Apesar de uma série de edições posteriores ao encerramento da Guerra Civil, a história dupla intitulada A Confissão, encontrada em Guerra Civil Especial 4, talvez seja aquela que resume de maneira mais contundente as transformações geradas pelo confronto físico e ideológico travado pelos heróis. Por isso, uma resposta franca de Tony Stark, o líder do lado vencedor, ao comandante da resistência, Steve Rogers, acaba se configurando em um dos momentos mais marcantes dos últimos tempos no universo Marvel.
Chegando ao convés do aeroporta-aviões da SHIELD sob forte chuva, o Homem de Ferro já se dirige aos agentes da agencia internacional como seu novo diretor. Ele pede para chegar à presença do Capitão América e dispensa os soldados para ficar a sós. Diz que se sente incomodado pelo fato de saber que aqueles homem não o vêem como viam Nick Fury. Mesmo desaparecido há tempos, é a ele que devem sua lealdade. O “diretor Stark” acredita que terá de convencê-los a gostar dele, ainda que seu discurso de posse tenha sido um desastre. Baseado na história do rei Pirro, que se lamentava pelas grandes perdas da vitória sobre os romanos, tornando seu triunfo lamentável, sua fala se encaixa perfeitamente a esse momento.
Porém, Tony crê que a maioria entendeu que ele tivesse minimizado todo o trabalho que tiveram. Credita isso à sua inabilidade em se comunicar com soldados, coisa que Steve sabe muito bem há mais de 60 anos. Mas saindo de suas lamentações com relação à SHIELD, Stark diz que estava ali para responder a Steve. Começa falando do Rei Arthur. E não é alguma parábola ou história legendária envolvendo o portador de Excalibur que o motivou, mas o próprio Arthur, a quem ele encontrou depois de voltar no tempo combatendo o Dr. Destino. Em sua opinião, Tony encontrou o maior líder de todos os tempos.Ironicamente, a “magia” de sua armadura talvez tenha deixado o rei que nunca foi rei tão abismado quanto o viajante. Infelizmente não puderam conversar muito, pois precisaram se organizar para a batalha contra Destino e sua aliada, a feiticeira Morgana Le Fey. Em meio à imundície da guerra, o Homem de Ferro só conseguiu pensar em uma situação semelhante entre os heróis de seu tempo, quase como uma visão. Apesar dos objetivos distintos, os heróis lutam, e por isso Stark começou a pensar em todo o confronto da Guerra Civil como algo inevitável e iminente. Faz questão de reafirmar seu lado futurista, dizendo que esse tipo de projeção é recorrente em suas reflexões.
Um pouco egocêntrico, Tony diz que é assim que cria as coisas para que o futuro por ele previsto ocorra da melhor forma possível. Credita a confecção de sua armadura, os Vingadores e tudo o mais que inventou como herói como algo sempre feito pensando dessa forma. Com ele no comando. Mas nesse momento a situação de Steve lhe parece dolorosa justamente por fugir ao seu controle.
Sem saber o que geraria a Guerra Civil, Tony explica que tentou preparar o terreno para sua ocorrência formando os Illuminati, mas nunca teve firmeza no comprometimento de seus pares, pois se fosse inteiramente franco não acreditariam nele. O primeiro sinal da confirmação de suas suspeitas que conseguiu identificar foi a "naturalização" dos heróis pelas pessoas que defendiam. A população não esperava mais que eles a ajudasse, mas passou a dependia disso. A responsabilidade aumentava.
Surpreendentemente ficamos sabendo que as primeiras informações do registro são passadas a Tony por Nick Fury, e foi aí que tudo se clareou. Praticamente todas as posições tomadas no conflito estavam em sua mente de forma óbvia. Diz a Steve que conversou com ele. Que disse que aquilo aconteceria. Que era necessário trabalhar junto aos idealizadores do registro, e que seria colocado na posição de liderança como a única opção. Encarando seu capacete como no primeiro especial dos Illuminati, O Homem de Ferro diz que era algo necessário.
Em prantos, Tony se orgulha de não ter bebido uma única vez durante todos esses eventos, grande mérito para um alcoólatra. E balbucia que sabia que ele e Steve se enfrentariam, o que parece ser o que mais lhe causava sofrimento, pois não seriam mais amigos. Mas aceitava isso por crer ser o sacrifício necessário para fazer tudo da melhor forma possível. Era "a coisa certa". Mesmo trabalhando com as piores pessoas do mundo, assumindo uma postura de vilão aos olhos de todos.
