quarta-feira, 22 de abril de 2015

Resenha 616: Vingadores – A Era de Ultron


E finalmente chegou a semana da estreia. É o momento em que veremos mais uma vez os Mais Poderosos Heróis da Terra reunidos para deter um mal que sozinho nenhum deles poderia lidar. Vingadores: A Era de Ultron já chega oficialmente em muitas salas de cinema a partir desta quarta-feira e dentre as maiores  questões que prometiam ser respondidas desta vez, a que mais se destaca é o real motivo para Joss Whedon querer pontuar esse segundo longa dos Vingadores como sua despedida no papel de diretor da franquia.

Bom, antes de mais nada, eu não precisaria, mas aviso que  o texto que segue vem com um grau moderado de spoilers. Não que eu pretenda discutir coisas a fundo, o que deixaremos para o nosso podcast como de praxe, mas é meio inevitável não tocar em certas partes da trama que ficaram pouco evidentes nos trailers pra dar conta deste texto. Então, uma vez alertado, quem quiser se arriscar ou já viu o filme, segue comigo.


Joss Whedon definia seu primeiro Vingadores como um grupo de personagens improváveis que decerto não se dariam bem em outra situação, mas se uniram em prol de deter a ameaça comum. É mais ou menos a premissa inicial dos quadrinhos. Mas uma vez com esse cenário já montado, a grande curiosidade ficaria em saber como seria o novo passo desse união como um grupo numa continuação.  Então, como em todo lugar, vemos aqueles com mais afinidades, outros que se respeitam, alguns que toleram e outros que escondem segredos.

Então, temos a já destacada associação pela ciência entre Bruce e Tony, que por sua vez tem um temperamento mais chauvinista e festeiro como o do nórdico Thor. Já o Asgardiano, por sua vez, tem grande respeito pelo Capitão,  muito mais pela sua hombridade do que pelo perfil como soldado ou líder. E talvez esse seja o que antagoniza Tony de Steve, mesmo que esteja claro que ele é e deve ser sempre seu líder. Já Bruce, como fica nítido nos trailers desenvolve uma relação nova e inesperada com a Viúva Negra. Mas sinceramente, não é nada que no decorrer do filme você não entenda ou aceite com facilidade, principalmente do jeito que a coisa vai se desenvolvendo. A Natasha Romanoff, por sua vez, vai desfazendo aquela casca que não deixava ninguém ver por dentro e passa a nos mostrar mais quem é a garota que virou a Viúva Negra na sala vermelha da extinta URSS (primeiramente apresentada na série da Agente Carter). É uma continuação direta do caminho que Natasha segue desde o final de Capitão America: o Soldado Invernal


Vocês devem ter percebido que o Clint acabou ficando por fora do emaranhado de relacionamentos acima. Mas não que seu desenvolvimento tenha acabado escanteado como aconteceu no primeiro Vingadores. Sabiamente, Joss Whedon não só ironizou o que aconteceu no primeiro filme desta vez como escolheu Jeremy Renner para ser o pivô mais humano na definição do que faz cada um daqueles heróis ser um Vingador. O Gavião Arqueiro ganhou uma faceta pessoal (bem conhecida para os que leram os Supremos) e uma moral (que muitos já perceberam em vários pedaços dos trailers que mostra seu relacionamento como um tipo de orientador dos gêmeos Maximoff). São pontos fundamentais para embasar sua personalidade como um personagem bem diferente do coadjuvante opaco que conhecemos da última vez. Em vários momentos do filme ele também é importante para entender porque um herói se arrisca sair de casa todos os dias para fazer o que faz. E é aí que vemos o grande brilhantismo do novo Vingadores.


Joss Whedon comentou em certa entrevista que neste segundo filme queria ver mais cenas de heróis ajudando e salvando pessoas. Já tínhamos visto algo nesse sentido no primeiro filme, principalmente nas cenas que envolviam o Capitão América. Mas depois que outros certos filmes de heróis saíram por aí, Whedon entendeu que era preciso evidenciar que o mote do herói não é bater no vilão e arrebentar tudo ao redor, mas sim salvar o dia. E é assim que nas quatro principais cenas de luta em grupo vemos toda uma coordenação tática nesse sentido. Proteja os civis. Então, detenha a potencial ameaça. Você enxergará isso tanto em Tony quanto no Steve, mesmo que os métodos sejam divergentes para alcançar isso.


E é aqui que entra novos tijolos na relação entre o Homem de Ferro e Capitão América para o futuro do que vem por aí no universo cinematográfico da Marvel. Rogers, que era só um cara perdido nesta nova época, parece estar se encontrando finalmente no mundo moderno e descobriu muito bem seu novo objetivo desde Capitão America 2. No final do filme, ele basicamente resume quem ele é agora. Já o Stark dos cinemas vem progredindo para algo ainda mais paranoico e control-freak neste filme. Da sua mudança de vida no primeiro Homem de Ferro, passando pelo estágio do milionário que aspirava “privatizar” a segurança mundial no segundo e chegando ao homem perturbado e paranoico em Homem de Ferro 3, temos o novo degrau em Vingadores 2. É o cara que  vai fazer de tudo para inclusive se antecipar as ameaças antes mesmo que elas possam nascer. É bem possível montar um paralelo do homem dos cinemas com o “visionário pessimista” dos quadrinhos no momento que antecede a Guerra Civil.


