quinta-feira, 27 de abril de 2017

Capitão América Sam Wilson: Campeão do Povo

Na nova e promissora fase que a Panini está investindo na qualidade das revistas mensais no Brasil, o Capitão América não podia ficar de fora. Afinal, foi um dos títulos mais longevos publicados em diferentes editoras no Brasil e agora está passando por uma fase importantíssima, que levará a pelo menos duas sagas marcantes nos próximos meses. E para quem não andou acompanhando as histórias nos últimos meses, vale destacar que o atual portador do manto de do escudo é Sam Wilson, outrora herói chamado Falcão.



Nick Spencer toma as rédes do título com a saída de Rick Remender e junto ao aclamado artista Daniel Acuna remonta o significado de Sam sendo agora o Bandeiroso. Ele tem agora uma equipe auxiliar para suas missões - com Misty Knighty e Dennis Dunphy, O Demolição como apoio. Até o Asa Vermelha ganhou um upgrade e é capaz de dar gritos sônicos perturbadores nos vilões. As missões estão sendo executadas com toda eficiência, a exemplo da que é mostrada em que Sam recupera um cientista da SHIELD sequestrado por Ossos Cruzados e a Hidra.

O problema todo está numa declaração pra lá de polêmica que o herói deu em rede nacional. Depois de servir como objeto plafentário em alguns desfiles e ações vitoriosas da SHIELD, Sam Wilson decidiu que deveria se posicionar além como herói. Numa atitude diferente de seu antecessor, o novo Capitão América anunciou que não mais serviria ao Governo ou mesmo a SHIELD, mas diretamente o povo americano. Criou um sistema de linha direta e conclamou o povo a acioná-lo caso alguma injustiça ou malfeito estivesse ocorrendo na vizinhança em sua comunidade. Isso imediatamente criou uma série de inconveniências políticas, claro. Da maneira como foi feita, soou como uma separação dos ideais americanos vigentes no governo além de se anunciar oficialmente como um poder paralelo de ação (não que os Vingadores ou qualquer outra equipe não fosse isso antes, mas nunca literalmente declarados). Com a SHIELD, apesar de eventualmente ainda trabalharem juntos, Sam começou a ser visto como persona non grata e Maria Hill faz questão de mostrar isso.



A atitude de Sam dividiu opiniões em todo o país e não podemos dizer que não gerou o devido burburinho. As pessoas podem até mesmo radicalizar suas opiniões a respeito disso, como uma simples viagem de avião que Sam faz mostra na história. E enquanto isso, a "linha direta" do Capitão América funciona a todo vapor e com todo tipo de pedidos. E um deles, em particular, chama atenção de Sam. A Senhora Mariana Torres fez um video relatando o desaparecimento de seu Neto, Joaquin, que ajudava voluntariamente na fronteira americana alguns imigrantes que tentavam entrar ilegalmente no país. O garoto desapareceu de repente, e a Dona Torres denuncia que os responsáveis foram um grupo chamado Filhos da Serpente.

A questão é complicada e tomar um partido numa questão ilegal e polêmica como a imigração pode comprometer ainda mais a imagem de Sam como Capitão. Misty não está certa se eles devem se meter e Dunphy alerta que eles nem tem dinheiro ou recurso ainda para seguir tão longe nessa missão. Ao ouvir conselhos do seu irmão, o Pastor Gideon, Sam tem a ideia de pedir doações a sua comunidade para investir na sua luta como herói e consegue um pouco de grana da Igreja para ter uma passagem de vôo até o Arizona.

E na fronteira americana do Arizona, os Filhos da Serpente atacam mais uma vez, atacando um grupo de invasores e seu coiote e os prendendo em nome do bem estar do seu país. É uma clara referência aos pensamentos mais radicais e protencionistas de alguns e com a chegada do novo Capitão América para se opor ao ataque, o roteirista escancara um dos principais conflitos ideológicos dos EUA hoje em dia. O termo "Capitão Socialismo" surge em tom pejorativo e uma discussão entre os vilões acaba se tornando tão familiar quanto qualquer bate-boca sobre o assunto na esquina. Mas a complicada situação de Sam ainda pode piorar. Um jato da SHIELD chega bem no local do conflito e dele sai Steve Rogers com uma força-tarefa.



