quinta-feira, 13 de abril de 2017

Thanos: Revelação Infinita

De volta ao personagem que criou na Marvel e definiu sua carreira como quadrinista, Jim Starlin foi convidado pela Marvel alguns poucos anos atrás para dar o pontapé inicial numa série de Graphic Novels que levaria o Titã Louco a uma nova jornada cheia de surrealidade que só o cosmo da Casa das Ideias poderia fornecer. Ao lado de seu mais longevo aliado/inimigo, Thanos parte em uma jornada para entender uma inconstância que percebeu no universo e em nossa realidade, e partirá em busca da verdade por trás disto tudo.



Revelação Infinita pode ser considerada de muitas maneiras uma homenagem que Jim Starlin teve a oportunidade de fazer a todos seu trabalho anterior com o titã. Pegando novamente o gosto pelo tipo de narrativa das últimas minisséries cósmicas que fez dos anos 2000 pra cá (como The End e a revista mensal do Titã), ele já começa num patamar épico quando as maiores entidades da Marvel até então - Eternidade, Infinito e Tribunal Vivo - se consideram parte do jogo universal e olham para baixo onde ninguém menos que Thanos pode ser o fator determinante para uma tal "metamorfose cósmica" a caminho.

Depois de tantas mortes e ressurreições, o Titã acredita que algo está diferente desta vez. Tenta falar com Drax (de uma maneira que só o Destruidor o veja), mas seu outrora arqui-inimigo o odeia demais para resistir a não atacá-lo e apenas conversar. Chama atenção aqui no entanto uma alternância de quadros em que vemos parece vermos duas versões de Drax ali. Guarde esse detalhe assim como muitos outros pras minhas considerações finais.



A busca de Thanos segue então para o Reino da Morte, onde ele diz agora não mais ser aquele pobre fiel apaixonado que fazia tudo por um olhar daquela fúnebre Senhora. O Titã não sai com a resposta que queria, mas com coisas que levarão para onde precisa. Tem consigo uma caixa com inscritos criptografados que veio direto do Poço dos Destinos e um espírito desincorporado, que mais tarde se revela sendo ninguém menos que Adam Warlock, aquele que por muitas vezes esteve ao seu lado nos momentos mais decisivos do universo (mas nem sempre como um amigo, vale lembrar).



A análise dos inscritos da caixa misteriosa levam Thanos até um ponto no mapa estelar em Moord, planeta natal da Fraternidade Badoon. Aquela raça em outros tempos serviu ao lado do Titã, mas hoje Thanos estava ali para tirar deles - mesmo que a força - um item que consideravam sagrado. O que conseguiu após muitas mortes de badoons foi um mera amuleto com forma geométrica estranha. Chegou a voltar insatisfeito para sua nave, mas lá deparou-se com um Adam Warlock mais restabelecido e que foi capaz de decifrar mais dos inscritos da caixa. Thanos poderia lamentar não ter percebido aqueles detalhes antes, mas aceitou de bom grado a ajuda do seu velho aliado. Assim, concedeu parte da energia que tinha para restabelecer  para fortelecer ainda mais Warlock e ter um companheiro de aventura nesta viagem.

Após algumas recapitulações de velhas histórias daqueles dois até os dias mais recente da Aniquilação e Thanos Imperative, os dois se focam nos problemas do presente. Adam entende que pode usar o amuleto badoon como uma espécie de pêndulo ou bússola que os direcione até o próximo passo no jogo cósmico onde estão. E isso os leva a um antigo planeta, vigiado por um alien meio maluco (provavelmente da mesma raça do Homem Impossível). O mesmo lugar também atraiu os Aniquiladores, grupo que surgiu após Thanos Imperative e que é formado por Majestor, Ronan, Quasar, Surfista Prateado,  a galadoriana Ikon e Bill Raio Beta. Apesar do grande poderio de fogo deles, nem Thanos e nem Warlock estavam dispostos a serem detidos por eles nessa sua jornada. Uma a um eles caíram num combate épico do nível que só Jim Starlin costuma fazer.



