quarta-feira, 20 de março de 2013

Os Supremos: Quem seria páreo para o Amanhã?


Artigo escrito pelo nosso colaborador, Paulo Arthur!


O run de Jonathan Hickman nos Supremos começou avassalador: Montevidéu foi destruída por uma explosão atômica, a República do Sudeste Asiático foi sublevada e se tornou o território dos Eternos e Celestiais, pesos pesados como Hulk e Jean Grey/Karen Grant foram colocados momentaneamente fora de ação e, no norte da Alemanha, O Projeto dos Super-Soldados Europeus e os deuses de Asgard estão sendo atacados pelos misteriosos habitantes de um peculiar Domo que surgiu repentinamente e está se expandindo. Estariam os Supremos capacitados para encarar tantos perigos simultâneos?

O enredo começa com um pequeno conto sobre o passar do tempo e a evolução das pessoas dentro do Domo, desde os primeiros habitantes, que ajudaram a construí-lo, até, com o passar dos milênios, seres sem individualidade engendrados geneticamente e que vivem de acordo com a função que nasceram para exercer. Toda a população é liderada pelo Primeiro Conselho e pela inteligência artificial consciente, que respondem ao Criador, que estaria vivo desde a longínqua era pré-criação do Domo. No mundo exterior, haviam passado apenas cinco minutos.

O objetivo dos habitantes do Domo era de expandir o seu território e a ordem de ataque aconteceu em simultâneo com a descoberta do Domo por europeus e asgardianos. Segue a batalha entre os dois grupos, mas esta poderia ser melhor definida como um massacre: os seres do Domo, os Filhos do Amanhã, são capazes de se adaptar às adversidades encontradas e consideram os seus oponentes mais como uma curiosidade científica fugaz do que como uma ameaça.
O único que desperta grande interesse neles é Thor. Por ser um deus, ele era algo que fugia à compreensão deles, só sendo possível de acreditarem na sua “divindade” por essa ser atestada pelo Criador. Tomando os deuses como uma ameaça, o Conselho ordena que os Filhos destruam as fontes do poder dos deuses: Yggdrasil e o próprio Odin. Enquanto os Super-Soldados escapam para avisar o mundo da ameaça do Domo, Thor corre para Asgard e presencia o genocídio do seu povo. Balder, Odin, Loki. Nenhum deles resiste pouco mais do que minutos perante os Filhos. No desespero, Thor pega o seu filho com Hela, chamado Modi, e o esconde dentro da sala sem portas junto com o seu Mjolnir. Quando os Filhos finalmente destroem a Árvore da Vida, tudo o que era divino se torna mortal e o que restou de Asgard é feito em pedaços. O único sobrevivente foi o agora humano Thor, salvo de última hora pelo recém-chegado Homem de Ferro.

Os dias se passam e os Filhos do Amanhã se expandem de maneira a dominar quase todo o norte da Europa, da Polônia à Bélgica. Os Super-Soldados Europeus, os Gigantes e a Equipe Reserva dos Supremos foram dizimados. A única boa notícia desse interlúdio foi criação, por Tony Stark, de uma nova versão do super-traje que o Thor usava antes de ascender à divindade no final do segundo volume de Supremos.

