sábado, 1 de março de 2008

Capitão América: Crepúsculo de uma Lenda


Captain America #25

Todos já sabiam que isso ia acontecer. Anunciada aos quatro ventos quase um ano atrás, a morte do Capitão América era de conhecimento comum, como a promoção da edição de Novos Vingadores 49 fez questão de lembrar. Porém, algumas coisas devem ser consideradas antes de falar sobre essa edição histórica. Em primeiro lugar, a experiência de acompanhá-la com calma e muita atenção é única, mesmo sabendo de seu mais importante desfecho. Além disso, ela é o ápice de uma realização fantástica, a cargo de Ed Brubaker, Steve Epting e Miker Perkins. Essa realização é a própria revista Captain America em seu volume mais recente. Podem conferir. Peguem suas revistas desde Vingadores: A Queda e releiam essas histórias. Tudo que vemos concretizado nessa simbólica edição 25 da revista original vem sendo arquitetado desde o primeiro número. Saborear a narrativa (muito bem casada com os desenhos dos dois artistas citados) é uma experiência de excelência para qualquer fã de quadrinhos. Especialmente no arco antes da Guerra Civil (aqui e aqui), além da primeira, segunda e terceira partes do arco ligado à mega-saga, tudo ia se encaixando para esse momento.

A história começa com o mundo já contaminado pela vitória dos heróis registrados após a rendição do líder da resistência. Vários pôsteres, em geral com a imagem do Homem de Ferro, estão espalhados pelo país. Enquanto isso, em uma manobra inusitada, Steve Rogers, ainda considerado herói e ícone por boa parte da opinião pública, teria um julgamento público e civil em plena cidade de Nova York. Acompanhando essa estranha decisão está Nick Fury, desaparecido há muito, desde os eventos desastrosos de sua Guerra Secreta. Sua desconfiança é tão grande que tem dois aliados agindo sem conhecimento do outro. Um deles é o Soldado Invernal, Bucky Barnes, cuja volta tinha tudo para ser uma jogada de marketing desrespeitosa, mas que acabou sendo magistralmente realizada por Brubaker. A outra é Sharon Carter, a Agente 13, sobre os quais os interesses do Caveira Vermelha eram grandes, como ele mesmo revelara em Londres.

Capitão América

É através da lembrança dessas duas pessoas, muito mais do que amigos de Steve Rogers, que sabemos um pouco mais sobre a lenda nascida na Segunda Guerra Mundial. A chegada de Rogers ao tribunal é teatral. Utilizando seu uniforme, com exceção da máscara, ele é recebido por pessoas que o apóiam e por aqueles que o consideram um fora da lei. Depois de ser atingido por um tomate, Steve avista um ponto vermelho nas costas de um dos policiais que o escolta em meio a uma tumultuada entrada no tribunal e avista o atirador. Longe dali, Aleksander Lukin (cujo corpo divide com a mente do Caveira Vermelha) se espanta com a capacidade do inimigo em perceber o que está acontecendo. Sob protestos do Doutor Faustus, ele diz que tudo sai como planejado.

Capitão América

O disparo é feito, e Steve só tem tempo de se jogar na frente para que o policial não seja atingido, sendo alvejado em seu lugar. Mas por que acertar o policial? O resultado é uma confusão generalizada, corre-corre e pouca noção do que de fato ocorre. É nesse momento que uma arma se aproxima do Capitão e o atinge na barriga. O herói aprisionado está gravemente ferido, Sharon não parece acreditar, e só o que preocupa Steve é a segurança dos inocentes em volta.

Capitão América

Bucky e o Falcão, que também vigiava a cena, chegam ao local onde o atirador estava. Esclarecido que o primeiro parceiro de Steve não tinha nada a ver com aquilo, e que trabalha para Fury, os dois partem atrás do helicóptero que recolheu o atirador. Enquanto isso, o Capitão América é levado para o hospital em estado grave.

Ficamos sabendo que o atirador era um dos aliados do Caveira Vermelha, Ossos Cruzados. Ele acaba capturado pelos dois heróis, morbidamente “observados” por um cartaz pró-registro do Homem de Ferro. Ao longe, a filha do Caveira, Pecado, preocupa-se com o fim de seu amante, mas seu pai ordena que siga com o plano.

Capitão América

E tudo parece dar certo mesmo para os planos costurados com tanto cuidado pelo vilão, e favorecidos pela distração proporcionada pela Guerra Civil, pois momentos depois a morte de seu maior inimigo é anunciada em rede nacional. Steve Rogers, a lenda chamada Capitão América, estava morto.

Capitão América

Porém, algo mais está guardado para a trama produzida pelo momento mais genial do roteirista Ed Brubaker. Pecado aborda a abalada Sharon Carter, que vinha sendo tratada pelo Dr. Faustus, infiltrado na SHIELD como um psicólogo, e pronuncia a palavra-chave que este plantou no subconsciente da paciente: Lembre-se. É a partir daí que a Agente 13 percebe que não foi o tiro à distância que matou o homem que ela ama e talvez o maior herói que já conheceu. Foi ela que desferiu os disparos derradeiros. Sem ao menos perceber, de alguma maneira, estava condicionada a agir daquela forma naquele momento. O plano do Caveira Vermelha foi executado com perfeição, com a ironia macabra do disparo fatal vir das mãos da mulher que Steve amava.

Capitão América

A história é de tirar o fôlego e chocante. Como um fã recente, já que só consegui tomar gosto pela revista a partir dessa sua mais nova fase, não canso de exaltar o trabalho da equipe de criação. Não há o que se tirar, não há o que se pôr. A histórias mantêm o clima de mistério, espionagem e guerra em doses suficientes para se tornar, junto com outras poucas publicações regulares, uma das melhores coisas presentes no mundo das HQs nos últimos dois anos.

Capitão América

A morte de Steve Rogers dá início a uma nova fase da revista Captain America, que surpreendentemente mantém seu ritmo e qualidade até hoje, quando chegou à trigésima quinta edição (10 depois da que lemos esse mês) utilizando todos os elementos construídos por pouco mais de 2 anos por Brubaker, Epting e Perkins. Portanto, recuperem o fôlego, porque ainda há muita coisa envolvendo o fim da lenda chamada Capitão América e todos os esforços para que ela, de fato, nunca morra.


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