Vale então uma pausa na narrativa para um interlúdio importante. Seis meses antes, vazou na televisão uma suposta ação da SHIELD envolvendo experimentos ilegais com fragmentos do cubo cósmico e o poder de tal artefato em mudar a relidade veio claramente a público. Maria Hill, como representante da SHIELD, negou a existência de tal programa, mas um tal hacker chamado pelo codinome "Sussurrante" diz ter provas cabais disso. Esse pode ter sido o maior ponto de desacordo entre Sam trabalhar com Hill, usando mais uma vez a mídia para declarar que é contra essa iniciativa. Já Steve Rogers é mais ponderado em acreditar na história, mas é igualmente contra qualquer uso do Cubo Cósmico e seus derivados.



Mas hoje, pelo que mostra a história, Sam e Steve não estão em pleno acordo. A equipe da SHIELD interrompe a ação do herói e parte para prender o grupo dos Filhos da Serpente. O líder do bando, no entanto, mais uma vez foge com um dos "coiotes" que ajudava os imigrantes. Atrelado ainda aos protocolos da SHIELD, Rogers não pode fazer muito ainda e é aí que os dois Capitães se separam. Sam foge usando os pássaros locais como divergência parar não ser seguido.

Sem os recursos de satélite da SHIELD, o novo Capitão América recorre a sua comunicação com pássaros para localiza o Serpente Suprema fugitivo. Ele o encontra num lanchonete comum, ataca antes que ele possa usar seu teleportador e só não o prende porque é atravessado pelo gigantesco Amadilío.  O vilão brutamontes está ressentido desde a última vez que encontrou Sam e achou que seria ajudado por ele. A ideia era reverter sua transformação, que se mostrou irreversível e sem chances de voltar a ser um comum. A briga se estende para a rua, com direito a um trem a alta velocidade dando um jeito no vilão.

Retornando a lanchonete, Sam não encontra o Serpente Suprema, mas em compensação depara-se como jovem que foi supostamente raptado. Aquele "coiote" estava na verdade vendendo os imigrantes ilegais para um suposto cientista e encaminhados para a cidade de Nova York. Então, Sam tem uma ajuda virtual do hacker Sussurante, que desta vez passa para ele a dica de que o cientista que ele procura é o Doutor Karl Marlus. É o mesmo cara que fez experimentos nos Armadílio e provavelmente está interessado em novas cobaias. Assim, se desenha  a primeira grande trama para Sam Wilson, o Capitão América.



Quem ler a história, certamente vai ver muito mais coisas a se refletir que não couberam neste resumo. Há um papo importante no final com Sam e Steve discutindo o quão o manto do Capitão América deve se intrometer em política e como até então ele, como herói, sempre se esquivou disto e acha que não pode se colocar acima dos homens que fazem as leis. Mesmo pontuando um lado como vilão e outro como herói, Spencer deixa ainda a discussão correr solta na sua história na polêmica principal. No avião, há todos os tipos de reações entre os passageiros sobre a vigente questão da imigração.

A posição mais cinzenta da SHIELD, representada por uma Maria Hill muito ranzinza, contra o "Sussurante" também é um tema bem atual pro momento de hoje da política americana e sua falta de transparência dos órgãos. E a questão envolvendo o projeto Kobik é algo que o leitor deve ficar atento para o futuro como um todo do universo Marvel.

A narrativa que se monta cheia de "vai e vem" é perfeita para construir o pensamento do leitor, do simples para a discussão mais profunda e cheia de nuances.  Certamente, um título imperdível para o colecionador e que, alheio a toda polêmica que você pode ter ouvido falar por aí em outros sites, vale muito a pena a leitura.

Coveiro

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