quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Fest Comix 2011: Mike Deodato Jr

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A mais esperada atração desta Fest Comix deste ano, Mike Deodato Jr, chegou numa chuvosa São Paulo na sexta-feira do dia 14 de Outubro, já com uma agenda cheia para todo fim de semana do evento, incluindo tarde de autógrafos, palestra, avaliação dos desenhos do concurso e entrevistas com sites especializados. Sempre disposto para atender todos os seus fãs, Mike Deodato Jr que já é idolatrado por uma legião, deixou ainda mais admiradores durante esses três dias de evento com sua simplicidade e jeito brincalhão.

Já era um pouco mais da hora do almoço quando ele finalmente chegou na convenção acompanhado de sua esposa, Ana Paula, causando já um grande alvoroço entre as pessoas que o reconheceram na Arena Banco do Brasil, onde acontecia as palestras. Logo depois, foi encaminhado para o stand da Panini onde encontrou-se com Ariel Olivetti, desenhista argentino que também trabalha para Marvel e era parte das atrações daquele dia. Após, cumprimentar o colega que conheceu na convenção de Chicago, Deodato sentou-se à mesa para receber os primeiros que almejavam autografos e até mesmo sketchs . A fila para Deodato já se encontrava interminável, fazia curva, cheia de fãs dos mais diveros lugares, que viajaram de longe para conseguir uma revista autografada e uma foto com seu ídolo. Os fãs traziam trabalhos do autor das mais diferentes épocas, relembrando ao mestre várias fases longínquas da sua carreira como Mulher-Maravilha, Hulk e Homem-Aranha.







Créditos das imagens - Edson Eike, da Impacto Quadrinhos e Mike do Comic City

Já eram por volta das cinco horas da tarde, quando os últimos da fila conseguiram finalmente seu momento com o mestre. E mesmo saindo do stand da Panini, as pessoas não pararam de abordá-lo, chegando retardatários com livros para autografar ou com um pedido de foto ao lado do desenhista. Sua presença no sábado se findou mais uma vez na Arena, acompanhando o desfecho da palestra de seu amigo Luke Ross.



No dia seguinte, antes da sua palestra, após avaliar juntamente com Will Conrad os finalistas do concurso de desenhos, Deodato retornou com a equipe 616 para o stand da Panini para conhecer os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon, autores de destaque do cenário nacional que o desenhista fez questão de parabenizar pessoalmente e registrar o encontro com fotos.



Dali, concedeu algumas entrevistas e finalmente se encaminhou para a palestra. Um pouco tímido inicialmente com grande público presente, Deodato se apresentou brincando e logo passamos a discutir sobre seu mais recente trabalho - Os Vingadores Secretos. Iniciei com uma pergunta sobre sua experiência em trabalhar com Ed Brubaker, autor que ele demonstrou estar bem empolgado em trabalhar desde a última vez que conversamos. Deodato comentou que gostou bastante das idéias do roteiro de Brubaker e que estava bastante empolgado com a história, mas infelizmente sua parceria com o roteirista estava fadada a não durar muito, pois o mesmo veio a desistir do título mais adiante, dizendo que não se sentia a vontade em trabalhar com grupos e equipes. Foi algo que Deodato lamentou muito já que a revista vendia bem e estava sendo elogiada pela crítica. Com o fim da parceria, foi convidado mais uma vez a trabalhar ao lado de Brian Michael Bendis em Novos Vingadores.



Passando para explicações sobre seu trabalho inicial na revista que atualmente encontra-se nas bancas do Brasil sob o título de Capitão América e os Vingadores Secretos, Deodato comentou que estava mais uma vez mudando um pouco seu estilo nas últimas edições do Reinado Sombrio, abusando mais dos tons cinzas e que isso levou o seu editor Tom Brevoort a pedir que Deodato voltasse um pouco mais ao seu estilo original em Vingadores Secretos. Algo que ele prontamente cedeu, mas comentou que já estava lentamente voltando a mudar nas edições mais recentes. Mostrou também que nas primeiras páginas evitou os quadros num estilo mais estilizado como já é de seu costume, pois era a primeira vez que trabalhava com Brubaker, e ainda não conhecia direito as prefêrencias do roteirista.



No meio da apresentação, entra Vilmar Conrado num passo maroto, sentando-se nas primeiras cadeiras já para provocá-lo. Deodato, não querendo deixar a entrada do seu amigo desapercebida, anuncia em voz alta a chegada de Will Conrad, cutucando-o com a voz mais baixa algumas provocações.



Passado o momento de descontração, Deodato volta à suas páginas comentando mais sobre as principais influências que utilizou para realizar esse projeto, citando os nomes de Jim Steranko e Eduardo Risso. Ao chegar nas páginas já coloridas, Deodato fez questão de elogiar o trabalho do colorista Rainier Beredo, com quem vem trabalhando initerruptamente há anos. Comentou curiosidades sobre essa parceria com Beredo, que inclusive o salva quase sempre corrigindo uniformes que Deodato acaba sequer conhecendo os personagens, o que levou Will Conrad a soltar sua primeira piada do dia ao saber se seu amigo Deodato dividia os créditos de desenhista por isso.



