sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fear Itself em perspectiva

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Fear Itself

Com a atual saga vivenciada pelo Universo Marvel chegando a sua quarta edição de um total de sete, como qualquer evento dessas proporções, Fear Itself tem seus pontos positivos e negativos que, claro, valem a pena ser apontados e discutidos por todos. Então, com a história escrita por Matt Fraction (Acredite! Não é o Bendis dessa vez!) e ilustrada pelo ascendente Stuart Immonen chegando ao seu ponto alto, resolvi fazer um balanço (o mais sucinto possível) do que vem acontecendo.

Começando por um ponto negativo, apesar das histórias no geral virem acompanhando razoavelmente a ideia central da trama, a quantidade de tie-ins e edições especiais é estrondosa. Avengers, New Avengers, Avengers Academy, Herc, Invincible Iron Man, Thunderbolts, Heroes For Hire, Jorney Into Mistery (que assumiu a numeração de Thor), Ghost Rider, Alpha Flight, além de especiais com X-Force, X-Men, Wolverine, Homem-Aranha, Deadpool, Namor e Dr. Estranho, até uma ao estilo Front Line com bastidores de tudo que vem acontecendo, e algumas outras. É só escolher. Uma loucura de acompanhar, e muita porcaria no caminho.

Porém, como prometi ser sucinto, vou me ater à série principal, que chegou nessa semana à quarta edição. A trama? Com a volta de Odin em um arco do próprio Fraction em Thor, o antagonismo entre o all-father e seu filho volta a permear a devastada Asgard (ainda destruída como resultado do cerco promovido por Norman Osborn), até que Tony Stark tem uma ideia: reerguer a cidade sagrada como demonstração de boa vontade e boa relação entre homens e deuses, e ao mesmo tempo investir um pouco de confiança e esperança de prosperidade nos EUA, alvo de uma grave crise econômica, como sabemos.

Fear Itself

Tudo preparado, o anúncio é feito publicamente e parece que tudo andará como planejado. Porém, simultaneamente, na Antártica, a libertada filha do Caveira Vermelha, (Pecado, desfigurada e com o rosto quase idêntico à máscara do pai) vai atrás de um artefato que ele nunca conseguiu usar devidamente, guardado secretamente desde a Segunda Guerra Mundial: um martelo. Caído na Terra como o de Thor, ele nunca conseguiu ser levantado. Até ela chegar a ele com ajuda do Barão Zemo.

Fear Itself

Sabendo em seu âmago que ela era digna de levantá-lo, ela reinicia um ciclo do que talvez seja o fim de tudo que conhecemos (de novo). Tornando-se Skadi, arauto de uma entidade nomeada a Serpente (é um homem, então como em português a concordância iria para o espaço, vou chamá-lo sempre no feminino), ela desperta seu mestre de um sono profundo. O que só soubemos agora, é que a Serpente (um velho fraco, isolado em um palácio submerso) é irmão de Odin, derrotado e exilado por ele. Clama em seu retorno ser o verdadeiro all-father, posição usurpada pelo próprio irmão.

Fear Itself

Seu despertar não passa desapercebido, e mesmo diante da oposição de Thor (que acaba preso sob sua autoridade, apesar das reservas de seus mais fiéis amigos e mesmo do rejuvenescido Loki), Odin leva Asgard para fora do plano mortal mais uma vez. Inicia a reconstrução da cidade e a preparação dos asgardianos para a batalha. O custo será a humanidade, que será sacrificada para que a Serpente não vença.

Fear Itself

O motivo disso também é logo revelado. O principal poder da Serpente é o medo (daí o título da saga), e sua influência desencadeia uma onda de medo irracional em nível global. Esse mesmo medo é estimulado por ataques localizados ao redor do mundo. O principal é liderado pela própria Skadi nos EUA, o que acaba culminando com a morte do Capitão América, Bucky Barnes pelas suas mãos. Sim, eles mataram mais um Capitão América. Tremenda besteira, na minha opinião, já que ele se tornou um personagem interessantíssimo.

Fear Itself

De qualquer forma, os ataques também são liderados por outros arautos, nomeados “The Worthy”, “os dignos”. Sete fiéis servidores da Serpente, cujas essências se alojam em sete hospedeiros assim que esses pegam seus respectivos martelos, caídos ao redor do mundo. Kuurth, o destruidor de rochas, Greitooth, o destruidor de vontades, Skirn, a destruidora de homens, Nul, o destruidor de mundos, Nerkkod, o destruidor dos oceanos, Mokk, destruidor da fé, e Angrir, destruidor de almas, tomam posse, respectivamente, do Juggernaut, do Homem Absorvente, de Titânia, do Hulk, de Attuma, do Gárgula Cinzento e do Coisa. Sim, heróis e vilões indiscriminadamente.

Fear Itself

O caos e o terror se espalham ao redor de todo mundo, porque não são apenas os ataques feitos pelos soldados da Serpente que os causam. O medo espalhado pelo despertar do deus ancião faz com que todos se comportem violentamente, e ao mesmo tempo que as pessoas reagem assim, de forma quase incontrolável, a Serpente vai absorvendo toda energia liberada, até ascender junto com sua cidadela subterrânea. É o que acontece na edição #4, na qual ele volta a sua forma original.

