Artigo escrito pelo nosso colaborador, Paulo Arthur!
O run
de Jonathan
Hickman
nos Supremos começou avassalador: Montevidéu foi destruída por uma
explosão atômica, a República
do Sudeste Asiático
foi sublevada e se tornou o território dos Eternos e Celestiais,
pesos pesados como Hulk
e Jean
Grey/Karen Grant
foram colocados momentaneamente fora de ação e, no norte da
Alemanha, O Projeto dos Super-Soldados Europeus
e os deuses de Asgard
estão sendo atacados pelos misteriosos habitantes de um peculiar Domo que surgiu repentinamente e está se expandindo. Estariam os
Supremos capacitados para encarar tantos perigos simultâneos?
O
enredo começa com um pequeno conto sobre o passar do tempo e a
evolução das pessoas dentro do Domo,
desde os primeiros habitantes, que ajudaram a construí-lo, até, com
o passar dos milênios, seres sem individualidade engendrados
geneticamente e que vivem de acordo com a função que nasceram para
exercer. Toda a população é liderada pelo Primeiro Conselho e pela
inteligência artificial consciente, que respondem ao Criador,
que estaria vivo desde a longínqua era pré-criação do Domo. No
mundo exterior, haviam passado apenas cinco minutos.
O
objetivo dos habitantes do Domo era de expandir o seu território e a
ordem de ataque aconteceu em simultâneo com a descoberta do Domo por
europeus e asgardianos. Segue a batalha entre os dois grupos, mas
esta poderia ser melhor definida como um massacre: os seres do Domo,
os Filhos
do Amanhã,
são capazes de se adaptar às adversidades encontradas e consideram
os seus oponentes mais como uma curiosidade científica fugaz do que
como uma ameaça.
O
único que desperta grande interesse neles é Thor.
Por ser um deus, ele era algo que fugia à compreensão deles, só
sendo possível de acreditarem na sua “divindade” por essa ser
atestada pelo Criador. Tomando os deuses como uma ameaça, o Conselho
ordena que os Filhos destruam as fontes do poder dos deuses:
Yggdrasil
e o próprio Odin.
Enquanto os Super-Soldados escapam para avisar o mundo da ameaça do Domo,
Thor corre para Asgard e presencia o genocídio do seu povo. Balder,
Odin, Loki.
Nenhum deles resiste pouco mais do que minutos perante os Filhos. No
desespero, Thor pega o seu filho com Hela, chamado Modi,
e o esconde dentro da sala sem portas junto com o seu Mjolnir. Quando
os Filhos finalmente destroem a Árvore da Vida, tudo o que era
divino se torna mortal e o que restou de Asgard é feito em pedaços.
O único sobrevivente foi o agora humano Thor, salvo de última hora
pelo recém-chegado Homem
de Ferro.
Os
dias se passam e os Filhos do Amanhã se expandem de maneira a
dominar quase todo o norte da Europa, da Polônia à Bélgica. Os Super-Soldados Europeus, os Gigantes e a Equipe Reserva dos Supremos foram
dizimados. A única boa notícia desse interlúdio foi criação, por
Tony
Stark,
de uma nova versão do super-traje que o Thor usava antes de ascender
à divindade no final do segundo volume de Supremos.
Diante
de toda essa situação, Nick
Fury
lidera os Supremos e todo o contingente militar da SHIELD
para um ataque contra a agora nomeada Cidade.
As forças militares da SHIELD não duram muito em batalha, não
conseguindo sequer arranhar as naves dos Filhos. Isso força Fury a
lançar mão dos Supremos contra eles. No entanto, Homem de Ferro e
Thor sozinhos não conseguem dar conta dos Filhos e muitos deles
invadem o aeroporta-aviões principal, sendo barrados pela Viúva
Negra,
Gavião
Arqueiro
e Mulher-Aranha.
No desespero, Fury lança uma ogiva nuclear contra os inimigos, que
simplesmente absorvem a energia da explosão e a utilizam para
destruir um a um os aeroporta-aviões da SHIELD.
