sábado, 21 de julho de 2012

Cosplay no 616: Aula de História

Quadrinhos, animação, filmes, games, brinquedos... é tanta coisa hoje em dia que engloba nossos heróis favoritos, não é mesmo? O marvel616 é bastante focado nas HQs, mas tentamos abordar da melhor forma possível todas as “mídias” que envolvem esse universo que amamos: o universo Marvel. E algo que está cada dia mais aparente e não era muito abordado aqui era o Cosplay de heróis. Como vocês viram, nós, editores, nos aventuramos a fazer nossos personagens marvetes sob instrução de experientes do ramo, e são exatamente eles que trarão, a partir de hoje, o Cosplay no 616, com matérias exclusivas sobre esse hobbie super divertido! A primeira matéria contando a origem de tudo (interessantíssima, devo dizer!) é da Pirata “Dani” Dandi, uma das pioneiras neste universo. Com a palavra, Pirata:

Photobucket

***

Olá, leitores do Marvel 616!

Primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de escrever uma matéria para este site repleto de pessoas maravilhosas! Agradeço ao Coveiro pelo convite, e espero poder esclarecer e ajudar a todos os interessados pelo hobbie presente em tantas convenções de quadrinhos!

Eu sou a Dandi, também conhecida como Pirata. Sou “cosplayer” desde 2003 e a partir de 2007 comecei a me dedicar principalmente às personagens de quadrinhos. Sou membro da equipe CCBr (Comics Cosplay Brasil), e já fiz algumas aparições aqui no Marvel616 auxiliando nossos colegas Cammy, Ed e Coveiro a construir seus primeiros cosplays.

Fui convidada a escrever alguns tutoriais e matérias sobre cosplays da Marvel junto ao Cappela, no entanto, antes de qualquer coisa, é preciso explicar o que é. Vamos antes de tudo esclarecer sobre a história do cosplay...

Photobucket
Cosplays da WorldCon

Ao contrário do que muitos pensam hoje em dia, o cosplay não foi um hobbie criado no Japão, mas sim nos Estados Unidos. O primeiro exemplo moderno, ocorreu na primeira WorldCon (convenção de ficção Científica) de 1939. Com um público de 185 pessoas, dois indivíduos surpreenderam os presentes aparecendo trajados em fantasias. Estes eram Forrest J Ackerman e sua amiga Myrtle R. Jones. Ackerman tinha 22 anos e usava uma fantasia original de piloto estelar chamada “futurecostume”, enquanto que Jones trajava uma roupa do filme de 1933, “Things to Come” (baseado na obra de H. G. Wells). O fato é que a novidade foi um sucesso instantâneo, roubando atenções, e sendo adotada nos anos seguintes por um número maior de pessoas.

A prática de fantasias começou a ganhar concursos, chamados de masquerades, onde se unia a fantasia à apresentações teatrais. Nesta época ainda, os praticantes eram uma maioria de adultos, fãs de fantasia e ficção científica, e a maioria dos trajes eram criações originais. O costuming ou fan costuming, eram baseados ou não em personagens pré criados, se focavam na criatividade e demonstração do amor de seu praticante pelas obras relacionadas. O hobbie continuou a crescer de forma rápida (mas obscura) pelas convenções afora.

Curiosidade: Forrest J Ackerman, o primeiro “cosplayer”, mais tarde se tornou editor de uma revista especializada em monstros e personagens de terror. Foi conhecido como uma dos maiores fãs de ficção da história, e em 1969 criou a personagem Vampirella.

Photobucket
O ano em que Takahashi foi aos EUA

As coisas mudariam drasticamente em 1983 (meio século depois), quando um convidado especial da WorldCon viria de terras bem distantes. Este convidado era Nobuyuki Takahashi, que trabalhava no Studio Hard. Ao visitar a convenção e se deparar com as masquerades, ficou encantado com o hobbie e se dispôs a publicar a prática no Japão, certo de que os japoneses deveriam também participar da brincadeira. Takahashi publicou então na revista My Anime uma matéria, a qual concedeu o título “cosplay” (abreviação do inglês, Costume Play – fantasia e brincadeira). Em pouco tempo, as Comikets (evento tradicional de quadrinhos japoneses) foram inundadas de cosplays japoneses.

Photobucket
Revista MyAnime, onde o termo “cosplay” foi usado pela primeira vez

Como todos devem bem lembrar (os mais velhos pelo menos), os animes ganharam uma popularização mundial explosiva nos anos 90. E junto da sua cultura de animes e mangás, os cosplays passaram a serrem conhecidos no mundo todo. Assim, o hobbie foi popularizado não pela sua origem americana, mas pelos japoneses. No entanto, isso não significa que no Brasil, os fãs de anime foram os primeiros a fantasiar-se. De fato, os fãs de ficção científica ainda eram os pioneiros, pois eventos relacionados já existiam esporadicamente no país. Fãs de Star Wars e Star Trek já possuíam seus trajes, assim como o público dos eventos de RPG criavam trajes originais (no já falecido EIRPG); Já os eventos de anime, ganharam força na segunda metade dos anos 90, entre a Mangacon e posteriormente a Animecon.

