sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Brian K Vaughan relembra as primeiras ideias e momentos dos quadrinhos dos Fugitivos



Mais cedo, publicamos aqui parte da entrevista do The Hollywood Reporter com o criador dos personagens Fugitivos, Brian K. Vaughan, em que ele contava suas primeiras impressões da série e o que achou de algumas mudanças cruciais que foram feitas para levar os jovens dos quadrinhos para a TV. Já essa outra leva da matéria, traz um pouco dos tempos do roteirista quando escrevia os personagens. Confira:

Quem era Brian K. Vaughan quando criou os Fugitivos? "Bem, alguém bem mais jovem. Eu era um jovem inexperiente criador. Eu estava desesperado para deixar minha marca e entrar no mundo dos quadrinhos. Eu provavelmente tinha menos conhecimento sobre o que era ser adulto. E eu era um homem jovem bem mais cínico. Mas eu tenho que dar um crédito aquela criança. Ele veio com essa ideia louca que hoje eu nem tenho certeza se eu teria ela hoje com essa idade e nesses tempos atuais. Eu estou tanto orgulhoso pelas suas limitações como agradecido por sua imaginação".

Voltando no tempo, o que foi a gênese dos Fugitivos? "Eu amava os quadrinhos da Marvel. Eu reverenciava o Stan Lee. E continuo, obviamente. Eu realmente queria saber como seria a sensação de um quadrinho da Marvel no século 21. Eu amava a simplicidade dos conceitos da Marvel e também a integridade de seu conteúdo. No Homem-Aranha tínhamos "Com grandes poderes vem grandes responsabilidades"; No Demolidor era "A Justiça é cega". No Hulk era mais exploração do lance do monstro preso dentro do homem. Havia tanta clareza e força naquilo. Eu queria algo simples, mas eu também queriaa um pouco de algo subversivo. Se os personagens da DC Comics sempre pareceram mais aústeros e mais como nossos pais, eu senti que os personagens da Marvel eram a ponta mais áspera e afiada. Eu queria fazer uma engenharia-reversa do que o Stan Lee deve teria feito com seus quadrinhos lá pelos idos dos anos 2000.

E quanto ao conceito base dos Fugitivos de que adolescentes sempre suspeitam que seus pais são secretamente as piores pessoas do planeta e neste caso, eram sim.

"Eu já sabia que queria uma revista sobre jovens protagonistas. E naquele tempoe u esenti que a maioria dos personagens de super-heróis reverenciavam seus pais. Bruce Wayne sempre está lá admirando o porta-retrato de seus pais mortos. Peter Parker é obcecado por seus tutores. Eu sempre senti que eles amavam mesmo seus pais. Sempre imaginei que se os pais do Bruce Wayne não morressem lá pelos seus 16 anos de idade, ele teria se tornado um merdinha egoísta, brigando com eles e gritando com eles. Eu queria ter um bando de personagens que ao invés de reverenciarem seus pais, sequer confiariam neles. Achei que era um mudança excitante, e algo que eu pensei que um monte de leitores jovens iriam se identificar logo de cara.

Quem foram os primeiros personagens da história que você criou?

"Os pais de Alex Wilder são chamados Geoffrey e Catherine e esse são os nomes de meus pais também. Mas eu tenho que colocar que os meus pais são os seres humanos mais amáveis do mundo, particularmente agora que eu tenho também meu próprio filho. E eu olho pra trás e enxergo neles nada além de uma reverência pelo que eles fizeram. Mas de forma estranha, Alex e seus pais foram o começo de tudo: três pessoas que sequer tinham qualquer poder, mas eram habilidosos. Eu comecei por eles. Depois disso, eu sabia que eu queria fazer uma revista onde os personagens masculinos eram a minoria. Eu sempre senti que os livros de grupos tinham apenas uma ou duas mulheres. No máximo, você teria alguma paridade, um número igual de ambos. E eu sabia que as mulheres deveriam superar o número de homens.



Quão você se dedicou a criar as histórias na sua passagem pelos Fugitivos?

