Eu e meu simbionte favorito

* Artigo escrito por nosso colaborador Bruno Bello

Ele é um dos vilões mais famosos e queridos do Homem-Aranha. Ele conquistou seu espaço na Casa das Idéias como poucos. E agora ele tem sua Origem Sombria revelada. Eddie Brock, o primeiro vilão a portar o simbionte alienigena após o homem aranha e assumir o codinome de Venom, conclui a minissérie sobre seu passado na edição 92 do Homem-Aranha deste mês.

O tempo passa e Eddie já não é mais uma criança. Mora em um pequeno apartamento, em Nova Iorque, junto de sua esposa. As mentiras continuam existindo na vida de Brock. Ele diz a sua mulher que trabalha para o Globo Diário como jornalista, mas na verdade é apenas um estagiário responsável por fazer café e que nunca escreveu uma matéria na vida.

Mas isso está pra mudar quando pedem que ele leia uma pilha de cartas de leitores e entregue as legíveis para publicação. No meio dessa pilha, Eddie encontra uma carta assinada por um homem que se auto-intitula “Devorador de Pecados”. Esse homem passa informações sobre vítimas que ele supostamente está matando e diz que vai ligar para um telefone público em um determinado dia, com local e hora marcados.

Brock não conta sobre a carta para ninguém e vai ao local combinado conversar com o assassino por telefone. Ele diz que é repórter policial e escreve uma matéria a partir do depoimento do suposto assassino. Com o passar do tempo, mais mortes acontecem e o Devorador de Pecados se diz culpado pelos crimes. Suas entrevistas saem sempre no Globo Diário, em matérias exclusivas feitas por Eddie Brock.

Tudo vai bem na vida de Eddie. Ele tem agora fama, não é tratado como lixo no trabalho e deseja que tudo continue assim. Mas um telefonema do Devorador de Pecados muda tudo. Ele diz que quer se encontrar com Eddie na igreja.

Na igreja, o assassino diz ser um homem doente que precisa de ajuda. Brock finge ser amigo do homem e pergunta seu nome. E ganha a resposta: Emil Gregg. Os dias seguintes são agitados. Mais mortes envolvendo o Devorador de Pecados e Eddie Brock é o único que consegue publicar matérias a respeito do sujeito como se conhecesse o homem.

A polícia pede que ele dê informações completas sobre o sujeito, incluindo seu nome. Brock nega, dizendo que faz parte da ética jornalística não divulgar nomes de pessoas que querem se manter anônimas. A confusão cresce e Brock gosta do que vê. Ele é cada vez mais conhecido e o jornal vende bem por sua causa.

Mas nem todos gostam disso. O pai de Eddie aparece um dia, quando ele voltava do trabalho, e diz estar desapontado pelo filho não se preocupar com as vítimas do assassino. No dia seguinte Brock resolve fazer aquilo que seu pai acha mais correto e faz uma matéria revelando quem é o Devorador de Pecados. Mas infelizmente o contato de Eddie era falso e, nesse mesmo dia, o verdadeiro Devorador de Pecados é preso pelo Homem-Aranha.

O jornal teria grandes problemas pelas matérias falsas. A cabeça de alguém tinha de rolar. E a de Brock é a escolhida.

Alguns dias se passam e Eddie está sem emprego e sem esposa, sozinho no mundo e se sentindo um derrotado. Ele vai novamente até a igreja e começa a rezar, dizendo a deus que se sente mal por tudo aquilo, que quer se matar e que não consegue tirar da cabeça a idéia de matar o Homem-Aranha, responsável por desmascará-lo na frente de todos ao prender o verdadeiro assassino.

Essa frase é o suficiente para fazer o simbionte, que estava há dias na igreja, pular no corpo de Eddie e começar a se fundir a ele. A transformação é dolorosa e um pouco lenta. Brock começa a receber toda a memória sobre as Guerras Secretas e como foi a vida do simbionte com o Homem-Aranha. Seus gritos fazem o padre chamar a polícia, que encontra Eddie caído no chão, desmaiado.

Ao acordarem Brock, ele começa a vomitar o simbionte e finalmente se transforma por completo. Ele mata os policiais, pede ao padre que o perdoe por aquelas mortes e pelas que virão mais tarde e vai embora.

Ao chegar em casa, se depara com sua mulher e um advogado. Ela pede que ele assine os papéis do divórcio e Eddie assina sem pensar duas vezes. Mas por dentro ele grita. Ele quer o Homem-Aranha morto. Então, mais tarde, ao se olhar no espelho, Eddie Brock solta uma risada macabra, que aos poucos vai aumentando até finalmente escancarar sua boca, mostrando a risada tão conhecida do vilão.

