A viagem dos X-Men ao Grimamundo certamente foi uma das histórias mais marcantes que a equipe teve nos últimos anos. Nela, os heróis mutantes tiveram contato com uma cultura bastante diferente da que vemos na Terra (ou talvez nem tão diferente, como os noticiários nos relembram), em que a guerra e a violência dominavam a mentalidade da população.
A viagem terminou com a deposição de seu líder, o tirano Lorde Kruun, pelas mãos de Colossus, e com o sacrifício supremo de Kitty Pryde para salvar a Terra. Ou seja, não foi uma viagem agradável. Mas agora, eles terão que se envolver com o Grimamundo uma vez mais...
É claro que muita coisa mudou para os dois lados desde então. Os X-Men agora são um pequeno exército de mutantes vivendo em Utopia, tendo a seu lado novos integrantes como o rei atlante Namor e o mestre do magnetismo (e ex-terrorista) Magneto – este último, por sinal, anda bastante interessado nas propriedades do metal grimamundiano presente no gigantesco projétil que trouxe à Terra para o resgate de Kitty Pryde. Por sua vez, Kitty agora só consegue falar e ficar sólida com um traje especial (o que torna difícil seu namoro com Colossus). Mas e o Grimamundo, como ficou?
Isso é o que a equipe descobre quando a agente Abigail Brand pede ajuda para lidar com a nave-mãe do planeta, em rota para a Terra. Brand, sempre simpática, informa que a deposição de Kruun levou a uma série de conflitos civis entre facções. Daí a nave-mãe em direção à Terra: ela traz ninguém menos que o próprio Kruun e vários de seus seguidores. Mas a surpresa é que eles não vieram para lutar, e sim em busca de asilo.
Ciclope concorda em refugiar os grimamundianos em Utopia; afinal, é por causa dos X-Men que eles estão nesta situação. A partir daí, vemos o roteirista Kieron Gillen e o desenhista Terry Dodson mostrarem o choque cultural que ambos os lados enfrentam com a situação. Vemos que os grimamundianos até são gratos e têm boas intenções, mas como se adaptar a conceitos como “paz” e “piedade”, quando sempre conheceram apenas “guerra” e “morte”? Kruun parece ser quem mais sofre com essa contradição: ele sente ódio de Colossus por ter tomado seu lugar como regente do Grimamundo ao derrotá-lo, sente prazer ao informar que o fato de ter sido ressuscitado em troca da vida de escravos torna Piotr inferior a ele... mas impede que o russo seja assassinado por um de seus compatriotas. Haleena, antiga augúrio de Kruun, parece se adaptar melhor aos conceitos da Terra, mas isso só dificulta sua comunicação com seu antigo líder.
Mas a verdade é que, vindo em paz ou não, Kruun ainda deseja se vingar de Colossus. E a oportunidade surge assim que Magneto pede explicações sobre o metal do Grimamundo e o deixa usar os laboratórios de Utopia. O vilão aproveita a oportunidade para desenvolver a “cura mutante” (que seu servo Ord já usou contra os X-Men no passado) e imobilizar Erik e Madison Jeffries. Em seguida, incapacita Ciclope e Emma Frost (e todos os moradores adormecidos da ilha). A etapa seguinte? Vingança!
Kitty descobre da pior forma possível que o metal do Grimamundo é capaz de feri-la mesmo agora, quando ela não consegue ficar tangível. Sem poder falar, ela assiste Kruun ferir mortalmente Colossus; em seguida, descobre que seus amigos estão incapacitados. Felizmente, Wolverine ainda estava acordado e pronto para enfrentar Kruun, mas mesmo ele acaba sendo brutalmente derrotado. E se Kitty pensava que teria ajuda da pacífica Haleena, descobriu seu engano quando a augúrio rasgou sua garganta. Kitty Pryde está morta.
Então, como explicar que instantes depois, ela aparece viva e bem para resgatar Piotr e Logan? Essa é a primeira surpresa de Kruun – a segunda é perceber que, diferentemente do que pensava, ele não incapacitou todos os X-Men, conforme Psylocke lidera um grupo contra ele decretando a custódia de todos os grimamundianos (pelo jeito ele não se preocupou em saber que havia outros X-Men além dos que ele conheceu no Grimamundo...). Mas é a terceira surpresa que realmente arrasa o vilão: Haleena matou Kitty, sim... apenas para revivê-la ao custo de sua própria vida, como forma de abrir os olhos de seu líder e mostrar a ele que a vida que tinham no seu antigo mundo acabou, mas que graças a isto eles podem redefinir e redescobrir quem são.
Kruun finalmente entendeu, assim, o conceito de “amor”. Seu amor por Haleena faz com que ele sacrifique parte da sua energia vital, o suficiente para que ela volte sem que ele parta. Naquela noite, o ex-tirano cometeu atos terríveis contra seus anfitriões. Mas também naquela noite, ele se transformou: mudando-se com seu povo para São Francisco, Kruun está disposto a aprender os hábitos da Terra e a respeitar as pessoas que outrora tentou destruir com um projétil gigante. De quebra, a morte e ressurreição permitiram a Kitty voltar a ter controle sobre sua intangibilidade, tudo que ela queria. O choque cultural ainda não foi completamente superado, mas os primeiros passos foram finalmente dados.
Este arco, publicado no Brasil em X-Men 127 e 128, não é tão marcante quanto a primeira aparição do Grimamundo, e provavelmente não ficará como uma das melhores histórias dos X-Men de todos os tempos. Apesar disso, mostra-se uma história bastante rica no que diz respeito a diferenças culturais e tolerância – e não foi para trabalhar essas mesmas temáticas que os X-Men foram criados? É ótimo ver que, em meio a tantas viagens no espaço e no tempo, lutas contra vampiros, polígonos amorosos e afins, ainda há roteiristas que lembram qual é a verdadeira mensagem dos heróis mutantes.
