quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Fest Comix 2011: Luke Ross

Fest Comix - Luke Ross

Na primeira vez em que pude participar da Fest Comix (sou do Rio de Janeiro, então nunca foi um evento tão acessível assim) tive a oportunidade, a honra, de mediar a palestra de um dos desenhistas brasileiros que recentemente estiveram à frente da arte de uma das mais importantes revistas da Marvel: Capitão América. Falo de ninguém menos que Luciano Queiroz, ou, como é conhecido, LUKE ROSS! Confira a seguir algumas informações sobre o que rolou no último sábado.

Luke, que também já passou pelas revistas dos X-Men e do Homem-Aranha, da mesma forma que os outros desenhistas com os quais nós do site Universo Marvel 616 tivemos a oportunidade de nos encontrar, é uma pessoa bem acessível (paciente e atencioso, para dizer o mínimo), e fez uma palestra interessante tanto para os “leigos”, apreciadores de HQs, quanto para aqueles que aspiram tornar-se desenhistas profissionais.

Fest Comix - Luke Ross
Luke Ross com Will Conrad e Ariel Olivetti.

Porém, antes de começar, ele se preocupou em ler o e-mail que nos foi enviado pelo roteirista Ron Marz, com quem trabalhou em Samurai: Heaven and Earth, da Dark Horse, cuja presença no evento foi cancelada devido a problemas com prazo de obtenção de vistos de viagem. Esclarecendo a vontade de Marz em estar em São Paulo na edição de 2012, Luke começou sua exposição, o que fez com que progressivamente o auditório se enchesse de espectadores.

Fest Comix - Luke Ross Fest Comix - Luke Ross
Luke lê a mensagem de Ron Marz + a capa da revista 'Samurai'.

E foi uma palestra com um objetivo bem claro: falar do uso de referências na confecção da narrativa visual das HQs. Luke recentemente ilustrou um prelúdio do filme do Capitão América, publicado sob o título Captain America: First Vengeance (Capitão América: Primeira Vingança), no formato digital. Além de algumas estruturas ficcionais dignas de cenários sci-fi, especialmente quando se ilustrava elementos da Hidra, ele precisou fazer uma cuidadosa pesquisa para que sua arte ficasse do jeito que gostaria.

Fest Comix - Luke Ross
Capa de Captain America: First Vengeance #1.

Isso porque, ao mesmo tempo em que trata das primeiras missões de Steve Rogers como Capitão América, a história também faz menção a seu passado como adolescente (da perda de sua mãe à amizade com Bucky Barnes), o que demandou um olhar sobre elementos da Nova York dos anos 20 e dos campos de batalha da Segunda Guerra nos anos 40.

Imagens cuidadosamente pescadas na internet e em filmes foram seus maiores recursos, além de programas digitais que o permitia fazer rascunhos do que desenharia depois como a arte definitiva da revista. Por falar nisso, a acessibilidade à internet mudou esse exercício, o que ficou comprovado na história que ele acabou compartilhando com todos os presentes.

Fest Comix - Luke Ross
Um dos quadros de Captain America: First Vengeance.

Em uma dada ocasião, em uma história para a qual foi contratado a ilustrar em um prazo curtíssimo, Luke precisou descobrir como era um projetor de cinema movido a carvão (!!!), já que havia um a ser representado na narrativa. Literalmente viajando a fim de descobrir como era a aparência dessa já maldita máquina, um golpe fortuito, depois de praticamente entregar os pontos, fez com que ele encontrasse um exemplar do projetor no cinema de sua própria cidade.

Tudo isso ajudou a demonstrar o quanto o trabalho de um desenhista que leva a sério seu trabalho, que não se contenta em entregar um produto final feito “de qualquer forma”, vai muito além do talento, paciência e treino na confecção do desenho em si.

Fest Comix - Luke Ross
No início da palestra.

Algumas perguntas bem interessantes foram feitas, o que demonstra que o pessoal da plateia foi preparado para conversar com um artista da categoria de Luke Ross. Em uma delas, a questão sobre as referências para fisionomias e para a repetição de rostos (muito comum em alguns desenhistas) foi esclarecida com duas respostas.

Primeiro, o treino e a dedicação em saber diferenciar pequenos detalhes ou elementos que deem a cada personagem algo que o leitor logo identifica; somado a isso, o uso de referências em pessoas conhecidas (atores, principalmente) cujo tipo físico, na avaliação do desenhista, possa ser associado àquele personagem que ele está representando.

Não é cópia ou coisa do tipo, mas, como Luke explica, quase como usar cada um desses referenciais como atores escalados para fazer um filme com aqueles personagens, e assim o desenhista usa as possibilidades que aqueles tipos físicos oferecem para sua arte.

Fest Comix - Luke Ross
Luke explica seu processo de criação.

Mais adiante, respondendo uma pergunta que eu mesmo fiz, Luke esclareceu algo que ajuda a diferenciar bastante os desenhistas que usam as referências criativamente e aqueles que acabam prisioneiros do próprio recurso. Enquadrado obviamente no primeiro caso, ele explica que cria todo um layout prévio daquilo que pretende desenhar. Quase como um storyboard usado em filmagens de cinema, no qual a ideia já está estabelecida, mas ainda carente de desenvolvimento concreto.

Aí sim entrariam as referências. Estas ajudariam a compor de forma orgânica aquilo que ele como artista, evidentemente respeitando o roteiro, mas também contribuindo criativamente, concebeu a fim de dar toda dinâmica possível aquilo que precisa ser desenhado. Caso contrário, o resultado seria muito provavelmente algo excessivamente estático e pálido.

Fest Comix - Luke Ross
Uma panorâmica do auditório no momento da palestra.

A referência de seu próprio trabalho ao cinema, mais de uma vez, mostra o quanto Luke pensa o que desenha em movimento, como deve ser toda boa arte sequencial das HQs.

Para terminarmos, Ross falou um pouco sobre o trabalho na mini série de introdução ao filme John Carter, produção da Disney (que comprou a Marvel, lembra?) baseada no romance de ficção científica de Edgar Rice Burroughs (o mesmo de Tarzan) a ser publicada pela editora americana para a qual ele trabalha. Com roteiro de Peter David (!!!), a arte foi um tanto complicada (assim como foram algumas coisas do prelúdio do filme do Capitão América) pois tanto a Disney quanto a Marvel mantinham guardado a sete chaves uma série de elementos visuais das produções, restando a ele usar as poucas referências verbais para se aproximar o máximo possível daquilo que os espectadores verão na tela de cinema.

Revelando o desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas próprias técnicas por meio de exemplos práticos, com muito bom humor, simpatia e explicações para lá de didáticas, Luke Ross repetiu a dose do que nos proporcionou no segundo Marvel Day.

Fest Comix - Luke Ross
Eu, Luke e Eddie, que auxiliou Luke com os slides.

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Nós também somos tietes

Clichê ou não, quem era fã do trabalho do cara, ficou mais ainda. Quem não conhecia, com certeza saiu de lá com uma excelente impressão e com curiosidade em se informar onde encontrar mais trabalhos desse talentosíssimo desenhista com o qual tivemos chance de conversar na Fest Comix 2011.


João

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