segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Fabulosa X-Force: Crise familiar no Extramundo

Uma característica curiosa nas histórias de Rick Remender com a Fabulosa X-Force é o uso de elementos que não parecem, à primeira vista, combinar com o clima sério e sombrio que se espera de uma equipe de assassinos. Na Saga do Anjo Negro, por exemplo, houve viagens entre dimensões, com o grupo visitando a Era do Apocalipse e depois recebendo alguns visitantes de lá na Terra-616 – uma mistura que deu surpreendentemente cedo. Agora, Remender faz uma escolha ainda mais ousada. Se deu certo? Continue lendo e descubra.



Como visto da última vez, Fantomex foi capturado por Capitão Britânia e sua tropa para ser julgado pelo assassinato do Apocalipse, que havia reencarnado como um garotinho sem memórias de seu passado. De quebra, Brian Braddock levou sua irmã gêmea Betsy, a Psylocke, enquanto ela estava dormindo. Quando Betsy acordou, já estava no Extramundo.

Não sabe o que é o Extramundo? Bom, realmente, fazia um bom tempo que esse local – um mundo de onde a Tropa dos Capitães Britânia acompanha e defende todo o Omniverso, as várias realidades existentes – não aparecia nas HQs. Trata-se de um mundo fantástico, dominado pela magia, que teve um destaque grande na trajetória do Capitão Britânia. Nesse arco, Remender revisita o Extramundo e as figuras fascinantes que nele vivem.

Misturar um mundo de magia (bem ilustrado pela arte mais alternativa de Greg Tocchini, a qual talvez não agrade a todos os leitores por fugir bastante dos padrões) com uma equipe sóbria e violenta como a X-Force pode parecer má ideia no começo. Mas só parece: quem já leu as antigas histórias do Capitão Britânia – especialmente o período de Alan Moore à frente da série – sabe que o Extramundo pode ser um lugar bastante cruel e perigoso...



Como dito acima, vários personagens clássicos da mitologia do Capitão Britânia participam desse arco (publicado no Brasil em X-Men Extra 139 a 141). Saturnyne, outrora uma femme fatale manipuladora que se tornou responsável pelo Extramundo após a morte de Roma, é a severa juíza de Fantomex. Jamie Braddock, irmão mais velho de Brian com poderes de alteração da realidade, agora parece curado de sua insanidade (e reapareceu sem explicações desde sua última aparição, quando havia sido deixado na dimensão do Primeiro Cadente – looonga história...) e desempenha o papel de promotor implacável, acusando o membro da X-Force de ter impedido que o renascido Apocalipse tivesse uma chance de reabilitação. Meggan, a esposa não humana do Capitão Britânia capaz de se transformar em outras pessoas, lidera a Tropa dos Capitães Britânia (alguns dos quais o leitor mais saudosista certamente vai reconhecer de antigas histórias) contra o exército de mortos-vivos do misterioso Monge Bode, que assassinou vários Capitães da Tropa e ameaçava dominar todo o Extramundo. Ah sim, já que estamos falando da mitologia do Capitão, vale lembrar que Psylocke fez parte dessa mitologia por um bom tempo - e até chegou a substituir o irmão como Capitã Britânia -, até que o destino a levou para os X-Men...



Bom, e onde a X-Force se encaixa em tudo isso? Basicamente, em duas frentes. Wolverine, Deadpool e o Noturno da Era do Apocalipse, mais novo membro da equipe, foram ao Extramundo com a ajuda do Teleporter para resgatar seus colegas, mas acabaram se vendo no meio da guerra contra o Monge Bode. Vale destacar aqui a interação entre Kurt e Meggan: ela, abalada ao rever seu amigo apenas para descobrir que não se trata do mesmo Kurt que ela conhece; ele, rude e fechado desde sua entrada para a X-Force, acabou aos poucos se encantando pela moça.



Por sua vez, Psylocke – agora usando o uniforme e o codinome de Lady Britânia – resgatou Fantomex de seu apagamento completo da existência mas, para salvar seu colega da infecção de antirrealidade, precisou fazer uma oferta a Krokwel, mago banido para a Floresta das Lamentações por seu próprio pai. Depois, a dupla precisou lidar com o Arma III, vulgo Esfolado, desafeto de Jean-Phillipe. No passado, o vilão foi um mutante com pele elástica e multissensorial, contratado pelo Arma Extra para roubar o Orbe da Necromancia (atualmente em poder do Monge Bode, para quem o Esfolado agora trabalhava). Mas foi traído por Fantomex e capturado pela Tropa dos Capitães, que o condenou à remoção de toda sua pele – posteriormente roubada por Fantomex, que a usou para fazer seus projéteis inteligentes.

Sedento por vingança, o Esfolado realizou uma das cenas mais chocantes dos últimos tempos, arrancando o rosto de Fantomex. Somente depois que Betsy usou o veneno que recebeu de Krokwel na carne do vilão (que também é elástica, e que ele estava usando para manter a moça imobilizada) é que ele foi detido. Por ora.



Eventualmente, toda a X-Force se encontrou na Torre Omniversal, onde o Monge Bode estava prestes a vencer a Tropa dos Capitães e tomar controle de todas as realidades com suas réplicas. Ao atacar a mente do vilão (e falhar), Psylocke descobriu a verdade: o Monge Bode é ninguém menos que a versão futura de Jamie Braddock, após um pacto malsucedido com o demônio caprino Horoamce, cujo único propósito é dominar e se multiplicar. Com grandes poderes e a Orbe da Necromancia a seu lado, o vilão só poderia ser detido de uma forma: matando Jamie no presente.

Mas Brian, que sempre quis a aprovação do irmão mais velho por seu intelecto e se incomodava na infância por Jamie dar mais valor à valentia de Betsy, não teve coragem. Sem tempo para dialogar e sem outra alternativa, Psylocke acabou tomando controle da mente do Capitão Britânia, usando o corpo de um irmão para matar o outro irmão e assim encerrar o massacre no Omniverso. Uma ameaça a toda a existência foi detida, mas a um alto preço: Jamie, que finalmente estava livre da loucura que o dominou desde que seus poderes mutantes se manifestaram, morreu sem ter mais tempo para aproveitar sua lucidez. E seus irmãos, que já não estavam felizes um com o outro quando tudo começou, agora se odeiam ainda mais: Brian, por sua irmã ter invadido sua mente para matar Jamie; Betsy, porque Brian sabia que isso precisava ser feito e mesmo assim não teve coragem, obrigando-a a fazer isso e essencialmente colocando o sangue em suas mãos, enquanto ele continua como uma pessoa decente. Uma família se desfez, talvez para sempre.



Ufa! Resenha longa, não? E acreditem: essa é uma descrição muito, mas muito resumida das quatro partes desse arco, o que nos faz lembrar como cada edição da Fabulosa X-Force é densa e repleta de acontecimentos. Apesar da falha do roteirista ao não explicar o retorno de Jamie (segunda vez que isso acontece, a primeira tendo sido com o retorno do Gambit da Era do Apocalipse durante a Saga do Anjo Negro), Remender fez um ótimo trabalho de resgate da mitologia do Capitão Britânia, sem descaracterizar a atmosfera em torno da X-Force. Na opinião deste que vos escreve, vale a leitura.

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