Wakanda, Bastião da Resistência

Após iniciarem a fase final da Invasão Secreta ao redor do planeta Terra, os skrulls não poderiam deixar de ter Wakanda como um de seus alvos prioritários, já que seu grande interesse pelo vibranium já é conhecido, e o país africano tem uma das maiores reservas do mineral. Claro, protegido “apenas” pelo seu rei, o Pantera Negra, e auxiliado por Tempestade (uma das X-Men mais experientes e poderosas, além de sua esposa e rainha), nenhum dos alienígenas imaginou que fosse haver alguma dificuldade em dominar a região. Ledo engano. E foi uma das lutas mais impressionantes dessa invasão que acompanhamos nas três últimas edições de Marvel Action, pelos ótimos roteiros de Jason Aaron e a belíssima arte de Jefte Palo, com a conclusão dessa surpreendente ligação com a invasão, sob o título Conheça Wakanda e Morra, na edição de número 31.

A primeira parte (Marvel Action 29) começa com as reflexões do comandante K’Vvvr, responsável por esse braço da invasão, satisfeito e apreensivo por ser essa a última missão antes de sua aposentadoria. Sob o questionamento de seus comandados, diz que Wakanda não poderia ser subestimada, apesar de considerá-la fraca. Mas ao chegar às portas da capital daquela nação, o que os skrulls vêem estupefatos são as cabeças de seus agentes (supostamente indetectáveis) atravessadas por estacas. Um aviso.


De sua sala de guerra, o Pantera Negra comanda a primeira leva de defesas contra as naves skrulls. O armamento usado não deveria nem arranhar as naves skrulls, mas há algo de diferente, e tudo se apaga. As armas skrulls foram inutilizadas, porém há pouco tempo para que o plano de T’Challa seja colocado em funcionamento.


Em uma corrida para ver quem invade o sistema do outro, por uma fração de segundos a resistência sai vitoriosa. Mas isso significa que toda tecnologia, skrull ou wakandiana acabara de ser inutilizada. A guerra será travada com “paus e pedras”, exatamente como queria o Pantera Negra.


No campo de batalha, o rei de Wakanda observa os adversários organizando-se com armas brancas depois de enviar uma mensagem a sua esposa, a rainha Ororo. O comandante K’Vvvr faz um discurso para inflamar seus soldados, lembrando-os das profecias que lhes prometiam o planeta Terra, e de cada companheiro ao seu lado. O alvo é o Pantera Negra. Com ele morto, Wakanda tombaria.


Mas isso não parece tão fácil, quando, por detrás de T’Challa centenas de soldados surgem também vestidos como panteras.

Sob gritos de batalhas, como em uma batalha pensável apenas há séculos atrás, com espadas, lanças e escudos, os dois exércitos correm um na direção do outro. Terráqueos e alienígenas. Wakandianos e skrulls. Uns protegendo, outros desejando um lar.


A luta é sangrenta, com baixas em ambos os lados. E a tendência é piorar.

Dentre aqueles vestidos de pantera, surge Tempestade, que relutante dá prosseguimento aos planos de defesa.


De repente, algo aparentemente inesperado para o Pantera. Do meio dos invasores, um super skrull surge, com as garras de Wolverine, a capacidade de mira do Mercenário, a resistência de Luke Cage e o punho inflamado do Punho de Ferro. Um monstro que treinou sua vida toda para assassinar o rei daquela poderosa e rica nação africana, que o desafia respondendo que treinou sempre para enfrentar o desconhecido. O confronto tem início.


Ao longe, recusando o pedido de auxílio a outra armada, o comandante K’Vvvr afirma que vários de seus agentes infiltrados foram descobertos e mortos, mas não todos.

Já estamos em Marvel Action 30 quando vemos a forma pela qual T’Challa busca alento com o deus pantera, e usando sua responsabilidade de zelar pelo povo de Wakanda como força a ser levada até seus soldados. Em discurso inflamado, lembrando as inúmeras vezes em que sua nação sofreu a ameaça de invasão exterior, e como foram vencidos e suas armas se transformaram em troféus da vitória wakandiana. Esse é o destino que espera os skrulls, cujos ossos espalhados pelos campos serão uma lembrança ancestral da vitória e sacrifício daqueles que estão à sua frente. E igualando todos à condição de panteras negras, ele pede que seu deus os ajude.


De volta à sangrenta batalha, onde o rei Pantera parece sentir a morte de cada um daqueles homens de profissões cotidianas, transformados em soldados. T’Challa lamenta não poder estar ao lado de cada um nesse momento, pois precisa salvar a própria vida diante de um super skrull. Ele demonstra ter muito conhecimento da raça alienígena, mas esse oponente é diferente de tudo que os skrulls já apresentaram como adversários.

Infelizmente a realeza de T’Challa atraí vários de seus súditos para o confronto, que, desejosos por salvar o soberano, morrem facilmente nas mãos do invasor. Que ameaçando, e lembrando de seu treinamento e habilidades no combate corpo-a-corpo (demonstrando ser um amálgama ainda maior), usa as costelas de um dos soldados como armas arremessadas pelo Mercenário. Mas o Pantera Negra não é qualquer adversário.