Me apeguei tempos atrás ao trecho em Homem de Ferro 3 em que Happy Hogan comenta que o problema da segurança da empresa estava no recurso “humano”.  Era a deixa sutil para mostrar que Tony estava pensando em automatizar ainda mais suas armaduras. Temos então a Legião de Ferro sendo controlada agora diretamente por J.A.R.V.I.S., mas sua obra final e inacabada ainda viria a surgir na forma de ULTRON. Eu sei que muita gente ainda se contorce por essa mudança de origem dos quadrinhos, mas entenda que ela não só é inteiramente justificada como muito importante para o personagem do Tony nos cinemas. É preciso entender toda essa evolução do Homem de Ferro até aqui para entender melhor esse Ultron. Trata-se de algo que já faz um tempo que a Marvel tenta vincular a Stark em muitas outras mídias como no desenho Next Avengers e Earth's Mightiest Heroes. E convenhamos que faz muito mais sentido.


Como imaginávamos, a criação de Ultron está evidentemente atrelada ao centro de Loki que foi apreendido pela Hidra, e este está por sua vez vinculado a uma das Joias do Infinito. Sim, já foi confirmado que há uma gema ali como tínhamos deduzido (e muitos teimavam em não acreditar). Trata-se da joia da Mente e como vimos até mesmo no primeiro Vingadores, há algo que corrompe e espalha o mal ali dentro. Ultron, portanto, não poderia ser diferente. E curiosamente, essa nova faceta dada a joia, que de alguma forma chega a ser senciente, me lembra como um dos maiores longevos detentores de uma das joias do infinito, Adam Warlock, comentava da natureza "vampírica" e "dominadora" dela.

Sendo assim, fez muito sentido convocar um ator tão gabaritado como James Spader para o papel de Ultron. Ele é muito menos máquina viva e muito mais mal encarnado do que podíamos pensar a primeira vista. Há muita confusão ainda em sua mente, com crises que beiram a de um adolescente mimado, como muitas vezes Ultron realmente se comportou nos quadrinhos. Chega até mesmo a dar pena não ter mais tempo de filme para entender melhor aquela nova entidade viva que tem planos audaciosos, porém nada legais.


E já que falamos em novo tipo de vida, surge o Visão. É algo que realmente não gostaria de explicar muito neste texto pois desde seu “nascimento” até suas estupendas divagações do “Eu” só serão plenamente entendidos vendo todo o filme (e olha que eu acho que faltou coisa e provavelmente deve ter muito mais numa futura versão sem cortes do diretor).  Três coisas, no entanto, já merecem nota. Joss Whedon conseguiu recriar acertadamente uma explicação para o seu corpo artificial, que não é apenas máquina, mas sim algo recriado artificialmente que bem conhecemos pelo termo "sintozóide" nos quadrinhos. Mesmo sutil, tivemos uma boa deixa montada pra uma futura relação do mesmo com a Feiticeira Escarlate também. E para os mais atentos, teve um venerável easter egg da fase do Thor do Simonson por ali.


Além do Visão e Ultron, os outros dois personagens que servem a trama são os gêmeos Maximoff. Antes mesmo de ver o filme, já tínhamos um vislumbre de quem eles de fato eram por entrevistas e como serviam a trama. Foram papeis muito bem escolhidos, principalmente no que cabe a Wanda e seu histórico antagônico com o Ultron nos quadrinhos. E isso é merecidamente lembrado na trama em uns dois momentos. E pode parecer até mesmo suspeito, mas eu acabo preferindo essa versão do Pietro nos cinemas, pois além de se destacar muito mais seu papel na trama, ressalta bem mais seu caráter pedante e possessivo. Em sumo, para quem tinha dúvidas, a participação dos Maximoff aqui são essenciais para o contexto da história.


E por fim, temos quase três horas contínuas de filme em que todos esses novos personagens se juntam com os antigos e conseguem dividir muito bem o tempo de tela. Whedon é já craque em trabalhar de modo tão fácil a relação entre o personagens em seus roteiros e sabe casar tudo isso com boas cenas de ação. É fato que mesmo tão longo, você sente a necessidade de que em alguns trechos deveria ter entrado um pouco mais da primeira versão editada do filme por Joss Whedon. Não que tenha ficado corrido ou mal explicado, a trama está toda conectada. Talvez, seja apenas um desejo por mais, que sutilmente você percebe que ficou de fora dali. E você vai sentir falta disso em dados momentos.


Há quem diga que o filme ficou mais sombrio, mas não senti de modo algum que ficou menos colorido ou engraçado que o primeiro. Na verdade, a dinâmica está equilibrada e o que temos  são passagens mais sérias porque o tema pede isso. E nem de longe quero entrar na discussão besta do tom que deve ter os filmes de heróis. Sim, temos uma morte como Whedon prometeu, mas talvez lamentemos mais por amar o personagem, mesmo ciente de toda sua funcionalidade e importância pra trama ali. E sim, temos um novo futuro pra os Vingadores, que deixa o filme terminar com um gosto insaciável pelo próximo longa não só pra saber como se portarão os novatos, mas também querendo saber pra onde vão os velhos conhecidos. E muitos, muitos easter eggs.


Daí, voltamos para entender a questão do porquê de Whedon ter se afastado dos Vingadores depois desse filme. É notório que ele fez um feito em sua carreira na Marvel. E ele volta para  este novo filme, trazendo as fórmulas certas do primeiro, mas sem ser repetitivo. É um limiar difícil de se superar e certamente ele percebeu que não seria justo correr o risco de não conseguir atingir nova marca no futuro. Ele já fez o impensável duas vezes. E nós agradecemos!

Coveiro e Marcos Heck

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