quinta-feira, 21 de junho de 2012

Fabulosa X-Force: Antigos inimigos, novas circunstâncias

Nos dias de hoje, é difícil que uma história completa seja contada em uma única edição de HQ; em vez disso, o comum é que os roteiristas estabeleçam arcos – as histórias que vão se desenrolar ao longo de um certo número de edições. Indo contra esta corrente, o roteirista Rick Remender e o desenhista Billy Tan colocam a X-Force em duas histórias completas de uma edição cada. Em comum, além deste fato e de trazerem a equipe mutante de “serviços sujos”, está o uso de inimigos conhecidos dos heróis – mas em situações novas...



A primeira história envolve Amahl Farouk, o Rei das Sombras. O vilão havia tomado controle sobre as mentes de todos os militares numa instalação secreta no Tennessee e, ao ser enviado lá para investigar, Deadpool também acaba sendo dominado. O resto da X-Force ruma para lá, descobrindo que o objetivo de Farouk é disparar uma série de mísseis em direção a Utopia, lar dos X-Men. O que eles não sabiam é que Farouk já aguardava sua chegada, especialmente a de um integrante – ou melhor, uma integrante – em particular: Psylocke.



Para quem não lembra, a ninja telepata aprisionou o Rei das Sombras em sua própria mente no passado, e agora ele quer vingança: para isso, domina as mentes de Wolverine e do Arcanjo e os joga contra ela – apenas Fantomex, que estava usando abafadores psíquicos, escapou do controle. E apenas Fantomex pode defendê-la, enquanto ela trava uma batalha contra Farouk no plano psíquico, onde ele a tortura com imagens de seus irmãos agredindo-a física e verbalmente. Aqui, como fã confesso da Psylocke, não posso deixar de agradecer Remender pela caracterização da personagem: obrigado por lembrar que, por trás do maiô agarradinho, existe uma telepata experiente e lutadora treinada! Embora não consiga vencer seu inimigo, ela escapa da armadilha psíquica e foge para impedir que Warren dispare os mísseis.

Nova observação: antes da equipe partir em missão, Betsy havia trancado a personalidade assassina de Arcanjo dentro de uma memória ruim de Warren. Ao entrar na mente dele agora para libertá-lo do Rei das Sombras, ela acabou seguida pelo vilão, que decide libertar o Arcanjo... péssima ideia, como Farouk descobre ao ser fatiado pelo Arcanjo, que de quebra ainda apaga seu retorno da memória de Psylocke (mas Warren não é telepata... como fez isso?). Voltando a si, o Arcanjo mata o soldado que iria acionar o lançamento dos mísseis. Não havia alternativa, é o que a X-Force pensa. Exceto que... o soldado também havia sido liberado do controle mental e não pretendia acionar o botão. Algo está errado...



Mas a X-Force não tem tempo de ponderar sobre isso, pois mal retornam à sua base, encontram seu novo aliado Deathlok rendido por outro antigo inimigo: Magneto! Mas embora Magnus não conte como descobriu sobre a existência da equipe (claro, não é difícil adivinhar o momento em que isso aconteceu...), ele não está lá como inimigo, e sim para pedir a morte de um homem. Logan aceita a missão, não por se sentir ameaçado, mas por perceber o sofrimento daquele que já lhe causou tanto sofrimento no passado.

A vítima? Um ex-militar nazista, com quem Magneto teve contato no passado (certamente em sua época como prisioneiro em campo de concentração). Não é revelado o que o homem fez a ele, mas a angústia demonstrada pelo ex-terrorista e atual X-Man mostra que não foi pouca coisa.



Wolverine encontra sua vítima numa fazenda, no Rio de Janeiro. Lá, o ex-militar se mostra surpreendentemente conformado com a chegada de sua morte; explica que se arrependeu por seus atos, fugiu, se passou por fazendeiro, apaixonou-se, casou. Sua esposa morreu sem saber, nas palavras dele, que havia se casado com um monstro. O homem sabe que não pode fugir do passado e, antes de morrer, aconselha Logan a se lembrar disso... quando for a vez das vítimas que ele fez o procurarem.

As duas histórias, publicadas na edição 125 de X-Men Extra, mostram por que a X-Force tem se destacado tanto entre os leitores, tanto no Brasil como no exterior. Em vez de banalizada e glamurizada, a violência é refletida no sofrimento que causa e tratada como um caminho rumo ao fim de quem a pratica. Em vez de personagens esbanjando superpoderes e frases de efeito, o foco é colocado em suas caracterizações e pensamentos (como eu já disse em outra resenha da série, é irônico que uma equipe de assassinos seja talvez a equipe representada da forma mais humana e sensível possível).

Em vez de dar aos leitores apenas boas sequências de ação (e não entendam mal, há muitas cenas de ação na nova X-Force), a série os convida à introspecção de cada personagem, a enxergar a história pelos seus olhos. A refletir sobre o que lê. Quem está acompanhando a série sabe: são esses pequenos detalhes que fazem toda a diferença na hora da leitura.

Fernando Saker

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