sábado, 29 de março de 2008

Tiros na Noite: Sacrifício


Bullet Points #5

Uma bala. Um tiro. Uma nova seqüência de acontecimentos. E a Terra não tem à sua disposição o que seria necessário para resistir à maior ameaça que qualquer planeta no Universo mais teme: a fome de Galactus. Nunca encarnando o Capitão América, Steve Rogers se tornou o herói de guerra Homem de Ferro, em um constante sacrifício que lhe custou a vida. Dedicado a seu auxílio tecnológico, Reed Richards, fez tardiamente a viagem que daria origem ao Quarteto Fantástico, o que causou a morte da mulher que amava, do irmão dela e de seu melhor amigo, fazendo com que mais tarde ele encabeçasse a SHIELD. Peter Parker, sem seu tio Ben, nunca se tornou o Homem-Aranha, mas, exposto às radiações gama, acabou se tornando o incrível Hulk e se isolando do mundo. Bruce Banner nunca virou o Hulk, mas picado por uma aranha exposta às mesmas radiações que Peter, tornou-se o Homem-Aranha, agente da SHIELD. Muitos heróis não tiveram sua trajetória alterada, mas o mundo em que Galactus chega agora é muito diferente do que ele e seu arauto Surfista Prateado normalmente encontrariam. Tiros na Noite conclui em Marvel MAX 55.

A reação terrestre é mandar suas forças militares, o que, obviamente, mostra-se completamente inútil. No aeroporta-aviões, Richards conversa com o Presidente, explicando as informações recolhidas sobre a ameaça extraterrestre, descartando qualquer possibilidade de vitória contra Galactus. Não aceita, porém, morrer sem lutar. Transmitindo uma mensagem ao redor do mundo, o diretor da SHIELD pede ajuda a qualquer ser superpoderoso da Terra. Independente de ser mutante, extraterrestre ou vilão. Todos morreriam, então lutar era o último recurso de cair tentando sobreviver.

Tiros na Noite

O chamado é pessimista, mas mobiliza muito mais do que o imaginado. Seres de todo o tipo, até mesmo o isolado Peter Parker, ou o cardíaco Tony Stark atendem ao chamado. A visão de Stark usando a armadura que seu amigo Steve Rogers vestiu por anos ameniza o ceticismo de Richards, só não é mais impressionante que se vê a seguir: dezenas de seres com algum poder ou recurso sobre-humano se dirige ao confronto com a ameaça cósmica.

Tiros na Noite

O confronto, porém, é desastroso. As casualidades, muitas fatais, entre os heróis (não há distinção nesse momento) são enormes e sobem exponencialmente. Porém, com uma velocidade absurda, Peter Parker, o Hulk, chega ao local, indo direto aos instrumentos de Galactus, sendo rechaçado com facilidade. Mas isso não o impede de insistir ao ponto de realmente irritar o ser milenar, o que não acontecia há muito tempo.

Tiros na Noite

A absurda luta de um ser patético contra algo inevitável, como narra a história, ganha ares mais dramáticos quando se percebe que Peter não luta por ele. Nem pela preservação do planeta. Sua luta é pela salvação de sua tia May e busca de redenção de todo o mal que acredita ter causado a ela. Não é o suficiente. Como ele mesmo sabia que aconteceria, Galactus põe fim à vida do Hulk.

Tiros na Noite

Porém, quando parecia não haver salvação, a luta de Peter Parker choca o Surfista Prateado, fazendo com que o frio arauto volte a entrar em sintonia com a consciência do que já foi. Com Norrin Radd. É o suficiente para, em meio a escombros e morte, o arauto se volte contra seu mestre, destruindo seu equipamento. Sem ele, o devorador desaparece em fúria. O planeta Terra conseguiu o impensável, devendo tudo isso ao Hulk e ao esforço de tantos outros.

Tiros na Noite

Em seguida, o discurso de Reed no enterro das centenas de mortos enfatiza que mesmo em meio à adversidade – que aqui podemos interpretar como o não surgimento de alguns heróis com os quais o Universo 616 sempre contou – aqueles que restaram lidaram com a forma como as coisas se apresentaram, perseverando. O discurso ganha ares mais “reais” quando May vislumbra as lápides de Steve Rogers e Peter Parker, colocadas lado-a-lado. J.M. Straczynski claramente faz uma referência às mortes do ataque ao WTC em 2001, tentando traçar um paralelo entre uma espécie de dor coletiva causada pelo atentado e os sacrifícios feitos em benefício de grupos muito maiores de pessoas. Um epílogo meio estranho e um tanto desconectado da história na minha opinião, o que não diminui a qualidade dessa mini-série que se encerra, um sofisticado "What if?".


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