Uma trama foi construída na última edição de X-Men Extra (a especial 136.1), levando as histórias dos Surpreendentes X-Men a um evento de extrema relevância. Não falo da criação ou da volta de algum vilão que revolucionará as histórias dos mutantes nas HQs (essas mudanças profundas provavelmente virão com o fim de Vingadores vs X-Men), mas de um tema que acabou sendo trabalhado no melhor lugar quando consideramos o universo de personagens da Marvel: o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.
Ainda é estranho (e polêmico) falar do casamento entre dois homens ou duas mulheres como algo “a parte”. É claro que isso envolve valores, moralidades e outras instituições literalmente milenares, e que não necessariamente tocam apenas em questões religiosas. Por isso acredito que usar o universo mutante da Marvel para tratar desse assunto é uma escolha mais do que acertada.
Os X-Men, afinal, foram criados para tratar do preconceito, e da luta contra ele, usando a existência fictícia de seres humanos nascidos com poderes extraordinários como metáfora. Sempre em favor das várias formas pelas quais é possível e necessário lutar por mais entendimento, harmonia e tolerância ao redor do planeta. De fazer o que parece estranho e errado, por simples incompreensão e/ou intolerância, ser visto como parte da humanidade de qualquer um.
Minha opinião é que a roteirista Marjorie Liu é bem sucedida no que tenta fazer. Para quem já refletiu sobre o fundamento das histórias dos X-Men, fica razoavelmente claro que as diferenças entre humanos e mutantes é hiperbólica se comparada às diferenças que vemos no mundo ao nosso redor. Sejam elas de credo, etnia, orientação sexual... E é justamente nesse ponto que ela toca quando aborda as mazelas do relacionamento entre Jean-Paul Beaubier (o Estrela Polar, herói cuja homossexualidade é conhecida há muito tempo) e Kyle Jinadu (seu namorado, noivo, e, conclusivamente seu marido).
Digo isso porque as dúvidas, os desencontros, as barreiras que permeiam a continuidade do seu relacionamento, o pedido e a realização do casamento, está tudo alicerçado sobre o estilo de vida de Jean-Paul. Não falo de sua orientação sexual, claro, mas do fato dele ser um herói com a vida em constante ameaça, o que faz com que isso se perpetue sobre seus entres amados. Principalmente o que mais ama.
Em meio a incertezas, Jean-Paul e Kyle podem ser vistos de maneira mais crua. Como duas pessoas que se amam e que veem seu relacionamento ameaçado, pouco importando o fato de serem dois homens. É contrapondo o absurdo fictício da ameaça em parte ainda desconhecida pelos X-Men (cujo pivô, aliás, é Karma, uma heroína também homossexual, mas cuja sexualidade é praticamente irrelevante para a história) que Liu consegue mostrar o quanto o amor nutrido entre os dois noivos pode, e deve, ser considerado normal. Ou, no mínimo, que concerne apenas aos dois envolvidos.
Liu capricha também ao fazer uma referência leve, quase imperceptível, à quando a amizade do Homem de Gelo com Jean-Paul foi abalada (em histórias escritas por Chuck Austen) pelos preconceitos de Bob, demonstrando o quanto, mais maduro, ele agora está lá para lhe dar apoio em momento de tamanha fragilidade e importância.
Interessante também como Rapina, cuja cultura extraterrestre impõe dificuldades para que aceite uma união que transcenda o objetivo utilitarista da reprodução, recuse participar da cerimônia. Ela acaba sendo, de fato, a alienígena da história, quando a menor preocupação de todos era com o fato de duas pessoas do mesmo sexo estarem casando.
A hesitação, a aparente fraqueza de Jean-Paul a momentos de adentrar a bela e simples cerimônia, é capaz de criar empatia em praticamente qualquer pessoa prestes a se casar. Independentemente de gênero ou orientação sexual. É uma decisão sobre uma guinada na vida de qualquer um. Ou passo adiante de uma certeza que foi construída com anos de convivência e fortalecimento mútuo.
A arte de Mike Perkins é um bônus. Um desenhista que preza pelo detalhe na expressão facial de seus personagens é quase um requisito básico para esse tipo de história, e não dá para se decepcionar com o resultado. Até porque as cenas de ação (claro, a história de fato não terminou, ainda temos uma ameaça que só nas próximas edições será confrontada de fato), são igualmente acima da média.