Photobucket
Globalização do cosplay

Hoje, existe uma pequena diferença entre a prática do hobbie nos Estados Unidos e no Japão. Muita discussão ocorre a cerca do real valor e qualidade do cosplay, inclusive gerando discussões em que Costuming e Cosplay são coisas completamente diferentes, assim como a arte nos EUA e no Japão apresentam padrões não compatíveis. Nos EUA, o modelo segue as masquerades, onde as peças originais são exaltadas como criações artísticas, e os trajes devem ser tratados como uma homenagem de fã às suas personagens/séries queridas. Participar da criação do traje e/ou utensílios faz parte do hobbie e pessoas de todas as idades costumam participar. Já no Japão, o cosplay é de uma personagem pré existente em sua forma mais fiel o possível, tanto na aparência como nos trejeitos. Não há necessidade em participar da criação das peças, apenas em apresentar um resultado final fiel, sendo praticado por uma maioria feminina e jovem. Hoje, com a globalização, podemos dizer que tudo se misturou.

Apesar de alguns discordarem, o cosplay é a mesma coisa que o costuming (ou fantasia). Trata-se apenas de nomes diferentes para a mesma coisa. Interpretar a personagem que se veste, também faz parte da prática original, diferenciando apenas o termo “cosplayer” (aquele que veste) de “costumer” (aquele que constrói). Recentemente ainda existe o “cosmaker” (aquele que trabalha construindo cosplays).

E no Brasil? Nosso país é composto por todo tipo de cosplayer, seja no “padrão norte-americano” como no “padrão japonês”, às vezes se mesclando entre eles. Com o tempo, os praticantes se adaptaram ao seu modelo favorito. Ainda existem eventos de fã-clubes de todos os gêneros com fãs caracterizados, fora os eventos de RPG que ainda apresentam praticantes da arte de criar personagens originais. Com a cultura de eventos japoneses mais forte que de quadrinhos ocidentais, sempre foram poucos os cosplays de quadrinhos. Na maioria dos casos, contentam-se com eventos de anime para apresentar suas personagens, por vezes aceitos pelo público, por vezes não. No entanto com o crescimento da popularização dos super-heróis graças às adaptações nos cinemas, esse cenário está mudando, e, cada vez mais, encontramos cosplays de super-heróis/vilões nos eventos. Quando criamos o CCBr, em 2009, era difícil encontrar cosplayers de comics nos eventos. Desde então, ano a ano, os fãs de quadrinhos foram aparecendo cada vez mais, provando a olhos vistos que os cosplays de super-heróis estão crescendo em número e influencia nas mídias.

Photobucket
Cosplay no Brasil

Sinto-me feliz de ter presenciado várias fases do cosplay no Brasil. Lembro-me claramente da surpresa que tive ao ver pessoas caracterizadas como as personagens que eu lia e assistia num evento de 1999. Mais tarde, também conheci o cosplay em sua forma mais clássica, quando frequentava eventos de RPG. Foram nesses eventos que me aventurei pela primeira vez a criar, e descobrir as dificuldades em construir e vestir as fantasias. Finalmente, em 2007, me “tornei” uma super-heroína! Usar a Vampira pela primeira vez foi o marco decisivo de que eu continuaria com mais. Ainda mais ao ver os fãs da personagem pularem de alegria e brincarem como se você fosse a personagem real.

O cosplay, fantasia, masquerade, seja como for chamado, é uma atividade artística que muito exige de seus praticantes. Exige tempo, exige dinheiro (ou criatividade para burlar a necessidade do mesmo), exige controle emocional para encarar a multidão. É uma arte que não fica ali no canto da sala, enquanto seu artista fica escondido atrás de um pano, mas uma arte que expõe seu praticante. Você sai exausto, ouve até algumas abobrinhas, mas então se lembra de cada sorriso, cada criança (pequena ou adulta) que ficou feliz ao te ver, e tudo vale a pena.

Espero que possa ajudar àqueles que possuem dúvidas nas próximas matérias, e esclarecer um pouco mais sobre esse universo. Abandonem os preconceitos, e descubram como é estar debaixo de um uniforme!

Para saber mais:
http://www.comicscosplaybr.com.br/
http://fanac.org/worldcon/
http://www.costuming.org/


Pirata Dandi

comments powered by Disqus