sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Cristal: A volta da "Saturday Night Diva"

Hoje, Cristal pode ser apenas mais uma entre tantos X-Men, mas os leitores mais jovens talvez desconheçam que Alison Blaire já foi uma figura de destaque na Marvel, inclusive uma das raras personagens femininas da Casa das Ideias a manter uma revista solo de sucesso. Tendo isso em mente, o roteirista Jim McCann e os desenhistas Kalman Andrasofsky, Ramón Pérez e Francesca Ciregia nos levam, em X-Men Extra 116 e 117, a uma jornada pelo passado da eterna diva dos sábados à noite... enquanto ela enfrenta seus problemas do presente.



Tudo começa quando Cristal é convidada para um encontro por sua meio-irmã, Lois London, vulgo Mortis. Ao chegar no bar, ela descobre que Lois foi embora, mas não sem deixar lembrança: um "boa noite, Cinderela". A ex-cantora desmaia, e quando acorda, descobre que está num camarim e que terá um show a dar se quiser sobreviver nesse meio (no caso dela, literalmente). Momento nostalgia, é hora da heroína vestir o macacão brilhante, calçar os patins, caprichar na maquiagem azul e mandar ver!



O local pode parecer um palco glamoroso, mas Cristal logo percebe que está no Mundo do Crime do Arcade (só não sabe que ele foi contratado por Lois), e o desafio será encarar versões robóticas de antigos desafetos. E aí, topa revisitar a galeria de vilões da loira: das Arpoadoras (grupo de onde saiu a hoje regenerada Soprano), Rainha Branca, Doutor Destino, Encantor, Vampira... mas quando Arcade envia sua versão do Galactus (aliás, como ele conseguiu fazer isso??), o jeito é absorver todo o som ambiente de uma vez e arrebentar tudo!



Mas Lois ganhou experiência em seu período como serva de Selene (lembram?), e guardou uma carta na manga: Garra Sônica. Não um robô, mas o verdadeiro. O homem que Alison “matou” em legítima defesa absorvendo-o por completo (vale lembrar, o Garra é som vivo, e Cristal absorve som). Mas ele está mais forte desta vez (foi seu poder que fez ela desmaiar no começo da história... acharam que era a bebida?), colocando a heroína no chão. Para sorte de Ali, o Arcade não gosta de trapaceiros, e recolhe suas instalações – a distração do Garra abre espaço para que Cristal o prenda num casulo luminoso que o "grava" num disco de vinil.

Mas ainda resta Lois. E sua transformação não foi causada só por Selene, mas pelo ódio que ela sente por ser mutante e ter ficado sozinha. E pelo ódio pela irmã, que ela acha que teve tudo de mão beijada. Relembrando sua vida, Alison sabe que não foi bem assim, mas não é hora de debater; só lhe resta nocautear a irmã. O problema é: e agora, o que fazer com ela?



Utopia deveria ser um abrigo para todos os mutantes, mas depois dos acontecimentos de Necrosha, Ciclope não está disposto a acolher uma assassina – mesmo sendo lembrado de que figuras como sua própria namorada atual já fizeram coisa pior no passado. Psylocke, que já foi amiga próxima de Cristal quando os X-Men se instalaram no deserto australiano, se oferece para fazer uma "reabilitação psíquica" em Lois no (provavelmente longo) período de coma induzido da jovem. Mas Cristal ainda precisa enfrentar um último desafio. Sua mãe.



Aqui, vemos um recurso visual bem bacana, confrontando o que Alison realmente quer – gritar com sua mãe por não ter cuidado de Lois quando ela mais precisava – e o que efetivamente faz – dando as más notícias sobre a meio-irmã. O ódio dá lugar ao remorso, e quando Katherine Blaire se culpa por seus vícios e sua fraqueza, Cristal lembra que ela mesma também poderia ter amparado Lois e não o fez. Não é hora de apontar dedos ou fugir do passado. É hora de aprender com os erros, reconciliar e tentar melhorar no presente. Talvez Lois chegue à mesma conclusão quando sair do seu coma...



Ótima história, fazendo um resgate profundo da história de Cristal: de antigos inimigos a relações familiares conturbadas com Katherine e Lois, seu passado como cantora e até a lembrança da amizade com Psylocke durante uma das fases mais interessantes e diferentes dos X-Men – e, claro, seu visual de rainha da disco music. O visual pode estar datado, mas não deixa de ser nostálgico. E como boa artista, Cristal deve saber (e Jim McCann certamente sabe) que nostalgia vende.

Fernando Saker

* O título deste artigo é uma adaptação de "Saturday Night Divas", música das Spice Girls – famoso girl-group dos anos 90 que, como a Cristal e o Jim McCann, também se deu bem com a onda de nostalgia em seu retorno alguns anos atrás...

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