Fernando Saker
A viagem terminou com a deposição de seu líder, o tirano Lorde Kruun, pelas mãos de Colossus, e com o sacrifício supremo de Kitty Pryde para salvar a Terra. Ou seja, não foi uma viagem agradável. Mas agora, eles terão que se envolver com o Grimamundo uma vez mais...
É claro que muita coisa mudou para os dois lados desde então. Os X-Men agora são um pequeno exército de mutantes vivendo em Utopia, tendo a seu lado novos integrantes como o rei atlante Namor e o mestre do magnetismo (e ex-terrorista) Magneto – este último, por sinal, anda bastante interessado nas propriedades do metal grimamundiano presente no gigantesco projétil que trouxe à Terra para o resgate de Kitty Pryde. Por sua vez, Kitty agora só consegue falar e ficar sólida com um traje especial (o que torna difícil seu namoro com Colossus). Mas e o Grimamundo, como ficou?
Isso é o que a equipe descobre quando a agente Abigail Brand pede ajuda para lidar com a nave-mãe do planeta, em rota para a Terra. Brand, sempre simpática, informa que a deposição de Kruun levou a uma série de conflitos civis entre facções. Daí a nave-mãe em direção à Terra: ela traz ninguém menos que o próprio Kruun e vários de seus seguidores. Mas a surpresa é que eles não vieram para lutar, e sim em busca de asilo.
Ciclope concorda em refugiar os grimamundianos em Utopia; afinal, é por causa dos X-Men que eles estão nesta situação. A partir daí, vemos o roteirista Kieron Gillen e o desenhista Terry Dodson mostrarem o choque cultural que ambos os lados enfrentam com a situação. Vemos que os grimamundianos até são gratos e têm boas intenções, mas como se adaptar a conceitos como “paz” e “piedade”, quando sempre conheceram apenas “guerra” e “morte”? Kruun parece ser quem mais sofre com essa contradição: ele sente ódio de Colossus por ter tomado seu lugar como regente do Grimamundo ao derrotá-lo, sente prazer ao informar que o fato de ter sido ressuscitado em troca da vida de escravos torna Piotr inferior a ele... mas impede que o russo seja assassinado por um de seus compatriotas. Haleena, antiga augúrio de Kruun, parece se adaptar melhor aos conceitos da Terra, mas isso só dificulta sua comunicação com seu antigo líder.
Mas a verdade é que, vindo em paz ou não, Kruun ainda deseja se vingar de Colossus. E a oportunidade surge assim que Magneto pede explicações sobre o metal do Grimamundo e o deixa usar os laboratórios de Utopia. O vilão aproveita a oportunidade para desenvolver a “cura mutante” (que seu servo Ord já usou contra os X-Men no passado) e imobilizar Erik e Madison Jeffries. Em seguida, incapacita Ciclope e Emma Frost (e todos os moradores adormecidos da ilha). A etapa seguinte? Vingança!
Kitty descobre da pior forma possível que o metal do Grimamundo é capaz de feri-la mesmo agora, quando ela não consegue ficar tangível. Sem poder falar, ela assiste Kruun ferir mortalmente Colossus; em seguida, descobre que seus amigos estão incapacitados. Felizmente, Wolverine ainda estava acordado e pronto para enfrentar Kruun, mas mesmo ele acaba sendo brutalmente derrotado. E se Kitty pensava que teria ajuda da pacífica Haleena, descobriu seu engano quando a augúrio rasgou sua garganta. Kitty Pryde está morta.
Então, como explicar que instantes depois, ela aparece viva e bem para resgatar Piotr e Logan? Essa é a primeira surpresa de Kruun – a segunda é perceber que, diferentemente do que pensava, ele não incapacitou todos os X-Men, conforme Psylocke lidera um grupo contra ele decretando a custódia de todos os grimamundianos (pelo jeito ele não se preocupou em saber que havia outros X-Men além dos que ele conheceu no Grimamundo...). Mas é a terceira surpresa que realmente arrasa o vilão: Haleena matou Kitty, sim... apenas para revivê-la ao custo de sua própria vida, como forma de abrir os olhos de seu líder e mostrar a ele que a vida que tinham no seu antigo mundo acabou, mas que graças a isto eles podem redefinir e redescobrir quem são.
Kruun finalmente entendeu, assim, o conceito de “amor”. Seu amor por Haleena faz com que ele sacrifique parte da sua energia vital, o suficiente para que ela volte sem que ele parta. Naquela noite, o ex-tirano cometeu atos terríveis contra seus anfitriões. Mas também naquela noite, ele se transformou: mudando-se com seu povo para São Francisco, Kruun está disposto a aprender os hábitos da Terra e a respeitar as pessoas que outrora tentou destruir com um projétil gigante. De quebra, a morte e ressurreição permitiram a Kitty voltar a ter controle sobre sua intangibilidade, tudo que ela queria. O choque cultural ainda não foi completamente superado, mas os primeiros passos foram finalmente dados.
Este arco, publicado no Brasil em X-Men 127 e 128, não é tão marcante quanto a primeira aparição do Grimamundo, e provavelmente não ficará como uma das melhores histórias dos X-Men de todos os tempos. Apesar disso, mostra-se uma história bastante rica no que diz respeito a diferenças culturais e tolerância – e não foi para trabalhar essas mesmas temáticas que os X-Men foram criados? É ótimo ver que, em meio a tantas viagens no espaço e no tempo, lutas contra vampiros, polígonos amorosos e afins, ainda há roteiristas que lembram qual é a verdadeira mensagem dos heróis mutantes.
Fernando Saker