de frente. Mas o grande herói do dia – desta vez, de verdade – é Legião, que reabsorve a personalidade de Moira antes que ela pudesse destruir a caixa com o universo e usa seus mais novos poderes para recolocar o universo no lugar. Assim, a Fortaleza X volta a ser Utopia; os sobreviventes voltam a ser X-Men; os telepatas e manipuladores da realidade, “inexistentes” na Era X (na verdade aprisionados no cárcere), reaparecem.
Mas a Era X não desapareceu sem deixar “sequelas”: Câmara, que havia sido recriado como mutante naquela realidade, continuou sendo mutante após tudo voltar ao normal. Frenesi, que na Era X era uma heroína casada com Scott Summers, ainda parece ter sentimentos por ele – o que cria uma situação complicada com Emma Frost. Tempo, ao que parece, está realmente morta (o que nos leva a questionar se Legião, Nêmesis e Xavier deveriam ser considerados responsáveis por sua morte). E a ruiva misteriosa Aparição, dos Guerreiros da Força, encontra-se em Utopia, reconhecendo que não é lá que deveria estar... seria ela uma reencarnação de Jean Grey? Só o tempo dirá.
Toda essa trama, como o título já diz, saiu na revista X-Men Especial: A Era X, com roteiro de Mike Carey e arte de Clay Mann, Steve Kurth, Mirco Pierfederici, Gabriel Hernandez Walta, Carlo Barberi, Paco Diaz e Paul Davidson. Pessoalmente, não sei se a Era X marcará tanto como as já citadas Era do Apocalipse e Dinastia M; apesar disso, considero que Carey merece os parabéns por subverter o que se espera de uma história de realidade alternativa e criar uma inusitada e envolvente trama de suspense, apresentando um background rico e criativo em “apenas” 180 páginas. Vale a leitura.
Fernando Saker
Isto porque, embora A Era X apresente uma realidade diferente vivida pelos X-Men (com esse nome, quem mais vocês achavam que seria?), ela é na verdade uma história de suspense, onde segredos terríveis se escondem em cada canto e nada é o que parece ser.
Mas vamos à apresentação deste novo mundo. Pra começar, esqueçam Utopia: aqui, os mutantes vivem na Fortaleza X, último reduto da espécie. Aqui, eles também estão em extinção, mas pelo extermínio cometido pelos governos ao redor do mundo (aparentemente motivados por um surto da Fênix – sempre ela...). Aqui, não há espaço pra diplomacia: a ilha em que a Fortaleza X se encontra é diariamente atacada pelos Precursores, exércitos humanos antimutantes; todo dia é dia de guerra.
Nesse mundo, cada mutante é uma pessoa bem diferente daquela que estamos acostumados a ver. Passados diferentes, aparências diferentes, codinomes diferentes, relacionamentos diferentes e até corpos diferentes em alguns casos (Psylocke, estamos olhando pra você). A Fortaleza X é comandada por Magneto, com auxílio da inteligência artificial conhecida como X. Míssil é o líder de campo da resistência mutante, enquanto Danielle comanda o Esquadrão Moonstar, responsável por lidar com ameaças internas. Um grupo de telecinéticos compõe os Guerreiros da Força, que ao fim de todo dia erguem uma barreira telecinética ao redor da fortaleza para dificultar o ataque dos Precursores. Logan, outrora um feroz guerreiro mutante, hoje vive como um infeliz bartender após ter seu gene X neutralizado pela doutora Kavita Rao. Por fim, a solitária Legado – também chamada (contra sua vontade) como "Ceifadora" – é encarregada por absorver as memórias dos colegas que foram mortalmente feridos em combate, caso recente da corajosa Tempo.
A realidade na Era X poderia continuar assim por muito tempo, até que um dia Legado vê Katherine Pryde, fugitiva do cárcere da Fortaleza X, vindo de fora da barreira telecinética e escondendo uma câmera fotográfica entre escombros antes de ser recapturada. Ao analisar o conteúdo da câmera, Legado e o doutor Madison Jeffries encontram apenas fotos em branco. A partir daí, vários mistérios começam a surgir: o que realmente há atrás da barreira? Por que Scott Summers, o Basilisco, encontra a mesma placa de identificação em Precursores diferentes, como se fossem a mesma pessoa? O que há na sala central da Fortaleza X, que existe nas plantas do local mas onde ninguém jamais conseguiu entrar? E por que uma menina de olhos vendados está presa no cárcere e implora insistentemente para Legado perguntar pro professor sobre uma cicatriz?
Legado decide encontrar o professor, mas ao fazer isso desobedece as leis da Fortaleza X e se torna a inimiga pública número 1 do lugar. Correndo da carcereira Perigo, ela encontra uma cela com um homem sedado que nunca viu na vida – mas que de alguma forma sabe que se chama Charles Xavier. Ao tocá-lo, ela e várias pessoas na fortaleza têm suas mentes invadidas por lembranças de coisas que nunca vivenciaram – mas que sentem como se as tivessem vivido. Mas ela não tem tempo para buscar respostas, pois Magneto e X imediatamente enviam o Esquadrão Moonstar para caçá-la. Fugindo de tudo e de todos, ela encontra um aliado inesperado em Gambit, mas os dois acabam esmagados por toneladas de metal arremessadas por Magneto.
