Após o evento conhecido como Cisma, os X-Men se dividiram em duas facções por discordarem sobre como orientar as gerações de mutantes mais jovens. Uma delas, liderado por Ciclope, continuou em Utopia, a nação mutante insular localizada na baía de São Francisco. A outra, liderada por Wolverine, reabriu a antiga escola em Westchester, rebatizada como “Academia Jean Grey para Estudos Avançados”.Porém, essa divisão ideológica pode ser mais tênue do que se imagina, como mostra a conclusão do arco “Tribos Perdidas”, escrito por Christos Gage e desenhado por David Baldeon. Nos EUA, saiu nas edições 262 e 263 de X-Men Legacy e aqui em X-Men Extra 137 (Panini).
Enquanto Vampira tenta reavaliar o seu relacionamento à distância com Magneto, que permaneceu em Utopia, a escola recebe a visita do mutante super poderoso chamado Exodus, que quer reunificar as duas facções de X-Men nem que seja à força para que a raça mutante não pereça. Após o conflito que se seguiu, ele foi induzido de maneira involuntária pelos X-Men de Westchester a acreditar que o responsável pela separação entre os grupos foi Ciclope. Furioso, ele parte para Utopia disposto a eliminá-lo. Isso tudo falamos na edição anterior como bem resumimos aqui.
Com os alunos em segurança, Wolverine e Vampira reúnem um esquadrão para embarcar no Pássaro Negro e interceptá-lo antes que ele chegue ao seu destino. Vampira quer avisar Scott em Utopia e Logan não concorda com isso para que as crianças de lá não sejam envolvidas em um fogo cruzado. Além disso, se Scott for assassinado por Exodus, ele se tornaria um mártir e a cizânia se aprofundaria ainda mais.
Eles começam a discutir entre si e Vampira, aparentemente, decide não acompanhá-los. Na verdade, ela se dirige à central de comunicações e, após alguns instantes, teleporta-se para o interior do jato graças à habilidade que roubou do próprio Exodus. Por essa razão, ele mesmo só poderá chegar a Utopia voando e ainda há tempo para que ele seja interceptado no caminho.
O Pássaro Negro consegue alcançá-lo e uma ofensiva desesperada se inicia. Infelizmente, ele é poderoso demais e a necessidade de reforços se torna premente. Nesse ínterim, Vampira revela que enviou uma mensagem de alerta programada com atraso para Utopia antes de sair para que eles tivessem tempo de resolver tudo sozinhos. Logan fica furioso e acusa Vampira de ter enviado essa mensagem para rever Magneto e de ter colocado a missão em risco por causa de seus “sentimentos pessoais” por ele. “Não posso confiar em ti”, ele diz, sentindo-se traído.
A batalha parece caminhar para o seu fim com a vitória de Exodus, mas os reforços de Utopia chegam a tempo. Não a equipe de extinção de Ciclope, que se encontrava ausente, mas o esquadrão de Esperança Summers, a ”messias mutante” treinada por Cable como um soldado e capaz de copiar os poderes de qualquer mutante nas proximidades.
Com muita relutância de Wolverine e Vampira, por se tratarem de crianças como as que ficaram abrigadas na Academia Jean Grey, o esquadrão de Esperança se junta ao combate e toda uma ideologia é posta em xeque. Esperança e Vampira tomam à frente e, graças à ação coordenada de todos, Exodus é finalmente derrotado mas, mesmo assim, ele se diz satisfeito e acrescenta que seria impossível vencê-lo sem que as duas facções se unissem e que a reunificação dos mutantes será inevitável com o tempo.
Wolverine, cada vez mais contrariado, concorda que o melhor é que Exodus seja aprisionado em Utopia, pois lá existe tecnologia para isso. Ele não deixa de apontar a ironia da situação, pois chegar lá era justamente o que ele queria. Vampira avisa aos integrantes do esquadrão de Esperança que as portas da escola estão abertas, mas eles se mostram irredutíveis. Infelizmente, a tragédia em que 45 colegas foram assassinados lá por extremistas mutantes é uma cicatriz ainda aberta em vários deles como Noriko e Soraya.
Esta última acrescenta que lutar pela própria vida sempre será o destino deles e que o melhor é aceitar isso. Esperança não perde a oportunidade de ratificar esse argumento ao dizer para Vampira e Logan que eles também usaram “um bando de crianças como soldados quando foram encurralados”. Vampira contra-argumenta dizendo que não falaram que as crianças nunca lutariam, mas que isso não poderia ser o objetivo principal da vida deles, pois assim eles acabariam se tornando como “Magneto? Wolverine? Você? Não vemos problema nenhum” diz Fada, atalhando a conversa, antes de teleportar todo o esquadrão e o prisioneiro para Utopia.
Os X-Men retornam para a Mansão e o clima entre eles é péssimo. Vampira tenta aparar as arestas com Logan, mas não consegue. Ele reconhece que ela é ótima com os alunos, sabe que pode contar com ela mas, diferente do que a Panini traduziu, ele não poderia mais confiar nela e que de agora em diante levaria isso em conta.
Os alunos começam a voltar à rotina. Olhos Vendados, que previu a chegada de Exodus e a destruição da escola, é interpelada por Anole dizendo que nada disso aconteceu e ela simplesmente responde: “não acabou ainda”.
Desta vez, gostei do roteiro do Christos Gage. A meu ver, ele diluiu um pouco o “protagonismo” de Vampira e criou uma polarização interessante com Wolverine e isso pode render boas histórias. Deixar Exodus aprisionado em Utopia foi um bom gancho e, quem sabe, ainda veremos as duas facções de X-Men lutando lado a lado contra um inimigo comum e poderoso o suficiente para causar isso, mesmo que ele não tenha um décimo do carisma de um Magneto, por exemplo. Gostei também de como ele demonstrou, através desse arco, como é frágil a diferença ideológica que no momento separa os mutantes já que se as “crianças” do esquadrão de Esperança não tivessem atendido ao chamado de Vampira ou se a ajuda delas fosse recusada a todo custo, o resultado do combate seria outro.
David Baldeon me pareceu mais à vontade com os personagens e gostei muito da diagramação mais dinâmica que ele utilizou nas páginas com seqüências de ação. Um detalhe que me chamou a atenção foi ele ter colocado a Rachel enfrentando Exodus no plano psíquico com o seu uniforme de “rastreadora” de mutantes com o avatar da Fênix por trás. Será que é uma pista de algo que virá?
Quanto à Panini, apesar de não ter deixado passar erros crassos de ortografia na revisão, desta vez cometeu um imperdoável na tradução, que alterou completamente o sentido do que Wolverine disse pra Vampira no final da história. A Panini traduziu a fala dele como “Sei que posso contar contigo, mas posso confiar em ti” mas, no original, ele disse: “I know I can rely on you. What I can´t do is trust you”, que quer dizer justamente o contrário: que apesar de contar com ela, não poderia mais confiar nela.
Em suma, foi um arco agradável de ler, com bons desenhos, mas infelizmente com esse erro feio de tradução por parte da Panini em um momento chave da história.
Carlos Andre
Colaborado do site Marvel 616