Já há algum tempo uma imagem faz parte do imaginário do leitor fiel de X-Factor. Trata-se de uma cena que foi mostrada pela primeira vez na edição 13 do título lançado em 2006 (aqui publicado em Wolverine n. 39). Na cena, Rahne aparece coberta de sangue, em um quarto onde se encontram os cadáveres de Layla Miller e de James Madrox, os quais, aparentemente, ela acabar de estripar. Rahne revelou essa "visão", que ela acreditava ser uma espécie de predestinação, para o psiquiatra Leonard Samson (que também atende pela alcunha super-heróica de Doutor Sansom). Mais tarde, ela também a revelou para o líder do X-Factor, Jamie Madrox, quando decidiu abandonar a equipe ao final do Complexo de Messias (X-Factor #28, em Wolverine n. 54).
Àquela altura do campeonato (aqui já faz cinco anos que aquela primeira história foi publicada), poder-se-ia pensar que esse fosse apenas mais um plot enganoso fadado ao esquecimento. Talvez. Se não estivéssemos falando do roteirista Peter David. Este escritor já é conhecido por criar subplots que vai desenvolvendo durante anos. Pois bem, na edição de fevereiro de X-Men Extra da Panini, ele finalmente retomara a cena da anunciada morte de Layla e Madrox, de forma arrebatadora e intrigante, deixando-nos ansiosos pelo desenrolar dos fatos.
De fato, ao participarem da investigação da morte de uma certa Sally Roland em Lawrenceville, o X-Factor acabara se vendo a procura do filho desaparecido da vítima, cujo pai era o vilão Enforcador, que também estava à sua procura. Por intermédio deste, eles chegaram ao demônio chamado Morte Sangrenta, responsável pela morte de Sally e pelo sequestro de Terry. Quando a luta que se seguiu parecia estar se encaminhando para o final, o vilão findou se apossando do corpo de uma cópia de Jamie Madrox, fazendo-a ferir mortalmente o líder do X-Factor, que se vira então transportado para o cenário sangrento da visão de Rahne.
Como Madrox fora parar lá e qual o significado daquela visão? Bem, se você esperava encontrar as respostas para essas perguntas na edição seguinte de X-Factor (publicada em X-Men Extra 135) então você vai ter uma decepção. Mas isso não chega a ser realmente algo ruim, porque, afinal, estamos falando de Peter David.
Na presente história, originalmente publicada em X-Factor 228, vemos o desenrolar da luta na qual Madrox foi mortalmente ferido por uma de suas cópias. Superado o choque, Rahne manda o pequeno Terry ao encontro de seu pai (que ficara na entrada das instalações abandonadas do Estúdio Imperial, onde tais fatos se desenrolam) e os integrantes remanescentes do X-Factor partem para o ataque da cópia possuída, matando-a quando Fortão a imoboliza e Longshot a acerta com suas lâminas. Contudo, a morte de seu hospedeiro apenas faz com que Morte Sangrenta retorne para seu corpo original (se bem que com uma entidade capaz de se transferir assim de corpos, nunca se sabe!). Atacado em seguida por Shatterstar, o vilão levanta a questão de como o Fortão não fora afetado anteriormente quando ele tentara drenar suas almas. Mas ninguém parece disposto a dar ouvidos a ele, até Monet se impor e exigir explicações. Layla acaba revelando sobre o seu poder de ressuscitar os mortos e também sobre as consequências de seu uso (a perda da alma do ressuscitado no processo). E confirma o que Madrox (e o leitor) já suspeitava: que ela usara tal poder para trazer Guido dos mortos quando ele fora baleado por Balística (em X-Men Extra n. 126).
Layla se propõe a utilizar seu poder para trazer Jamie de volta, mesmo diante das provocações do inimigo. Ela pergunta se ninguém tentará impedi-la, haja vista que isso custará a alma de seu líder. Theresa, a Banshee, e Monet se manifestam, esta contrária e aquela, a favor. Morte Sangrenta aproveita o momento de hesitação do grupo para atacar novamente e, mesmo atacado em conjunto por Rictor, Guido, Monet, Lupina e Shattestar, o vilão os repele, dizendo que eles não possuem energia mística suficente para derrotá-lo e que apenas estão adiando o inevitável. Nesse momento, o Enforcador entra na briga, fazendo jus ao seu nome (e às expectativas de seu filho Terry, a quem a falecida Sally fizera crer que o pai era um herói). Imobilizado pela corda do Enforcador, Morte Sangrenta é decapitado por Sahttersatar, apenas para ressurgir logo em seguida no corpo de Jamie Madrox. Acreditava ele que os amigos de Jamie não teriam coragem de ferir o corpo de seu colega, mas ao fazer isso apenas conseguiu enfurecer Layla a ponto de levá-la a algo que, segundo ela, vinha reunindo forças e concentrando seu poder para fazer: um exorcismo.
O exorcismo parece funcionar e Morte Sangrenta é mandado para o inferno. Mas, ao que tudo indica, é tarde para o líder do X-Factor: Layla revela que, seja por ela ter demorado demais, seja por Morte Sangrenta ter influenciado o processo, é tarde demais para Madrox. Ele está morto. E não tem volta.
Não há muito que dizer dessa continuação que não tenha sido dito na resenha anterior. Leonard Kirk continua nos desenhos e a narrativa tem um ritmo fluente, mas não acrescenta muito ao que podíamos adiantar já na edição anterior. Exceto, talvez, os conhecimentos de Layla sobre exorcismo, que ela deve ter adquirido durante seu exílio na Latvéria. Curiosamente (ou não), a história termina com a mesma imagem da edição anterior: Madrox chocado diante dos corpos, cobertos de sangue, dele próprio e de Layla. E assim, Peter David posterga o esclarecimento de uma das dúvidas que há anos paira na cabeça do leitor para o "próximo episódio". O que não significa, para nós, infelizmente, o próximo mês. No "na próxima edição", não há previsão de histórias do X-Factor, nem muito menos na edição (.1) anunciada para o mês de Abril ou Maio, conforme o checklist Panini divulgado aqui no site. Significa isso que teremos de esperar para junho o encerramento deste caso do X-Factor e o fechamento de mais um subplot de Peter David. Mas não nos enganemos, até mesmo essa frustração das expectativas do leitor é algo bem característico do roteirista.
Leandro Nogueira
Colaborador do site Marvel616.