quarta-feira, 14 de março de 2012

Fabulosos X-Men: Guerra Biológica

O inimigo mais perigoso é aquele que ataca de dentro. Não, não estou falando de grandes conspirações e traição, estou falando de vírus. Aquele inimigo invisível capaz de grandes estragos. E o tema é abordado em “Quarentena”, um arco de 5 partes de Matt Fraction e arte de Greg Land que foram publicados nas edições 122 e 123 da revista X-Men. Mais uma vez os mutantes se deparam com um agente destes, mas a história envolve muito mais do que aparenta e, mesmo sem poderes, os filhos do átomo vão provar que precisa de muito mais que isso para ser um verdadeiro X-Men.

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Não é de hoje a ideia de que existam vírus que atacam mutantes, o mais famoso, claro, o vírus legado. Mas Matt Fraction volta a abordar a questão com uma epidemia viral atacando todos os mutantes. A diferença é que, desta vez, o vírus foi fabricado por vilões que querem conseguir algo em troca da cura (também feita por eles). O grupo é um já trabalhado pelo roteirista liderado por Encéfalo e seus comparsas Betty Balanço, Cruel, Golpe e Verre, o grupo Sublime. E sim, eles se baseiam em algumas ideias de John Sublime que criou os U-Men tempos atrás, com transplante de órgãos mutantes. A ideia é que o poder mutante deveria ser de acesso a quem quisesse ou, na verdade, pudesse pagar. A história de John Sublime e seus feitos foi escrita pelo odiado ou amado Grant Morrison.

A ideia é basicamente a mesma, poderes mutantes para quem pagar, mas de forma bem mais simples e menos invasiva: um aerossol que transforma o genoma, também parecido com algo já feito por Morrison, a droga Porrada. E, da mesma forma os novos poderes dados viciam, fazendo a pessoa ter de comprar a dose sempre. Ainda não era oficial, Encéfalo precisa de investidores e do direito comercial do genoma mutante que é o que ele quer dos X-Men em troca da cura pro vírus que ele fabricou. Bom, na verdade, acho que existem bem mais implicações em manipulação genética e não seria nada que poderia ser vendido assim, às claras. Além disso, ele podia dar os poderes específicos de cada X-Men, o que levaria o líder a ter acesso a cada genoma completo, que, obviamente, foi deixado de lado. Mas, voltemos à ficção. No caso dos investidores, Encéfalo proporcionou uma festa e uma amostra: 5 jovens fascinados pelos mutantes ganharam os poderes dos mutantes originais. Os “novos x-men” começaram a agir por São Francisco, o que chamou a atenção dos originais, claro. Eles foram levados a Utopia e depois de muito custo e muitos autógrafos pedidos, foram convencidos de quem não faziam algo bom.

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Voltemos à questão viral. Os mutantes que são contaminados perdem os poderes, além de apresentarem sintomas de uma gripe severa (talvez semelhante a H1N1, e o vírus é chamado HxN1). Eles estão em quarentena em Utopia, ninguém sai, ninguém entra. A dúvida que causa pavor na população é se o vírus pode infectar humanos e Dra. Rao se sacrifica injetando o vírus em si pra ter uma resposta mais rápida. Não, não se pode transmitir a humanos normais. Uma solução fácil e pouco provável. Tudo bem que o vírus é feito com suas coordenadas específicas, mas se fosse um vírus no mundo real, ele poderia rapidamente mutar para outro hospedeiro. O vírus legado era previamente visto como apenas infectante de portadores do gene X até infectar Moira. Esse passo é comum e reconta a história da AIDS que, quando descoberta, era tipo como uma doença apenas homossexual, simplesmente porque foi a categoria que mais frequentemente demonstrou sintomas no surgimento do vírus, porém, logo casos de heterossexuais apareceram mostrando que estavam errados. Mas, se considerarmos que Homo sapiens e Homo sapiens superior são espécies diferentes, daí sim, um vírus poderia atacar somente mutantes, já que esses “organismos” em geral escolhem uma ou outra espécie como hospedeira. Existem muitos vírus de macaco (até semelhantes ao Ebola) que não são perigosos para o ser humano, porém, lembrando mais uma vez que com uma ou duas mutações, ele pode “pular” de espécie (dessa vez, como caso do Ebola).

Desculpem, eu me empolgo nesta matéria porque gosto muito da área (embora minha especialidade sejam bactérias) e fico um tanto frustrada do assunto ter sido abordado tão fracamente nas HQs. A vantagem de Fraction aqui foi mostrar bem os efeitos nos mutantes: os de mutações físicas sofriam mais, Wolverine quase morrendo pela falta do poder de cura e consequente envenenamento por adamantium, etc. Mas tantas outras coisas ficaram vagas e mal feitas que me dá uma certa tristeza por saber o potencial do tema. O vírus legado foi melhor explorado, mas não houve epidemia, poucos foram os infectados ao final, ao contrário deste que infectou todos moradores de Utopia. Talvez uma mistura das abordagens trouxesse algo de fato interessante.