Aproveitando a deixa, Will resolveu abrir às perguntas e pediu pra seu amigo comentar um pouco sobre o fato de ele ter adquirido tanta confiança por parte dos roteiristas que hoje sequer manda mais o layout primário para o editor de suas histórias. Deodato explicou que isso vem com a experiência, mas que o certo é sempre bom ter layouts disponíveis antes para seu editor. Para exemplificar o lado ruim disto, comentou que recentemente desenhou uma página dupla em que a disposição de personagens tinha uma angulação incomum ao que todos costumam fazer e acabou sendo obrigado a mudar tudo a pedido do Brian Michael Bendis, que não gostou muito do efeito final. Como não tinha o layout antes, acabou perdendo um dia e meio de trabalho reconfigurando a página numa nova disposição.



As perguntas passaram para o público geral, no qual, o primeiro a pedir o microfone tinha um presente para Deodato - uma réplica do desenhista (com uma cabeça mais comprida como o mesmo fez questão de notar) e uma miniatura do Ninja, personagem que Mike criou ainda jovem em 1978. O rapaz se apresentou como Sérgio, dizendo-se grande fã do trabalho de Mike e lembrando-o que até mesmo pediu autorização de Deodato para usar o Ninja numa fanzine pessoal. Deodato brincou, perguntando se era mesmo presente dele, e depois agradeceu ao rapaz, que já quis garantir um autográfo do mestre no final da palestra.



Seguiram-se as perguntas, uma bastante peculiar sobre as vantagens e desvantagens dos atuais recursos usados pelos desenhistas ao invés dos tradicionais lápis e nanquim. Deodato comentou como tudo começou aprendendo aos poucos a usar o photoshop e como evoluiu para o uso do Cintiq. Confessa que houve uma valorização do seu trabalho graças a esse equipamento, já que ganhou tempo e preciosismo de detalhes com ele. Em contrapartida, o uso da confecção virtual do desenho acabou lhe rendendo menos lucro, já que com isso perdeu na venda das páginas originais. Atualmente, ele apenas faz as capas em papel, deixando todo interior para ser feito direto no computador com cintiq.

Logo após essa pergunta, um outro rapaz questionou sobre a fase em que surgiu o Deodato Studios, a queda do traço do artista e como ele viu que isso estava prejudicando seu trabalho. Deodato respondeu diretamente sem pestanejar que notou isso quando ninguém mais queria contratá-lo, e brincou dizendo que questionou naquela época "vocês nao me amavam? Por que não me amam mais?". Então, continuou dizendo que estava trabalhando demais, ganhando bem, mas sem amor pelo desenho. Com isso, viu que precisava parar para inovar, se recriar. Passou a trabalhar com menos títulos, ganhando menos naquele momento, mas com isso sabia que poderia se dedicar mais a sua arte e assim ganhar muito no futuro. E foi o que aconteceu. Agora, ele faz um revista por mes e uma capa. Também comentou que já recusou várias propostas para sair na Marvel, mas que sempre optou por ficar porque gosta de trabalhar lá e se sente bem.



Num outra pergunta, foi questionado sobre histórias polêmicas do titulo do Homem-Aranha como Pecados Pretéritos e Um dia a Mais. Criticou essas mudanças radicais de um jeito polido, dizendo que como todo fã, ele tem algum desagravo com o que foi feito, mas entendendo certas mudanças tomadas. Lembrou também que nas antigas histórias, não achava a Gwen Stacy tão santinha como muitos pintam e, no final, brincou que não ia falar muito com receio de que Joe Quesada estivesse vendo o video.

Numa nova pergunta sobre o uso de referências de atores para alguns personagens, como o clássico caso do Osborn, Deodato disse que tudo não passava pra ele de uma homenagem e contou que até certo momento nunca tinha sido questionado para que realizasse mudanças. Na fase do Hulk, ele se baseou bastante em Van Damme para dar rosto a Bruce Banner e Milla Jovovich para a namorada do doutor. Contudo, recentemente, a política da Marvel tem sugerido fortemente aos seus desenhistas para mudar isso. É tanto que Deodato acabou tendo que alterar alguns rostos numa página dupla com o Osborn numa edição de Vingadores Sombrios. Aproveitando a deixa, perguntei sobre o uso de alguns personalidades menos conhecidas lá fora, que acabaram entrando como homenagens em suas páginas. Deodato ressaltou ao seu público o caso de Jô Soares aparacendo na sua primeira edição de Thunderbolts e de Tedhy Correa da banda "Nenhum de nós", mais recentemente em Novos Vingadores.



Ainda dentro do tema de rostos, nosso editor Eddie questionou o artista sobre como é que eles fazem para diferenciar as mulheres nos quadrinhos. Deodato confessou que tem dificuldades em desenhar diferenças sutis em rostos, principalmente em mulheres, mas que constantemente anda estudando para tentar melhorar isso. Lembrou que muitas vezes a vestimenta ajuda nessa diferenciação e destacou que no caso da Gwen Stacy, sempre ajuda colocar uma faixa em sua cabeleira loira para identificá-la.