Portanto, é claro que a história é um manifesto a favor da tolerância. Caso contrário essa não seria uma história dos X-Men, cuja raiz estava na luta pelos direitos civis da população negra dos EUA nos anos 60, mas que com o passar dos anos levou suas ramificações a qualquer tipo de luta que busque o tratamento igualitário como princípio não só teórico, mas prático. E o casamento do Estrela Polar contado por Marjorie Liu cumpre essa meta.
João
Ainda é estranho (e polêmico) falar do casamento entre dois homens ou duas mulheres como algo “a parte”. É claro que isso envolve valores, moralidades e outras instituições literalmente milenares, e que não necessariamente tocam apenas em questões religiosas. Por isso acredito que usar o universo mutante da Marvel para tratar desse assunto é uma escolha mais do que acertada.
Os X-Men, afinal, foram criados para tratar do preconceito, e da luta contra ele, usando a existência fictícia de seres humanos nascidos com poderes extraordinários como metáfora. Sempre em favor das várias formas pelas quais é possível e necessário lutar por mais entendimento, harmonia e tolerância ao redor do planeta. De fazer o que parece estranho e errado, por simples incompreensão e/ou intolerância, ser visto como parte da humanidade de qualquer um.
Minha opinião é que a roteirista Marjorie Liu é bem sucedida no que tenta fazer. Para quem já refletiu sobre o fundamento das histórias dos X-Men, fica razoavelmente claro que as diferenças entre humanos e mutantes é hiperbólica se comparada às diferenças que vemos no mundo ao nosso redor. Sejam elas de credo, etnia, orientação sexual... E é justamente nesse ponto que ela toca quando aborda as mazelas do relacionamento entre Jean-Paul Beaubier (o Estrela Polar, herói cuja homossexualidade é conhecida há muito tempo) e Kyle Jinadu (seu namorado, noivo, e, conclusivamente seu marido).
Digo isso porque as dúvidas, os desencontros, as barreiras que permeiam a continuidade do seu relacionamento, o pedido e a realização do casamento, está tudo alicerçado sobre o estilo de vida de Jean-Paul. Não falo de sua orientação sexual, claro, mas do fato dele ser um herói com a vida em constante ameaça, o que faz com que isso se perpetue sobre seus entres amados. Principalmente o que mais ama.
Em meio a incertezas, Jean-Paul e Kyle podem ser vistos de maneira mais crua. Como duas pessoas que se amam e que veem seu relacionamento ameaçado, pouco importando o fato de serem dois homens. É contrapondo o absurdo fictício da ameaça em parte ainda desconhecida pelos X-Men (cujo pivô, aliás, é Karma, uma heroína também homossexual, mas cuja sexualidade é praticamente irrelevante para a história) que Liu consegue mostrar o quanto o amor nutrido entre os dois noivos pode, e deve, ser considerado normal. Ou, no mínimo, que concerne apenas aos dois envolvidos.
Liu capricha também ao fazer uma referência leve, quase imperceptível, à quando a amizade do Homem de Gelo com Jean-Paul foi abalada (em histórias escritas por Chuck Austen) pelos preconceitos de Bob, demonstrando o quanto, mais maduro, ele agora está lá para lhe dar apoio em momento de tamanha fragilidade e importância.
Interessante também como Rapina, cuja cultura extraterrestre impõe dificuldades para que aceite uma união que transcenda o objetivo utilitarista da reprodução, recuse participar da cerimônia. Ela acaba sendo, de fato, a alienígena da história, quando a menor preocupação de todos era com o fato de duas pessoas do mesmo sexo estarem casando.
A hesitação, a aparente fraqueza de Jean-Paul a momentos de adentrar a bela e simples cerimônia, é capaz de criar empatia em praticamente qualquer pessoa prestes a se casar. Independentemente de gênero ou orientação sexual. É uma decisão sobre uma guinada na vida de qualquer um. Ou passo adiante de uma certeza que foi construída com anos de convivência e fortalecimento mútuo.
A arte de Mike Perkins é um bônus. Um desenhista que preza pelo detalhe na expressão facial de seus personagens é quase um requisito básico para esse tipo de história, e não dá para se decepcionar com o resultado. Até porque as cenas de ação (claro, a história de fato não terminou, ainda temos uma ameaça que só nas próximas edições será confrontada de fato), são igualmente acima da média.
Portanto, é claro que a história é um manifesto a favor da tolerância. Caso contrário essa não seria uma história dos X-Men, cuja raiz estava na luta pelos direitos civis da população negra dos EUA nos anos 60, mas que com o passar dos anos levou suas ramificações a qualquer tipo de luta que busque o tratamento igualitário como princípio não só teórico, mas prático. E o casamento do Estrela Polar contado por Marjorie Liu cumpre essa meta.
João