segunda-feira, 23 de abril de 2018

X-Men e Inumanos: Morte dos Mutantes

Desde que o planeta foi refeito com o fim das Guerras Secretas, há um “vácuo” nas histórias envolvendo os Inumanos e os X-Men: sabemos que seus povos não estão nas melhores relações entre si, e que Ciclope não só é dado como morto, mas aparentemente fez algo terrível o bastante para ser odiado pelo mundo todo, mas nunca tivemos as explicações para isso. Bom, esse vácuo finalmente foi preenchido, com as revelações da minissérie Morte dos Mutantes.



Normalmente, eu costumo fazer resumos detalhados das histórias e terminar com uma opinião curta sobre ela. Aqui, tentarei fazer o contrário; afinal, é difícil evitar comentários sobre uma história polêmica como Morte dos Mutantes...

Mas antes, vamos aos detalhes sobre ela: a minissérie foi publicada na íntegra em Universo Marvel 16. Foi escrita por Jeff Lemire (Extraordinários X-Men) e Charles Soule (Fabulosos Inumanos) – o que, em tese, deveria ajudar a balancear a imagem das duas equipes – e desenhada por Aaron Kuder. Ah sim, e como dito antes, ela se passa antes do começo das fases atuais dos X-Men e Inumanos, então não estranhem que os personagens estão com seus uniformes pré-Guerras Secretas: dessa vez, não foi falha dos editores, foi intencional mesmo.

Enfim, a fase atual dos X-Men é vista por muitos leitores como resultado de um boicote por parte da Marvel (que na ocasião não tinha os direitos cinematográficos deles), que estaria tentando afundar os mutantes e substituí-los pelos inumanos – que, de um grupo pequeno e fechado, de repente ganharam novos representantes (os Neo-Humanos, que tecnicamente não deixam de ser inumanos) surgindo em todas as partes do mundo após as névoas terrígenas chegarem à atmosfera da Terra.

Assim como esses leitores, também vejo isso como uma forma de diminuir o papel dos mutantes no universo Marvel. Ao contrário de muitos desses leitores, meu incômodo foi única e exclusivamente com a própria Marvel, não com os inumanos: na verdade, se considerarmos os mutantes como uma metáfora para as minorias sociais, faz todo o sentido que haja mais de um povo representando diferentes minorias, assim como acontece no mundo real, e é interessante para vermos como elas interagem entre si e como a sociedade vê cada uma delas. Essas interações, semelhanças e diferenças entre os dois povos em questão é algo que pretendo comentar melhor durante Inumanos vs. X-Men.



Infelizmente, o florescimento da população inumana teve um custo altíssimo: durante uma visita à Ilha Muir, um grupo de X-Men liderado por Ciclope (e com Homem de Gelo na formação; pelo jeito os dois fizeram as pazes logo que o planeta foi refeito após as Guerras Secretas) descobriu todos os mutantes que viviam ali mortos, incluindo Jamie Madrox e suas inúmeras cópias. Antes de morrer, Madrox contou que eles estavam estudando as duas nuvens terrígenas (ué, não era só uma? Calma, isso será explicado adiante...) e que foram elas que mataram todos eles – informação confirmada pelo Fera (o do presente, que pelo jeito também fez as pazes com Scott) após receber os dados das pesquisas.

A partir daí, tensões começaram a surgir entre os dois povos, o que só piorou quando “Ciclope” emitiu uma mensagem psíquica para todas as pessoas no mundo acusando os Inumanos de mentirem sobre os efeitos das névoas e de colocarem em risco mutantes... e humanos, o que logicamente deu início a atos de violência contra inumanos que nem tinham nada a ver com as decisões da Família Real. Medusa e Tempestade fizeram um acordo para localizar e resgatar mutantes no caminho das duas nuvens, mas aí vemos como as relações ficaram delicadas: uma decisão de Cristalys de colocar todo mundo pra dormir sem avisar os X-Men quase causou uma luta entre as duas equipes – felizmente (ou não), Magneto seguiu ordens de Emma Frost e apareceu para prender as duas equipes ali, enquanto “Scott” punha em prática seu plano para destruir uma das nuvens.



