Estava faltando poucas coisas para o Mercenário Tagarela se meter e uma delas era justamente estar bem no meio de uma briga de forças extremas do submundo sobrenatural. Mas tudo ainda pode piorar, ainda mais com Deadpool no meio e o pivô da situação sendo uma demônia sucumbo que deveria ser resgatada para ser a próxima noiva do casamento do Drácula e acaba sendo sua nova paixão. Poderia dar ainda mais errado? É claro que sim, estamos falando de uma história de Wade Wilson.
Originalmente publicada online em histórias curtas, a minissérie Deadpool: Draculas’s Gauntlet obrigatoriamente entrou nas publicações impressas e saiu em 7 partes nos EUA. Aqui, a Panini juntou tudo na edição 9 especial do nosso Mercenário Tagarela e é de extrema importância para quem anda acompanhando as aventuras do mesmo na sua série solo escrita por Brian Posehn e Gerry Dugan (cuja revista mensal voltou a sair recentemente no Brasil).
Depois de uma abertura extremamente satírica dos filmes de James Bond, temos então o mote da aventura plotado. Deadpool é convocado pelo Conde Drácula em pessoa pra lhe trazer sua futura noiva aos EUA. O casamento deles irá não só trazer a paz entre as forças demoníacas do mundo oriental e os Vampiros, como também fará de Dracula detentor de um dos mais poderosos exércitos deste plano. Seria coisa simples se muita gente não se opusesse a esse casamento.
Assim, a aventura do Deadpool vai do antigo Egito a moderna Europa, enfrentando guardas infernais e fugindo de motocas de Minotauros ensandecidos. E por mais absurdo que seja, nada se compararia ao maior perigo que Wilson iria enfrentar ali – conhecer e se apaixonar pela Noiva do Dracula. Quando a sucumbo Shiklah desperta, acompanhada de seu bichinho esquisito chamado Inseto, dá pra entender o tamanho da enrascada em que a moça se encontra. Como deveria ser, Shkilah é bela e sensual, mas ao mesmo tempo inocente e cheia de curiosidade para aprender sobre o novo mundo. E quando Deadpool se torna seu “guia” para o novo século, é divertido ver como a perspectiva da moça fica ainda surreal do que já era.
Daí por diante, dá pra sacar que o Drácula não está nada satisfeito com o andar da situação. Primeiro, ele teve que lidar com certos dois irmãos de Shkilah que ele não contava existirem. Agora, o Mercenário estava enrolando demais o seu trabalho e não era difícil para Vlad saber que o tonto tagarela se apaixonou pela demônio. Raptados pela HIDRA e IMA, atacados por vampiros fantasiados de monstrinhos de pelúcia e até encarando uma nova e monstruosa versão do Quarteto Terrível, a história segue cheia de piadas muito bem colocadas e situações embaraçosas e imprevisíveis.
Parte dessa história acaba se mesclando o que devemos em breve acompanhar na revista mensal. Para fugir do Drácula, Deadpool e Shkilah decidem se casar – para espanto de todo mundo e não só dos leitores. Mas mesmo assim é impossível evitar um novo confronto entre os dois lados. Assim, Vampiros e Demônios se engalfinham em meio a Nova York, com Deadpool contando com uma série de amigos e heróis próximos o ajudando. Temos ao longo dessas histórias a participação de Blade, Thunderbolts, o agente da HIDRA Bob e até mesmo o fantasma de Benjamin Franklin.
Sem querer muito estragar a história com detalhes, porque é aquele tipo de revista que eu só posso recomendar muito e deixar o leitor cair na gargalhada com a história, tenho que ressaltar que o confronto de Wade Wilson e o Conde Drácula é excepcional. É tão visceral e doentio que fica difícil até querer imaginar como seria num filme. Mas será que após isso tudo Deadpool e Shiklah vão ficar juntos? É algo que apenas uma boa lua de mel pode responder.
É preciso afirmar categoricamente aqui isso: Brian Posehn e principalmente Gerry Dugan entram em qualquer lista de melhores escritores do Deadpool até hoje. Eles realmente tem o tino desejado que o mercenário se adéqua – ao lado de Joe Kelly e do criador Fabian Nicieza – com um humor aloprado porém inteligente e bem amarrado. Isso tudo sem descaracterizar ou forçar situações quando Wilson encontra outros personagens do universo Marvel.
Reilly Brown é um dos desenhistas que retorna as histórias de Deadpool, depois de uma parceria história com Nicieza. É um cara que podemos dizer que nasceu para isso, com uma narrativa bastante clara para mostrar o absurdo das situações que o nosso anti-herói vive. E é preciso muito talento para realizar isso e nos arrancar risadas a cada virar de páginas. E você percebe como isso faz diferença quando Scott Koblish, que o substitui em alguns trechos e você vê que a qualidade não é a mesma. E não que o Koblish seja ruim, muito pelo contrário.
Mais que a trama, vale a pena também falar um pouco de Shiklah. A personagem, que poderia ser apenas mais uma das malucas que surgem nas histórias de Pool, já nasce com um baita potencial. Visualmente ela é interessante, oscilando entre o visual mais belo e o monstruoso monstro chifrudo. Os poderes são clássicos dos contos sobre sucumbos, de beijos mortais a vozes hipnóticas sedutoras, que são muito bem aplicados ao redor de toda a história. Mas nada se equipara a personalidade montada. Apesar de instintivamente ser má, Shiklah é meiga e inocente, uma criança que ainda mal sabe a diferença de certo e errado. E com Deadpool ao seu lado, é possível enxergar de um jeito torpe ela direcionando todo esse mal apenas para caras maus. Confesso que antes de ler a história, estava um pouco reticente com a ideia da “Esposa do Deadpool”. Essas más impressões caíram por inteiro de agora em diante.
Se eu recomendo? Eu recomendo até mesmo pra quem tem o pé atrás com Wade Wilson e esteja disposto a tentar mudar essa impressão lendo isso agora. E tenta ouvir Whitney Houston na cabeça enquanto faz a leitura! O que está esperando?
Coveiro