sábado, 26 de novembro de 2011

Em Foco: É dos cafajestes que elas gostam mais?

Como disse no meu primeiro Em Foco, o que eu entendo aqui, e que os outros editores/redatores não entendem nem de longe, é a visão feminina de quem lê HQ. Então, mais uma vez, resolvi escrever sobre isso aqui no blog. Quem sabe os leitores masculinos daqui apreciem conhecer a mente feminina mais de perto. E as leitoras se identifiquem:

Me corrijam se eu estiver errada, mas a fascinação masculina com personagens do sexo oposto nos quadrinhos é bem mais superficial que a feminina. Mesmo que não seja apenas o apelo visual e o lado sensual da coisa, o máximo que os homens devem fazer é pensar “personagem tal é interessante”, “eu poderia me apaixonar por alguém assim” ou “Pena que ela não existe na vida real”. Mulheres não. Válido pra extrapolações em outros assuntos, mulheres imaginam, suspiram, divagam... elas realmente se apaixonam por personagens fictícios (sejam de HQs, fimes, livros...) na medida que isso é possível (e saudável, esperamos). Porém, existe um certo padrão que observo: elas tendem a gostar dos mais “cafajestes”. Por que será?

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Muitas “meninas” alegam que gostariam de namorar um nerd que as compreendesse e gostasse das mesmas coisas. E sim, elas querem isso para um relacionamento. Então por que elas não suspiram por Reed Richards, Henry McCoys, Hank Pyms, Scott Summers? Ok, existem as poucas que são atraídas por Ciclope, mas estou falando da “maioria”. Talvez no limite entre bom moço, mas já possuindo um “quê” de desconhecido e interessante, estariam Peter Parker e Steve Rogers, mas você já viu alguma adolescente com uma figurinha do Capitão América na agenda? Não, elas suspiram por Wolverines, Gambits, Gaviões Arqueiros e, no meu caso, Tony Starks. De quem, aliás, mesmo que eu não conheça mais ninguém que partilhe minha opinião, outras mulheres devem gostar ou não teriam tantas histórias do personagem no estilo mais “novelinha” com enredos e complicações amorosas. No filme X-Men, Jean Grey já diz uma boa frase pra começarmos: “Women flirt with danger, but they marry the good guys", ou seja, que as mulheres flertam com o perigo, mas casam com os bons moços. E sim, isso acontece muito. Mas por quê?

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"Ser um 'sacana' é parte da minha essência masculina"

Acho que isso vale pra qualquer “fascinação” feminina com personagens, não só nas HQs. Um dos primeiros motivos que sempre pensei é que, mesmo que inconsciente, a mulher tem a fantasia de que o homem vai mudar por ela. Ora, quanto disso não vemos isso na vida real? Mudança é prova de amor na cabeça de algumas pessoas, o que leva puramente a frustração, mas não é meu ponto. Como esperar isso na vida real não é nada saudável e nem verdadeiro, podemos estar transferindo essa ideia para os personagens fictícios. O cara pode ser o maior pilantra, o maior cafajeste, o maior galinha, mas POR ELA, ele mudará. E não são assim as histórias ditas românticas muitas vezes? Talvez seja por isso que exista essa ideia meio que infeliz na cabeça feminina. Parece que se o cara muda algo tão drástico na sua personalidade, é óbvio que ama a mocinha. Caso clássico do casal preferido das adolescentes: Gambit e Vampira que eu citei acima. Gavião Arqueiro pode cantar outras, mas quando o assunto é Harpia, ele daria a própria vida. Tony Stark pode sair com quantas modelos quiser, mas não pode negar pra si mesmo que seu amor é Pepper Potts. Wolverine já teve muitos “verdadeiros amores” pelos quais renunciaria as noitadas, mas ele pode porque viveu anos e anos por aí a mais que os outros.

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Pepper Potts ontem e hoje...
assim como todo 'herói' cafajeste que, no fundo, possui um grande amor

Já os do outro extremo não, eles sempre batalharam pelo amor verdadeiro e muitas vezes tomaram “pé na bunda”. Scott Summers penou com Jean e seus clones. Hank Pym ama Janet a ponto de querer reconstruí-la em um robô. Reed é visto como um bom marido que sempre amou Sue (ou pelo menos na maioria do tempo). Peter Parker teve suas escapadas e algumas namoradas a mais, mas Gwen e MJ são inquestionavelmente insuperáveis. E, por mais que Steve Rogers tenha umas idas e vindas por aí, ele nunca saiu nem da mesma árvore genealógica em matéria de grande amor.