Fear Itself

O paralelo aqui é razoavelmente forte para que passe em branco, mesmo que seja um pouco mais raso do que algumas das últimas sagas Marvel, como Civil War, Secret Invasion ou mesmo Siege. O medo, o terror, há muito é usado como uma ferramenta política para que determinados fins sejam atingidos, e muitas vezes levou à realização de determinados atos “impulsivos”, justificados pelo temor do desconhecido, eficazmente despertado por variados interesses. E a população ao redor do mundo está com medo em Fear Itself. Com medo o suficiente para que as ações dos heróis sejam vistas com maus olhos, ou não sirvam de quase nada para conter o pânico generalizado.

Outra coisa que não escapa, e acaba sendo até um pouco batido com relação à delineação herói-vilão em uma mídia mainstream de HQs como a Marvel, é a temática nazista. Talvez rivalizando nos EUA com o comunismo como um dos grandes “vilões” do século XX (coloco entre aspas porque a discussão é muito espinhosa, até porque as noções simplificadoras herói e vilão sempre cabem melhor na ficção do que no mundo em que vivemos), o nazismo é algo constantemente reavivado em histórias como essa, buscando remanescentes desse fenômeno como nexo de toda a maldade do mundo. Não se preocupem porque não vou dar uma de Lars Von Trier, e mesmo entendendo o nazismo como um fenômeno que precisa ser relativizado e compreendido historicamente, minha opinião é que foi uma grande m!#$@ que marcou a história da humanidade, e ainda tem diversos focos de resistência ao redor do mundo.

Ainda assim, é engraçado, ou curioso, olhar uma história com máquinas com a suástica estampada atacando a capital dos EUA e destruindo tudo ao seu redor. Engraçado porque sempre me desperta aquela dúvida se, em algum nível, os americanos sentem alguma falta ou desejo reprimido de travar uma batalha desse tipo no seu próprio território. Como todos sabem, desde a Independência no final do século 18, não houve confrontos militares significativos em território americano. Pearl Harbor é uma exceção, e o 11 de Setembro não pode ser considerado uma ação militar (mas ainda assim despertou um MEDO generalizado que ressona até hoje). É curioso que a busca por um antagonismo acabe "ressuscitando" o nazismo com alta capacidade destrutiva da primeira metade do século.

Voltando à história, se ao chegar na edição #4 a Serpente finalmente ascende, outra ascensão ocorre. Diante da inevitável aniquilação da humanidade (sem medo, sem combustível para a Serpente. Esse é o plano de Odin), Thor consegue fazer com que o pai lhe dê uma dianteira e volta à Terra, para se juntar ao Homem de Ferro e ao Capitão América - Steve Rogers volta a usar o uniforme, claro, deixando para depois o lamento pela morte de Bucky. Um plano é traçado pela tríade fundamental dos Vingadores.

Fear Itself

Com o Capitão à frente da resistência no front das batalhas (o que logo chama atenção de Pecado), Thor vai até a Serpente, e busca superar um grande medo, pois uma profecia diz que ele matará o próprio tio, para depois morrer em seguida. Mesmo diante das mentiras de seu pai, o deus do trovão se nega a apoiar a Serpente. Ao mesmo tempo, em uma cena de sacrifício pessoal em nome de algo que nem acredita (deuses), Stark enfrenta seu maior medo e consome alcool evocando Odin, exigindo uma audiência com pai dos asgardianos. E por incrível que pareça consegue chamar sua atenção!

A história não é uma porcaria, mas até agora não teve nada de espetacular. Um pouco arrastada (sete edições), mesmo que a grande quantidade de cenas de batalha sirvam para que se dê a dimensão global do ataque orquestrado pela Serpente. Mesmo a morte de Bucky foi claramente uma decisão para unir impacto com um bom motivo para Steve voltar a empunhar o escudo de Capitão América. Não se pode negar que tem rendido algumas boas histórias e muita ação. Mas diante da promessa de mudar o Universo Marvel (ele está sempre em mudança, então isso não parece verdadeiramente algo novo), ficam as dúvida em saber o que será dos Vingadores ao fim da saga, assim como o que será de Thor (a profecia se cumprirá?) e de alguns outros personagens mais drasticamente atingidos pelos efeitos da catástrofe desencadeada pela Serpente.

Fear Itself

Não há dúvida (seria uma baita surpresa se ocorresse o contrário) de que a Serpente será derrotada. Então, o que aguardamos nos próximos meses é: qual será o custo dessa derrota, e como o Universo Marvel se realinhará após o fim da saga? Minha impressão, além de alguns spin-offs que podem se tornar histórias interessantes, é de que tudo foi orquestrado para que os Vingadores voltassem ao seu núcleo fundamental, indo além do renascimento da franquia após Siege, com a nova série Avengers iniciada desde então. Para isso ocorrer apostaria em Thor mais uma vez quebrando os rumos de uma profecia, como fez com o Ragnarok. Porém, como sempre, o que nos resta é aguardar.


João

PS.: Podem me chamar de maluco, de ingênuo, mas ainda acredito que o Bucky não “morreu”, ou que sua situação muda até o aftermath de Fear Itself. Sem base alguma, apenas "intuição".

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