terça-feira, 5 de maio de 2015

Sobre as polêmicas em torno dos bastidores de divulgação de Vingadores: Era de Ultron


Eis o filme que está na crista da onda, e inevitavelmente alvo de todas as atenções do público, para o bem e para o mal. Os filmes da Marvel Studios criaram um jeitinho especial de fazer cinema, nem sempre bem visto pelos outros colegas e estúdios. Já não é de hoje que você vê esse ou aquele diretor reclamar da franquia estar “canibalizando” o meio. Já deram até prazo de validade para formula cair, e lá estamos seguindo firmes com previsão até 2019. Todavia, além dessas notórias intrigas, o diretor e o elenco de Vingadores: Era de Ultron vem sendo alvo de muitas outras polêmicas.

Pra revista Rolling Stones, os cabeças de frente do jogo, Joss Whedon e Kevin Feige falaram sobre essa fama deles estarem arruinando Hollywood com seu jeito de fazer cinema. "Bem, eu vou dizer que estamos em boa companhia. Se você olhar através das décadas, pessoas que criaram Star Wars foram acusadas de terem arruinado Hollywood, Steven Spielberg foi acusado de ter arruinado Hollywood - Eu vou estar com essa companhia em todos os casos" disse Kevin Feige a revista. " Mas a verdade é que nós não gastamos muito tempo olhando para essas coisas porque estamos ocupados demais tentando fazer os filmes . Eu não estou aqui em um projeto que foi nomeado para o Independent Spirit Awards, mas imagino que essas pessoas colocam todo seu sangue , suor e lágrimas para tentar fazê-lo. isso é exatamente o que fazemos por aqui todos os dias".

"Eles não têm o Hulk. O Hulk quer fazer coisas mais independentes. É apenas o seu agente ..." disse Joss Whedon a revista no seu jeito sempre brincalhão. "O paradigma Marvel é novo e está sendo copiado por muitas pessoas, porque funcionou. Mas eles estão sendo culpado por algo que aconteceu muito antes dos quadrinhos se tornarem a base para muitos desses blockbusters. Quanto saber se o paradigma vai se sustentar ou se as pessoas vão ficar de saco cheio de super-heróis, quem sabe? Claro, eu poderia estar fazendo um filme onde eles não tem que estar em seus trajes. Isso seria divertido. Mas há muita severidade quando falam da maneira de Kevin e da Marvel fazer o que faz. Eu acho que , talvez, é algo equivocado".

"Assim que um monte desses filmes ficarem terríveis , será quando isso vai acabar. Eu não acredito no gênero de super-herói como filme. Com Guardiões da Galáxia , queríamos fazer um filme espacial , com Homem-formiga, queremos fazer um filme sobre roubo ; Com Soldado Invernal, queríamos fazer um thriller político" complementou Feige. "Fico mais entretidos em todos os tipos de filmes quando há super-heróis no meio deles , de modo que funciona para mim. Mas, eu acredito e espero que isso é o que nós vamos continuar a fazer, pelo menos nós que somos responsáveis. Quanto aos outros filmes que nada têm a ver conosco, cabe a mim apenas assisti-los quando eles estreiam no fim de semana".


Essa não é a primeira vez que o elenco tem que se deparar com esse tipo de ataque a fórmula Marvel nos cinemas. De uma maneira bem menos política, o ator Robert Downey Jr respondeu a uma critica aos filmes de Super Herois serem um genocídio cultural do diretor mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu (de Birdman). Daquele seu jeito afiado, ele respondeu que respeitava o diretor, mas achava “que para um homem cuja língua nativa é o espanhol ser capaz de colocar numa frase "genocídio cultural" apenas fala de como ele é brilhante”. Houve quem disse ser esse um comentário racista do ator. Outros entenderam que estava sendo irônico ao por um paralelo ao genocídio cultural promovido justamente pelos espanhóis durante a sua colonização. Em todo caso, pela sua assessoria de imprensa, Robert disse que dado o contexto da entrevista ele tinha intenção de ser cortês no comentário. Particularmente, eu não sei se ele foi irônico ou não nesta última nota a imprensa. Vale nota aqui que semanas antes, o ator acabou deixando uma entrevista com o jornalista britânico Krishnan Guru-Murthy quando esse começou a querer perguntar sobre seu passado com as drogas. Sobre esse episódio, ele apenas disse que se arrependeu de não ter saído mais cedo e alfinetou que muitas vezes repórteres achavam que ao ele sentar numa cadeira para entrevista  tem que ser escrutinados como se fosse um candidato a prefeito ou algo do tipo.

