terça-feira, 21 de novembro de 2017

Steve Lightfoot discute sobre violência, temática dos veteranos de guerra e final da série d'O Justiceiro



Numa entrevista bem completa que concedeu ao Entertainment Weekly, o produtor de Justiceiro Steve Lightfoot conversou sobre temas bem polêmicos da série. Das tramas envolvendo os jovens veteranos até o uso de violência, o produtor tirou todas as dúvidas sobre sua abordagem na nova série do Netflix.

Sobre ele trabalhar com um personagem já estabelecido em Demolidor e o que priorizar em seu primeiro arco:

Quando tomei conhecimento desta série, não sabia o que eles tinham feito na segunda temporada do Demolidor, então a Marvel me mostrou a série. Foi o ponto de entrada, pra mim,  assistir a maneira como eles levaram o personagem e o que o Jon fez com seu papel. Ao ver sua performance, foi quando eu realmente fiquei animado com o prospecto de fazer o seriado, porque eu realmente senti uma mistura de ferocidade - ele foi genuinamente assustador - e isso é muito humano, de tal forma que me comoveu naquele momento. Eu senti que ali havia uma história de luto e de como um homem constroi uma versão extrema disto e explorar isso foi o que mais me interessou.

Sobre escrever sobre questões de identidade da América sendo um escritor britânico:

Bem, eu sou um fã de verdade da América, daqueles doentes. Eu vivi por aqui por um tempo, e eu na verdade fiz uma graduação sobre estudos da América no colegial, então eu sempre me interessei em saber como funciona.

E há aí duas coisas. Uma delas é que você começa com um personagem em que eu acho que no caso de Frank é o clássico anti-herói. Ele é uma figura muito Americana, daquela que remonta ao Velho Oeste, e eu acho que isso por si só significa algo, que está ao redor dele. E eu tinha também uma sala cheia de escritores talentosos que são todos americanos, então não é apenas coisa minha. Eles me corrigiam quando eu estava errado e todos eles tinham coisas para falar pra mim. Há um pouco de todos na série. E  eu não sei se os problemas são tão diferentes do Reino Unido. E sabe, nós estivemos nas mesmas guerras há tanto tempo quanto vocês.

Sobre destruir a identidade do Justceiro logo no primeiro episódio quando a maioria dos fãs quer ver essa extrema essência violenta do personagem:

Eu acho que temos ela lá no final. Ele acaba fazendo um mote de mortes, mas eu acho que a Marvel tem feito um excelente papel com esses seriados que são dirigidos pelos personagens e se você pegar do ponto em que o Demolidor deixou e colocar isso em alta velocidade, se´ra muito difícil manter o público nesse ritmo.

Nossa série pegou um cara que era o antagonista e que está se tornando o protagonista, tornando o cara o coração do seriado. Temos que colocar todos a bordo desta jornada, e para mim, eu senti que a melhor maneira de se fazer isso era não ignorar o que aconteceu, mas resetá-lo um pouco apenas. Eu estava um pouco receoso de entrar dentro da cabeça dele e entender o homem antes de termos acendido aquela explosão e se voltar contra todos os seus inimigos. Se só colocássemos ele detonando um bando de pessoas toda semana ficaria algo chato e repetitivo, e eu achei que precisavamos saber mais do homem antes e daí começamos a partir daí.

Sobre o drama do Lewis vivido por Daniel Webber no meio do seriado

A história do Lewis é uma tragédia. De muitas maneiras, se alguém tivesse pego em seu braço no momento certo ou certas coisas não tivessem acontecido do jeito que aconteceram - como certas coisas do tipo o O'Connor (Delaney Williams) ter mentido pra ele, e que foi o estopim - ele não teria ficado perdido. O que é interessante pra mim é a psicologia das pessoas quando estão machucadas, elas se perdem. E eu acho que o Lewis é um exemplo extremo disto. Quando as pessoas entram tão fundo num buraco, é incrivelmente difícil conseguir sair dele.



Sobre o destino de Billy Russo.

Uma das coisas mais complicadas de adaptar um quadrinho do Justiceiro é que ele geralmente mata seus inimigos, mas eu acho que filmes e seriados se beneficiam por você poder construir uma consciência de nossos personagens - sejam vilões ou heróis - e nós mudamos essa interação do Billy logo cedo assim que tivemos a ideia de fazer dele um vilão e nós o encaixamos de tal maneira que ele tivesse alguns pontos interessantes na série. Ele é um dos personagens icônicos do Justiceiro e eu achei que ele seria uma boa estrada pra gente viajar. Eu acho que demos a Billy uma grande trajetória própria e estamos apenas no meio dela agora. Se ele voltar, ele vai ser um cara bem diferente".