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Em paralelo a epidemia mutante, uma história: Emma, Fantomex e Kitty viajam com o prisioneiro secreto Sebastian Shaw para dar um fim a ele. Pelo menos é o que Emma quer e o que Kitty pretende impedir ao ir junto. Mas Fantomex acha que faz um favor ao jogá-lo da nave, não sabendo que o mutante se alimenta de energia cinética. A briga começa e Shaw quer matar Frost de qualquer forma. Usa todos bloqueios que ela mesma o ensinou tornando difícil para telepata fazer algo. Kitty tenta impedir a morte de Emma (afinal, ela não quer que ninguém morra) fingindo ainda manter suas habilidades de se materializar quando quer, o que me leva a pergunta: Como ela pode correr sem passar o chão? Se ela não consegue materializar o traje, também não deveria ser o mesmo com a bota?? Enfim. Emma descobre a abordagem necessária: se não consegue entrar em sua mente quando seu desejo de mata-la é tão grande, ela pode, pelo menos, fazê-lo achar que conseguiu o que quer. Achando que ela está morta, Shaw fica a mercê da telepata que apaga sua mente deixando o mutante sozinho sem saber quem é e muito menos quem é ela. Problema resolvido, pelo menos por enquanto.


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Voltando ao confronto com o Grupo Sublime, uma festa mostraria aos investidores a proposta e o pequeno grupo de X-Men que estava fora de Utopia (fora da quarentena e sem o vírus) entram em ação, incluindo Tempestade. Contudo, a estratégia de Encéfalo é dar a todos uma amostra de seu produto, tornando a todos poderosos. Pra enfrentar um bando de iniciantes mega-poderosos, os X-Men precisam de ajuda e os outros membros quebram a quarentena para ajuda-los. Mesmo sem poderes (por causa do vírus) e doentes, eles são os X-Men e podem mesmo assim lidar com um bando de pretensos investidores metidos a poderosos. Então uma coisa interessante: Logan fala aos investidores que tomaram a droga do seu poder e se acham Wolverines agora que regenerar é fácil, difícil é suportar a dor. Isso é ser ele todo o tempo e consegue assustar os candidatos a mutante. Claro que investidores com medo não é bom pra Encéfalo que libera a função Ebola do vírus.

Aqui o roteiro se perde de vez na minha visão de infectologista. Até aceito ficcionalmente alguém controlar um vírus feito por ele, mas transformar uma Gripe em Ebola?? São dois vírus completamente diferentes. Vejam bem, vírus são organismos extremamente simples que usam maquinário alheio, eles têm genoma pequeno que os permite fabricar de 5 a 10 proteínas para atingir seu objetivo (o ebola produz 7 proteínas). O objetivo e o alvo de um vírus de gripe são completamente diferentes de um ebola e eles precisam de proteínas bem diferentes para cumpri-los. Logo, para transformar uma gripe em ebola, ele teria que fazer o vírus mudar todo seu genoma em um aperto de botão. Considerando que isso fosse possível, até o vírus mudar e atacar novos alvos de forma diferente dentro do organismo levaria ao menos horas, mas não, eles se contorcem e sangram pelo nariz imediatamente quando o botão é apertado. Mas, relevemos. Eles se contorcem e sangram porque o vírus ebola liquefaz os órgãos e faz sangrar por todos os orifícios (e impede a capacidade de coagulação), além de outros sintomas tão graves quanto. Mas o vírus é tão contagioso ou mais que uma gripe séria (e rápido, pelo visto) e, agora, todos os presentes possuem genoma mutante, o que os faz começarem a apresentar sintomas, incluindo Encéfalo.


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Scott revela que era tudo um plano, que ele havia notado que os “novos mutantes” da Sublime apresentaram os sintomas assim que chegaram em Utopia e ele resolveu levar o vírus de volta pra casa. O vilão é forçado a dar a cura ou morre também e, não supreendentemente, é com um aperto de botão que ele erradica o vírus de todos. Encéfalo vai sofrer um processo por parte dos X-Men e tudo parece terminado quando percebem que um integrante dos “novos mutantes”, a Anja, sumiu com várias doses de poder em aerossol, que pode vir a ser um problema. Mas o ponto alto deste final é a ideia (que acho era a intenção da trama toda) de que não basta ter poderes para ser um X-Men. Não é gene, treino ou causa que lhe torna um membro desta equipe. Muito menos fama e glamour como os outros procuravam. É, nas palavras do líder Ciclope, “correr risco de vida, pessoas te examinando em nível microscópico só pra descobrir formas de te prejudicar ou controlar, lidar com a dor... Isso é ser X-Men”.


ps. Para ver as capas americanas que não apareceram durante o texto, clique aqui, aqui e aqui.



Cammy

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