quinta-feira, 17 de maio de 2018

Resenha 616: Deadpool 2


Deadpool 2 está chegando aos cinemas esta semana e mesmo confrontando um gigante que já estava a três semanas em primeiro lugar nas paradas, deve levar consigo uma boa bilheteria de estreia durante essa  sua estreia, provavelmente tomando o pódio de Vingadores: Guerra Infinita . E vai ser merecido. O personagem é do tipo ame ou odeie.  Mas mesmo que você tenha um problema com essa figura cômica ambulante nos quadrinhos, assista esse filme. Se você tem uma baita implicância com o desenhista criador dessa figura esdrúxula, veja esse filme. Se você tem sérios com quem ri nos cinemas, veja... bom, então não deveria ver esse filme, mas saiba que está perdendo muito por implicância boba. Deadpool 2 é o filho crescido de Ryan Reynolds, ganhando agora um dinheirinho a mais para fazer mais bonito nas telas, tendo coleguinhas dos quadrinhos tão famosos quanto ele pra sair e aloprar e ainda presenteou os fãs da Marvel com uma das cenas pós-creditos mais hilárias do cinema. Mas calma, que estou me atropelando um pouco. Vamos voltar a fita e começar de novo essa resenha.



Em 2016, Deadpool mostrou que mesmo com baixo orçamento, um bom filme de super-heróis pode ser feito e bem sucedido se realizado pelas pessoas certas que entendem os personagens com que estão trabalhando. Entregou um verdadeiro recorde de bilheteria mundial para filme de censura máxima, inovando ao colocar esse personagem que praticamente falava com a gente do outro lado da tela pra contar sua história pessoal, uma história de amor. Dois anos depois, ele volta pra uma sequência e desta vez será um conto sobre família. E por mais que pareça tosco esse comparativo, Wade Wilson prova que estava falando sério sobre isso ao longo do filme. Afinal, histórias de família podem ser trágicas no começo, mas são por meio delas que os laços entre as pessoas se fortalecem.

De 2016 pra cá, algumas coisas mudaram para o Mercenário Tagarela. Agora que é incapaz de morrer, tornou-se um dos mais bem sucedidos em seu ramo, tornou-se alguém em escala mundial, mas exclusivamente matando só quem merece (mas ganhando pra isso, claro). E com essas cenas logo de cara, dá pra ver alguma mudança na assinatura das cenas de ação do filme. O novo diretor David Leitch foi por anos dublê, passou a ser diretor de segunda unidade de muitos filmes atuais que requerem elaboradas cenas de ação até que foi diretor (não creditado) do sucesso John Wick e depois, Atômica. Deadpool 2 é seu terceiro filme e revela aqui um cara talentoso pra esse gênero. Ele troca as cenas espetaculosas de Tim Miller por uma porradaria mais seca, gore e que te faz desviar os olhos algumas vezes pra longe da tela.



Mas não só de espadadas e tiro vive um filme. Paralelo a porrada, Deadpool é bem conhecido por ser a boca mais rápida desse canto do mundo e um filme do tagarela tem que ser cheio de piadas ágeis e bem balanceadas com as cenas de ação. E o mérito disso ainda fica por conta da dupla Rhett Reese e Paul Wernick e o próprio ator protagonista Ryan Reynolds. Se no primeiro filme tivemos muita cultura pop recheando a história, aqui o trio resolveu voltar um pouco às raízes, e também prestigiar os fãs nerds que conhece aqueles personagens até a raiz do cabelo e referenciar sempre que pode os gibis, os filmes da FOX, o sucesso das franquias da Marvel Studios e até mesmo cutucar sempre que pode a Distinta Concorrência.  Sobrou até pra o Rob Liefeld levar uma tirada de sarro gratuita aí. Nesse ponto, é um filme ainda mais ousado. Assim como Guerra Infinita se confiou que as pessoas conheciam o bastante dos filmes anteriores para não explicar muito as coisas, Deadpool 2 apostou que as pessoas iam rir sobre piadas envolvendo braços de ferro ou referenciando atores estabelecidos da franquia dos X-men.



Em contraposição a todo humor do personagem, entra aqui aquele que praticamente é literalmente o outro lado da moeda  - Cable. Os personagens tem vínculo forte nos gibis, já dividiram até o mesmo título, e sempre tiveram uma boa dinâmica na narrativa apesar de quase sempre se estranharem. Era preciso encontrar a pessoa certa pra transmitir isso pras telonas e Ryan Reynolds estava certo quando escolheu Josh Brolin pro papel. Aqui ele não é Thanos (ou é?), mas se impõe tanto quanto. Sua voz rouca, com peso e gravidade nas frases, expressão dura com uma leve tristeza escondida o transforma no mutante viajante do tempo dos quadrinhos no primeiro momento que pisa na tela. O paralelo com o Exterminador do Futuro (que já existia desde os gibis) torna-se inevitável, é alguém transmite tensão e mesmo que você tenha na cabeça que ele não é um vilão, deixa  um certo medo no ar. Mas tudo isso acaba encontrando um desafiante a altura com o humor  escrachado do Deadpool. E é aí que está as melhores partes do filme. Tudo em Deadpool 2 dependia desta química (ou falta dela) ser brilhante como acabou sendo.



