sexta-feira, 27 de abril de 2018

Resenha 616: Vingadores: Guerra Infinita é épico, o filme mais com cara de quadrinhos já feito pela Marvel



Sair da primeira sessão em que se assiste Vingadores: Guerra Infinita e imediatamente sentar na frente do computador pra juntar tudo o que o filme foi capaz de transmitir pra você, certamente é uma das tarefas mais difíceis que já fiz para o site. Afinal, o filme é um turbilhão de emoções,  junto a elas segue uma tonelada de informações empolgantes para você processar e mistura tudo isso com aquela sensação de que você não quer que aquilo ali acabe nunca, e quando finalmente acontece, é como se Thanos tivesse dado em seu estômago o seu melhor golpe com a manopla.

Vingadores: Guerra Infinita não é um filme simples de se digerir. Não é o filme em que você vai encontrar aquela velha fórmula de narrativa que te apresenta elementos no começo e segue evoluindo as ideias e contexto até descambar num clímax e desfecho final. Não.  Ele é um filme em que se confia plenamente que você, eu, nós todos levamos 10 anos para conhecer tão intimamente esses personagens que entendemos eles melhor que nossos mais próximos amigos. E a Marvel sabe que podia apostar nisso, seus 10 anos não são marcados apenas por filmes de boa bilheteria, mas também por mudar nosso jeito de ir aos cinemas. As regras foram quebradas, a ideia de franquias serem autocontidas  e uma história entre filmes ter que no máximo se fechar no número três foi ignorada completamente a partir do momento em que os heróis passaram a se cruzar, visitar a casa um do outro e literalmente criar um universo bem conhecido que transcendeu aos leitores e conquistou um monte de gente.



Sendo tão bem familiares todos os nossos heróis ali, os diretores de Vingadores: Guerra Infinita Joe e Anthony Russo sabiam que todos os esforços deveriam se concentrar na história em si, aquela cujas peças já estavam espalhadas no tabuleiro ao longo desses 10 anos, as joias do Infinito e naquele que estava determinado a reuni-las, o Titã louco que vinha perambulando em cenas pós-créditos conhecido como Thanos, vivido por Josh Brolin. Feito dessa maneira, o filme opta então por ser todo ele um gigantesco terceiro ato, realmente uma culminação daquela história lateral que vinha sendo montada até chegarmos a este ponto. Do começo ao fim, o clima de emergência e perigo iminente nos cerca, e não há momento para piscar. Você tem a sensação clara de que tudo está para acabar, e com o coração a mil temendo que esse ou aquele personagem que você mais goste encontre seu fim. É difícil aqui até escolher qual cena de ação seria a preferido, pois o filme basicamente é um frenesi só e, sem exceção, não há um combate ruim.


Orquestrando esse apocalipse, está lá nosso vilão Thanos, tendo já a obrigação de saciar toda a expectativa que foi previamente criada em cima dele desde que surgiu pela primeira vez em 2012. Não é a toa, portanto, que o personagem de antagonista divide o papel ali também de protagonista em certo modo. Para não correr o risco de cair no cliché de déspota que  só quer o poder absoluto e dominar a galáxia, Thanos tem uma crença muito segura de sua finalidade nessa existência, e por mais cruéis que sejam os meios, há um objetivo final que ele pensa ser o certo. Os leitores de quadrinhos fã do trabalho de Jim Starlin certamente esboçaram um sorriso no rosto ao ver uma explicação de seu plano de “balancear” a vida no universo totalmente inspirado no arco “Renascimento de Thanos” que antecede a minissérie do Desafio Infinito. O filme aqui só fez, numa decisão muito coerente, deixar de lado a parte mais subjetiva da personificação da morte, e deu diretamente ao Titã as motivações. Enfim, ele continua tendo os mesmos traços niilistas dos quadrinhos, mas não deixa de justificar suas ações, muitas vezes ele até dá entender que pode ser um fardo, mas que acredita que deve ser levado até o fim, passe por cima das pessoas que precisar.

O filme se torna em boa parte a história do vilão que quer se fazer compreender, não totalmente perverso, mas frio e calculista, apesar de uma ou outra vez deixar transparecer um certo apego/admiração/interesse por alguns dos personagens com que tromba no meio do caminho na busca pelas joias.  Já aqueles que o acompanham, seu séquito que só surgiram nos quadrinhos mais recentemente numa minissérie chamada Infinito de Jonanthan Hickman, a Ordem Negra, faz o papel de serem mais viscerais, brutos e maus por essência. Mesmo com pouco tempo de tela dado a cada um, é possível ver particularidades diferenciando cada um. Fauce de Ébano, um “filho de Thanos” que adora o Titã como se fosse um deus a ser cultuado, é certamente o que mais chama atenção. Mas em todos ali, por mais fiéis que sejam, percebe-se no fundo uma ponta de medo em falhar e decepcionar Thanos, algo sutilmente colocado pelos roteiristas e que remete aos mesmos traumas que Gamora e Nebulosa já demonstravam ter nos filmes dos Guardiões da Galáxia.



