segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Produtor de Defensores explica detalhes e decisões da série em entrevista a EW



A série dos Defensores foi muito mais do que reunir os atuais super-heróis urbanos da Marvel, mas sim também responsável por estabelecer bastante coisa das séries pessoais de seus quatro protagonistas. De viradas surpreendentes da trama, mortes inesperadas e algumas referências claras ao quadrinhos, o produtor principal da série, Marco Ramirez conversou com a Entertaiment Weekly sobre o que levou a tomar certas direções em defensores. Se você já viu os oitos episódios, esse bate-papo é imperdível:

De muitas maneiras, Defensores é mais do que uma história sobre o Demolidor, Luke Cage, Jessica Jones e Punho de Ferro. Ele é uma história sobre a ascensão de Elektra. E na entrevista, Marco Ramirez disse quem foi o grande responsável por querer direcionar o enredo tendo como trama principal a volta da mais famosa ninja dos quadrinhos. "Eu definitivamente acho que Jeph Loeb realmente queria a ideia da ressurreição de Elektra como parte da sua história. E eu acho que uma vez que chegamos até isso de forma orgânica no final da segunda temporada de Demolidor, a ideia estava bem clara pra gente de que ela voltaria" comentou.

"Quando Jeph e eu fizemos uma ligação pra Elodie, antes do script do final da segunda temporada sair, dissemos a ela o porquê que ela seria morta e que queríamos ela ciente de que Elektra morreria no final. Nós chegamos até ela e falamos que estávamos muito tristes porque a mataríamos. Mas também, dissemos que ela voltaria dos mortos. E ela respondeu com algo assim "E qual o motivo desta ligação?". O que foi bem engraçado." contou o produtor. Para Ramirez, a morte e ressurreição de Elektra no seriado era um forma de honrar a história da personagem nos quadrinhos. "Mas eu diria que metade do que faz isto ser importante é porque parece ser a história que é preciso contar. Ela é uma figura grande nos quadrinhos, ela é realmente amada pelo público, e sua ressurreição é uma história muito icônica" colocou.



Uma das grandes viradas do enredo foi a mudança de status quo de Elektra como subordinada a Alexandra (Sigourney Weaver), matá-la e assumir seu lugar de liderança mesmo ante a membros mais antigos do Tentáculo. "Bem, parte disso foi pra apenas dar a audiência um pouco de algo inesperado. O público eu acho que espera que a parte principal da história ou o personagem principal vá até o fim no último ou penúltimo capítulo para que eles apenas se preparem para um "Oh, certo, alguma coisa vai acontecer aqui no final da história. Então, isso é como se fosse um choque e foi excitante escrever. A segunda parte foi mais pra realmente introduzir o personagem da Sigourney e destacar um pouco a história da Elektra. Eu gosto de pensar que escrevemos um personagem realmente legal para a Sigourney, mas foi realmente uma maneira da gente dizer que essa é a jornada que a Elektra irá seguir" revelou.

Mas em algum momento se pensou num caminho diferente além de Elektra matar Alexandra? "Nenhum deles vai chegar até o momento em que eles vão tirar uma vida. Eles realmente terão que ser levados a isso. Elektra matar Alexandra passou mais a ideia de um conceito de dinâmica de Mãe e Filha que queríamos explorar através da série. Nós queríamos construir isso para que depois subvertêssemos e colocássemos Elektra tomando o lugar. Queríamos mostrar Sigourney como uma figura maternal nobre e uma mestra, isso para a Elektra basicamente dizer no final que "eu não tenho mestre". Para mim, é algo orgânico ao escrever Elektra, porque Elektra foi já definida por muitos em sua vida, seja por Stick ou Matt, eles é quem diziam quem ela era... Então, ela mata Alexandra, e é como se falasse que "as pessoas precisam parar de dizer quem eu sou. Eu sou isto" e eu acho que tem alguma coisa particularmente interessante sobre essa ideia" disse Ramirez.



