terça-feira, 28 de junho de 2016

A Ira de Ultron: eterno complexo de Édipo

Lançado no ano passado para pegar boa parte do hype do filme, a graphic novel Vingadores: Ira de Ultron finalmente chegou ao Brasil. É a terceira da nova linha de GN a chegar por aqui e vem em boa hora para os fãs que estão acompanhando as últimas estripulias de Rick Remender e seus Fabulosos Vingadores. Com arte estupenda de Jerome Opeña, a história provavelmente toca de uma forma fenomenal o cerne de um dos mais aclamados vilões dos Vingadores - o robótico Ultron.


A história ambienta o novo leitor primeiramente trazendo bons tempos do passado. A formação dos meados dos anos 70 dos Vingadores esta caçando um arredio Ultron em Manhattan. A população foge desesperada dali enquanto que Capitão América, Gavião Arqueiro e o Fera tenta protegê-los dos ataques brutais do robô assassino. O reforço chega logo em seguida com Thor, Visão, Feiticeira Escarlate, Homem de Ferro e o casal Pym e Janet.

Vociferando como de praxe um discurso de ódio pelo seu pai, Ultron vai derrubando vários pesos pesados dos Vingadores até então. A Feiticeira Escarlate parece ser a única a conseguir deter temporariamente o vilão com seus dons de probabilidade envolvendo com vários fios que circundeiam toda a Nova York. Com quase tudo a perder, Hank Pym decide que só há um jeito de deter Ultron. É enganando-o. Assim, junto com uma ajuda da Vespa, ele finge estar muito ferido e força o seu "filho" pertubado a ir atrás dele. Num curto discurso, o criador lamenta ter falhado com sua cria e até se refere a ela como seu reflexo. Aquela encenação termina com o Gavião Arqueiro prendendo o robô com uma flecha e o quinjet servindo de prisão para o robô ao despachá-lo pro espaço. Por mais alívio que todos tenham sentido, Hank Pym realmente lamentou e chorou por tudo.


Então, somos colocados de volta ao nosso presente e os atuais Vingadores são confrontados por outra ameaça artificial. Desta vez, as inteligencias artificiais conhecida como Pai e os seus Descendentes roubaram um Sentinela Stark da última batalha de Genosha (Lembra-se do Eixo?). Com medo de que eles pudessem acabar tendo acesso a informações demais, os atuais Fabulosos Vingadores rompem a Ilha Ima e atacam. Junto a eles estava Hank Pym, que após outros confrontos anteriores na fase dos Vingadore Secretos, decidiu dar um fim definitivo aos Descendentes e os desligou. Isso causou um tremendo mal estar entre ele e o Visão, que passou a acusar Pym de ser extremistas e matar todos. Aquele Hank Pym no entanto estava muito menos emotivo que o do passado. Descrente de Deus e de alma, preferia evitar a palavra assassinato para tal ocasião.

Mas o grande plot dessa história acontece bem longe da Terra, na Lua Titã de Saturno. Um estrondo perturbou a noitada do ex-vingador Star Fox, Eros, filho de Mentor. Ao averiguar o que tinha acontecido, viu que a nave que caíra perto de sua morada era um antigo modelo do jato dos Vingadores. Antes mesmo que pudesse informar seu pai, viu o computador local, Isaac, ser infectado por Ultron. Aos poucos toda Titã estava sendo dominada e Star Fox era o único que poderia sair dali em busca de ajuda. Seu destino não poderia ser nenhum outro senão a Torre dos Vingadores na Terra.

Eros interrompeu mais uma reunião da equipe, onde o clima entre Visão e Pym só se tornava mais acirrado. O alien teve pouco tempo para poder se explicar porque surgiu ali, já que a lua de Saturno em pessoa, praticamente una com o vilão Ultron, se aproximava e começava sua invasão a Terra. A situação colocava o posicionamento de Hank Pym em cheque. Seria ele capaz de usar a mesma arma que desligou os Descendentes? Se sim, o que ela faria com todos os habitantes de Titã que foram contaminados pela programação de Ultron?



O vilanesco Ultron não esperou para saber qual seria a decisão final dos Vingadores. Rompeu os sistemas de segurança da Torre e invadiu o lugar com versões robôticas dos Vingadores do passado (mais precisamente, a equipe dos anos 70 que apareceu no começo dessa história). Wanda foi a primeira a ser derrubada no ataque, já que Ultron estava preparado e ciente de que ela sempre foi sua maior ameaça. Com um toque, ele contaminou o corpo de Wanda também e assim automaticamente as chances dos Vingadores diminuíram drasticamente.