Já dizia Martinho da Vila em sua música: “Já tive mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores. Com umas até certo tempo fiquei. Pra outras apenas um pouco me dei. Já tive mulheres do tipo atrevidas, do tipo acanhadas, do tipo vividas. Casada carente, solteira feliz. Já tive donzela e até meretriz. Mulheres cabeça e desequilibradas. Mulheres confusas, de guerra e de paz, mas nenhuma delas me fez tão feliz como você me faz.”. Ah, nenhuma delas me fez feliz como você me faz! Está aí a questão. Se o cara sempre me amou, como ele sabe que não tem melhor? Podem negar, mas esse pensamento já deve ter passado mesmo que fugazmente na mente de qualquer mulher. Claro que, se pararmos meio segundo pra pensar na realidade, isso é uma grande bobagem, mas pode ser uma ideia por trás deste tipo de ilusão feminina. Se o homem teve muitas e me prefere, eu devo ter algo bom mesmo. Que jogue a primeira pedra a mulher nunca pensou assim nem que por segundos.

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"Você é tão romântico, me trata tão bem, faz tudo por mim... mas me sinto mal por você.
Vai doer muito quando eu te largar por um 'bad boy'"

Ok, isso também tem bastante a ver com o grau de autoestima que a pessoa tem e, quanto mais baixa a autoestima, maior a tendência a precisar deste tipo de aprovação. Porém, tem que ter mais aí, não? Se não, a fantasia não perdurava. Acho que este é o ponto inicial, que está no subconsciente dando início a esta ideia, mas porque ela perdura? E porque é só com personagens? Bom, nem sempre, muitas procuram o mesmo tipo na vida real, mas vão provavelmente descobrir na maioria das vezes que era mesmo uma ilusão. Que mudança não é sinônimo de amor. Então, a vida real não é lugar pra isso, deixemos na ficção.

Vamos voltar à frase do filme X-Men: “Women flirt with danger, but they marry the good guys". Primeiro, por que flertar com algo e querer outro depois? Porque o flerte é só o que intriga e atrai, não necessariamente o que é desejado de fato na maioria do tempo. Este conceito não deve ser alheio à realidade masculina também que deve, muitas vezes, se interessar por um tipo de mulher com o qual não teria um relacionamento. E isso não significa traição, deslealdade ou nada do tipo. Em ambos os sexos são apenas movimentos naturais da psique que não excluem o verdadeiro sentimento quando se procura (ou se acha) alguém para namorar, casar, juntar, etc. Alguns ainda têm a sorte de encontrar pessoas que atiçam muitos de seus interesses do flerte, mas que em sua totalidade são aquelas pessoas com quem “casariam” (se seguirmos a frase).

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Bom garoto? Melhor não muito. Mas na vida real a regra é outra

Passada esta explicação, levando em conta que nenhuma mulher sã irá casar ou ter de fato um relacionamento com seu personagem fictício favorito, podem afirmar que esse deslumbre com personagens está na categoria do flerte, do atraente e interessante. E, portanto, no “perigoso”, no “excitante”, no diferente. É ficção, é a imaginação dela e ela não precisa pensar como seria acordar toda manhã ao lado daquele homem, ou se ele teria filhos, ou se ele tem um emprego razoável, o que ele pensa sobre casamento, ou qualquer outra preocupação que ela possa ter com alguém com quem pretenderia ter algo duradouro. Mas, felizmente, o mundo real é bem mais complexo e as pessoas não se moldam conforme queremos. Os homens reais têm uma personalidade tão complexa quanto a nossa (ok, nem tanto) e a parte legal é aprender a viver com tudo isso e não moldar ao nosso gosto. Na vida real, poucas mulheres talvez suportassem um relacionamento com seus personagens fictícios.

Então, não temam meninos! Quando ela suspirar pelo Hugh Jackman (e eu não conheço uma que discorde de mim nessa!), ela sabe muito bem que é muito mais divertido entender porque você tem determinada mania, de aprender a lidar com as suas diferenças, de conhecer o que você pensa sobre coisas da vida e de saber que uma pessoa que pensa por si só gosta tanto dela. E se vocês, meninas, ainda vivem na ilusão de achar que o fictício é melhor... experimentem o outro lado! Também posso estar entendendo tudo errado, só me baseio em mim e nas pessoas que conheci ao longo desses anos. Se você não concorda ou tem uma experiência diferente, me conte sua opinião!


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Cammy

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