terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

O Surpreendente caso das histórias do Homem-Aranha que só foram publicadas no México



Quando Dan Slott teve a ideia de criar histórias com variações de Homem-Aranha que teria seguido rumos diferentes e assim criado realidades paralelas, mal ele podia imaginar que anos depois ele seria surpreendido com um caso real parecido com sua ideia e que aconteceu no México. Por volta do final dos ano 60 e começo dos anos 70, diferente do que acontecia nos EUA, o Homem-Aranha Mexicano seguia um rumo diferente em suas histórias onde o acidente que vitimou Gwen Stacy nunca teria acontecido. Pois é! Essa história SURPREENDENTE é algo que tivemos conhecimento a pouco e não podíamos deixar de relatar aqui.

Tudo veio a tona de forma inusitada no Twitter neste Domingo quando Chris Ryall, um dos executivos da IDW, perguntou aos fãs que série em quadrinhos nunca antes republicada em encadernado eles gostariam de ter. Uma resposta inesperada veio na forma de um fã que citou as histórias mexicanas inéditas no resto do mundo do El Sorpredente Hombre-Araña onde praticamente se criou uma realidade paralela onde Gwen Stacy nunca morreu e até aparecia em uma capa casando com Peter Parker.




O usuário explicou que as histórias eram produzidas pela editora La Prensa, que tinha os direitos do personagem aracnídeo na época e decidiu tomar um rumo ousado quando a Marvel resolveu matar Gwendolyne Stacy. Eles preferiram criar uma linha temporal própria e paralela com o personagem, o que perdurou 45 edições totalmente originais a partir da Homem-Aranha 119. Nela Gwen Stacy sobreviveu e até "casou" com Peter na edição 128. Bem, na verdade, casou nos seus sonhos após ataque do Duende Verde, mas teve páginas desenhadas com isso e tudo mais.


Os méritos dessa história foram dados ao desenhista mexicano José Luis Durán, que fez todas as artes dela até a La Prensa perder os direitos e a cronologia ser completamente rebubinada e voltar ao que era nos EUA. Ron Marz, que já trabalhou na Marvel nos anos 90, afirmou no Twitter ter conhecido Durán numa convenção no México anos atrás.



Não demorou para isso virar o assunto do Domingo, fazendo autores e ex-autores do Homem-Aranha e da Marvel se divertirem bastante com a ideia. O atual editor da Panini Mexico Alberto Calvo, esclareceu numa resposta a Kurt Busiek mais detalhes da história.

"Isso é mais que verdadeiro", disse Calvo. "A verdadeira razão para ter essas histórias no México foi que os quadrinhos traduzidos da Marvel se tornaram tão populares em meados dos anos 60 que mudaram sua periodicidade para duas vezes por mês, então eles estavam ficando sem material da série original. O editor mexicano foi para NY pedir permissão à Marvel para criar material original, mostrou amostras de um punhado de artistas mexicanos, Marvel selecionou um deles, José Luis Durán, e concedeu a permissão. Durán e os escritores tinham total liberdade criativa. O personagem favorito de Durán era Gwen, então, quando ela morreu, ele pediu ao escritor que continuasse a usá-la, e eles o fizeram. Eventualmente, a editora teve problemas financeiros e sua linha de quadrinhos, incluindo o Homem-Aranha, foi cancelada em 1973. "


Um outro depoimento mais completo da história da publicação do Homem-Aranha no México foi dado no texto a seguir feito pelo usuário Ajbrown do Reedit:

Amazing Spider-Man # 1 foi publicado em março de 1963. Dentro de 3 meses, esta edição foi traduzida e reimpressa no México sob o título * El Sorprendente Hombre Araña "pela editora La Prensa. O Aranha foi um sucesso instantâneo no México, e o La Prensa continuou a publicar traduções em espanhol do Amazing Spider-Man. Havia demanda suficiente para um título semanal, mas os quadrinhos americanos só saíam a cada mês mais ou menos. Inicialmente, La Prensa traduziu e reimprimiu outros títulos semelhantes da Marvel, como Os Vingadores e Tales para Astonish dentro da revista. No entanto, esses títulos não eram tão populares quanto o Homem-Aranha.