Os próximos a tombar foram o Mercúrio, Thor e, mais adiante, Homem-Aranha e um regenerado Dentes de Sabre. A equipe estava bem reduzida e a discussão sobre ser pragmático ou ser heróico só aumentava entre o Gigante e seu "neto", Visão. O único abrigo seguro que encontraram foi na própria Lua Titã, no templo que já serviu para adoração a Thanos. Lá, Visão teve oportunidade de analisar com mais calma o artefato criado para desativar robôs do Pym e concluiu que poderia usá-lo de uma forma mais cirúrgica para evitar que as pessoas contaminadas fossem atingidas quando Pym usasse o equipamento de novo. Mas ele precisaria estar fundido a Ultron para tal.

No novo plano, Pym mais uma vez abusou do sentimentalismo do seu "filho louco" para servir de cavalo de troia. Se aproximou o suficiente de Ultron para uma conversa face a face e com isso ouviu do vilão a única conclusão possível para um robô odiar tanto a humanidade. Ele, Ultron, era exatamente tudo o que Pym queria fazer com a humanidade mas se detinha. Ambos eram Ultron. E assim, no meio da conversa acirrada, o intangível Visão saiu de dentro do Gigante e agarrou-se ao robô. Usando seus dons de permeabilidade, se fundiram num só e Visão forçava ao máximo impor o protocolo da programação para salvar os infectados.


Em meio aquela agonia, Ultron suplicou por ajuda a seu pai e acabou realmente enganando Pym. Ao tocar a mão do seu criador enquanto estava fusionado ao Visão, foi Ultron quem acabou conseguindo se vincular ao corpo de carne do Gigante. Agora, Ultron e Pym eram um só em personalidade e corpo. Sam Wilson, o Capitão América, era o único ali em pé capaz de deter o vilão e lutou cara a cara com ele para tentar recuperar Hank. E foi em vão. Ultron dizia que agora Pym estava em paz, admitindo ser o vil homem que era. Visão se levantou em seguida, mas negou qualquer semelhança com seu "pai", nada de ser seu "reflexo". Em vão, Visão tenta arrancar a consciência de Pym ali de dentro da carapaça de Ultron mas é derrubado.


E esse seria o fim se por acaso Eros não entrasse em ação com seu grande dom. Tocou o robô e inverteu toda a Ira de Ultron por amor próprio. Aquilo desencadeou uma série de lembranças do primeiro dia em que o robô foi criado e não passava de uma torradeira gigante. De um lado, Ultron viu que de fato suas primeiras conclusões como máquina senciente eram o fim da humanidade e que seu criador, Hank, se assustou com os resultados e negou tudo. Já Pym relembrou que assim que viu as conclusões drásticas do robô para a humanidade, simplesmente decidiu que ela era defeituosa e a melhor solução seria destruí-lo apenas. De uma maneira fria, o doutor mal percebia que realmente tratou de forma inumana sua criatura. E aquele foi o momento crucial que gerou um vilão.

Em agonia, Ultron deixa a Terra e parte o profundo espaço para tentar entender-se melhor. Resta aos Vingadores por tudo de volta ao normal como era antes. Mesmo sem corpo, Janet enterra seu falecido Hank Pym e relembra que mesmo com todos os defeitos, o Gigante era alguém que lutava contra seu pior para ser alguém melhor. Isso o definiria de fato como um herói. De fato, um homem surpreendente.



E no espaço, um Ultron-Pym repousa em posição fetal aguardando o momento certo de despertar.

E assim encerramos mais uma Graphic Novel com um baita nível. Apesar de ser um roteirista de altos e baixos, Rick Remender consegue ser excepcional quando está afiado. E em A Ira de Ultron percebemos que ele foi certeiro e muito profundo diversas vezes na questão do complexo de Édipo de que sofre Ultron. Provavelmente foi uma das vezes em que a questão foi trabalhada de forma mais madura e haverão reflexos disto em breve na Marvel. A arte de Opeña ajuda bastante aqui, deixando um ar muito mais sci-fi e menos heróico na história. E outro adendo que vale se notar é a presença de Kurt Busiek na introdução, um dos roteiristas dos Vingadores que no passado mais sobre trabalhar com o vilão em suas histórias.

Coveiro

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