"Eu sempre entro nessas com um trajeto bem detalhado, mas sempre com a liberdade de poder divergir e tomar atalhos. Por exemplo, antes de Adrian Alphona embarcar nessa, eu sempre achei que a revista iria por um caminho mais convencional, com personagens eventualmente usando fantasias e tendo seus codinomes usados a todo momento. Assim que eu vi a arte de Adrian, que era tão diferente de tudo que eu já tinha visto na Marvel antes, os adolescentes pareciam tão reais e bem definidos que eu não achei que deveria colocá-los em uniformes. Eles poderiam até ter codinomes que eles raramente usavam. Mas para a maior parte da história, seria Chase e Nico. Eles pareciam ser pessoas reais. A revista definitivamente mudou, sempre para melhor, depois que Adrian entrou. Nunca teria funcionado sem ele, especialmente porque ele era mais jovem e ainda é mais jovem do que eu, além de ser mais legal. Ele estava ligado com aquela cultura, mas não de um jeito em que ele qusesse sobrepor qualquer estilo em particular. Ele era único. Se a revista parecer datada de alguma maneira, deve ser por conta de meus diálogos e referências. A visão de mundo dele é tão nova e particular. Dá uma impressão legal. Com qualquer outro, seria apenas uma revista boa e competente. Mas com Adrian, ficou algo especial.

Sobre a recepção na época e se ele já imaginava um dia ela ir para outra mídia fora dos quadrinhos:

"Eu tinha quase certeza que seria cancelada no número seis. Nos quadrinhos raramente há uma boa recepção a novas ideias, e eles certamente não estavam receptivos a ovas ideias de criadores de quem eles nunca ouviram falar. A revista saiu, e de primeira, eu achei ela levou meio que um baque. Estava lá. Eu achei que iria evaporar relativamente rapidamente. Mas me pareceu que quando a revista começou a ser coletada naquele estilo com formato de manga, iria de fato explodir. Mas começou alcançando as crianças que sentavam a toa nas calçadas da 'Barnes and Noble' e que geralmente devoravam manga. Talvez não estivesse atingindo o público que era da Marvel naquele instante. Era um público jovem que não ligava e não gostava de histórias complicadas e complexas do Universo Marvel. Depois que a primeira coletânea veio, foi aí que pareceu que a coisa estava pegando. Então, foi algo que se construiu lentamente. Mesmo para o peso do sucesso qualquer que fosse que tínhamos, eu achei que ficaria como sendo uma revista cult. Sempre significou muito pra mim quando alguém vinha até mim e dizia algo sobre Fugitivos ao invés de Y: O último homem e Saga. Sempre achei que fosse a criança menos amada dos meus livros. Então, o fato de ter cruzado essalinha e ter chegado a se tornar uma adaptação é completamente inacreditável pra mim.

Em algum momento, os Fugitivos chegou a ser cancelado no meio, enquanto você escrevia, correto?

"Sim, foi com a edição 18. Foi isso. Estava acabado. Eu escrevi pensando que seria o fim da última história dos Fugitivos que qualquer um fosse ler. Pouco tempo depois de eu escrevâ-la, eu não lembro agora se eu escrevi antes de ir pra impressão ou não, mas a Marvel continuava olhando os números das coletÂneas e começou a falar: "Puta merda, parece que temos algo bom nas mãos aí". Então, rapidamente desistiu do cancelamento e nós permitiu voltar. E a revista está de volta agora na Marvel (com Rainbow Rowell e Kris Anka), o que é bem legal. Eu lembro quando era bem jovem que isso aconteceu com os X-Men. Era maio que um livro esquisito e cult que desapareceu, e daí voltaram atrás no cancelamento e deram nova vida a eles. O fato de termos uma versão menor dessa jornada de ressureição dos X-Men pra nossa revista é pra mim incrivelmente legal"

Essa longa entrevista continuou com mais do Brian K. Vaugham falando da série de TV, além de seus outros trabalhos mais conhecidos como Saga e Y: O último homem. Traduzimos outra parte dela aqui, e o restante você confere na postagem original do The Hollywood Reporter.

Coveiro

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