quarta-feira, 21 de maio de 2008

Cavaleiro da Lua: Lutando Contra o Tempo


Moon Knight #12

Encerrado mais recente arco do atual volume de Cavaleiro da Lua, em Marvel Action 16, muitas coisas podem ter ficado confusas para leitores recentes do avatar humano de Konshu, já que a história é lotada de referências a seu passado. A idéia central é a de que Marc Spector, após um tempo debilitado devido à inutilização de seus joelhos na batalha que terminou com um de seus maiores adversários, Bushman, com a pele do rosto literalmente arrancada, volta à ativa como Cavaleiro da Lua. Porém, duas questões envolvem esse retorno. Em primeiro lugar, Spector deixa tanto leitores como a si mesmo em dúvida o quanto de divindade e o quanto de loucura esquizofrênica há em suas ações. Além disso, em meio à uma clara crise de identidade permeada por conversas com Konshu (ou consigo mesmo?) na forma de um Bushman cadavérico, Marc precisa literalmente exorcizar diversos fantasmas do passado para voltar a viver com o mínimo de normalidade. E um desses fantasmas se chama Jeff Wilde, o Meia-Noite.

Jeff é filho do ex adversário do Cavaleiro da Lua, Anton Mogart, conhecido como Homem da Meia-Noite, morto por ele. Por muito tempo, quase como uma forma de espiar os pecados paternos, Wilde foi treinado por Spector e serviu a seu lado como parceiro na incessante busca pela vingança. Porém, tempos atrás, combatendo o antigo Comitê (cuja versão atual acabou sendo responsável pela volta de Marc à ativa, quando na verdade queria destruí-lo completamente), Jeff parecia ter morrido. O que não aconteceu. Abandonado pelo Cavaleiro da Lua, ele foi transformado em um ciborgue, e por muito tempo serviu à organização criminosa. Agora, aparentemente mais perturbado do que antes, Jeff, acompanhado de uma ciborgue travestida de enfermeira, quer confrontar seu antigo mestre buscando a derrota e o descanso da morte.

Cavaleiro da Lua

Só que para isso ele realiza uma série de assassinatos horrendos, desmembrando vítimas aleatórias a fim de atrair a atenção de Marc, intuindo que a sede por vingança de Konshu o estimule a ir atrás dele. Porém, Marc, como disse, ainda busca recolocar as peças de sua vida de volta no lugar. Procurado pelo Capitão América – lembrando que esse arco transcorre durante a Guerra Civil – é tratado como um maníaco cujo apoio o lado anti-registro não apreciaria. Pouco depois, Spector se encontra, em Marvel Action 15, com alguém um pouco mais parecido com ele: o Justiceiro.

Enquanto Frank Castle realiza mais uma de seus extermínios no atacado contra uma gangue, Marc dialoga com Konshu. O deus egípcio, menosprezando o pouco trabalho de vingança de seu avatar (que se recusa a voltar a matar), demonstra clara admiração por Castle. Questionado, diz que ele já representa um deus, e estampa orgulhosamente seu símbolo no peito – o que nos faz concluir que seja avatar da morte em si. É comparando os dois que Konshu fala, mantendo o aspecto do falecido Bushman para lembrar a Marc de seu “maior feito” em seu nome, que ainda há muita vingança a ser feita.

Cavaleiro da Lua

O Justiceiro percebe a presença do Cavaleiro da Lua e conversa com ele. Questionado sobre a necessidade de matar todos aquelas pessoas, e se isso não faz dele o mesmo que elas, Castle demonstra ser tão perturbado quanto Spector, com apenas uma diferença: ele sabe muito bem o que está fazendo. Avisando ao Cavaleiro para não escolher o lado errado da Guerra Civil, Frank é cobrado pelo assassinato de seu irmão, Randall Spector.

Rand, que trabalhava na Cia na mesma época em que Marc, era um agente corrupto que contrabandeava armas. Descoberto pela namorada de seu irmão na época, Lisa, ele a assassina para não ser denunciado, o que faz com que Marc o atacasse e, por muito tempo, acreditasse que estivesse morto. Mas muito tempo depois Randall voltou, e tomou o lugar do irmão como avatar de Konshu. Com a ajuda do Justiceiro, Marc acaba derrotando-o. A cobrança a Castle parece mais no sentido de que Marc lamenta que tenha sido o Justiceiro a matar seu irmão, e não ele mesmo.

Cavaleiro da Lua

Depois disso, Perfil, o homem que só de olhar para as pessoas desvenda seus segredos mais profundos, encontra-se em um bar utilizando suas habilidades da forma mais torpe possível. Conversando com uma mulher desfigurada (provavelmente por violência doméstica), ele usa sua insegurança para convencê-la a sair dali para um lugar mais, digamos, íntimo. Do lado de fora do bar, que não por acaso é colado no local onde o Cavaleiro da Lua teve seu derradeiro confronto com Bushman, Marc se encontra com seu malcheiroso informante - Bertrand Crawley. Betrand, que só consegue chamar Spector por um de seus antigos pseudônimos, Jake Lockley, um taxista encarnado por ele para se infiltrar no submundo, indica a localização de quem Marc procura.