Outro ponto que merece ser destacado na narrativa é que sendo as joias finalmente o foco principal do enredo, elas mereciam ser usadas de toda forma e criatividade possível. Pelo menos em algum momento diferente do filme, cada joia foi usada da maneira devida, revelando uma faceta do que elas podem fazer de tão especial.  E isso no leva a uma série de cenas visualmente impactantes, porém lindas. Mesmo que você fique um tanto em dúvida de qual poder em especial estava  sendo  usado no momento, a manifestação  de cores diferentes te ajuda a saber se era a realidade que estava sendo manipulada quando nuances em vermelho, ou se era o espaço via uma fumaça azul ao redor do portal ou mesmo um roxo crepitante e destrutivo que simbolizava o uso da joia do Poder. Em sumo, nossos seis MacGuffins do passado foram promovidos quase a personagens com particularidades, apesar de obviamente permanecerem inanimados, nas mãos de Thanos.


Então, chegamos ao momento de falar dos nossos heróis, cujo excesso deles podia prejudicar qualquer outro que encabeçassem isso, mas não foi o caso dos irmãos Russo. Sem necessitar apresentações, a ideia era pegar todos eles e misturá-los em combinações inéditas e ver como essas interações funcionavam. Algumas delas, obviamente, eram mais que esperadas pelos fãs, como foi o caso do Tony Star de Robert Downey Jr e Stephen Strange de Benedict Cumberbatch, que rendeu muito bem apesar de serem personagens com conceitos tão diferentes. Os egos exaltados dos dois personagens gerou a melhor mistura e entregou muitos momentos divertidos. E se alguém achava pouco, imagine quando o Peter Quill de Chris Pratt se junta a eles. Thor, vindo direto de sua guinada mais cósmica e divertida que foi o Ragnarok, teve provavelmente o arco mais digno já feito com o personagem num filme dos Vingadores. Ele deu tão certo ao lado dos Guardiões que parecia fazer parte daquela família desde sempre, e juntá-lo aos dois personagens mais cartunescos da história, foi a melhor solução pro filme.  Já ao Capitão Steve Rogers de Chris Evans  coube como o grande líder que é arregimentar o maior montante de Vingadores e heróis ao seu lado e cuidar da maior linha de defesa já feita na Terra. Qualquer impressão grandiosa que os trailers podem ter te passado sobre a batalha de Wakanda não é realmente nada comparado ao que se vê no produto final desse filme. É gigantesco.



Continuar  a falar em particular de cada personagem aqui é acabar correndo o risco de pisar na linha tênue dos spoilers, então vamos deixar para você se surpreender por completo ao assistir o filme pela primeira vez. Prometemos nos aprofundar pra valer no momento certo em nosso futuro podcast especial sobre o filme. O que importa é saber que se você é um fã que começou com tudo isso há 10 anos acompanhando tudo que foi feito pela Marvel Studios, vai ser bem servido com uma série de referências visuais e faladas dos outros 18 filmes do passado.  E se você é um leitor marvete, vai encontrar ainda mais easter eggs ou inspirações diretas das páginas dos  quadrinhos. Não foi só de enfeite que num dos primeiros vídeos de divulgação deste filme vimos um omnibus de Desafio Infinito cheio de post-it separando páginas . O filme como um todo, é feito pra isso, presentear-nos com esses brindes em meio a toda história tensa que é contada.

Quando o filme termina, antes dos créditos levantarem. Dá pra sentir nos olhos das pessoas ali, principalmente quem não está lá muito acostumado com a leitura dos gibis, que o filme (e primordialmente o final incomum) mexeu com a maioria. Um aviso discreto relembra que teremos um retorno, mas algumas coisas foram de fato fechadas aqui e muita gente vai acabar indo para casa intrigada e remoendo por ter que esperar um ano ainda para ver como essa história vai continuar.


Como citei anteriormente, não é um filme fácil de digerir, mas a complexidade de Vingadores: Guerra Infinita pode ser encarada de uma boa forma.  Passado o choque inicial para o espectador mais desavisado, estimula ele ir atrás das sutilezas que ele deixou passar nos filmes anteriores e retornar ao cinema com a curiosidade instigada e a atenção a todo vapor. Já para nós, que amamos falar todo dia disso e não deixamos de elucubrar ideias e teorias, é puro deleite. Vingadores: Guerra Infinita, de todos os filmes até agora da Marvel Studios, é o que tem mais sabor de uma história em quadrinhos. É uma narrativa enxuta na transposição entre cenas, deixando para o espectador e sua criatividade preencher as lacunas que não foram mostradas e que tomariam tempo de tela desnecessário. As cenas de ação são insanas, te colocam com o coração na boca como é de praxe nos filmes dos Russo. É o nosso sonho sendo realizado ao ver as megalomaníacas brigas de heróis finalmente saírem das páginas.. Por fim, o espaço  entre a comédia e a tensão emocional são muito bem casados e até ajudam a ter soluções mais fáceis ao juntar pela primeira vez tantas personalidades diferentes juntas.

E pra fechar a resenha por aqui, vale o lembrete de ficar até a cena pós-credito final, que remete ao papel mais parecido com as dos primeiros filmes dos heróis, que serviam quase como teaser do próximo capítulo da Marvel Studios. Mas falaremos dela no nosso podcast, assim como das muitas participações especiais que nos surpreenderam. Vai ter muito assunto. Até lá!

Coveiro

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