quinta-feira, 23 de maio de 2013

Surpreendentes X-Men: Exaltados

Surpreendentes

Em 2004, Joss Whedon foi convidado pela Marvel para trabalhar com os X-Men. Só que ao invés de escrever para alguma das séries já existentes, Whedon optou por criar um novo título, Surpreendentes X-Men. Durante quase quatro anos, Whedon, sempre em parceria com o desenhista John Cassaday, escreveu 24 edições da nova série e mais uma edição especial, naquele que acabou se tornando um dos momentos mais aclamados dos mutantes tanto pela crítica como pelos fãs. Desde a saída do roteirista, contudo, o título apresentou dificuldades para se manter. Logo na sequência foi contratado o talentoso britânico Warren Ellis, que, ora ao lado do desenhista Simone Bianchi, ora ao lado de Phil Jimenez, escreveu dois arcos completos para a série, totalizando 11 edições, além de duas especiais e uma minissérie de cinco edições. Ellis obteve um relativo sucesso, no que não foi imitado pelos seus sucessores: Daniel Way e Christos N. Gage, responsáveis por dois arcos sofríveis que em nada lembravam a áurea fase Whedon/Cassaday. Tivemos ainda uma edição a cargo de James Asmus.

Quando Greg Pak (responsável, entre outros, por Planeta Hulk, A Derradeira Canção da Fênix e A Canção de Guerra da Fênix) foi anunciado como novo roteirista da série, ele prometeu uma ambiciosa história com elementos de sci-fi, que ficaria entre uma das melhores da longa trajetória dos mutantes. O resultado disso é o que podemos conferir em "Exaltados", arco de 4 partes, publicado originalmente nas edições 44 a 47 de Astonishing X-Men e, no Brasil, nas edições 133 a 136 de X-Men Extra.

Na trama, que se passa logo após o Cisma, vemos Ciclope tentando se recuperar dos traumas físicos e emocionais causados pela diferença ideológica que provocou a cisão entre os mutantes. Momentos depois, ele é intimado pela colega de equipe, Tempestade, a voltar a ser o herói que sempre foi. Os dois se veem, eventualmente, enfrentando Sentinelas, e, na sequência, rola o beijo que ilustra a capa da primeira edição deste arco, e que tanto causou polêmica antes da história ser publicada. Acontece que Ciclope acaba percebendo que esta Tempestade não é aquela que ele conhece, para logo em seguida ser atingido por uma rajada psíquica. Ele percebe então que o tempo todo estava prisioneiro em uma espécie de cilindro, ao lado de outros rostos bastante familiares... mas nem tanto! Eram eles: o general James Howlett, Emmeline Frost, Kurt e Kitty Pride (vulgo "Sombra") -- versões dos x-men de realidades alternativas. Enquanto isso, na cidade, alguma coisa estranha parece estar acontecendo...

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Aos poucos, vamos começando a entender o que se passa nessa realidade. E Scott também. Aparentemente, ali, o planeta passa por uma crise de energia, e os tubos em que se encontram presos os mutantes, servem para drenar seus poderes e tranformá-los em energia. O responsável por tal artifício é um sujeito conhecido como o Salvador. Ao perceber o que está se passando, Ciclope consegue se libertar e também aos seus colegas de cativeiro. Eles enfrentam e facilmente derrotam alguns capangas do Salvador, na tentativa de fuga, apenas para fazer uma descoberta aterradora: eles são apenas os sobreviventes de uma extensa lista de mutantes presos e "drenados" até a morte pelo Salvador. Este tenta se justificar, mostrando que, ao buscar versões dos heróis mutantes de outras realidades para servir de fonte de energia, o primeiro que ele escolhera fora ele próprio.