Outra personagem bem conhecida dos quadrinhos que é introduzida aqui é a Dominó. A escalação de Zazie Beetz foi no começo questionada por alguns fãs buscando sempre a fidelidade máxima aos quadrinhos, mas em nenhum momento isso fez diferença no filme. O que importa aqui é que a atriz é muito carismática, linda, consegue dialogar bem com as piadas ligeiras do Deadpool e ainda entregou muitas cenas boas de ação. O mais importante da personagem, que é seu poder de “sorte” foi muito bem explorado por sinal, entregando cenas excitantes como a do ataque ao comboio da DMC. E com um filme da X-Force vindo aí, ela é presença que certamente não pode faltar. E falando em X-Force, não é segredo para ninguém que uma versão primária da equipe surge aqui. Contou inclusive com um elenco bem surpreendente de atores - Terry Crews como Bedlam, Lewis Tan como Shatterstar, Bill Skarsgård como Zeitgeist, Rob Delaney como Peter W. e um personagem secreto que não vale a pena falar aqui, mas rendeu uma participação especial de 1 segundo. A primeira cena do grupo em ação é uma das coisas mais insanas que teve no filme. E não vou falar mais nada dela aqui.

Daí, o único novo nome que quase não foi anunciado nos trailers, mas que pela importância e a atuação de primeira no filme merece menção aqui é Julian Denninson como Russell (É confirmado depois em uma cena do meio do filme que o sobrenome é Collins, portanto, ele é  Rusty). O garoto representa aqui os muitos garotos mutantes que vivem neste mundo imaginário e que acabam sendo apanhados e abusados tanto física como mentalmente. Como são inocentes, acabam ainda com esperança numa virada da sua vida. Conhecer Deadpool parecia ser esse ponto pra o personagem, porém Deadpool não é lá um modelo de pessoa a se inspirar ou chamar de amigo. Ao menos, não no seu atual estado. Daí, em meio a decepções e frustrações, o Russell pode chegar perto da linha tênue de virar um mau mutante e é aí que o personagem de Cable entra nessa história. Em sua realidade, Rusty Collins cruzou esta linha. E é assim que a trama  acaba fazendo os caminhos viajante do tempo e do Mercenário Tagarela se cruzarem. Para uma história envolvendo esse tipo de viagens espaço-temporais,  até que Deadpool 2 acabou entregando até uma história bem redonda quanto a isso.


Quem volta também a trama aqui é Colossus (com voz e captura de rosto de Stefan Kapičić) que ganha uma participação até maior que o primeiro filme e chega até a criar um pequeno arco pessoal pro personagem.  Brianna Hildebrand's (Míssil Adolescente Megassônico) retorna agora como uma X-Men já formada e debutando o primeiro casal de namoradas gays super-heroícas do cinema com a personagem de Shioli Kutsuna (Yukio). Dopinder, vivido por  Karan Soni caiu tanto nas graças do público que não só voltou como teve até mais cenas que o próprio T.J. Miller (o Fuinha) e a Al Cega (Leslie Uggams ) e foi algo justo, ele é muito mais engraçado.



Há muito mais que isso aí, mas não poderia falar num resumo livre de spoiler. Mas o público pode esperar sim alguns personagens surpresas, mas não do jeito que imaginavam. Algumas piadas que acabaram consagradas no primeiro filme acabaram ganhando um revival, uma nova versão ou uma expansão. E  acabaram acertando na maioria das vezes. O único problema do filme é quando por alguns instantes ele tenta se levar a sério. Não dá pra se convencer muito com cenas de drama numa aventura a 150km por hora e tão tresloucada como é Deadpool. Nesses curtos instantes do filme,  é quando parece que o filme sai de prumo, mas logo volta ao que é. Talvez, um diretor mais experiente como Tim Miller saberia mais trabalhar isso e deixar tudo mais redondo e na mesma sintonia como foi o primeiro filme. Mas, eu repito, esses momentos não comprometem o filme.

Por fim, eu gostaria muito, muito mesmo de comentar a cena pós credito. Eu acredito que nunca chorei de rir como uma  antes. É a melhor de todos os tempos. Eu queria comentar, mas não posso. Vou deixar pra falar dela no podcast. Mas como falei, nem que seja pra ver essa cena no final, vá ver Deadpool 2. Não dá pra perder.

Coveiro

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