sábado, 24 de fevereiro de 2018

MARATONA 616: Alguns easter eggs e referências sobre Erik Killmonger


Os elogios a atuação do ator Michael B. Jordan e de seu personagem Erik "Killmonger" Stevens não são um exagero. De um antagonista dos quadrinhos que já era cheio de background para um adaptação nos cinemas ainda mais complexa e vinculado intimamente agora ao herói, o personagem de fato acabou tendo muitas camadas a se explorar. E cabe aqui um pequeno texto essa transposição e ressaltando aqui as diferenças e similaridades das duas mídias, destacando uma ou outra referência. 

Um paralelo da origem dos cinemas e quadrinhos:

 N'Jadaka, seu nome Wakadano, foi concebido em 1973 por Don McGregor e Rich Buckler para ser a antítese diamentralmente oposta do Rei de Wakanda. Maior, mais forte que o Pantera Negra mesmo não tendo acesso a Erva em formato de Coração, o herói formou um complô contra T'Challa dentro do seu reino que só foi percebido muito mais tarde. Apesar de criado praticamente nos EUA, o N'Jadaka dos quadrinhos nasceu em Wakanda. Seu pais foram forçados a trabalhar com escravos para Ulysses Klaw na primeira invasão que ocorreu em Wakanda e acabaram mortos. Ainda criança, ele foi levado como escravo para ser vendido mais tarde, acabou em algum momento fugindo e foi parar nos EUA. Uma vez crescido fora, N'Jadaka, agora chamado Erik, não mais seria aceito na sociedade fechada de Wakanda. A versão mais antiga de sua origem colocava-o como um 'exilado' porque seus pais antes de morrerem teriam 'ajudado' Klaw a invadir Wakanda.

 Nos cinemas, como quem conferiu pode ver, a origem de Killmonger ficou ainda mais complicada ao darem a ele uma descendência real. Seu pai não era um qualquer em Wakanda, era o príncipe N'Jobu, enviado pra América como um espião, um cão de guerra. Contudo, aconteceu que sensibilizado por ver descendente de africanos nunca sendo tratados como iguais num país como a América, decidiu retaliar ao mesmo tempo que trairia a confiança de seu rei e irmão T'Chaka. Para conseguir tirar de Wakanda Vibranium e armas com base de vibranium sem que percebessem qualquer ligação direta, aliou-se com um traficante de armas e preciosidades, o mau caráter Ulysses Klaw. N'Jobu acabou morto pelo Rei após reagir e, seu filho, N'Jadaka, deixado para trás. A existência do garoto nunca foi revelada em Wakanda pois T'Challa preferiu omitir do conselho a traição do seu irmão e consequente morte dele.

Outras similaridades que vimos entre os personagens dos quadrinhos e dos cinemas é a formação. No filme é apontado que ele se formou no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT) assim como nos quadrinhos, que inclusive especifica que ele se formou em engenharia. Nos gibis, afirmou que cresceu alimentando um ódio tanto para com T'Challa como para o Garra Sônica, apesar de tempos depois se aliar a Ulysses para atingir seus interesses. Isso não é muito diferente do que vemos nos cinemas, quando o personagem vivido por Jordan se alia com Klaue para logo depois mata-lo depois de usá-lo. Nos quadrinhos, quando ouviu falar de um Pantera Negra nos Vingadores foi até ele pedir para ser repatriado em Wakanda e desde aí tinha somente como planos retomar sua vingança por ter sido abandonado pelo seu próprio país. Nesse ponto, a história muda nos cinemas, aproveitando-se da alteração do roteiro ao colocar Erik como primo de T'Challa e, portanto, com direito de tentar tomar o trono dele. 

 Outro momento notório marcante dos quadrinhos que é reproduzido praticamente do mesmo jeito nos cinemas foi a luta na Cachoeira do Guerreiro. Apesar de nos cinemas o lugar ganhar um outro visual muito mais belo e impactante, nos quadrinhos tivemos a mesma cena em que T'Challa uma vez derrotado, é arremessado quase sem vida cachoeira abaixo. E assim como foi nos cinemas, nos quadrinhos Erik julgou precipitadamente que ele estava morto. Nas telonas, foi um pescador da tribo Jabari que o resgatou. Nos quadrinhos, foi sua amada Monica Lynne. Essa talvez seja a maior referência entre quadrinhos e cinemas do personagem.

O Uniforme:

Erik Killmonger aparece com pelo menos duas roupas diferentes que podemos considerar como "uniformes". Após a cena do Museu, o personagem aparece mais uma vez para resgatar seu comparsa do crime Ulysses Klaue do estação de polícia em que ele está sendo detido na Coréia do Sul. Basicamente, a jaqueta que ele usa nessa cena, logo foi percebida pelos fãs que é muito similar com a do personagem de Dragon Ball Vegetta, que funciona como um antagonista do protagonista do desenho Goku. Isso poderia ser encarado como uma mera coincidência se não fosse pelo fato de qeu o ator Michael B. Jordan ser um declarado fã de Animes. Apesar do pessoal da produção não oficializar nada, é obvio que essa é mais uma referência pro vilão.  Ainda dentro dessa cena, é possível ver que Killmonger aqui usa um máscara africana que foi roubada durante o ataque do museu e muitos consideram que ela seja uma alusão a uma máscara tribal que o personagem dos quadrinhos já usou.. Apesar de aqui estar muito mais detalhada do que a versão do gibi, a forma angulosa e a pelagem entregam a inspiração. É mais uma referência pra você marcar aí.