A vitória permitiu que Adam e Thanos entrassem finalmente num velho templo daquele planeta e se deparassem com a estranha forma geométrica muito maior naquele lugar. Juntos, eles cruzaram uma fronteira única que os levou até o que poderia ser considerado um "momento sincrônico" entre as diversas realidades. Naquele mesmo tempo, outras duas versões de Thanos e Warlock surgiram (vindas de outra realidade) para realizar o mesmo feito. Os dois Titãs não viram motivos para brigarem entre si e seguiriam seus caminhos.  No centro daquele lugar, o amuleto que portavam poderia ser recarregado para sua função. E ao levá-lo para o lado de fora, Thanos convocou o poder para fazer o que devia ser feito.

Então, temos um cataclismo de eventos extraordinário. A realidade praticamente se refez ali e quando saiu, Thanos era o centro de todo o universo e toda realidade estava a sua imagem e semelhança. Ao mesmo tempo, vemos que era o Warlock o centro de tudo e o mundo ao seu redor era inspirado nele. Em alguns quadros, Thanos o rejeitado caminhava sobre uma realidade inspirada naquele seu aliado que outrora já foi considerado um messias e tudo ao seu redor parecia ser sacrifício e redenção. Já em outros quadros, era Warlock quem observava um mundo de morte e dor. De um lado, Infinito pedia a Warlock para deter Thanos e livrar o universo de sua onipotência. Do outro, Eternidade pedia a Thanos para que ele eliminasse Warlock e sua visão deturpada antes que fosse tarde demais. E assim, ambos partes, praticamente duas histórias iguais e diferentes acontecendo ao mesmo tempo até que eles alcançam seus objetivos, matam os respectivos "deuses" contrapartes um do outro e tudo se verte numa só realidade.



Tudo parece voltar ao normal, porém não é a mesma coisa. Nosso Thanos está ciente agora do sacríficio que fez matando o seu Warlock e restabelecendo de novo o equilíbrio deste universo. Já o Warlock que matou Thanos acabou perdendo toda sua realidade e foi jogado para esta. Ele é o forasteiro apesar de dividir quase tudo do que foi a versão sua nesta nossa realidade. Assim, neste ponto da nossa história, você deve ter percebido já a todo momento esteve acompanhando o desdobrar de duas realidades diferentes pelas páginas. Lembra do Drax trocando de forma e visual no começo? Perceba que ao longo de toda a história, havia uma transição de uniformes do Warlock também. Ou seja, você esteve a todo tempo acompanhando duas realidades com destinos iguais e elas se cruzaram bem ali no nexo de tudo. E algo aconteceu que elas acabaram de algum jeito se fundindo agora e nosso Warlock sacrificado foi substituido por um outro de realidade diferente.

Os motivos de isso acontecer nem mesmo o Tribunal Vivo parece explicar as demais entidades cósmicas que o acompanham. Já Thanos percebe de cara que aquele Adam Warlock não deve merecer a mesma confiança que o seu. É alguém muito mais poderoso e irritadiço. Eles se separam naquele final, mas certamente se verão mais um dia. Já Thanos também mudou de certa forma e a Senhora Morte percebeu isso. Mais uma vez, eles parecem determinados a ficar juntos.

A história intricada de Starlin é um prato cheio para os fãs saudosos de seu estilo. Ao saber da engenhosidade de nos enganar a todo momento com duas realidades se passando por uma, é um prazer enorme voltar atrás em tudo e esmiuçar os detalhes da história. Visualmente é brilhante, trazendo detalhes de canto de página que remente a coisas muito antigas clássicas como também faz honras a sagas mais novas, como Infinito, que coloca os mais novos seguidores do Titã naquele cenário. Que a Panini não demore com o restante das Graphic Novels! Não há tempo melhor, por sinal, para elas virem.

Coveiro

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