terça-feira, 8 de outubro de 2013

X-Men: O Elo Perdido

No Cazaquistão, dois anos atrás, um grupo de cientistas pesquisa bactérias da Peste Negra para desenvolver armas de guerra biológica para o mercado negro. Ao encontrar algo mais, o biogeneticista diretamente envolvido com as pesquisas acaba morto a sangue frio por seu chefe, David Michael Gray. O que isso tem a ver com os X-Men? Acreditem, muita, mas muita coisa.



Assim começa o primeiro arco de Brian Wood, publicado no Brasil nas edições 139 a 141 de X-Men, após a saída de Victor Gischler dos roteiros. Em comum com seu antecessor, Wood manteve o foco na equipe de segurança de Utopia, apenas tirando Jubileu e Apache e acrescentando Fada à equipe (ah sim, este arco, assim como os próximos arcos da série, acontecem cronologicamente antes de Vingadores vs X-Men - a publicação no Brasil veio um tanto atrasada...). Mas se antes o negócio era pouca trama e muita ação - o que até funcionou bem em alguns arcos de Gischler -, agora o enredo ganha ares mais sérios.

Tudo começa quando Tempestade resolve testar os transceptores psíquicos espalhados em pontos-chave pelo mundo para ajudar Fada a se teleportar para os lugares em questão. A equipe de segurança de Utopia também ganhou um QG móvel, um jato gigante e ecologicamente correto. Depois do treinamento, Colossus avisa a equipe que um monstro está atacando uma cidade na Chechênia e a equipe parte para o combate... mas a missão acaba sendo fácil demais, e Psylocke logo mostra por que: todo o sistema nervoso da criatura já estava severamente comprometido. Assim, não demorou para o "monstro" morrer e se decompor, sem deixar respostas além de algumas amostras de DNA.



Aqui, acontece um dos elementos centrais da trama: em vez de enviar o material para Utopia, Ororo o encaminha para a Dra. Hunter, líder de um grupo de cientistas entusiastas dos mutantes chamado Mutantes Sem Fronteiras. Mais tarde, mente para Ciclope que a criatura enfrentada não deixou amostras ao se decompor. Após um confronto com um novo monstro, no Mar do Norte, Tempestade é informada sobre o DNA coletado: o "monstro" na verdade era um mutante. Mas não um mutante como os X-Men, e sim uma espécie anterior, como os Homo neandertal foram em relação aos Homo sapiens.

Isso gera vários dilemas para os X-Men: o que a descoberta deste "elo perdido" representa para a história, ciência e identidade dos mutantes? Essa informação poderia unir os mutantes... ou aprofundar ainda mais o cisma? Quem pode ter acesso a essas informações? Colossus e Dominó acham que Ciclope precisa ser informado; por sua vez, Tempestade não confia o bastante no líder de Utopia e prefere manter as descobertas em sigilo, sendo apoiada por Psylocke. Surge assim uma tensão entre Ororo e Piotr - apoiador ferrenho de Scott -, que considera que sua líder está traindo a confiança de Ciclope.



Mas não há muito tempo para brigas, pois logo surge outra criatura no Canadá: um homem cujo tamanho aumenta conforme ele se locomove. Psylocke consegue evitar a ameaça desse poder ao ligar sua mente à do sujeito, e então começa a descobrir a verdade. Magia aparece para dar uma ajudinha na conversa com ele: seu nome é Ister e ele era parte dos protomutantes, espécie que vivia na Crimeia séculos atrás. Quando a Peste Negra se espalhou pela região, os humanos que ali viviam perceberam que os protomutantes eram imunes à doença, consideraram eles como os culpados pela peste e chacinaram todos.

Pouco depois da partida de Illyana, Ister morre - mas, antes, Psylocke consegue transferir a consciência dele para seu corpo, enfim descobrindo a verdade: David Michael Gray - sim, aquele mencionado no começo desse texto - localizou as amostras genéticas dos protomutantes e os clonou para uso como armas vivas. O interesse do vilão era criar armas, não pessoas; daí a falta de cuidado na clonagem dos sistemas nervosos, que levavam os protomutantes a morrer pouco tempo depois de criados. Enfim, ficava claro o perigo de que a existência dos protomutantes caísse em mãos erradas.



Com isso, os X-Men partiram para o ataque contra Gray, já preparado com uma tropa de protomutantes clonados para enfrentá-los. Enquanto as mulheres da equipe enfrentavam os clones, Colossus chegou a Gray, que já havia esvaziado sua base de todos os vestígios de sua pesquisa. Para manter o sigilo sobre seu trabalho, o biogeneticista se mata, mas não sem antes avisar que sua descoberta ainda traria grandes repercussões. Sem maiores dados, os X-Men só puderam fazer uma pira funerária para os corpos dos protomutantes, incluindo o da irmã de Ister, morta antes de poder ser usada como arma, e finalmente relatar a Ciclope suas descobertas (mas será que tudo foi relatado?). A batalha foi vencida, mas, ao que parece, a guerra está só começando...



Com esse resumo (um tanto longo pra um resumo, admito...), acho que dá pra ver que Wood trouxe uma linha mais científica e promissora para a série iniciada por Gischler. Também trouxe boas participações especiais, como Sabra (dando suporte ao grupo de Tempestade) e a já citada Magia, e definiu os integrantes da equipe não só por habilidades mas por personalidades: Ororo é a líder colocada entre seu dever com Utopia e sua moral interior; Colossus é o opositor dela, sendo um colega confiável mas deixando claras suas discordâncias. Fada é a novata para quem tudo isso é uma nova aventura, enquanto Psylocke parece ser o "coração" da equipe (especialmente na cena em que ela enxerga a irmã de Ister com a consciência dele, promovendo a despedida dos dois), sensível e confiante em Tempestade até quando a própria Ororo tem dúvidas sobre suas decisões. Apenas Dominó ainda não ficou muito definida (talvez ela seja o elemento cômico, considerando a cena em que se interessa no médico da equipe de Sabra), mas talvez isso mude nos próximos arcos.



Outro aspecto em que este arco se destaca é com a arte de David Lopez: traços leves, um pouco cartunescos mas bastante expressivos, especialmente no que diz respeito aos rostos: da imponência de Ororo à inocência da Fada, à ganância insana de David Michael Gray, a arte é um elemento importante nesse arco para definir os personagens.

Por fim, temos dois conflitos em andamento: por um lado, fica a dúvida sobre o que aconteceu com o material levantado por Gray sobre os protomutantes; em que mãos eles estarão agora? Por outro, Tempestade deixou claro que não pretende fornecer a Ciclope informações que considere perigosas nas mãos dele, mas nem todos seus colegas parecem concordar com essa postura. Como esses conflitos vão se desenvolver, só as próximas edições vão dizer. Mas que eles prometem, ah, se prometem!

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