Muita gente estranhou a princípio o fato de Erik Killmonger em dado momento do filme acabar usando um uniforme praticamente igual ao do Pantera Negra, sendo assim portanto o que seria mais uma versão descarada de "inimigo que tem os sets de poderes iguais ao seu herói", mas nesse caso em particular é importante considerar uma coisa. Erik Killmonger foi até Wakanda não como um inimigo para derrotar o Pantera Negra, mas sim para tomar de T'Challa o trono e consequentemente seu título como Chefe do clã dos Pantera Negras. Portanto, ele não se tornou um novo personagem quando venceu o desafio e tomou o colar da roupa do Pantera. Ele era o novo Pantera Negra ali, assim como nos quadrinhos por um tempo Killmonger foi também o Pantera (e até lutou ao lado dos Vingadores por uma curta história assim). Marca também algumas peculiaridades dessa roupa que são easter eggs diretos dos quadrinhos. O mais evidente é o colar dourado, que T'Challa se recusa a usar por ser mais chamativo, mas um traje com detalhes similares já foi usado nos quadrinhos na fase escrita por Christopher Priest. Nessa época, T'Challa ganhou tons mais sombrios, ao mesmo tempo que uma segurança fora do comum.

Outro detalhe que não pode escapar é que além dos detalhes dourados, quem prestar atenção muito de perto do uniforme vai perceber que diferente do uniforme do T'Challa que é mais limpo, simples, onde só é possivel ver detalhes escritos quando energizado, o traje usado por Erik Killmonger aqui tem manchas em tom ainda mais escuro que o preto do uniforme, lembrando a pele de um Leopardo. Isso se deve provavelmente a pelo menos uma dessas coisas: (a) Erik Killmonger se destacava por sempre andar acompanhado por um Leopardo Mascote chamado Prevy (que sempre morria e voltava sem explicação, mas ok) e (b) Em dado momento curto de sua existência, para evitar problemas com associação política com o partido de nome sinônimo, o Pantera Negra passou a ser conhecido como "Leopardo Negro". E como já devem saber a essa altura do campeonato, Pantera Negra nada mais é do que qualquer felino com uma variação melânica, portanto, é também um leopardo negro.



Outras referências:

Já que falamos do Partido dos Pantera Negras acima, vale aqui uma curiosidade sobre o único lugar dos EUA que aparece no filme - Oakland. Originalmente, Erik Killmonger cresceu no Harlem, mas aqui no filme a mudança para Oakland foi uma amarra que fizeram para cruzar com a criação do Partido dos Pantera Negras em Oakland. Curiosamente, o diretor Ryan Coogler também nasceu em Oakland e com isso não há lugar melhor para ele entender como é passar a juventude.

 Ainda em Oakland, é possível ver vários easter eggs deixado pelo diretor no apartamento onde o pequeno Erik cresceu. Temos pôsters pendurados na parede da banda Public Enemy (lembrando que eles estavam em 1992). Na época era bem evidente ver que a banda de Hip Hop tinha discursos defendendo ou exaltando o partido extremista e algumas vezes foram registrados em fotos usando uniformes parecidos com as roupas do grupo. Outra coisa que vale notar é que quando revisitam em flashback a morte do seu pai, o príncipe N'Jobu, há uma similaridade muito grande com a cena que vimos em Capitão América: Guerra Civil em que T'Challa chora com seu pai T'Chaka nos braços, ambos caídos no chão.



Quando vai a Wakanda, vence T'Challa e consegue ascender ao poder, N'Jadaka literalmente quer inventer diametralmente a politica internacional de Wakanda antes isolacionista para algo inteiramente intervencionista. Quer seguir a premissa literal dos antigos colonizadores, que uma vez sendo superiores tecnologicamente, devem dominar os menos desenvolvidos e ditar o que considera certo. Se as verdadeiras intenções não tiveram esse paralelo claro para o espectador, Erik Killmonger solta em dado momento a frase "O Sol nunca vai se pôr no céu de Wakanda", uma fala que é atribuída ao Império Espanhol e depois o Britânico nos séculos passados. Aqui, Erik literalmente ilustra o ditado que diz que 'o que separa todo revolucionário de um tirano é apenas o dia após a tomada do poder".

Nossa Maratona 616 está quase chegando ao fim e para quem não viu os outros artigos segue o link com a lista de curiosidades que elencamos pra vocês nesses dias. No Domingo saiu um novo podcast, mas você já pode ter um gostinho a mais do Pantera Negra no Inominata 616 ouvindo nossa gravação do programa falando da fase do Christopher Priest. E esse Domingo tem podcast sobre o filme.

Coveiro

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