Marco Ramirez, que foi o produtor da segunda temporada de Demolidor, lembrou que desde o começo Stick (Scott Glenn) previa o que aconteceria em Defensores. "Ele é o único que sempre dizia que a Guerra de Nova York estava vindo, a Guerra de Nova York estava vindo. E se haveria qualquer causalidade nessa Guerra por Nova York, deveria ser justamente esse cara que falava dela" disse ele sobre a decisão de dar fim ao personagem na série. "Isso foi muito parte da rejeição de Elektra sobre ele ser sua figura paterna, como foi também sua rejeição da figura materna em sua vida, assim como também a rejeição dela da figura romântica em sua vida pessoal" disse Ramirez lembrando que até mesmo Matt estava em perigo na luta final.

"Ela está ali dizendo praticamente que ela faz seu próprio destino e pra mim o final de Elektra é um pouco agridoce, mas eu sinto que no final do episódio 8 há verdade no que ela diz, que é tipo um "Estou partindo, estou finalmente livre. Matt, você não vai mais tentar me dizer qualquer coisa, essa é quem eu nasci para ser" colocou o produtor e continuou "Eu senti que isso também serve para Danny e para Luke e para Matt e para Jessica Jones, sabe? A ideia de rejeitar a identidade de que o mundo está tentando impor neles, e tentando abraçar uma identidade que eles querem, algo do tipo "esse sou eu".

"Para mim, Matt e Elektra sempre pareciam ser tipo o personagem de Edward Norton e Tyler Durden no Clube da Luta, exceto pelo fato de ter uma dinâmica com apelo mais sexual. E no final, senti que deveria terminar tudo com um ar mais clube da Luta. Emocionalmente, Matt sabe e tem que admitir o fato de que tem que lidar com o fardo dela e apesar de ter lutado ao lado de Luke, Jessica e Danny, a Elektra é seu problema, sua cruz pra carregar. É muito a cara de Matt Murdock dizer algo como "não se preocupem, eu cuido disso. Eu vou morrer por isso" explicou Ramirez. Mas o que reserva aquela última cena para Matt Murdock despertando num convento e o nome da irmã Maggie sendo citado? "Não posso, não posso falar mais nada disso" disse o produtor se mantendo silencioso quanto a terceira temporada.

O capítulo final também explora bastante a mitologia do Punho de Ferro e muita gente deve estar se perguntando sobre o que a ossada daqueles grandes répteis significará mais adiante. "É uma pergunta par o produtor do Punho de Ferro, não pra mim. Honestamente, eu não sei pra que direção eles irão" disse Ramirez na entrevista. "Nós sabíamos na primeira temporada de Demolidor que Nobu queria especificamente construir um prédio em Nova York e por isso era tão importante para o Tentáculo ter nas mãos esse lugar. E daí, na segunda temporada, foi revelado que eles não estavam construindo pra cima, eles estavam construindo algo pra baixo. Porque eles estavam cavando, e nós não sabíamos o motivo, então quando começamos em Defensores, sabíamos que seriam os Defensores contra o Tentáculo, mas ainda não sabíamos porque estavam cavando e podíamos vir com qualquer coisa dali, sabe? É divertido ver o que os escritores da TV fazem. Como em Lost, que uma única temporada era sobre a escotilha, mas o que havia na escotilha? Descobriríamos na segunda temporada. É como essas coisas acontecem" disse. Quando o entrevistador brincou com a ideia de que o esqueleto de Dragão dos Defensores era o Desmond de Lost, Ramirez riu e disse que "certamente".

Marco Ramirez também explicou que aquele Dragão não é exatamente Shou-Lao, mas sim um dos muitos daqueles animais que já andou pelo nosso planeta em tempos distantes. "Isso está colocado desde a primeira temporada. Gao operava nos bastidores de Nova York com sua fábrica de drogas usando aquele chão para fazer o pó. Me pareceu que podíamos fazer daquelas drogas de ruas de Nova York e da mitologia dos dragões tudo como sendo a mesma história, e então foi meu jeito de ligar tudo numa coisa só" definiu.


"A ideia disso é de que sempre teve esse tipo de mistério que o Tentáculo podia trazer pessoas dos mortos, mas nunca soubemos exatamente como. E fazia sentido conectar essa ideia de força vital do Chi do Punho de Ferro com a ideia de força vital dos membros do tentáculo usadas para vários propósitos. Então, estamos apenas dizendo aqui que os ossos dos dragões são o que eles usam, são "a substância". Isso me pareceu a maneira mais honesta de ligar tudo" disse Ramirez.