Seguiram-se outras perguntas sobre como funcionam os contratos de exclusividade, artistas que o influenciaram, edição que achou mais marcante trabalhar, gosto por histórias western, compra da Marvel pela Disney e como fica excitado quando sempre tem que começar um novo projeto do zero pela editora. Então, na platéia, Rodrigo Monteiro, questionou Deodato como ele se sente sendo agora uma referência para jovens e talentosos artistas, o que deixou-o completamente sem jeito. Deodato disse que não tem essa sensação ainda e que se vê como apenas um fã. Quando recebeu este reconhecimento da Marvel através do livro, foi difícil acreditar. Em algum momento, quando parar para analisar sua carreira, ainda verá como é tudo isso.



Enquanto respondia uma pergunta sobre o momento que mais se divertiu ao desenhar esses personagens, aproveitei para perguntar algo decisivo - O que ele considera até agora o auge de sua carreia, Thunderbolts do Ellis ou os Vingadores Sombrios do Bendis? Ele sem pestanejar falou que seria seu trabalho com Ellis, já que o inglês consegue "puxar" o pior dele. Citou cenas que considerou clássicas como o Venom comendo o braço do Aranha de Aço e o Mercenário ficando temporariamente paralítico.



Quando pediram para comentar sobre seu trabalho no recente MSP +50, Deodato teve que voltar no tempo e contar uma história marcante em sua carreira, quando foi convidado por Ziraldo para uma viagem para a França afim de mostrar seu trabalho por lá. Sem muito dinheiro e sendo esta sua primera viagem para longe da Paraíba, estava entre os grandes nomes do cenário de quadrinista na época, sentindo-se até um pouco deslocado, e foi Maurício de Souza quem o amparou naquela viagem, cuindando dele como um verdadeiro pai. Grato por tudo a Maurício, que inclusive o estimulou a retornar ao Brasil, Deodato aceitou com muita felicidade participar do projeto MSP+50 anos depois a convite de Sidney Gusman, Editor do estúdio MSP. Afirmando que não é lá grande roteirista, Deodato disse que tentou retratar do seu jeito o "Anjinho" como um super-herói, numa história de poucas palavras, mas de qualidade ímpar em seu traço.



Uma outra pergunta interessante da pláteia foi sobre sua opinião quanto ao atual cenário de quadrinistas atuais e suas produções autorais. Deodato lembrou que acabou de conhecer os gêmeos Moon e Bá, e afirmou ser um fã do trabalho de ambos, assim como destacou outros nomes importantes do cenário atual como Rafael Grampá, Rafael Albuquerque e Danilo Beiruth. Lembrou que eles fizeram um caminho inverso ao dele, sendo primeiro reconhecidos por seus trabalhos autorais, para depois conquistar as grandes editoras. Confessou até sentir um pouco de inveja e que gostaria realmente de ter começado agora e estar vivendo este momento.


Foto Panorâmica da Palestra de Deodato

Novamente mãos se levantaram e outras perguntas foram feitas sobre seus atuais projetos autorais, sobre sua fase na Mulher-Maravilha, artistas que considera marcante atualmente (fazendo questão de excluir o Will Conrad da lista, arrancando assim risos da platéia) e sobre o Reboot da DC. Mal concluiu a última resposta, quando surpreendeu-se com a entrada repentina do Thunderbolt Flagelo.



Isso mesmo. Os cosplayers dos Vingadores Sombrios invadiram a palestra do Deodato para demandar que ele fosse preso por uso indevido da imagem deles. Deodato entrou na brincadeira, assustando o próprio Flagelo com um golpe de caratê.



Depois, cumprimentou cada um deles, com uma piada reservada para cada personagens, autografou seus uniformes e pousou para fotos. E esse é o momento que marcou o encerramento da palestra de Mike Deodato Jr, que ainda continuou na mesa para o julgamento do concurso de desenhos e do concurso extraoficial de "Melhor Caricatura do Deodato" promovido por Will Conrad (a ser mostrado com mais detalhes em nosso site posteriormente, inclusive em video).



Ao final, após receber o Jorge, proprietário da Loja Comix e o argentino Rodolfo Zalla, que fez questão de presenteá-lo com um arte autografada, subi ao palco para agradecer a Mike Deodato Jr e Will Conrad pela presença e satisfação em poder dividir essa marcante experiência com todo o pessoal do nosso site e os presentes na platéia. Encerrado oficialmente o evento, tanto Deodato como Will continuaram ali para antender os fãs que se aglomeravam em busca de mais um autógrafo, sketch e oportunidade de mostrar seu portfólio.








E assim encerrou-se as palestras da Arena e a Fest Comix naquele domingo, certamente um verdadeiro marco pro evento, satisfazendo a todos que participaram da organização, com seu recorde de público e brilhantismo dos palestrantes.

Coveiro

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