quarta-feira, 22 de junho de 2016

X-Force: O Fim (e todas as reflexões que ele traz)

Com esse texto, chegamos ao fim da última série da X-Force. Será que a equipe conseguiu deter Fantomex? Será que Cable (o verdadeiro) conseguiu ser curado? Será que Esperança conseguiu despertar do seu coma? As respostas para essas e outras perguntas são dadas no final, mas são as reflexões que ele traz consigo que se tornam o grande diferencial dessa série sensacional.



Já começarei essa resenha dizendo que a resposta para as três perguntas acima é "sim". Mas, para essa última resenha da série (a propósito, as histórias que a encerram foram publicadas nas edições 024 e 025 de X-Men Extra, são roteirizadas por Simon Spurrier e ilustradas por Rock-He Kim), pensei em fazer algo diferente: dessa vez, não vou comentar em detalhes o que acontece na história. Posso dizer que Esperança novamente fez uso de seus poderes "deus ex machina" – mas, como Fantomex se tornou um "diabolus ex machina", ela precisou usar o cérebro e as pistas deixadas nas edições anteriores (lembram o que Volga explicou sobre seu vírus? E como Fantomex conseguiu controlá-lo? Pois é.) para resolver os três problemas em questão. Posso dizer também que a Panini mostrou seu lado trollador com o Homem-Nulo: não sabe quem é ele? É o mesmo cara que, em menos de um ano, já se chamou Longedosolhos e Esquecível. Considerando que no exterior ele manteve um único codinome ("ForgetMeNot"), só posso deduzir que a equipe de tradutores fez uma pequena brincadeira (ou não), sendo afetada pelos poderes dele a ponto de esquecer quem ele era e por isso mudando constantemente o codinome dele em português. Sendo intencional (ou apenas falta de revisão), acabou sendo uma boa sacada.

De resto, não contarei o que mais a história mostra (claro que as imagens aqui já vão entregar alguns spoilers); deixo aos leitores a opção de ir atrás dessas histórias e lê-las ou não. Em vez disso, gostaria de usar esse espaço para falar sobre essa série como um todo. X-Force infelizmente parece ter passado batida por boa parte dos leitores brasileiros, assim como aconteceu nos Estados Unidos (onde teve vendas baixíssimas). E, sinceramente, não posso culpá-los por isso: o combo falta de divulgação (por parte da própria Marvel) + personagens pouco populares (Psylocke e Cable sendo os únicos realmente conhecidos, e mesmo eles estando longe do apelo de um Wolverine, Tempestade, Vampira ou Ciclope) + arte irregular + primeira edição confusa certamente contribuiu para afastar muita gente.

O que é uma pena, porque X-Force talvez tenha sido uma das melhores leituras que eu tive nos últimos anos. A seguir, explicarei o que achei de tão fascinante nela:



Condução da trama: como eu disse antes, a primeira edição possivelmente espantou muita gente, mostrando personagens totalmente descaracterizados. Mas quem deu uma chance à série e continuou lendo acabou descobrindo que as descaracterizações não eram erros, e faziam parte do contexto geral da trama: cada personagem tinha justificativas para agir da forma como estava agindo – Spurrier simplesmente preferiu surpreender os leitores dando essas explicações aos poucos, em vez de mostrá-las desde o começo.

Ainda sobre a trama, dois pontos chamam bastante a atenção: nenhuma edição pareceu ser usada apenas para "encher linguiça", e nenhuma pergunta foi deixada sem resposta ou respondida de forma sem sentido. Basta ler edição por edição para perceber que, de certa forma, tudo está conectado: o vírus de Volga, as ações de Cable, a organização Olho Amarelo, a corrupção de Fantomex e a forma como Esperança salvou o mundo. Ver uma narrativa tão coerente, sem arcos descartáveis ou sem a falta de mais arcos, é algo muito difícil de ver hoje em dia.



Heróis quebrados: não é segredo para ninguém que me conhece que a Psylocke é minha personagem favorita dentro do universo Marvel. Isso talvez faça muita gente se perguntar como eu posso gostar de uma história que mostra ela completamente desestabilizada emocionalmente. A verdade é que essa desestabilização já vem de longa data; nessa equipe, não só ela como todos os outros integrantes já vinham passando por crises. O problema é que, em vez de tentar se curar, eles preferiram fugir dos seus problemas e se entregar às suas vontades, achando que fazer parte da X-Force permitiria usar suas crises para um fim útil. Óbvio que isso não deu certo, e todos chegaram – tanto individualmente quanto como equipe – ao fundo do poço. O que nos leva a outro ponto...