Ou assim o líder da Fortaleza X queria que todos pensassem. Na verdade, Magneto apenas os escondeu em meio aos destroços; assim como os dois, ele também tem a sensação de que algo está errado. Foi Magneto quem enviou Pryde, às escondidas de X, para investigar o que há no mundo fora da barreira telecinética; agora, ele envia Gambit e Legado para investigarem a sala central da Fortaleza X, a sala em que ninguém jamais entrou. Lá, eles encontram um homem vestido de branco congelado no tempo e uma caixa bem no meio da sala. E nela... está o universo.
Enquanto isso, X já está ciente da traição de Magneto (que liberta Pryde e Xavier do cárcere) e envia o Esquadrão Moonstar para exterminar os três. Quando o esquadrão escuta as palavras de Xavier e reluta em cumprir as ordens, os Guerreiros da Força derrotam Magneto e assumem o controle da Fortaleza X, mas também eles são convencidos por Xavier de que todos estão vivendo uma farsa. Nesse mesmo dia, os Precursores não atacam a fortaleza, para surpresa dos mutantes acostumados aos ataques rotineiros. Míssil tenta convencê-los a permanecerem em guarda, enquanto Basilisco tenta convencê-los a ouvir Xavier. Aos poucos, todos seguem Basilisco; eventualmente, até Míssil.
Mas quem está por trás da farsa? Quem alterou as vidas de todos na ilha e quem prendeu o universo numa caixa? A mãe adotiva de Legião, dos Guerreiros da Força: Moira MacTaggert é a culpada! Mas calma, esta não é realmente a Moira que conhecemos; hora do flashback: lembram-se daquela história de X-Men: Legado publicada há alguns meses, em que Doutor Nêmesis e o Professor X discutiam a ética e os efeitos colaterais causados pela iniciativa do cientista na destruição das múltiplas personalidades de Legião? Pois é, essa prática acabou gerando o que Xavier define como um “anticorpo psíquico” na mente de David Haller. Esta perigosa criatura, que devastou e tomou conta da mente de Legião, assumiu a aparência de Moira e usou os poderes de David para remodelar a realidade, criando um mundo em que ele é o grande herói de seu povo. Se os mutantes da Fortaleza X passaram por uma vida inteira de combates, na verdade tudo aconteceu em apenas sete dias.
O problema é que Moira, ou X, não quer ver seu trabalho desfeito, e envia um ataque maciço de Precursores – segundo Basilisco, cem mil para enfrentar cada mutante – para acabar com tudo e poder recomeçar a criação de seu mundo para seu filho amado. Apesar da morte iminente, toda a população da Fortaleza X luta mais unida do que nunca; até Legado e os Guerreiros da Força, normalmente poupados do campo de batalha, juntam-se à linha de frente. Mas o grande herói do dia – desta vez, de verdade – é Legião, que reabsorve a personalidade de Moira antes que ela pudesse destruir a caixa com o universo e usa seus mais novos poderes para recolocar o universo no lugar. Assim, a Fortaleza X volta a ser Utopia; os sobreviventes voltam a ser X-Men; os telepatas e manipuladores da realidade, “inexistentes” na Era X (na verdade aprisionados no cárcere), reaparecem.
Mas a Era X não desapareceu sem deixar “sequelas”: Câmara, que havia sido recriado como mutante naquela realidade, continuou sendo mutante após tudo voltar ao normal. Frenesi, que na Era X era uma heroína casada com Scott Summers, ainda parece ter sentimentos por ele – o que cria uma situação complicada com Emma Frost. Tempo, ao que parece, está realmente morta (o que nos leva a questionar se Legião, Nêmesis e Xavier deveriam ser considerados responsáveis por sua morte). E a ruiva misteriosa Aparição, dos Guerreiros da Força, encontra-se em Utopia, reconhecendo que não é lá que deveria estar... seria ela uma reencarnação de Jean Grey? Só o tempo dirá.
Toda essa trama, como o título já diz, saiu na revista X-Men Especial: A Era X, com roteiro de Mike Carey e arte de Clay Mann, Steve Kurth, Mirco Pierfederici, Gabriel Hernandez Walta, Carlo Barberi, Paco Diaz e Paul Davidson. Pessoalmente, não sei se a Era X marcará tanto como as já citadas Era do Apocalipse e Dinastia M; apesar disso, considero que Carey merece os parabéns por subverter o que se espera de uma história de realidade alternativa e criar uma inusitada e envolvente trama de suspense, apresentando um background rico e criativo em “apenas” 180 páginas. Vale a leitura.
Fernando Saker