quarta-feira, 23 de março de 2016

X-Force: Criador do próprio nêmesis

Quando decidiu reativar a X-Force para combater os perigos que ameaçavam os mutantes às escondidas, Cable recrutou um grupo de figuras problemáticas. Com maníacos obsessivos, viciados em assassinato e verdadeiros loucos em sua equipe, era questão de tempo até que um deles surtasse. E, quando isso acontecesse, será que a formação do grupo não representaria uma ameaça ainda maior a seu povo?



A resposta é dada nas três histórias presentes nas edições 022 e 023 de X-Men Extra, roteirizadas por Simon Spurrier e ilustradas por Rock-He Kim e Tan Eng Huat. Para quem não lembra, logo antes delas, a X-Force descobriu a existência de uma organização misteriosa chamada Olho Amarelo que andava espionando todos os mutantes da Terra, e conseguiu localizar o complexo dos inimigos por meio da ajuda – e do assassinato – de um mutante cujo poder é ser facilmente esquecido por qualquer pessoa ou dispositivo. Com isso, era hora de atacar.

Mas, durante o ataque, MeMe – ou melhor, Esperança Summers – começou a ver mais claramente que os objetivos de seu grupo estavam se deteriorando. Cada integrante da X-Force lutava por um objetivo, fosse para saciar sua sede de sangue, provar que é o melhor, ou mandar uma mensagem para os inimigos dos mutantes. Só não havia ninguém lutando pela paz. Ela ficou particularmente incomodada quando seu pai – ou melhor, o clone do dia do seu pai, enquanto o verdadeiro continua em coma – cogitou usar o complexo da Olho Amarelo para invadir a privacidade de quem considerasse uma ameaça potencial aos mutantes, em vez de destruir as instalações.



Mas não foi Cable quem acabou surtando, e sim Fantomex: após piorar gradativamente em sua obsessão para provar que é o melhor em tudo que faz, ele revelou para a ex-messias que sempre soube sua verdadeira identidade, e o “caso virtual” que eles tiveram foi apenas ele a usando. Após expurgar Esperança de sua mente e dos mecanismos que ela controlava, aparentemente destruindo-a, Fantomex se drogou com o vírus desenvolvido por Volga, ganhando poderes extremos e facilmente derrotando todos seus colegas. Quando tudo parecia perdido, ele acabou baleado na cabeça pelo guarda-costas do cabeça da Olho Amarelo – ninguém menos que Dominó, cujo corpo era controlado pelo vilão enquanto sua mente vivia suas bizarras fantasias, até que Esperança foi parar nos sistemas da Olho Amarelo e a libertou desse controle.

Psylocke conseguiu resgatar a jovem mutante dos sistemas antes que ela ficasse traumatizada, mas os problemas estavam só começando: a X-Force se revoltou ao descobrir que Cable sabia que Fantomex poderia surtar a qualquer momento e mesmo assim o manipulou com promessas de localizar os outros dois terços do anti-herói para usá-lo na equipe. Saber que Dominó foi ignorada por Nathan logo que ela foi capturada também não ajudou. Menos ainda quando o grupo encontrou Doutor Nêmesis... e outro Cable, ambos tendo usado seus colegas para distrair a Olho Amarelo enquanto se infiltravam em outro canto para rastrear o paradeiro de Volga.



E como notícias ruins nunca vêm sozinhas, o grupo descobriu que o líder da Olho Amarelo era ninguém menos que Mojo (que continua com sua lógica distorcida e sua sede por audiência, rendendo alguns diálogos cômicos - por exemplo, ele revela ter nudes de toda a X-Force e sugere a eles vender as imagens e deixar todos ricos... a sugestão foi recusada), e o vilão decidiu entregar todos os podres da X-Force – incluindo a revelação de que “MeMe” era Esperança, rendendo brigas entre pai e filha adotivos. Pelo menos as diferenças entre todos tiveram que ser deixadas de lado temporariamente enquanto Fantomex voltava à vida, revelando que descobriu como ter controle total sobre o Efeito Volga: bastava “desligar e religar” sua mente, como um computador. Controlando uma gama enorme de poderes e sem a limitação de morrer após 24 horas, sua primeira atitude foi esquartejar todos os ex-colegas...