Sem
alternativas e aceitando a derrota humilhante, Fury ordena a
retirada, que só é possível graças ao teletransporte do martelo
do Thor. Com baixas consideráveis, de quase 1/3 da sua força de
ataque total, a SHIELD precisa se reordenar para poder enfrentar esse
inimigo praticamente invencível. Mas um herói não queria saber
ainda de fugir. Ele queria sua vingança. Mesmo que sozinho. Mesmo
que morrendo para tal. E ele se teleportou de volta para a Cidade
movido, não pela mágoa ou insanidade, mas por fé: Thor.
Uma
vez dentro da Cidade, Thor começa a investigar o lugar e descobre
através de uma enfermeira dos berçários que existiam sobreviventes
dos ataques anteriores. Indo resgatá-los, ele encontra apenas corpos
prestes a serem incinerados e o novo Capitão
Britânia
vivo, mas com o traje desabilitado. Mas, antes que Thor pudesse
leva-lo em segurança para fora da cidade, eles são interceptados
pelo Criador, que pede que Thor leve um recado para os governantes em
nome do “homem que extirpou Asgard dos céus”.
Tal
arrogância enfurece Thor, que parte para cima do Criador, atacando-o
com todo o seu poder, mas ele acaba sendo facilmente surrado. Quando o Deus do Trovão está caído no chão, quase desmaiado,
o Criador revela sua verdadeira identidade ao ex-deus nórdico e o
conta quais são os termos de paz que ele tem a ofertar: a Cidade
reivindica os territórios conquistados como seus para sempre e não
atacarão mais os humanos, que ficariam com o resto do planeta para
si, desde que os humanos não ataquem mais a Cidade ou tentem
invadi-la novamente.
Quando
eles partem, Thor não quer saber de fugir ou se reerguer. Ele
considera que fracasso, perdeu tudo e não teria mais pelo quê
lutar. É quando ele escuta as vozes e vê os fantasmas de todos os
asgardianos mortos em batalha. Eles o impelem a continuar, sempre
estarão junto a ele, o apoiando no que ele precisar. Mas Thor é
tudo o que resta de Asgard, logo é sua responsabilidade cuidar da
Terra. Pois para ele, nada é impossível, desde que ele tenha fé.
Horas
depois, no aeroporta-aviões da SHIELD, Nick Fury é avisado sobre as
condições da trégua imposta. Dada a falta de recursos para encarar
uma ameaça praticamente invencível e as alternativas que existem
para o caso de recusá-la, Fury se vê forçado a aceitar essas
condições. Todavia, a pior notícia ainda estava por vir, quando
Thor revela aos Supremos a verdadeira identidade do Criador, o homem
responsável por dezenas de milhões de mortes pela Europa e Asgard:
Reed
Richards.
E,
assim, é concluído o primeiro arco desta nova fase de Os Supremos.
Jonathan Hickman conseguiu manter o ritmo e qualidade apresentados
tanto na primeira edição quanto no especial estrelado pelo Gavião
Arqueiro. É nítida também a ideia de que ele teve em fazer do seu
volume de Os Supremos algo como uma mescla do estilo dos volumes
escritos pelo Mark Millar (uma grande epopeia em um número até
razoável de edições) e do que ele próprio fez em Quarteto
(diversas tramas paralelas/independentes que, no longo prazo, tendem
a se cruzar em um grande clímax). Isso fica evidente pelo fato de
ele já ter jogado diversas tramas ao mesmo tempo no tabuleiro, só
ter posicionado até o momento as mais urgentes (a trama dos Filhos
do Amanhã em Supremos e a trama do Povo no especial do Gavião
Arqueiro) e não ter encerrado nenhuma delas. Isso cria diversas
expectativas ao leitor sobre como será o desenrolar da trama, qual o
plano dele para os personagens e como tudo se interligará no futuro.
Afinal, alguns personagens importantes da franquia, como o Capitão
América, ainda sequer apareceram na trama.