Lá dentro, Perfil mais uma vez se borra de medo ao ver Spector, que ao ameaçar colocá-lo de frente para o espelho (o que faria que enfrentasse seus mais profundos e numerosos defeitos) e dar umas pancadas, consegue que ele encontre Meia-Noite para ele. Perfil revela que não escolheu o bar à toa, sabendo que seria necessária muita força de vontade de Marc para chegar próximo àquele local. Na saída, ainda indica que o dono do estabelecimento espanca freqüentemente sua esposa, dando-o “de presente” a Spector, e ainda alfineta Bertrand, dizendo que ele é o principal culpado por seu filho, Jimmy Crawley, ter se tornado um assassino serial de indigentes, há muito detido pelo próprio Marc.

Enquanto Spector desconta sua raiva no dono do bar, ao longe, Jeff e sua companheira acompanham tudo. Finalmente as coisas saem como esperavam.

Cavaleiro da Lua

As duas últimas partes, que podemos ler em Marvel Action 16, são um pouco mais simples, mas o uso excessivo de flashbacks pode confundir quem não está a par da história do Cavaleiro da Lua. Mas, basicamente, ela expõe mais claramente a miscelânea de fantasmas do passado e do presente que se chocam contra os pensamentos de Marc, que reluta em aceitar suas funções como avatar de Konshu, mas ao mesmo tempo percebe que, atualmente, essa é a única coisa que tem de fato em sua vida.

Um desses fantasmas é Marlene. Maior símbolo da vida fora do alvo manto que veste em nome de Konshu, a reaproximação com ela parece impossível para Marc porque ele simplesmente não é mais o mesmo homem de antes. Ou pelo menos ela percebeu que talvez Spector nunca tenha sido. Recluso dentro dos próprios sentimentos, a tentativa de reatar a relação é defenestrada justamente porque ele demonstra apenas que a “quer” de volta, sem expressar o que sente de fato por ela.

Cavaleiro da Lua

Um dos fantasmas do presente é o próprio Perfil, que nota como a truculência de Spector esconde uma mente dividida, ou mesmo fragmentada. E diz isso porque, quando Marc não se coloca como Cavaleiro da Lua, não se borra literalmente nas calças. Isso fica claro quando ele se coloca do lado da estátua de Konshu, quando tudo muda, e vemos que Marc é um verdadeiro “cruzado sem causa”. Os sinais de que a relação com o deus da vingança tende mais para algo no campo psiquiátrico do que místico só aumenta. É a chance de Perfil expor tudo que depreende de suas observações, de virar o jogo para cima de Marc. Afirma que Marlene não o ama mais. E que Spector, crendo que as coisas poderiam voltar a ser como antes, continuou a tratá-la como um objeto. Que cada vez mais se recusava a admitir que gostava mais de machucar as pessoas do que ajudá-las. Fazendo-o desabar apenas com palavras, Perfil joga com o perigo, mas diz que pode ajudá-lo a recuperá-la.

Cavaleiro da Lua

Não é nessa história que Marc é bem sucedido, até porque quando está prestes a espancar o novo namorado de Marlene, é interpelado por ninguém menos que Tony Stark. Seguindo as “visitas” da Guerra Civil, Stark não vai lá recrutar o Cavaleiro da Lua, mas deixar claro que não quer também que ele vá para o lado do Capitão América, porque registrá-lo não seria vantagem para ninguém.

Mas o principal confronto dessa história é Meia-Noite. Surpreendentemente, demonstrando ser mais pirado do que Spector, Jeff pratica todos os assassinatos não para desafiar o Cavaleiro da Lua. Nem para dizer que é melhor do que ele. Mas sim para poder morrer. Tanto sua programação quanto a de sua companheira os impede de se matarem, tornando a dor de viver como ciborgues seja ainda mais insuportável.

O grande problema é que, em meio à toda dúvida existencial pela qual Marc vive, simplesmente assassinar duas (quase) pessoas não parecia a melhor idéia. E isso causa a reação negativa tanto de Meia-Noite quanto de Konshu (pelo menos das visões bizarras do deus que Spector vem tendo). Jeff não se conforma que o Cavaleiro da Lua não o mate, reagindo com uma sessão de tortura, seguida de assassinato quando Marc foi atrás dele. Enquanto isso, Konshu literalmente vira as costas, irritado por seu avatar se recusar a realizar suas obrigações. Mas a enfermeira não quer que acabe assim.

Cavaleiro da Lua

Ela golpeia Jeff, e apela ao Cavaleiro da Lua. Exige que ele haja como herói, poupando-os do seu sofrimento, dando-lhes o descanso da morte. Uma visão distorcida, como o próprio Spector, de heroísmo, que acaba sendo decisiva. O Cavaleiro da Lua finalmente mata Jeff, acreditando estar salvando-o e se redimindo por sua falha com ele, e leva a enfermeira para fora, deixando seu piloto Ray terminar o serviço.

Cavaleiro da Lua

O simbolismo de Marc agindo assassinando alguém mais insano do que ele, mas vestido de forma semelhante, talvez signifique que o Cavaleiro da Lua finalmente começou a resolver todo o turbilhão emocional e psicológico em que sua vida se transformou. Ele talvez tenha escolhido o caminho do heroísmo, mas de que tipo de herói? Não sabemos. A dúvida de que sua relação com Konshu pode ser tanto mística quanto esquizofrênica permanece. Somente as próximas edições podem responder o que será do Cavaleiro da Lua.


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