Ele desdenha do oponente, honra rapidamente os soldados caídos, e o desafia. Usa sua fúria para estudá-lo, e aguardar o momento que uma fraqueza surgisse. E ela surge, quando denuncia que as habilidades utilizadas não são simultâneas, e requerem uma fração de segundo para se concentrar e mudar. É sua sentença de morte.

Cego, mutilado, ele é morto. Não de forma honrada como pateticamente implora, mas sangrando impotente no chão. O Pantera não demonstra compaixão pelo invasor.


Contudo, aquele era apenas um primeiro oponente enviado contra o rei de Wakanda. Outros dois super skrulls surgem, clamando por seu sangue. Um de poderes asgardianos, outro com capacidades “arrasa-quarteirão” que só o Hulk, o Coisa ou o Fanático poderiam oferecer.


Em outro local, correndo para cumprir sua parte no plano de resistência, Tempestade segue na missão de capturar os líderes skrulls. E ela tem fé na capacidade do companheiro, pois foi ele que descobriu todos os agentes infiltrados. Porém, surpreendentemente, a soldado pantera que a acompanha se revela como um dos skrulls não detectados, colocando sua vida em grave perigo.


Logo alertado sobre a captura, o Pantera Negra entra em um impasse. Ordena que todos recuem e fica só, não sem antes eliminar um dos novos super skrulls quando este menos esperava, recusando-se a soltar sua espada. Mas outra surpresa o deixa aos pés dos skrulls, pois seu auxiliar e outros à volta revelam suas verdadeiras naturezas.


A última parte da história, em Marvel Action 31, traz uma nova reflexão do comandante K’Vvvr, que lembra o quanto sua experiência de guerra é vasta, e o quanto ela sempre termina em um cenário comum. Um campo devastado com milhares de corpos, no qual ele prevalecia como um dos sobreviventes, um dos vitoriosos. E o skrull se nutre da esperança de que Wakanda será a última vez em que desfrutará de tal experiência, a última vez em que encarará os sobreviventes de uma batalha como a que travou.

E pensa nisso pois lembra de sua primeira vítima em campo de batalha, e como aquele kree atormenta por anos a sua memória. Ele e todos os outros. Nunca esquecidos. Mas dois rostos a mais deverão ficar em suas lembranças: o de T’Challa e Ororo, que agora serão interrogados por K’Vvvr, por meio do uso de tortura.


A ameaça de agressão e morte só poderia se encerrar caso ambos se rendessem incondicionalmente. E o comandante frisa que não pretendem acabar com a Terra, mas torná-la o centro do seu império. E que a batalha já estava vencida antes mesmo das tropas chegarem à orbita do planeta.

K’Vvvr tem convicção da vitória de seu povo, apesar de reconhecer a resistência super-humana. Mas a melhor alternativa é aceitar a derrota, abraçar a mudança que se impõe. A resposta dos dois é apenas a repulsa, tolerada pelo comandante por entender que ambos são de linhagem régia, respeitando sua recusa de rendição. Mas não os considera melhores do que outros monarcas que já foram esmagados pelo império.


Ainda assim, a resistência de ambos à tortura espanta o comandante alienígena, que é encarado friamente por seus prisioneiros por quase o tempo todo. Os gritos demoram a surgir.

Surpreendentemente as tropas wakandianas permanecem em sua posição, e a rainha-mãe mantém a crença no plano do filho. Mas ainda há um plano em andamento?

K’Vvvr volta ao seu gabinete, e pensa em como sua esposa é uma estranha para si graças à sua vida de guerreiro. E se frustra mais ainda ao perceber que, mesmo que assassinem os dois monarcas, os wakandianos não desistirão. Precisarão ser aniquilados, tomando-lhe mais tempo da tão desejada aposentadoria. Mas ele não os culpa, pois faria o mesmo.


A tortura continua, e T’Challa e Ororo parecem já delirar de dor. Porém, de repente, um dos torturadores encontra um objeto no esôfago do Pantera. E quando K’Vvvr ouvia uma resposta inusitada que explicava a detecção de alguns de seus agentes infiltrados, é chamado por causa da descoberta do torturador.

Um manipulador vocal foi usado. Mais do que isso. Aquele homem que parece ser T’Challa, o Pantera Negra, é um skrull capturado. Com ajuda do deus Pantera, que via as almas dos skrulls, eles foram capazes do inesperado. A tecnologia de Wakanda é mais avançada do que esperavam, assim como sua capacidade mística. Eles manipularam prisioneiros em nível genético e espiritual. Os dois torturados na mesa são skrulls, e o Pantera e Tempestade se revelam ao lado de K’Vvvr, atravessando-o com suas espadas.


O sinal foi dado, o plano prossegue e as tropas de Wakanda avançam mais uma vez. Enquanto K’Vvvr agoniza pensando em sua esposa K’Arr’N que nunca mais vai ver, e na patética carta cantando vitória antes do tempo que lhe enviou.


E é sob um banho de sangue skrull que o Pantera Negra e Tempestade, que se colocaram na mais perigosa posição de todo o plano para salvar o seu povo, que Wakanda prevalece. A nação ancestral, sob a proteção do deus Pantera e de seu avatar, mantém sua posição e rechaça mais uma invasão. E suas armas jazerão em sua sala de troféus.


João