Porém, Tony não estava disposto a sacrificar uma única coisa. Mas acabou acontecendo mesmo assim. Stark diz a Steve que não admitiria aquilo a ninguém além dele. E sobre o cadáver do Capitão América, a quem ele não pode mais falar nada disso, o Homem de Ferro admite: "Não valeu a pena".Depois dessa chocante revelação, descobrimos que aquela não foi a primeira vez que Steve e Tony "conversaram" depois do final da Guerra Civil. Na segunda parte da história, vemos a chegada do Capitão América ao convés do areoporta-aviões, causando confusão entre os soldados, que ainda veneravam aquele símbolo vivo. Em uma cela provisória, ainda em seu uniforme, Steve conversa com um acuado soldado quatro vezes mais jovem que ele. Demonstrando a diferença de idade, Rogers fala de julgamento por traição e até de enforcamento, sentindo-se culpado mesmo crendo ter feito a coisa correta. Quando ficaríamos sabendo o que o soldado acha do novo diretor, Stark chega ao local.
A primeira coisa que Tony diz é que implorou para que Steve acabasse com a guerra. Mas o Capitão está ainda em estado de fúria, e diz que Stark é um homem doente. Fala que seus poderes e armadura estão fora de controle, ao que Tony rebate dizendo que o problema é que Rogers não os compreende, mas este afirma que compreende muito bem. Steve caçoa de Tony, afirmando que o fato dele estar preso não faz de Stark o vencedor, pois este teria perdido todos os princípios pelos quais ambos lutavam para chegar à vitória.
Mantendo seu discurso sobre a liberdade, o Capitão América diz com todas as letras que foi o Homem de Ferro que criou essa guerra, e, com ironia, que agora deveria estar se sentindo o grande líder do mundo. É então que vem a pergunta que dá sentido a toda a história que lemos anteriormente. O que fez Stark crer que tinha as responsabilidades que tomou para si? Que deveria fazer as coisas terríveis que fez? Que poderia dizer o que era melhor para todos os outros? E, mais importante, se aquilo tudo valeu a pena? Tony só consegue responder, também de sangue quente, que Steve Rogers é um péssimo perdedor, o que ele reconhece com todo seu orgulho.
Obra prima. Não consigo pensar em outra coisa além dessa expressão para representar essa pequena mas poderosa história escrita por Brian Michael Bendis e ilustrada por um dos mais talentosos artistas da Marvel, Alex Maleev. Posso estar exagerando, mas, mesmo com todos os seus problemas, a Guerra Civil proporcionou algumas histórias memoráveis das quais essa é, com certeza, a maior delas. Um desfecho muito mais impactante que qualquer destruição de nível global ou elevada contagem de corpos. O mundo agora não tem o Capitão América, e caberá ao Homem de Ferro, com toda uma imensa carga sobre seus ombros, cuidar para que sua memória seja respeitada e sua falta suprida.
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Chegando ao convés do aeroporta-aviões da SHIELD sob forte chuva, o Homem de Ferro já se dirige aos agentes da agencia internacional como seu novo diretor. Ele pede para chegar à presença do Capitão América e dispensa os soldados para ficar a sós. Diz que se sente incomodado pelo fato de saber que aqueles homem não o vêem como viam Nick Fury. Mesmo desaparecido há tempos, é a ele que devem sua lealdade. O “diretor Stark” acredita que terá de convencê-los a gostar dele, ainda que seu discurso de posse tenha sido um desastre. Baseado na história do rei Pirro, que se lamentava pelas grandes perdas da vitória sobre os romanos, tornando seu triunfo lamentável, sua fala se encaixa perfeitamente a esse momento.
Surpreendentemente ficamos sabendo que as primeiras informações do registro são passadas a Tony por Nick Fury, e foi aí que tudo se clareou. Praticamente todas as posições tomadas no conflito estavam em sua mente de forma óbvia. Diz a Steve que conversou com ele. Que disse que aquilo aconteceria. Que era necessário trabalhar junto aos idealizadores do registro, e que seria colocado na posição de liderança como a única opção. Encarando seu capacete como no primeiro especial dos Illuminati, O Homem de Ferro diz que era algo necessário.
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