terça-feira, 26 de novembro de 2013

X-Men: Contar ou não contar? Eis a questão

A descoberta dos protomutantes, antecessores dos mutantes da atualidade, trouxe um sério dilema para os X-Men: o que fazer com essa informação? Por um lado, o material genético coletado dos protomutantes clonados por David Michael Gray poderia ser muito útil para a comunidade mutante, ajudando a compreender o funcionamento de seus poderes, enriquecendo a História da espécie, talvez mesmo fornecendo a possibilidade de devolver os poderes daqueles que deixaram de ser mutantes no Dia M. Por outro lado, nas mãos erradas, o conhecimento advindo desse material poderia ser usado como uma arma para desenvolver métodos mais eficientes de extermínio dos mutantes.

Revelar ou esconder as descobertas sobre o assunto? Eis a questão encarada por Tempestade, ainda incerta se seria confiável colocar essas informações à disposição de seu líder, Ciclope (vale lembrar, essa história se passa antes de Vingadores vs X-Men). Infelizmente, essa incerteza cobrou um alto preço dos X-Men.



A edição 142 de X-Men traz os dois arcos que concluem (ao menos por ora) a trama dos protomutantes, ambos escritos por Brian Wood. O primeiro, com arte de Roland Boschi, David López e Álvaro López, mostra o destino da amostra genética dos protomutantes que havia sido saqueada do acampamento da Dra. Hunter, cientista aliada de Ororo: a amostra caiu nas mãos do Sendero Celestial, seita religiosa cujo objetivo é alcançar a perfeição. O líder da seita, conhecido como Pai Amoroso, pretendia usar o material genético para "aperfeiçoar" seus fiéis, que viviam em um cruzador.

Para recuperar a amostra, Dominó e Psylocke se infiltraram entre os cultistas. Lá, Betsy descobriu que o Pai Amoroso havia ingerido a amostra e desenvolvido mutações em seu corpo. Mesmo em menor número, as duas X-Men conseguiram sobrepujar o Pai Amoroso e seus seguranças - antes que o Sendero Celestial fosse atingido por um míssil por ser considerado uma potencial ameaça. Apesar dos X-Men salvarem o dia e recuperarem o material genético protomutante, Tempestade tinha a sensação de que o dilema com os antecessores de sua espécie ainda não tinham acabado.



E não tinham mesmo. O segundo arco, com arte de David López e Álvaro López, revelou que um protomutante - não um dos clones criados por Gray, mas um protomutante verdadeiro - ainda estava vivo. O indivíduo em questão, atendendo nos dias atuais pelo nome de Gabriel Shepherd, foi localizado por Sabra. Inicialmente amistoso com os X-Men, Shepherd demonstrava vários poderes, incluindo a capacidade de envelhecer muito mais lentamente que o normal, voo, superforça, telepatia e teletransporte. Contudo, enquanto respondia as perguntas feitas por Tempestade, a líder do esquadrão de contraespionagem de Utopia perguntou se ele conhecia David Michael Gray, e ele não entendeu por que deveria conhecer.

Ororo tentou fingir que não era nada importante, mas Shepherd conseguiu arrancar a informação e, furioso ao saber que os cadáveres de seu povo haviam sido exumados e desecrados por cientistas inescrupulosos, ele perdeu a cabeça e fugiu. Apenas a inocente Fada foi capaz de conquistar a confiança do último protomutante do planeta, mas nem ela pôde convencê-lo a voltar com os X-Men. Antes de partir rumo ao desconhecido, Shepherd pediu que Megan não deixasse mais ninguém se aproveitar de seu povo. E desapareceu.



Esses são os fatos referentes às missões da equipe de Tempestade, mas, simultaneamente, o grupo lidava com uma ameaça muito maior: as desconfianças internas. No Sendero Celestial, Dominó havia tentado convencer Psylocke a destruir a amostra protomutante, mostrando não confiar em Ororo. Betsy recusou-se, confiando em sua líder. Por sua vez, Colossus e Ciclope (este último via videoconferências) ficavam cada vez mais descontentes por Tempestade não repassar a Utopia todas as informações que levantava... mas ela também tinha motivos para se zangar, ao descobrir que Piotr repassava informações sobre as atividades da equipe para Scott às escondidas por um canal particular.

A crise de confiança entre o grupo chegou às vias físicas, com Colossus e Tempestade lutando para descarregar suas frustrações um com o outro. Interessante observar que, quando o russo desferiu o primeiro golpe, um quadrinho mostra que o som chegou ao espaço do jato em que estava Dominó - que não esboça qualquer reação, o que deixa a impressão de que ela foi propositalmente conivente com a atitude de Colossus. Enquanto seus colegas se preparavam para voltar de vez para Utopia, mais divididos que nunca, restou à jovem Fada lamentar que Shepherd não a tivesse levado com ele onde quer que tivesse ido - nas palavras da jovem: "Tomara que esteja se sentindo em casa... seja lá onde for... porque andamos bem perdidos por aqui". A ameaça do material protomutante foi detida... mas a um preço alto demais.



É uma pena que a passagem de Brian Wood por X-Men tenha acabado tão cedo. Fica a impressão de que tanto a questão dos protomutantes como as crises internas do time de Tempestade ainda poderiam render novos arcos, trazer novos desenvolvimentos. Seja como for, é uma leitura interessante, que aprimora o direcionamento tardio dado por Victor Gischler à revista. Após a saída de Wood, o terceiro volume dos X-Men teve apenas mais dois pequenos arcos (um deles sendo uma história solo da Dominó, ausente em X-Men 142) escritos por Seth Peck; não perca, ainda hoje, nosso resumo sobre a conclusão da revista.

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