quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Cavaleiro da Lua: Quem eu sou?



Mais um encadernado do Cavaleiro da Lua saiu este ano, com uma nova equipe criativa assumindo e uma destacável mudança na narrativa. Desta vez, Jeff Lemire e Greg Smallwood, respectivamente o roteirista e desenhista deste primeiro arco, resolveu não fugir de uma das mais destacáveis características do vigilante e protetor dos viajantes noturnos - sua loucura. E assim, a história de Marc Spector começa num sanatório.

Apesar de ter uma leve consciência de que manicômios não mais existem nos dias de hoje, Marc Spector sente de forma bem real (a pacandas e torturas dos enfermeiros) que está lá preso. Sua mente ainda está nublada com lembranças de sua outra vida como vigilante e as conversas em sua mente com a entidade Konshu reforçam que a sua(s) vida(s) anterior(es) não é(são) falsa(s) memória(s). No sanatório, outros nomes familiares surgem Bertrand Crawkley, Marlene Auralne e Gena Landers são pacientes (será que ele elaborou os nomes de suas vidas anteriores dali mesmo do hospício?). Já um dos enfermeiros chama-se Jean-Paul Duchamp, mesmo nome do seu motorista-mordomo francês em outras aventuras.



Mas quando sozinho, quase sempre depois de um tratamento de choque, Spector volta a falar de forma mais nítida com Konshu e suas palavras cada vez mais parecem ser fortes e convincentes. Para a entidade, Marc está sendo enganado por Seth, que numa outra perspectiva está dominando o mundo sem que os de visão simples vejam. Assim, Marc dá um jeito de se amarrar com os lençóis da cama e sua camisa de força para tornar-se mais uma vez o vigilantes branco. Uma vez "transformado", ele consegue ver os enfermeiros com cara de cachorro e a sua médica Dr. Emmet como sendo na verdade uma manifestação mentirosa de Ammut. Ao olhar pra janela, enxerga uma Nova York em meio a pirâmidas egípcias e muito areia. E assustado, mal percebeu os enfermeiros chegando por trás e lhe prendendo, tirando a máscara, dopando e torturando.



Em palavras vagas, Konshu volta a falar sobre o perigo dos "outros deuses" tomando a realidade e explica que só chegou a Spector por causa de sua mente fraca, fácil de acessar e dominar. Assim como ele usou, os outros "deuses" vão se aproveitar, mas Spector deve acreditar no que ele fala, por mais que pareça que ele esteja louco. E é assim que ele decide fugir daquele hospício com a ajuda do seu fiel motorista francês e levando consigo os amigos de "outras vidas" que estavam internados ali. E dessa vez, graça a um presentinho de Duchamp, ele iria mascarado como o Sr. Lua.

No meio da fuga, o vigilante lutou contra coisas que só ele poderia enxergar verdadeiramente graças a máscara (algumas o Crawley também via). Múmias, Enfermeiros com caras de cachorro, a Doutora com rosto de crocodilo revelando a verdadeira natureza de Ammut foram alguns obstáculos no meio do caminho. Para sair dali (e atravessar um vazio cósmico que para os outros era só uma rua), ele teve que negociar com Anúbis e sacrificar com isso a alma de Crawley para ele. No fim, saíram finalmente do labirinto do hospício e chegaram até a Nova York dominada pelos Deuses Egípcios que só ele conseguia enxergar.



No meio do caminho, novos ataques daquelas entidades (que pareciam apenas humanos aos olhos dos demais). Uma nova baixa aconteceu quando Duchamp foi ferido no pescoço (por uma bala ou mordida, quem sabe?). Depois, Gena preferiu ficar no seu restaurante assim que eles o encontraram. Somente Marlene, que acordou de seu transe e parecia enxergar o mesmo que Spector, passou a acompanhá-lo até o fim de sua jornada.

No caminho até a pirâmide no centro de Nova York, o Sr. Lua ainda tinha mais uma adversidade para vencer - o próprio Cavaleiro da Lua. Aquela manifestação embaralhou a mente de Marc, dizendo que ele era seu eu antigo antes de ficar louco. O outro Cavaleiro da Lua correu com Marlene para dentro da pirâmide e sumiu. Quando Spector o segue, encontra lá dentro algo ainda mais surreal - uma passagem pra Lua onde lobos o caçam e Marlene aparece vestida de capuz vermelho. 

A confusão de narrativas só vai se misturando. Agora, temos o outro alterego de Spector, o taxista Jake Lockley fugindo dos mesmos enfermeiros. Depois, o Sr. Lua depara-se com o próprio Seth preso e dizendo que a todo momento Spector foi levado a acreditar numa mentira elaborada por Konshu. Tudo aquilo era só mais uma provação do Deus Egípcio para convencer Marc de que sua mente era fraca e que ele deveria deixar que a entidade tomasse de vez seu corpo.



Marc concordava que sua mente era instável, mas ainda assim não iria ceder a Konshu. Então, o nega e salta do alto da pirâmide. E durante a queda relembra seus amigos. E cai estatelado no chão.

É quando a cena passa para um quarto de hotel onde ele está dormindo. Acompanhado de Marlene, agora viva, ele se dá conta de que está agora vivendo aquela sua outra vida como o milionário produtor de filmes Steve Grant que está fazendo ali no Egito um filme envolvendo pirâmides e com um diretor esquisitão. Delírio? Bom, estamos num gibi do Cavaleiro da Lua. Esperava menos?

O arco em cinco partes é bem instigante, remontando a uma excelente narrativa visual tão boa quanto a da fase do Warren Ellis e Declan Shalvey. É bacana ver que Lemire acaba desinibindo o personagem para que ele seja os dois - um louco e um emissário de Konshu na Terra, sem soar irrelevante a história. Estou bem ansioso pra ver o que reserva a próxima parte.

Coveiro

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