Outro
fator louvável do Hickman foi o uso da cronologia em favor da
própria história. O leitor não precisa ter lido as obras
anteriores para se inteirar da trama. Inclusive, a grande revelação
do final do arco foi feita justamente pensando no leitor sem bagagem
anterior nenhuma. Contudo, ao mesmo tempo, ele utiliza com maestria
as tramas deixadas por Mark
Millar (Supremos
e Ultimate
Vingadores),
Brian
Michael Bendis (Trilogia
Suprema)
e Jeph
Loeb (Novos
Supremos),
além de usar o que ele fez em O
Dia Seguinte e
Ultimate
Thor.
Toda a caracterização de Thor e dos asgardianos vem desta
mini-série, que serve quase como um prequel deste run.
A
vilania do antigo Senhor Fantástico é uma evolução do apresentado
pelo Bendis na Trilogia Suprema e, em vez de ir pelo caminho mais
fácil de buscar uma justificativa ou redenção para o personagem,
ele decidiu ousar e levar Richards para um caminho sem volta, fazendo
o personagem amadurecer sua postura maquiavélica por milhares de
anos até tornar-se um genocida, responsável pela morte de dezenas
(talvez centenas) de milhões de pessoas. Existe até um pequeno
easter-egg,
mostrando a Valquíria
como sendo uma babá do Modi, filho de Thor e Hela. E, pelo visto,
ela morreu junto com toda Asgard. Apenas como uma pequena
observação, fica a questão da bagunça entre a discordância do
Millar, Loeb e Hickman sobre o Capitão Britânia. Em Ultimato,
Loeb matou o Capitão Britânia Brian Braddock junto com toda a
equipe de super-soldados da Europa. Em Ultimate
Vingadores VS Novos Supremos,
Millar simplesmente ignorou isso e colocou o Brian Braddock vivo. Em
O
Dia Seguinte,
Hickman jogou Brian debaixo do tapete de novo diagnosticando um
câncer no personagem e trazendo a tona o Jaime Braddock.
De
negativo, pode-se mencionar apenas o fato de que por ser um arco de
quatro edições de pura ação e adrenalina, a história
simplesmente não se “acalmou” o suficiente para mostrar as
consequências dos acontecimentos. Afinal, ocorreram grandes
catástrofes em três continentes e estas ainda não foram
devidamente exploradas. Alguns personagens sofreram com ritmo por
terem sido apenas bastante coadjuvantes, beirando a figuração.
Entre eles, podemos destacar a esmagadora maioria dos asgardianos
(“falha” corrigida em suas versões fantasmas), os membros da
Excalibur (exceção do Capitão Britânia e do Capitão França,
finalmente um francês corajoso no Universo Ultimate), a
Mulher-Aranha e os próprios Filhos do Amanhã, em que, em alguns
momentos, o Hickman confundiu os conceitos de “perda de
individualidade” com “vilões genéricos”. Em uma comparação
para exemplificar, em diversos momentos na história, eles pareciam
uma versão futurista dos bonecos de massa dos Power Rangers:
invencíveis contra quase todo mundo, mas que qualquer Supremo
conseguia matar eles com facilidade até constrangedora.
Na
arte, não há como descrever elogios à Esad
Ribic
pelos desenhos e Dean
White
pelas cores. Se a história é boa, muito se deve também à arte
magnífica que acompanha o mesmo ritmo de excelência do autor. É
atualmente, uma das grandes equipes artísticas da Marvel.
Com
isso, o arco encerra-se trazendo novas perspectivas para o Ultiverso
e dando novas questões a serem resolvidas nas próximas edições:
quais as intenções do grupo de bilionários amigos do Stark (que
ficaram em segundo plano no decorrer do arco)? Como os Estados Unidos
reagirão à destruição do norte da Europa e ao fato de terem se
tornado de
facto
a “terceira” potência do planeta? O que o futuro reserva para
Thor e o legado asgardiano? Como a SHIELD e os remanescentes do
Quarteto
Fantástico
reagirão ao fato de Reed Richards? Qual será o próximo país ou
continente que o Jonathan Hickman irá riscar do mapa Ultimate?
Essa
história foi publicada originalmente nas edições 02
a 04
da
revista Ultimate
Comics The Ultimates
e, aqui no Brasil, saiu em Ultimate
Marvel 29
a 31.
Paulo Arthur