quarta-feira, 7 de maio de 2008

Homem-Aranha: Um novo dia e além

*Atenção! Informações inéditas no Brasil!

Goste ou não, Joe Quesada, editor-chefe da Marvel, resolveu que era hora de investir pesado na reformulação da vida do Amigão da Vizinhança, botando isso em prática na história One More Day, publicada em quatro partes no final de 2007. Agora, sob o mote Brand New Day, a revista Amazing Spider-Man divide opiniões. E passado quase meio ano da polêmica saga, agora é a vez do Marvel 616 pesar os prós e contras da nova fase do herói mais popular da Casa das Idéias...

“O Homem-Aranha é engraçado. Genuinamente engraçado. Seus diálogos são deliciosos de escrever, e se os leitores não estiverem dando risadas algumas vezes por edição, você deveria ir escrever o Thor ou sei lá o que”, disse um dos novos escritores do Cabeça de Teia, Mark Waid, em entrevista ao Comics Bulletin. A frase resume muito bem o que levou a Marvel a tomar a decisão de mudar completamente o rumo do seu principal personagem, que nos últimos anos vinha sofrendo em todos os sentidos nas tramas maçantes de J.M. Straczynski, atual responsável pelo título do Deus do Trovão. Alfinetadas à parte, era óbvio que a audaciosa decisão não agradaria a todos, muito menos àqueles que acompanham as histórias do Homem-Aranha há várias décadas.

Se levarmos em conta a reação da maioria dos fãs, a resposta é muito negativa. O mundo pareceu vir abaixo nos fóruns especializado após o lançamento da edição do famigerado pacto com o vilão Mefisto, e entre reações absurdas como marmanjos chorando copiosamente no YouTube, outros exagerados chegaram até a prever o fim definitivo da cronologia da editora. Não que a história não mereça todas as críticas possíveis e imagináveis. A trama realmente é péssima e muito mal explicada e o que veio depois é tão ruim quanto, em especial a volta inexplicável de Harry Osborn e o fim do casamento com Mary Jane da forma tosca que fizeram. Porém, o problema dessa avaliação tão unânime é que sua base mais radical é de fãs que aceitaram passivamente as mudanças efetuadas por Strakzynski ao longo de sua passagem conturbada no herói, e que aproveitaram a polêmica para se declarar admiradores de Mary Jane e conseqüentemente do status quo do personagem. A pergunta que fica é onde eles estavam antes do tiro de misericórdia.

Outro exemplo disso é como a falta de informação, por vezes proposital para facilitar a aceitação de um argumento inócuo, aumentou a polêmica. Todos agiam como se esse tipo de coisa não fosse lugar comum nas grandes editoras. Um evento de proporções mágicas que muda completamente histórias antigas, geralmente de uma maneira forçada que ofende a inteligência dos leitores, é a regra mais datada do manual de quadrinhos mainstream. Não precisamos pensar muito para lembrar de diversas tramas recentes que visavam reverter inovações realizadas por escritores que mudaram o status quo. Na melhor das hipóteses os editores usam esse artifício para lançar uma nova fase de um título ou franquia que se tornou desinteressante por algum motivo, o que é mais ou menos o caso do Homem-Aranha. Mas nenhuma dessas histórias causou tanto rebuliço quanto Brand New Day, muitas delas foram inclusive bem aceitas pela maioria. Eu mesmo não vi maiores problemas nelas e entendo o que levou Joe Quesada a tomar essas decisões, tampouco quero a cabeça dele agora. A verdade é que tirando uma ou outra lambança o balanço do trabalho dele é positivo.

Sobre as histórias em si, Brand New Day tem pouco a oferecer, não se iluda achando que estou fazendo uma defesa heróica aqui. Não estou. Mas digo que, por enquanto, não há motivos para investir nessa nova fase, não com vilões e tramas recicladas de uma fase que pouca gente que ainda lê quadrinhos é contemporânea. Aliás, foi esse o maior erro da Marvel, achar que o nosso desejo para o Homem-Aranha era que ele voltasse no tempo em histórias despretensiosas e anacrônicas. Não foi exatamente o contrário que levou os roteiristas da época a tomar a discutível decisão de casarem Peter? Se eu lembro bem, isso levou a boas histórias no final dos anos 80, inclusive a uma das fases mais rentáveis do personagem sob o traço de Todd McFarlane. O lógico, então, seria dar o próximo passo na evolução de Peter, seja o divórcio por conta dos perigos de uma vida dupla ou uma gravidez indesejada para aumentar o peso na balança, qualquer coisa menos retroceder. A vida simplesmente não volta atrás, não adianta forçar uma metáfora nesse sentido, e não há nada que Joe Quesada e os novos escritores podem fazer para remediar isso.

A esperança que resta é no fato que essa zona toda foi feita para agradar os fãs, por mais que muitos se recusem a acreditar nisso. O Quesada até merece elogios por ter tentado. Sendo assim, só resta esperar que a cronologia do Homem-Aranha seja virada e revirada até chegar a uma nova realidade que agrade ao mesmo tempo os fãs de longa data e novatos, dentro dos limites da lógica e dos padrões básicos que uma boa história precisa seguir. Promessas nesse sentido já foram feitas na Comic-Con de Nova York, na forma de uma edição especial detalhando melhor as várias pontas soltas deixadas na trama, assim como a volta de alguns vilões clássicos. Com isso, os próximos meses poderão ser mais interessantes.

Fique ligado no Marvel 616 para ver se essa projeção é verdadeira.

Brizola

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