Agora ele e o simbionte são um só. Está na hora de Eddie conhecer a história de vida do simbionte. A criatura atinge seus pensamentos e o arrasta para um mundo agressivo, onde um animal indefeso sai de sua toca, sabendo que irá morrer, para colocar seus ovos e continuar o ciclo da vida. Mas seus ovos são dominados por simbiontes no momento em que os filhotes estão nascendo e assim as criaturas passam a agir em grupo, não mais como animais indefesos, mas como predadores daquele planeta. Brock entende o recado, dizendo que o simbionte ajuda criaturas indefesas e agora é a vez dele ser ajudado. E assim ambos poderão realizar seus maiores sonhos, começando por matarem o Homem-Aranha.

Primeiro eles fazem um teste. Vão até uma estação de trem onde Peter Parker se encontra e o empurram na linha do trem. Claro que Peter sai ileso, mas Brock percebe que o sentido de aranha não funciona contra ele e seu simbionte.

Então eles vão para o próximo passo do plano: visitar Mary Jane, a esposa (ou melhor, namorada) do Homem-Aranha. Juntos, amedrontam a mulher o máximo que podem, depois a arremessam contra uma parede para machucá-la e deixar um recado para Peter. No próximo encontro, eles irão matá-lo.

Mais alguns dias se passam e Brock consegue encontrar o Homem-Aranha fazendo ronda em uma área. Ele volta para casa para malhar mais, assim ele pode ficar mais forte e deixar o simbionte mais forte.

Eles vão até o Clarim Diário e chamam a atenção de Peter, que logo veste seu uniforme negro de Homem-Aranha e começa a caçar o vilão. Brock faz Peter entrar em seu jogo e deixa ser alcançado para depois jogar Peter contra uma casa. É a hora de começar sua vingança.

Ele diz para Peter que sabe quem ele é e como são seus movimentos. Também diz que vai matá-lo porque a culpa de tudo ali é dele. A princípio, Peter diz que Eddie deve rejeitar o simbionte, mas não tem sucesso em convencer o homem. Eddie diz que, se Peter Parker é o Homem-Aranha, ele e o simbionte são o veneno da aranha, eles são o Venom. E eles estão ali por vingança.

Peter diz que a culpa daquilo tudo não é dele e sim do próprio Eddie que não soube averiguar suas fontes. Ele fala sobre a morte do tio Ben e que ele não culpou o assassino pela morte, mas ele mesmo, que não fez nada para impedir. Eddie retruca dizendo que Peter é igual a ele, pois vende fotos dele mesmo para o Clarim e que aquilo tudo que estava acontecendo era injusto.

Então o Homem-Aranha dispara um disruptor sônico (de onde saiu a arma?) contra o Venom e, acreditando que ele está atordoado, diz que voltará logo com o Quarteto Fantástico. Mas Venom não quer desistir tão cedo e consegue impedir que o Homem-Aranha fuja. Ele acerta Parker em cheio na cabeça e, quando o amigão da vizinhança acorda, ele está preso em um sino imenso, coberto de teia.

Venom sabe que não pode fazer tanta teia assim, pois a teia que ele lança faz parte do simbionte. Mas aquele momento era especial. Ele iria jogar o pêndulo do sino contra o Homem-Aranha, matando-o de vez. O que ele não esperava era que Peter fosse se soltar e ainda jogar na cara dele que tudo aquilo era o mais fácil, que Eddie Brock não conseguia admitir seus próprios erros. Então o cabeça de teia empurra o pêndulo na direção do sino, fazendo Brock se contorcer de dor. Peter o atinge e o derruba do alto da torre.

Venom não quer se dar por vencido e continua atirando teias. Mas o Homem-Aranha corta todas as teias que o vilão solta e assim, aos poucos, Brock começa a ficar sem revestimento de simbionte e cai no chão, quase sem nada.

Eddie acorda no laboratório do Quarteto Fantástico, preso em uma cela que impede o simbionte de ganhar forçar para escapar. Mas pelo menos eles não sabem como separar os dois. A única coisa que ele não entende é que, enquanto caía da torre, não conseguia parar de atirar teia, pois o simbionte não queria parar. Ele acha que é porque o simbionte prefere o Homem-Aranha do que ele e por isso não se importaria se ele morresse. Mas o simbionte diz a ele que aquilo é bobagem e que só quer o melhor para ele.

Eddie Brock resolve acreditar. É o mais fácil para ele.

Essa minissérie, apesar de contar uma história já muito conhecida (a aparição do Venom e sua primeira batalha contra o Homem-Aranha), é muito boa. Primeiro, porque ela aborda tudo do ponto de vista do Eddie Brock e seu relacionamento com o simbionte. Segundo, porque ela conta mais sobre a vida de Brock, desde sua infância, nos mostrando que ele nunca foi um homem bom. E terceiro porque ela dá uma “reciclada” em tudo o que aconteceu nos primeiros dias da existência do Venom, tornando mais fácil a compreensão pelos mais novos e dando bons momentos ao pessoal mais velho. É uma pena que tudo isso se perca muito nas histórias atuais do Homem-Aranha, já que o atual tratado de Peter com Mefisto impede que qualquer um saiba a identidade dele. E aí, como fica então a história de Eddie Brock saber quem ele é?

Bruno Bello

*Veja a primeira parte da minissérie no artigo "Origens Sombrias"