Para isso, ele recrutou vários mutantes, incluindo Solaris e o jovem Alquimia. A Família Real bem que tentou detê-los (a propósito, Dentinho BIAS!!... acho que eu preciso parar de escutar k-pop), mas Alquimia conseguiu mudar a composição da nuvem, ao custo de sua própria vida. Acuado pelos Inumanos, “Ciclope” deixou claro que não iria parar por ali para salvar seu povo e não se importava em perder a vida para se tornar uma ideia – afinal, ideias nunca morrem. Com o aval de Medusa, Raio Negro usou sua voz para exterminar o líder mutante, na frente de todo mundo...

...Ou assim quase todos pensam até hoje. Durante o funeral que os X-Men fizeram para Scott (uma surpresa, considerando que os mesmos X-Men falam dele como um monstro nas histórias atuais), Emma revelou em segredo para Destrutor a verdade: Ciclope morreu pouco depois de chegar à Ilha Muir, e todas suas aparições e atos desde então foram projeções mentais criadas por ela para manter sua memória e seus ideais vivos – nessa hora, vale reler toda a minissérie e identificar as várias pistas deixadas nela indicando essa revelação. Afinal, “ideias nunca morrem”.



Quando essa minissérie foi publicada nos EUA, minha primeira sensação foi de que não fazia sentido nenhum todo o ódio em cima do Ciclope, já que ele não matou ninguém. Hoje, porém, associo ele ao caso de Dinastia M: se as duas nuvens tivessem sido destruídas, e com os cristais terrígenos não existindo mais na Terra, isso significaria que o povo inumano estaria fadado à extinção. Some-se a isso a projeção mental jogando o mundo todo contra os inumanos, e dá pra entender um pouco desse ódio – embora ainda não justifique ele ser colocado no patamar de vilões que já fizeram coisas muito piores. Também é estranho ver que a cena do Raio Negro “matando” Scott a sangue frio foi vista pelo mundo todo (aliás, como a projeção psíquica da Emma foi gravada em vídeo, não fazemos ideia...), mas ninguém pareceu se incomodar.

A revelação no final de Morte dos Mutantes, ao mesmo tempo, “limpa” a imagem de Ciclope (pelo menos com os leitores) ao mostrar que não foi ele que fez tudo isso. Quanto à Emma, bem... há indícios de que ela esteja à beira da loucura (vide as cenas dela falando a sós com “Scott” e o rosto brilhantemente desenhado por Kuder no último quadrinho), mas as ações dela são lá compreensíveis: ela viu seu amado morrer por culpa dos Inumanos (mesmo que Raio Negro não tenha realmente estraçalhado ele com sua voz, foi Blackagar quem liberou as névoas, então ele não deixa de ser tecnicamente o assassino de Scott) e buscou ao mesmo tempo vingança e uma proteção para os mutantes – e vejam só, ela conseguiu as duas coisas! Há quem veja essa minissérie como uma transformação da Emma em uma vilã, mas acho que ela está mais próxima de uma anti-heroína, nos moldes do atual Magneto. Até porque, como veremos no prelúdio para a saga Inumanos vs. X-Men, a necessidade de destruir a primeira nuvem terrígena era muito mais urgente do que a própria Emma imaginava.

Alguns pontos continuam não fazendo sentido, como o ódio de Illyana por Solaris visto em Extraordinários X-Men por ele ter sido cúmplice de Ciclope – quando esta minissérie revela que ela mesma também foi cúmplice. Apesar disso, considero o saldo final positivo, e uma boa introdução para Inumanos vs. X-Men. Falaremos da saga em breve; não percam!

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