domingo, 27 de março de 2011

A Marvel Comics pelo mundo: uma perspectiva geral

*Artigo escrito por nosso colaborador, Leonardo Bento

Marvel Comics pelo Mundo

O Marvel 616 se dedica a trazer novidades das publicações da editora nos EUA e resenhas de tudo aquilo que sai aqui no Brasil. Quem de nós, contudo, nunca teve a curiosidade de saber como é o tratamento dado à Marvel em outros países? Quem nunca ficou intrigado para saber como é que a Panini, detentora do contrato de licenciamento da Marvel em outros países, publica suas revistas no exterior? Pensando nisso, preparamos um especial em três edições para contar um pouquinho essa história para nossos leitores.

A edição original desse artigo foi feita por mim para o Armada Mutuna, site especializado em conteúdo dos X-Men, que vocês pode conferir aqui. Fiz adaptações para apresentar não só como são feitas as publicações mutantes, mas também de toda a Marvel em outros países.

Todos nós sabemos que a Panini publica as histórias da Marvel aqui no Brasil, mas não estamos acostumados a discutir o tratamento dado aos X-Men na Alemanha, ou como nossos hermanos argentinos leem as histórias do Aranha.

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Uma das últimas tiragens das revistas argentinas

De um modo geral, a Panini, por meio de seu contrato de licenciamento, praticamente monopolizou a publicação dos quadrinhos daquela editora fora dos Estados Unidos (e, por extensão, do Canadá, que recebe material do vizinho).

Com exceção da Holanda, onde as revistas são editadas por uma subsidiária da Marvel, a grande maioria dos países europeus é atendida pela Panini. A editora italiana tem produção própria em seu país natal, mas também na França, Espanha, Alemanha e, inclusive, no Reino Unido. Outros países, como a Bélgica e a Áustria, recebem material vindo dos polos que falam a mesma língua, como França e Alemanha, respectivamente. Portugal, por exemplo, recebe as revistas editadas em terras tupiniquins.

Apesar disso, nem tudo são flores para a Panini: a produção editorial na Hungria, que era sua responsabilidade, fracassou, bem como em países fora da Europa, como a Argentina. Esses países dependem agora da importação de material.


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A revistas marvel que saiam na Hungria

O caso inglês é muito emblemático: embora as revistas americanas cheguem no mesmo mês de lançamento nos EUA (como no Canadá) e compartilhem a mesma língua, há materiais que são lançados pela Panini Comics, como algumas coletâneas e encadernados. Ou seja, é talvez o único mercado em que a Panini compete diretamente com a Marvel.

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Coleções Marvel da Panini no Reino Unido

Uma vez que a Panini está presente nesses outros centros, é importante fazer um paralelo sobre o que é publicado lá e o que vem para cá, lembrando que, embora o espaço amostral dos leitores de quadrinhos de super-heróis no Brasil seja bastante reduzido, a população de países como Itália e Espanha também o é (aproximadamente 60 e 50 milhões de pessoas, respectivamente).

Com uma breve navegação pelo website da Panini Comics desses países, o que mais se destaca é a quantidade de encadernados ou republicações em formato de luxo que são lançadas na Europa. Formatos que não deram muito certo no Brasil se consolidaram em alguns mercados e são publicados com certa frequência. Mesmo considerando o padrão de vida, mais elevado nos países europeus, o valor desses materiais, transformados em reais, são mais caros do que os cobrados por aqui, além de receberem um tratamento gráfico superior.

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Republicações e edições de luxo lançadas na França

Nas revistas de linha, todos esses países cuja edição é feita pela Panini se destacam pela falta de padronização no número de páginas e na periodicidade das revistas. Enquanto, no Brasil, a Panini recentemente aboliu as mensais de 100 páginas, transformando-as ora em mensais de 76 páginas, ora de 148, na Europa há uma mesma mensal que em um mês apresenta 96 páginas, em outro, 80 páginas, com preços proporcionais. Há também os casos de revistas com o mesmo papel e número de páginas, mas com preços diferentes – um indicativo das diferentes tiragens de cada título.

Tudo isso é feito para manter não só o alinhamento cronológico de toda a Marvel, mas também para garantir a coerência de certas revistas, preferindo publicar arcos completos e não cortando páginas ou deixando de publicar determinadas histórias por falta de espaço.

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Grande variedade de formato e número de páginas pela Panini Italiana

É possível argumentar que tal falta de padronização nos tamanhos e, por conseguinte, nos preços atrapalharia o sistema de assinaturas da Panini no Brasil. É verdade que isso aconteceria, mas, embora careçamos dos valores concretos, é notável, ao conversarmos em fóruns de quadrinhos ou com amigos leitores, que a proporção de assinantes é reduzida. O atrativo para os leitores – atuais e novos -, ao trazer revistas, com materiais fechados ou não, aumenta caso as revistas não precisem ficar limitadas pelo espaço de publicação.

As experimentações em Wolverine, com a tentativa de publicar arcos fechados em uma ou duas edições, como é o caso de Wolverine: Weapon X de Jason Aaron, mostram que a editora está procurando encontrar um modelo intermediário entre o mix (formato adotado no Brasil) e as edições de 28 páginas (formato adotado nos EUA).