As polêmicas envolvendo o elenco, obviamente não param por aí.  Um pouco antes do lançamento do filme, Jeremy Renner e Chris Evans foram questionados sobre o fato da personagem da Viúva Negra ter um relacionamento com Bruce Banner ao invés do já esperado caso com Gavião Arqueiro ou Capitão America como já visto em outras mídias. Renner atravessou com uma piada chamando ela de “puta”, o que fez Evans rir e completar com um “vadia”.  Foi uma brincadeira que saiu cara pros atores, bombardeados pelo fandom feminino da Marvel. Evans se desculpou de imediato, dizendo que foi uma piada juvenil e que se arrependeu. Já Jeremy Renner nem tanto. Do jeitão dele, disse apenas que não sabia que as pessoas iriam se afetar por uma personagem fictícia. Recentemente, no programa de Conan O’Brien ele reforçou ainda mais a ideia de que não parecia arrependido. “Sim, era uma piada. Sem graça. Que seja. Sou um cara que não se desculpa por um monte de coisas, mas eu tenho um monte de problemas na internet. Porque isso é uma coisa de agora, que você vive tendo.” disse ele.


Ainda dentro dessa polêmica de acusações de machismo, o novo alvo da vez é Joss Whedon, o que chega a ser surpreendente e irônico. Atacado e bombardeado depois da estreia do filme em seu Twitter, Whedon foi acusado de ser ‘machista’ ou ‘falso feminista’ por conta de certos trechos do novo filme dos Vingadores que algumas pessoas não viram com bons olhos.  Numa das situações, é claro, envolve a Viúva Negra que em dado momento se define também como um “monstro” numa conversa com Bruce Banner. Nesse trecho, fica evidente que ela se referia ao contexto dela ser treinada como assassina, mas houve quem entendesse que poderia ser uma alusão ao fato de algumas falas dela depois revelar que foi esterilizada durante seu treinamento na sala vermelha. Dentro das mesmas reclamações, houve queixas de ela sequer ousar tentar levantar o Mjolnir por já “saber a resposta” de que era indigna ou mesmo ao sutil comentário do Stark de que instituiria a Prima Nocta se fosse coroado rei de  Asgard. Em meio a tantos ataques, o criador de Buffy e Firefly resolveu ontem deletar sua conta do Twitter.

A resposta a isso não foi vista com bons olhos pelos fãs do trabalho do diretor. Em meio ao bate-boca e tantas opiniões a respeito, talvez se destaque o que foi colocado por James Gunn, de Guardiões da Galáxia, sobre o assunto. “A maioria de vocês deve já estar ciente disso. Mas qualquer um que se levanta contra um diretor para querer que ele se mate por conta de um plot pontual de um filme tem que seriamente examinar sua vida.  Como fãs, temos que ter ciência de separar o que nós não amamos daquilo que amamos e aceitar que nem tudo que sai na tela é como gostaríamos que fosse. E claro, eu acredito que 95% do fandom são lindos, amáveis,  pensadores e pessoas bem ajustadas e vocês são verdadeiramente e profundamente apreciados por mim” disse Gunn.



Normalmente, o site costuma se esquivar desse tipo de assunto relacionado a polêmica de bastidores ou pessoais, mas partiu de nossos leitores em alguns comentários saber quando falariamos sobre o assunto (principalmente neste último caso que acometeu Joss Whedon).  Então, vale aqui algumas notas e impressões exclusivas  minhas.

Particularmente, eu acredito que há um grande equívoco em muitas dessas situações, que acabam sendo alardeadas do modo errado pelo atual baixo limiar de sensibilidade que às vezes acomete a internet. Um dos nossos membros, o Rafael Brizola, pontuou muito bem numa discussão quando disse que “os personagens tem que ser pessoas em primeiro lugar, não discursos sociais e políticos”, o que basicamente concordo.  Os personagens em essência são representações do nosso dia a dia, e quando um roteirista ou diretor coloca falhas de caráter ou opiniões mais obtusas na narrativa, não implica que concordem com elas, apenas denota que elas existem por aí e colocam-nas em choque com a audiência. Ter um Tony Stark mais chauvista que é ironizado pela Maria Hill ou ter ao mesmo tempo um Bruce e Natasha mostrando uma faceta mais frágil são ótimos encaixes na trama para humanizar um enredo de personagens de mundo tão fantástico. Na verdade, nenhum leitor da Marvel deveria se queixar disso, já que sempre foi o forte da editora mostrar que em meio ao mundo heroico há muito da fraqueza  humana.

De certo modo, assim como os personagens, vale lembrar que os atores não podem também se distanciar dessa condição como humanos. Sendo assim, seja por uma situação irreverente mal colocada ou seja por estar acuado numa entrevista, nem sempre eles vão seguir a cartilha de boa conduta. E ainda assim, fazendo aqui um paralelo com as palavras do James Gunn, cabe a nós separar o que concordamos do que não concordamos, e aceitar que nem sempre as pessoas agem ou mesmo pensam como gostaríamos que fosse. E faz parte do exercício de ser tolerante, antes de tudo, aceitar falhas e diferenças. Acredito que essa foi uma das lições que esses gibis tentaram nos ensinar ao longo do tempo.

Coveiro

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