Diante de toda essa situação, Nick Fury lidera os Supremos e todo o contingente militar da SHIELD para um ataque contra a agora nomeada Cidade. As forças militares da SHIELD não duram muito em batalha, não conseguindo sequer arranhar as naves dos Filhos. Isso força Fury a lançar mão dos Supremos contra eles. No entanto, Homem de Ferro e Thor sozinhos não conseguem dar conta dos Filhos e muitos deles invadem o aeroporta-aviões principal, sendo barrados pela Viúva Negra, Gavião Arqueiro e Mulher-Aranha. No desespero, Fury lança uma ogiva nuclear contra os inimigos, que simplesmente absorvem a energia da explosão e a utilizam para destruir um a um os aeroporta-aviões da SHIELD.
Sem alternativas e aceitando a derrota humilhante, Fury ordena a retirada, que só é possível graças ao teletransporte do martelo do Thor. Com baixas consideráveis, de quase 1/3 da sua força de ataque total, a SHIELD precisa se reordenar para poder enfrentar esse inimigo praticamente invencível. Mas um herói não queria saber ainda de fugir. Ele queria sua vingança. Mesmo que sozinho. Mesmo que morrendo para tal. E ele se teleportou de volta para a Cidade movido, não pela mágoa ou insanidade, mas por fé: Thor.
Uma vez dentro da Cidade, Thor começa a investigar o lugar e descobre através de uma enfermeira dos berçários que existiam sobreviventes dos ataques anteriores. Indo resgatá-los, ele encontra apenas corpos prestes a serem incinerados e o novo Capitão Britânia vivo, mas com o traje desabilitado. Mas, antes que Thor pudesse leva-lo em segurança para fora da cidade, eles são interceptados pelo Criador, que pede que Thor leve um recado para os governantes em nome do “homem que extirpou Asgard dos céus”.
Tal arrogância enfurece Thor, que parte para cima do Criador, atacando-o com todo o seu poder, mas ele acaba sendo facilmente surrado. Quando o Deus do Trovão está caído no chão, quase desmaiado, o Criador revela sua verdadeira identidade ao ex-deus nórdico e o conta quais são os termos de paz que ele tem a ofertar: a Cidade reivindica os territórios conquistados como seus para sempre e não atacarão mais os humanos, que ficariam com o resto do planeta para si, desde que os humanos não ataquem mais a Cidade ou tentem invadi-la novamente.
Quando eles partem, Thor não quer saber de fugir ou se reerguer. Ele considera que fracasso, perdeu tudo e não teria mais pelo quê lutar. É quando ele escuta as vozes e vê os fantasmas de todos os asgardianos mortos em batalha. Eles o impelem a continuar, sempre estarão junto a ele, o apoiando no que ele precisar. Mas Thor é tudo o que resta de Asgard, logo é sua responsabilidade cuidar da Terra. Pois para ele, nada é impossível, desde que ele tenha fé. 
Horas depois, no aeroporta-aviões da SHIELD, Nick Fury é avisado sobre as condições da trégua imposta. Dada a falta de recursos para encarar uma ameaça praticamente invencível e as alternativas que existem para o caso de recusá-la, Fury se vê forçado a aceitar essas condições. Todavia, a pior notícia ainda estava por vir, quando Thor revela aos Supremos a verdadeira identidade do Criador, o homem responsável por dezenas de milhões de mortes pela Europa e Asgard: Reed Richards.
E, assim, é concluído o primeiro arco desta nova fase de Os Supremos. Jonathan Hickman conseguiu manter o ritmo e qualidade apresentados tanto na primeira edição quanto no especial estrelado pelo Gavião Arqueiro. É nítida também a ideia de que ele teve em fazer do seu volume de Os Supremos algo como uma mescla do estilo dos volumes escritos pelo Mark Millar (uma grande epopeia em um número até razoável de edições) e do que ele próprio fez em Quarteto (diversas tramas paralelas/independentes que, no longo prazo, tendem a se cruzar em um grande clímax). Isso fica evidente pelo fato de ele já ter jogado diversas tramas ao mesmo tempo no tabuleiro, só ter posicionado até o momento as mais urgentes (a trama dos Filhos do Amanhã em Supremos e a trama do Povo no especial do Gavião Arqueiro) e não ter encerrado nenhuma delas. Isso cria diversas expectativas ao leitor sobre como será o desenrolar da trama, qual o plano dele para os personagens e como tudo se interligará no futuro. Afinal, alguns personagens importantes da franquia, como o Capitão América, ainda sequer apareceram na trama.