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Mesma linha de juntar arcos proposta nas atuais edições de Wolverine

Outra grande discussão para o mercado brasileiro é a respeito dos mixes. Muitos reclamam que não compram certas revistas, porque querem ler apenas uma história, o que não é possível no formato mix atual (a redução de 100 para 76 páginas procurou satisfazer também esse leitor); outros defendem que, pelas características do mercado brasileiro, seria inviável publicar títulos com apenas 28 páginas a um preço comercialmente rentável.

Esse quiproquó não é exclusividade do Brasil. Na Europa, com certeza, a Panini passou pelo mesmo dilema e adotou algumas estratégias para superá-lo.

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Variedade de edições lançadas pela Panini Espanha

Há casos em que as revistas mais lucrativas e de venda garantida, como Uncanny X-Men e Amazing Spider-Man, saem de forma única, com 28 ou 32 páginas; enquanto isso, outros títulos menores, como New Mutants e X-Force, precisam sair combinados, em revistas de 48 ou 80 páginas, por exemplo, para que as vendas sustentem sua publicação. Materiais de grande relevância, mas que não têm, em determinados países, apelo comercial, como Homem de Ferro, Capitão América e os Vingadores, chegam a ser publicados na forma de encadernados periódicos, reunindo um ou mais arcos do título – talvez a única forma de viabilizar sua publicação dependendo das características do mercado.

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Edições fechadas lançadas na Alemanha

Por que não repetir algumas das estratégias elencadas anteriormente no Brasil? Algumas divulgações recentes da Panini vêm mostrando que a editora está tentando trazer o modelo para o Brasil: o lançamento de uma edição fechada, com histórias inéditas da Sociedade da Justiça, segue a linha do que acontece com a linha cósmica ou o X-Factor em alguns países, em que os títulos não saem em nenhum mix ou revista de linha, mas são publicados na forma de edições fechadas, com um ou dois arcos.

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Alguns exemplos de edições fechadas da panini espanha

Outra demonstração é a nova linha Marvel + Aventura, com 28 páginas e preço mais acessível. Uma simples matemática mostra que essa revista – pelo preço de R$ 1,99 – custa mais barato do que uma mensal de 76 páginas (R$ 6,50). Embora se acredite que haja um subsídio inicial para garantir altas vendas - e se acrescente a isso uma tiragem maior que reduz o preço, a linha Marvel + Aventura pode estar servindo de laboratório para a Panini.

Se as vendas forem boas, a editora pode apostar, como fez na Espanha, em títulos de 28 ou 32 páginas (com preços levemente superiores ao da nova revista) para seus principais heróis – aumentando as vendas (ao atingir o público que não comprava edições mix por não se interessar por outros títulos que ali saiam) e também o lucro total.
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Uma última característica que pode ser novamente explorada é a quantidade de material publicado no exterior em relação ao Brasil e o tratamento dado a heróis com menor apelo comercial.

O Demolidor é um grande exemplo de alta relevância e baixas vendas em um título solo de poucas páginas. Assim como no Brasil, onde não conseguiu se firmar em uma mensal própria, em outros países as histórias de Murdock só conseguem sair no formato de edições com arcos fechados – algo que os fãs pedem para que se repita em nosso país.

Alguns títulos que não seriam muito bem aceitos nos mixes, mas que têm fãs suficientes para garantir sua compra, como X-Men Forever e Justiceiro, saem, na Europa, no formato de encadernado, com uma tiragem menor e um preço maior, mas cujas vendas garantem o lançamento da próxima edição. Essa poderia ser a solução para alguns títulos que precisaram ser descontinuados no Brasil, que nem obtiveram espaço para sua publicação ou que são fortemente contestados.


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Uma amostra do que sai pela Panini francesa

Por aqui, nossas mudanças começaram já faz algum tempo. Há menos de um ano foi anunciada a tão discutida reforma editorial da Panini, que alterou os formatos na tentativa de garantir maiores vendas e a manutenção de tudo o que era publicado no Brasil.

As vendas nos Estados Unidos não estão animadoras nesse começo de ano e, no Brasil, parecem seguir o mesmo caminho.

As experimentações que a Panini está fazendo comprovam que a editora continua em busca do padrão mais rentável, ao mesmo tempo em que títulos campeões de venda possam continuar garantindo lucros suficientes para cobrir a publicação de materiais cronologicamente relevantes, mas que não obtêm o mesmo sucesso nas vendas.


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Panini no Brasil

Nossa exploração das revistas da Marvel ao redor do mundo continua no próximo artigo, onde pretendemos mostrar como a editora é publicada pela Panini na Alemanha, na França e na Espanha. A aventura se encerra posteriormente com a apresentação da Itália - berço da Panini e centro de decisões editoriais e vetos que influenciam as publicações no Brasil – e um balanço geral, que traz semelhanças, diferenças e sugestões.

No final, esperamos que cada leitor possa reavaliar suas críticas (ou formular novas), a partir da visão geral que terá sobre como é o tratamento editorial da Marvel pela Panini em outros países.

Estejam conosco no próximo capítulo dessa empreitada! Até a próxima semana!

Leonardo Bento

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