...ou pelo menos foi o que ele pensou. Na verdade, Esperança hackeou a mente de Fantomex para projetar essa ilusão enquanto seus colegas fugiam e explodiam o local com ele dentro (apenas um dos clones de Cable realmente foi morto por Jean-Phillipe). Mas isso não adiantou nada, porque Fantomex escapou sem um único arranhão e começou a vagar pelo mundo atacando equipe atrás de equipe de superseres. Enquanto fugia dele, a X-Force rastreava seus passos em busca de algum ponto fraco para explorar.

Mas se Esperança já estava percebendo os problemas da equipe antes, ela teve que ser confrontada com a realidade quando um habitante misterioso na base apontava como o grupo cada vez mais agia como os vilões que pretendiam combater. Cable, por exemplo, conseguiu capturar Volga e impedi-lo de se deslocar para outro corpo como aconteceu antes – e, para descobrir como curar Esperança e deter Fantomex, ele e Medula não tiveram qualquer problema em torturar cruelmente o magnata russo. O que acabou não dando em nada, porque a única “cura” seria fazer como Fantomex e destruir a mente do usuário. Pelo menos Medula pôde dar o primeiro passo rumo à sanidade: após o vilão revelar que ela não foi voluntária nos experimentos que sofreu (o que significa que ela não foi culpada pela morte de seu bebê, como acreditava), sua primeira reação foi matar Volga. Sua segunda reação foi perceber que não estava certo ter feito isso.



Mas afinal, quem era o estranho falando com Esperança? Surpresa: trata-se de Longedosolhos – agora chamado de Esquecível (pelo jeito os poderes dele também funcionam fora dos quadrinhos, pois a Panini esqueceu que já tinha definido a tradução do codinome dele... se bem que talvez tenha sido de propósito, como vocês verão na última resenha dessa série). Seja como for, ele sobreviveu ao tiro de Fantomex graças às máquinas da base da X-Force.

Foi ele quem mostrou que a ideologia de que “os fins justificam os meios” estava afastando a X-Force cada vez mais de seu verdadeiro objetivo de fazer o bem. Foi ele quem mostrou que, ao contrário de todos ali, ainda havia alguém que prezava pela moralidade de seus atos: MeMe – a verdadeira –, que mesmo tendo sido torturada e explorada por vilões e até pelos “heróis”, e mesmo tendo sofrido morte cerebral, mantinha seu senso de moralidade e bondade, continuava se manifestando pelas máquinas na base e só tinha dois desejos: mostrar um vídeo para Esperança (infelizmente nós, leitores, não temos como saber o que havia nele) e morrer de vez para se libertar da situação em que se encontrava.



Esquecível (ou Longedosolhos, como preferirem) ajudou MeMe nesse segundo objetivo, injetando uma overdose do composto químico desenvolvido por Nêmesis para que fosse possível se lembrar do mutante “esquecível” (foi assim que Esperança pôde vê-lo e conversar com ele). Com a morte da verdadeira MeMe, Esperança voltou ao seu corpo verdadeiro em coma, ficando incomunicável. Apesar disso, Psylocke conseguiu perceber que, mesmo em coma, a ruivinha está furiosa. Seja lá o que ela viu no vídeo de MeMe, consequências virão pela frente...

Restam apenas duas histórias para o término dessa série da X-Force. Apesar da arte irregular (especialmente a de Huat, embora Kim também deixe a desejar em vários momentos), a reflexão sobre os limites da moralidade é muito interessante – especialmente nos dias de hoje, em que vemos super-heróis cada vez mais agindo como anti-heróis enquanto os poucos mais tradicionais são muitas vezes vistos como “certinhos” e “sem graça” por seus colegas e pelos próprios leitores. Felizmente, depois de atingirem o fundo do poço, alguns integrantes do grupo parecem estar se recuperando, com Medula percebendo o erro em matar por vingança, Psylocke e Dominó chorando e se abraçando, e Esperança tomando alguma decisão que deve chacoalhar o status da equipe.

Seja como for, como eles conseguirão salvar as vidas de Cable (o verdadeiro) e Esperança e deter Fantomex? Não será uma tarefa fácil, com certeza. Tomara que Spurrier não deixe a qualidade da história cair nessa reta final.

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