Sobre a violência explícita da série:


É uma pergunta importante. O que é espetacular - e isso é importante separar dos debates políticos e tudo mais - é como as pessoas sempre se entretiveram pela violência, seja com gladiadores cerca de 3 mil anos atrás ou com a violência das telas agora. Quando as pessoas louvam ela nas telas, é sempre algo surpreendente e interessante para mim saber como entretê-las assim.

Mas tem duas coisas aí sobre a questão da violência na série. Tínhamos uma linha de base que foi colocada na segunda temporada do Demolidor em relação ao Frank e esse foi um padrão que seguimos. Eu não acho que fizemos algo muito diferente daquilo. Na minha opinião pessoal, se você tem alguém que está apanhando na cara, você tem que fazer de tal maneira que pareça desconfortável e que faça as pessoas sentirem que de fato esta machucando e que aquilo não é algo que você quer.  Eu sinto que em cenas onde alguém está apanhando na cabeça e não tem marcas nele é algo pior porque você não faz as pessoas entenderem que há um custo da violência e não estamos falando apenas de um jeito físico.

O que espero que tenhamos feito na série, com Frank e todo mundo mais, é mostrar o custo da violência emocional. Não é pra parecer que Frank faz isso e é um cara feliz. Eu acho que qualquer que seja a natureza de estar ao redor deste tipo de violência qualquer que seja a extensão, maciçamente muda as pessoas e eu acho que o seriado foi condizente com isso.


Sobre o final e o discurso do Frank sobre não saber viver sem uma guerra:

Jon e eu conversamos muito, e a natureza dessa discussão veio dessas conversas que tivemos sobre veteranos e de como eles se sentem e como eles trabalham. Depois da premiere, um dos veteranos que usamos como figurante - um monte de extras naquele grupo de apoio dos veteranos eram de fato veteranos - estava muito feliz no final. Ele nos disse que era absolutamente como as coisas eram.

Então, meu ponto foi que , se o Frank apenas seguisse sua jornada na série e não aprendesse nada e não entrasse em acordo com sua própria natureza de algum modo, então não haveria nenhuma qualidade de redenção nessa história. Achamos que ele deveria aprender alguma coisa para si e não apenas acabar com os bandidos. Ele tinha que mudar. A verdade é que, numa eventual segunda temporada, que eu desesperadamente quero fazer, nós vamos rapidamente dar a ele uma nova guerra pela qual lutar, entende? É a sua natureza partindo logo pra isso.

Mas eu acho que ter ele admitindo isso em paz é mais difícil  do que apenas encontrar algo pelo que lutar que seja importante. Tomar conhecimento de algo sobre você mesmo, não significa que você vai reagir a isso. Era importante que ele tivesse essa jornada não apenas em termos de isso estar no plot mas também que fosse algo emocional. Algumas das cenas poderiam ter acontecido antes, como essa, mas eu achei que ela deveria estar no final, principalmente por conta do jeito que o Jon atuou nela. Eu pensei na hora "eu quero o final com esse cara".

Mas ele voltará a identidade de Justiceiro?

Há muito conflito em Frank. Há o cara que ele gostaria de ser e o cara cuja natureza e todas as experiência fizeram dele o que é. O final nos faz simpatizar por ele, em saber que o que ele faz não é bom. Ele não está ignorando suas próprias falhas.

E o que eu acho interessante é que apenas por ele reconhecer algo sobre sua natureza, não significa que ele não vai sucumbir a ela rapidamente. Eu acho que em parte ele ama essa desculpa pra seguir adiante. É onde ele se sente mais confortável

Justiceiro já está disponível na Netflix e a série conta no elenco com Jon Bernthal como Frank Castle, Ben Barnes como Billy Russo, Ebon Moss-Bachrach como Micro, Amber Rose Revah como Dinah Madani, Deborah Ann Woll como Karen Page, Daniel Webber como Lewis Walcott, Shohreh Aghdashloo como Farah Madani, Paul Schulze como Rawlins, além de Mary Elizabeth Mastrantonio como Marion James.

Coveiro

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