O La Prensa queria fazer seus próprios quadrinhos do Aranha para o público mexicano. Aqui é onde as coisas ficam um pouco confusas. Algumas fontes dizem que a Marvel deu permissão ao La Prensa para escrever seus próprios quadrinhos do Aranha, enquanto outras fontes dizem que o La Prensa não obteve permissão e apenas decidiu publicar suas próprias histórias de qualquer maneira. Eu vi referências ao editorial da Marvel afirmando especificamente que essas histórias em quadrinhos não foram autorizadas, mas não consigo encontrar as declarações em si, então não tenho certeza no que devo acreditar.

De qualquer forma, a partir do número #123, o La Prensa fez seus próprios quadrinhos do Aranha - a maioria escrita por Raúl Martinez e desenhada por José Luis González Durán. Isso significa que há um monte de histórias mexicanas exclusivas - infelizmente, só consegui encontrar as capas on-line. Aqui está uma galeria das capas mexicanas exclusivas de 123-139.

Algumas das capas claramente apenas reutilizam o interior de Romita ou a arte da capa, enquanto outras foram feitas do zero para a série mexicana. Até a edição nº 144, a série ia e voltava entre as reedições dos EUA e as histórias mexicanas exclusivas. No entanto, a série começou a se concentrar mais e mais em histórias mexicanas - entre os números 145 e 185 havia apenas 6 histórias dos EUA contra 35 histórias mexicanas. Aqui está uma lista completa daquelas publicadas pelo La Prensa ("Cómic hecho en Mexico" significa "Made in Mexico", que são as de histórias exclusivas).



Acima estão listadas as capas das 45 edições com histórias exclusivas. Quem quiser ver as capas em tamanho maior basta clicar aqui e aqui)

Eu li apenas algumas das histórias exclusivas de Homem-Aranha mexicano. Tanto quanto sei, não existe tradução em inglês e os próprios quadrinhos são bastante raros. Como indicado pelo post anterior e como fica claro nas capas, a maior diferença entre as histórias dos EUA e do México é o foco em Gwen Stacey. Gwen é desenhada ... bem ... dê uma olhada para vocês! Pelo que li, ela também foi o foco principal das histórias mexicanas, mais ainda do que nas histórias dos EUA.

O La Prensa perdeu a licença em 1974 e a OEPISA começou a imprimir os quadrinhos do Aranha. Um post no fórum que eu encontrei dizia que o La Prensa perdeu a licença porque estava produzindo e publicando seus próprios quadrinhos do Homem-Aranha não autorizados, mas minha fonte principal (o excelente site Spider-Mex) não fala nada sobre isso. Os quadrinhos do La Prensa chegam ao # 185, com a última tradução / reimpressão sendo Amazing Spider-Man # 120. Como eu tenho certeza que a maioria de vocês sabe, Gwen Stacey foi morta em Amazing Spider-Man # 121. Isso significa que os quadrinhos do La Prensa terminaram pouco antes de Gwen ser morta - até onde eu sei, isso foi uma coincidência completa, e La Prensa não desistiu da licença só porque seu personagem favorito foi morto!



Exemplo de capa em que Durán se inspirou no Romita para criar o novo material


Então, pelo que foi dito neste último texto, o que a editora Mexicana fez foi criar histórias paralelas as americanas espichando mais do tempo antes da terrível morte da Gwen Stacy. Coincidência ou não, a última história original dos EUA parou antes que a editora publicasse a morte de Gwendolyne que Durán tanto quisera evitar. Se eles um dia pretendiam em algum momento levar as bancas mexicanas a morte da namoradinha eterna do Aranha, não saberemos. Daí, outras editoras tomaram o lugar e hoje atualmente é a Panini México quem cuida das publicações por lá.

O que é possível perceber com certeza até pelas posições bem sedutoras que era colocada, é que Gwendolyne Stacy era certamente a menina dos sonho da equipe criativa. Algumas imagens parece que foram tiradas de um quadrinho do Manara:








É muito divertido ver essa peculiaridades que só poderiam acontecer mesmo nos anos 60 e 70 quando as coisas eram em outros tempos. Para quem é leitor das antiga e nos acompanha já faz algum tempo, deve ter visto uma matéria similar com histórias dos X-Men que aconteceram aqui no Brasil. Em dado momento, os personagens na época da GEP chegaram a ter histórias inéditas produzidas por artistas nacionais como Gedeone Malagola. Para saber mais, clique aqui e veja uma matéria nossa sobre isso.

Bom, fechamos  a matéria por aqui! Quem tiver mais curiosidades sobre esse assunto deixa aí nos comentários! Até!

Coveiro

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