Outro fator louvável do Hickman foi o uso da cronologia em favor da própria história. O leitor não precisa ter lido as obras anteriores para se inteirar da trama. Inclusive, a grande revelação do final do arco foi feita justamente pensando no leitor sem bagagem anterior nenhuma. Contudo, ao mesmo tempo, ele utiliza com maestria as tramas deixadas por Mark Millar (Supremos e Ultimate Vingadores), Brian Michael Bendis (Trilogia Suprema) e Jeph Loeb (Novos Supremos), além de usar o que ele fez em O Dia Seguinte e Ultimate Thor. Toda a caracterização de Thor e dos asgardianos vem desta mini-série, que serve quase como um prequel deste run.
A vilania do antigo Senhor Fantástico é uma evolução do apresentado pelo Bendis na Trilogia Suprema e, em vez de ir pelo caminho mais fácil de buscar uma justificativa ou redenção para o personagem, ele decidiu ousar e levar Richards para um caminho sem volta, fazendo o personagem amadurecer sua postura maquiavélica por milhares de anos até tornar-se um genocida, responsável pela morte de dezenas (talvez centenas) de milhões de pessoas. Existe até um pequeno easter-egg, mostrando a Valquíria como sendo uma babá do Modi, filho de Thor e Hela. E, pelo visto, ela morreu junto com toda Asgard. Apenas como uma pequena observação, fica a questão da bagunça entre a discordância do Millar, Loeb e Hickman sobre o Capitão Britânia. Em Ultimato, Loeb matou o Capitão Britânia Brian Braddock junto com toda a equipe de super-soldados da Europa. Em Ultimate Vingadores VS Novos Supremos, Millar simplesmente ignorou isso e colocou o Brian Braddock vivo. Em O Dia Seguinte, Hickman jogou Brian debaixo do tapete de novo diagnosticando um câncer no personagem e trazendo a tona o Jaime Braddock.
De negativo, pode-se mencionar apenas o fato de que por ser um arco de quatro edições de pura ação e adrenalina, a história simplesmente não se “acalmou” o suficiente para mostrar as consequências dos acontecimentos. Afinal, ocorreram grandes catástrofes em três continentes e estas ainda não foram devidamente exploradas. Alguns personagens sofreram com ritmo por terem sido apenas bastante coadjuvantes, beirando a figuração. Entre eles, podemos destacar a esmagadora maioria dos asgardianos (“falha” corrigida em suas versões fantasmas), os membros da Excalibur (exceção do Capitão Britânia e do Capitão França, finalmente um francês corajoso no Universo Ultimate), a Mulher-Aranha e os próprios Filhos do Amanhã, em que, em alguns momentos, o Hickman confundiu os conceitos de “perda de individualidade” com “vilões genéricos”. Em uma comparação para exemplificar, em diversos momentos na história, eles pareciam uma versão futurista dos bonecos de massa dos Power Rangers: invencíveis contra quase todo mundo, mas que qualquer Supremo conseguia matar eles com facilidade até constrangedora.
Na arte, não há como descrever elogios à Esad Ribic pelos desenhos e Dean White pelas cores. Se a história é boa, muito se deve também à arte magnífica que acompanha o mesmo ritmo de excelência do autor. É atualmente, uma das grandes equipes artísticas da Marvel.
Com isso, o arco encerra-se trazendo novas perspectivas para o Ultiverso e dando novas questões a serem resolvidas nas próximas edições: quais as intenções do grupo de bilionários amigos do Stark (que ficaram em segundo plano no decorrer do arco)? Como os Estados Unidos reagirão à destruição do norte da Europa e ao fato de terem se tornado de facto a “terceira” potência do planeta? O que o futuro reserva para Thor e o legado asgardiano? Como a SHIELD e os remanescentes do Quarteto Fantástico reagirão ao fato de Reed Richards? Qual será o próximo país ou continente que o Jonathan Hickman irá riscar do mapa Ultimate?
Essa história foi publicada originalmente nas edições 02 a 04 da revista Ultimate Comics The Ultimates e, aqui no Brasil, saiu em Ultimate Marvel 29 a 31.

Paulo Arthur

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