Desconstrução dos anti-heróis (ou: o resgate dos valores): ...Nos últimos anos, o super-herói "certinho", com valores éticos, é frequentemente visto como "chato" e perde espaço para o "anti-herói", o "cara fodão", que não tem medo de tomar medidas questionáveis em nome do bem maior. O problema é que, como Spurrier mostrou em X-Force, é muito fácil se perder nessa postura dos "fins que justificam os meios", e chega uma hora em que já não é fácil dizer quem é o herói e quem é o vilão (sagas como Guerra Civil e Vingadores vs. X-Men mostram bem isso).

Isso fica particularmente claro quando Esperança revela os segredos de todos, e percebemos que o grande vilão da história não era Volga, nem Mojo, nem mesmo Fantomex... mas sim o próprio Cable (e/ou seus clones), que não teve qualquer escrúpulo para manipular seus próprios colegas e causar indiretamente inúmeras mortes em nome da proteção dos mutantes (e vocês achando que o Ciclope era radical...). Felizmente, o contato da equipe com MeMe (a verdadeira) e com Longedosolhos/Esquecível/Homem-Nulo/sei-lá ajudou-os a perceber como chegaram ao fundo do poço e salvar não só o mundo, mas também salvar a si mesmos de seus hábitos destrutivos.



Fugindo do padrão: X-Force também me marcou por seguir caminhos que não são muito comuns nas revistas "mainstream" da Marvel. Quem esperaria, por exemplo, que Pete Wisdom e o MI-13 fossem dar as caras novamente? Que o Mojo poderia se tornar uma ameaça séria para toda a população mutante? Que as maiores ameaças enfrentadas partiriam dos próprios heróis? Que os maiores heróis fossem um cara calvo com sobrepeso (eu ainda pretendo fazer cosplay do Longedosolhos em alguma convenção de HQs. É sério.) e uma adolescente sem qualquer esperança de acordar? Que o suposto protagonista da história seria substituído por clones e só participaria da história pra valer na última edição?

Vale destacar que Rob Liefeld chegou a dizer que originalmente teve a ideia de colocar o Cable nos anos 90 como vários clones de si mesmo, mas foi vetado pela Marvel. Bom, considerando que estamos falando de Rob Liefeld, tenho minhas dúvidas de que ele faria isso de uma forma aceitável, mas enfim...

Vozes dissonantes: não sei se vocês concordariam comigo nessa, mas algo de que gostei muito em X-Force foi ver como cada personagem falava como uma pessoa distinta, tinha sua própria "voz". Isso fica mais claro quando um personagem narra a história, mas mesmo nos diálogos, é possível perceber a personalidade de cada um - eles não são "intercambiáveis" (vide algumas equipes de super-heróis onde você pode trocar o personagem debaixo de cada balão e não faz diferença nenhuma).



Enfim, para quem está pensando: "Pô, mas você não foi nada imparcial na sua resenha", só posso dizer que você tem toda razão. A demora nas minhas resenhas da X-Force (a propósito, desculpem mesmo por esses atrasos enormes entre uma resenha e outra) podem parecer falta de interesse, mas é exatamente o contrário: demorava para escrever justamente porque, em meio a tantas atividades e problemas, eu sabia que um texto feito às pressas não ajudaria a expressar o quanto eu gostei dessa série.

Sei que alguns de vocês detestaram, e que a maioria nem leu. Mas, para quem gostou (ou pelo menos para quem queria saber o que estava acontecendo nessas histórias sem precisar lê-las), espero que vocês tenham gostado de ler esses textos tanto quanto eu gostei de escrevê-los! Muito obrigado ao Coveiro por ter me dado a oportunidade de escrever sobre essa série, e muito obrigado a todos vocês que leram e comentaram esses textos (mesmo que pra dizer que eles são uma droga)! Nos vemos em breve por aqui nas próximas semanas; afinal, X-Force pode ter acabado, mas as histórias do universo X continuam...

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