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A esta altura, já temos um panorama melhor deste novo mundo: o Salvador é na verdade o Xavier daquela realidade; ele e seus X-Men enfrentaram e derrotaram Magneto, que queria instalar uma tirania mutante; ao contrário do que se passa na Terra, contudo, este Xavier alcançou o seu sonho de convivência pacífica com os humanos, ao abrir sua mente para toda a população do globo e demonstrar as suas boas intenções. Esse sonho, porém, estava fadado a não durar muito: como último gesto, Magneto comprometera as estruturas do planeta, causando a morte de milhares e condenando os sobreviventes à morte certa. Para evitar este destino fatídico, os maiores gênios daquela realidade se reuniram e construíram a máquina capaz de converter os poderes mutantes em energia bruta pra alimentar o planeta. Contudo a integridade estrutural deste requerera manutenção constante, e logo os heróis que se apresentaram voluntariamente para alimentar as máquinas morreram todos. O Salvador então partira à procura de mais, encontrando no multiverso uma fonte inesgotável de cobaias.


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Uma vez livre e consciente da insanidade do plano do Salvador, Ciclope e seus novos aliados de outras dimensões resolvem derrubá-lo, ao mesmo tempo em que tentam descobrir uma forma de voltar às suas respectivas realidades. 

Até aqui o arco ia bem, com alguns momentos bem empolgantes, mas a história perde força na reta final, e o desfecho deixa a desejar. De fato, a última parte é bastante fraca, repleta de reviravoltas desnecessárias e sem sentido: Ciclope e Howlett atacam a Fortaleza do Salvador e o subjugam, mas este, então, usa sua arma secreta: Hisako Ichiki, a Armadura; Ciclope acaba se voluntariando para alimentar o maquinário e manter a estrutura do planeta, mas muda de ideia e exige que o Salvador pense em alguma outra solução; pressionado, o Salvador manda executar a família de Hisako, a fim de fortalecer o poder da jovem mutante e revela-se que ele possui uma caixa fantasma, a qual entra em pane quando Kurt (que tinha sido dado como morto quando tentava recuperar o Jato X!), aparece portando outra caixa fantasma e trazendo na esteira de seu teleporte, a Tempestade e Emma que bem conhecemos. Por fim, com a ajuda de todos, o controle sobre Hisako é quebrado e ela se volta contra o Salvador. Mas ainda resta o problema de como salvar o planeta, e Ciclope está pronto pra se sacrificar, quando Howlett o golpeia e o força a voltar para sua realidade com as companheiras Tempestade e Emma.

Em Utopia, a equipe científica não consegue reativar a Caixa Fantasma, nem localizar a dimensão visitada por Ciclope, mas este alimenta esperanças de que os mutantes que lá permaneceram hão de encontrar uma forma de salvá-la. Por que são X-Men!

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Bom, parece óbvio que este final aberto serve ao propósito de originar uma nova série, intitulada X-Treme X-Men, que dará continuidade às aventuras dos personagens do multiverso apresentados neste arco. (Veremos, nos próximos meses, se a Panini tem planos de publicar essa série aqui.) Mas, além do desfecho indefinido, o roteiro de Pak apresenta outros problemas: alguns pontos não são bem esclarecidos, como o momento exato em que se deu a captura do Ciclope; o roteirista, também, peca ao concentrar-se apenas em uma frente narrativa, de modo que acompanhamos apenas o Ciclope nessa nova realidade, esquecendo-se de mostrar o efeito que o seu desparecimento teve nos membros da equipe em Utopia, bem como as medidas por estes adotadas para tentar encontrar seu líder.

Mike McKone, embora seja um bom desenhista, dono de um traço dinâmico, do qual tem pleno domínio, tem um estilo que infantiliza os personagens, o que, a meu ver, não combina muito bem com histórias de super-heróis.

Não obstante, percebe-se pelo tom e pelo ritmo da história, um esforço do roteirista de resgatar o vigor que a série tinha naquele seu período icônico nas mãos da dupla Whedon/Cassaday. Para tanto, concebeu uma trama ambiciosa e, por vezes, empolgante. Tivesse ele explorado melhor essa trama e se aliado a um desenhista mais adequado à tarefa, poderia ter conseguido.

Leandro Nogueira

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