terça-feira, 18 de março de 2008

Morre Uma Lenda: Ação e Reação


Fallen Son #3 variant cover

A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross formulou, em 1969, o que ficou conhecido como o Modelo de Kübler-Ross, em seu livro On Death and DyingSobre a Morte. Também conhecido como Os Cinco Estágios do Luto, o modelo aborda justamente a forma como os seres humanos lidariam com a perda de um ente querido por falecimento, passando por cinco etapas diferentes: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Foi baseado nessa estrutura que Jeph Loeb, pouco depois de perder o filho, roteirizou Capitão América: Morre Uma Lenda, mini-série lançada após a morte do Capitão América. Divida em cinco partes por motivos óbvios, essa história conta como alguns dos principais heróis do Universo Marvel lidaram com a perda de Steve Rogers, seguindo o Modelo de Kübler-Ross em cada um de seus capítulos, desenhados por artistas diferentes. A idéia é até engenhosa, mas infelizmente a qualidade dos roteiros de Loeb nos últimos tempos tem sido duvidosa, e criticada por boa parte dos leitores.

A primeira história, então, fala sobre negação. A recusa em aceitar que aquela pessoa por quem você nutria apreço realmente faleceu. E seu principal protagonista é Wolverine, o mutante cuja convivência com o Capitão América remonta à Segunda Guerra Mundial, além da presença recente na formação dos Vingadores após A Queda. Logan quer ter certeza da morte de Steve e, por isso, pretende invadir o areoporta-aviões da SHIELD, onde o corpo do Capitão se encontra. Para isso pede a ajuda do Soldado Invernal, ex-parceiro do falecido, usando justamente a incerteza que a morte dos dois no passado como argumento para tal missão. Porém, Bucky recusa, quase desejando que o mutante descubra que a morte não passa de uma farsa.

Capitão América: Morre Uma Lenda

Logan procura, então, o Demolidor, não sem antes ter certeza de que aquele é de fato Matt Murdock. De volta à sua identidade heróica, Matt aceita e parte com Wolverine em uma missão que seria impossível sem os encantamentos do Dr. Estranho. Lá dentro ambos vão antes ao encontro de encarcerado Ossos Cruzados, o homem que, sob ordens do Caveira Vermelha, deu o primeiro tiro no Capitão. Logan o provoca, recolhe algumas informações, mas percebe que por algum motivo o assassino não se lembra quem o mandou fazer aquilo. Provavelmente sinal do trabalho do Dr. Faustus.

Capitão América: Morre Uma Lenda

Colocando uma arma ao alcance de Ossos Cruzados, Wolverine o provoca até que ele pegue a pistola e atire diversas vezes, sem nenhum efeito relevante. A situação dá a entender que o mutante queria um motivo para matar o vilão, sendo parado apenas pelo Demolidor, que serve como uma trava para ele. O que é estranho, já que Wolverine nunca precisou criar desculpas para matar alguém, especialmente quando age fora de um grupo.

Capitão América: Morre Uma Lenda

Sem saber quem deu os tiros fatais no Capitão, Logan diz para Matt ir embora, e vai sem a proteção mágica do Dr. Estranho à sala onde o corpo de Steve se encontra. Obviamente ele é logo detectado, e diretamente abordado pelo Homem de Ferro, que confirma ser aquele o herói octogenário, e que é preciso aceitar sua morte. Nem um pouco paciente com Stark, Logan sai sem temer ser preso por integrar os Vingadores fora-da-lei. Hank Pym, como Jaqueta Amarela, aparece e o ameaça, o que só faz Wolverine desdenhar do cientista. Diz que ambos querem que ele vá embora e tire a última gota de motivação que os heróis que permaneceram contra o registro têm, confirmando o falecimento de Steve Rogers. E é o que acontece, não sem antes deixar uma ameaça ao Homem de Ferro caso tenha alguma ligação com o assassinato do capitão América.

Capitão América: Morre Uma Lenda

O Segundo ato aborda a raiva, e é aí que a mini-série começa a degringolar. Logo quando começamos a ler percebemos que ele acontece quase simultaneamente à primeira parte, valendo o mesmo para quase todo o restante da série, como veremos na próxima edição.

A abordagem se amplia e se foca nos dois grupos de Vingadores. Enquanto os registrados enfrentam monstros marinhos controlados pelo Tubarão Tigre, os fora-da-lei recebem uma visita ilustre: Ben Grimm, o Coisa do Quarteto Fantástico, que deixou bem claro durante a Guerra Civil que não dava a mínima para alguns heróis que não estivessem registrados. Ben, aliás, é protagonista dos poucos momentos legais da história, com algumas tiradas típicas do personagem. Sem falar com o Dr. Estranho, por este estar ajudando Wolverine e Demolidor na invasão do aeroporta-aviões da SHIELD, ele começa o tradicional jogo de pôquer que promove freqüentemente.

Capitão América: Morre Uma Lenda

As duas passagens paralelas têm um ponto em comum, a tensão no ar pela perda recente. Todos parecem predispostos a brigarem entre si e a descontar, no caso dos Poderosos Vingadores, nos inimigos da ocasião. Especialmente Ms. Marvel, que lidera a missão na ausência do Homem de Ferro, cuidando da invasão ao aeroporta-aviões. Do lado não registrado, o mais tenso é o Homem-Aranha. Aliás, chiliquento a ponto de dar tons de novela mexicana à história. O pôquer não rola direito até a hora que ele vai embora. E isso só acontece quando Wolverine volta e afirma com todas a letras que viu o corpo do capitão, fazendo com que Peter dê seu chilique-mor, quando entrando em confronto com o mutante.

Capitão América: Morre Uma Lenda

Do lado registrado, no qual apenas Ares parece não dar a mínima para a morte de Steve, o Sentinela chega à ação e parece resolver quase tudo. Porém, ao saber que o Tubarão Tigre fazia tudo aquilo para chamar atenção, Ms. Marvel quase mata o homem se não fosse a intervenção de Namor. Este chega ao local, controla as criaturas e leva o vilão para ser julgado em Atlântida, condenando a violência descabida como forma de descontar as frustrações. Coisa parecida faz o Coisa, ao reclamar da discussão de Luke Cage com o Patriota e a Gaviã Arqueira, que querem sair em patrulha, e principalmente pelo bate-boca entre Wolverine e Homem-Aranha.

Capitão América: Morre Uma Lenda

Carol Danvers se sente frustrada e nada vitoriosa, mas a raiva passou. Peter vai embora com Logan em seu encalço, entendendo seu chilique (pelo menos alguém entendeu) e buscando evitar que faça alguma besteira. Os poderosos Vingadores retornam à SHIELD e os Novos Vingadores voltam ao jogo.

Dessa forma acaba a primeira das duas edições brasileiras que contam a história de como os principais companheiros de Steve Rogers reagiram à sua morte, infelizmente, na minha opinião, por um roteirista que passa por uma longa fase ruim. Cada parte contará com um artista diferente, tendo as duas primeiras sido realizadas por Leinil Yu – atualmente em Novos Vingadores, e Ed McGuiness. Mês que vem acompanharemos como essa história se encerra, em um novo começo do Universo Marvel.


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