Dado momento da entrevista, Ramirez alertou que em nenhum momento a crítica de Punho de Ferro interferiu no andamento da história que eles estavam montando. "Nós estávamos filmando o final dos Defensores quando a primeira temporada do Punho de Ferro estava estreando, então, pela natureza de como as coisas são feitas, não podíamos reagir a isso. Qualquer interação que eles tiveram com Danny foi justamente a dinâmica que já tínhamos construído pra ele. Eu senti que se alguém viesse e falasse "Meu punho brilha com meu Chi e eu soco dragões e viro isso" não haveria outra maneira de Jessica Jones reagir senão com um "que bobagem, isso parece ser um maluco". Mesmo se o Dragão estivesse na mesma sala que ela, Jessica soltaria algo do tipo "nem acredito nisso, de que diabos estamos falando?" explicou Ramirez.

"Essa é a dinâmica natural que estávamos querendo construir, porque Matt e Luke e Jessica já estavam introduzidos nos seriados de quadrinhos, e eles são tão realistas e tão obscuros, mas se chega esse cara na sala com um punho brilhante dizendo "Meu chi está expandindo", todos eles iriam dizer "não engulo essa". É a reação natural para eles" disse o produtor. Marco Ramirez também concordou na entrevista que ainda há muito o que explorar da dinâmica entre os quatro personagens ainda. "É claro. Por conta da natureza deles, construímos ali uma história entre Matt e Jessica e uma história entre Danny e Luke, e há certamente versões de pareamentos distintos que eu amaria ver. Eu amaria ver uma interação do tipo Matt e Luke e uma da Jessica e Danny, porque agora nós já estabelecemos essas duas combinações de relação. Mas não vamos fazer isso apenas porque se pode fazer" disse.

E o mesmo vale para as combinações entre os coadjuvantes. "Todos os escritores estavam tipo 'Oh, essa interação não aconteceu, e essa interação não aconteceu também", mas no fim, tínhamos um real limite de tempo e nós não podíamos desacelerar esse trem na história. Uma das interações que gostaríamos aconteceu. Uma das cenas que eu mais me orgulho é essa coisa que fizemos do lado de fora do restaurante chinês entre Jessica e Luke. E tem aquelas cenas entre a Misty e a Collen, entre Foggy e Karen, são a que sabemos que os fãs querem ver. Porque há tantas combinações, sempre vai haver coisas que não conseguímos fazer. E ainda haverá muitos episódios dessas histórias que iremos contar ainda".


"Eu penso neles como sendo a maioria das pessoas que estão no mesmo ônibus quando estão envolvidas num acidente e eles tem que preencher todas as papeladas juntos, e todos eles vão pro mesmo hospital juntos. Só que agora eles irão pra suas casas. E é tipo, essa é a maior aventura que terei com você, e eu estaria de boa em rever você de novo, mas eu também estaria bem se nunca mais te ver na vida" disse Ramirez sobre como administrar as séries em separado depois d'Os Defensores.

Mas a série de certa forma ligou cada um deles de um jeito especial. "É mais o tipo de ligação que acontece quando temos uma crise. Pessoas ficam intimas agora, mas não é do tipo que convidará ela pra um jantar toda terça-feira. Nós detalhamos isso para que eles depois pudessem voltar a seus mundos individuais, mas não que eles agora estivessem a parte permanentemente em seus próprios caminhos" comentou. E fica óbvio o quanto eles se influenciaram uns aos outros. O Punho de Ferro acabou sendo inspirado pelo Demolidor enquanto que Luke Cage e Jessica Jones superaram aquela situação e parecem que vão se esforçar pra manter contato um com o outro daqui pra frente.

Particularmente, eu acho que Os Defensores teve um timing excelente durante os oito episódios e que mediante todas as limitações que uma série de TV com o orçamento que ela, merece toda a boa receptividade que vem tendo. O ponto mais positivo foi conseguir honrar todas as série individuais e depois de todo o evento que reuniu os dois, deu pra separar cada personagem e deixá-lo prontinho pra voltar a seu caminho em particular. Críticas pontuais são inevitáveis, mas eu já vejo um exagero de cobrança desmedido na série (muitas delas esquecendo a verdadeira natureza dela, algo voltado para TV) e querendo exigir uma cobrança igual a dos filmes. É uma opinião que considero completamente sem propósito, mas vou deixar pra falar mais disto em nosso podcast.


Coveiro

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