Foi uma grata surpresa quando na San Diego Comic Con, o painel do Punho de Ferro revelou que a personagem misteriosa que a atriz Alice Eve viveria na segunda temporada seria uma tal de Mary Walker. Para os leigos, seria um nome que passaria batido, mas todas as sirenes de alerta se acederam na cabeça do leitor de quadrinhos neste instante. Mary Walker não é um nome qualquer no universo da Marvel, principalmente se tratando do cenário urbano onde os seriados da Netflix se passam. E se por acaso a pessoa ainda não se deu conta, adicione o pseudônimo "Tifóide" e faça uma pesquisa rápida para saber que ela é uma das grandes antagonistas do Demolidor
Diretamente dos quadrinhos, mais especificamente da fase escrita por Ann Nocenti e John Romita Jr, Mary Alice Walker seria um nome de peso de menor impacto que a Elektra, mas ainda assim interessante o suficiente para fazer os fãs do Demolidor darem uma chance necessária a ver a série do Punho de Ferro mesmo que não se agradasse da personagem. E a escolha para a performance dela foi bem acertada. Mary Walker foi brilhantemente trazida a vida por Alice Eve. Sua atuação é extremamente realista, se comunicando mais por olhares ora vagos e ora alucinados do que qualquer palavra que pudesse traduzir melhor sua disfunção de múltipla personalidade. Quando está como "Mary", ela é doce e pacata; Quando está como "Walker", é uma assassina fria, habilidosa e profissional. É uma característica marcante da personagem nos gibis que foi preservada na série. No entanto, a "Mary" nos quadrinhos chegou até mesmo a se relacionar romanticamente com Matt Murdock, algo que se insinuou brevemente a acontecer com Danny, mas que no fim ficou mesmo só na "amizade"
As duas personalidades não sabem o que uma faz, e no fundo se odeiam. É bem curioso perceber que há a disputa pela prevalência do mesmo corpo. E como por mais que se tente, não dá pra impedir para sempre a troca da personalidade, basicamente as duas se comunicam através de post-its e recados. Na trama, Walker foi contratada por Joy Meachum e Davos para espionar e na hora certa conseguir capturar Danny mesmo com sua poderosa arma em seu punho e para tal mudou-se para Chinatown num lugar não muito longe do antigo Dojo de Colleen Wing. O que ela não esperava é que sem querer a personalidade de "Mary" esbarrasse com Danny no meio da rua, ficassem amigos e que ela começasse a sabotar o seu outro "lado". É realmente um brinde a mais que a série ganhou, concatenou bem com a trama e não pareceu de modo algum apenas um "filler" do enredo.
Mas não para por aí. A série sugere no seu final que uma terceria personalidade existe e seja a pior de todas. Foi ela que acabou vindo a tona no pior momento de Mary Walker, quando estava presa, sendo torturada e abusada no seu tempo como Militar. Foi essa estranha e inédita personalidade que a livrou do cativeiro e no processo causou um verdadeiro massacre de seus opressores. Ela ainda não foi nomeada no seriado, mas eu apostaria que a série vai chamá-la de Tifóide... ou Bloddy Mary. Se assim for, Alice Eve terá um papel extra e bem fora das duas já que se seguir a versão dos quadrinhos, essa outra personalidade é uma insana psicopata completamente fora de controle.
No pouco do passado que foi mostrado dela antes de desenvolver o distúrbios, descobrimos que Mary Walker era uma operativa das Forças Especiais do exército e que acabou sendo capturada em uma missão em Sokovia, o que faz uma bela ligação com o UCM e me faz pensar se no futuro não seria bacana ela ter se esbarrado com Helmult Zemo no passado. Foi em meio a uma grande tempestade que ela se libertou de forma misteriosa e começou seus problemas de alterego. Nesse cenário, Mary achou que Walker é quem a salvou. Já Walker não se recordava deste momento. Assim, surge a suspeita dessa terceira personalidade que sequer chega a se manifestar em tempo de tela e fica pra ser desenvolvida depois. É curioso ver que as válvulas de escape dela sejam barulho de chuva ou água caindo, assim como no dia em que se libertou do cativeiro. Já a personalidade de Walker surge nos momentos de maior tensão. Mas o que disapararia a "Bloody Mary" ou "Tifóide"?
Vale ressaltar antes de continuar aqui que diferente da série, a Mary Walker dos quadrinhos não teve seu trauma na vida adulta pra começar a sofrer com essa doença, mas assim quando era criança, uma criança que foi abusada e desde então apresentou esse distúrbio e só foi piorando a dissociação com o tempo. Ela nunca foi uma ex-militar, mas já teve um momento trabalhando já como Detetive Particular. Inicialmente, vale ressaltar que ela só tinha duas personalidade - Mary Walker e Tifóide. Somente depois, ela ganhou três níveis como "Mary", "Walker" e, uma versão mais sádica da antiga Tifóide, a "Bloody Mary". Poderia citar uma quarta e muito breve personalidade que surgiu também durante a fase dela na Iniciativa Vingadores, a Mutante Zero, mas talvez seja melhor nem entrar em detalhes.
Alguns detalhes visuais como seu rosto com metade maquiado foi deixado até então fora da série, contudo seus dois facões 'machetes' estava ali presentes. Contudo, a grande diferença até agora da série pra os quadrinhos seja a natureza mutante da personagem. Até o presente momento, a série de TV não revelou poderes "mutantes" como a telecinesia, limitado controle mental e pirocinesia que Mary Walker tem nos quadrinhos. Contudo, agora que temos a venda da FOX, quem sabe isso esteja guardado pro futuro.
Por fim, um último e curioso detalhe que a série colocou quase como um easter egg foi que em dado momento a personalidade "Walker" cantarolava a música "Monday Monday" de The Mamasa & The Papas, e isso tem uma ligação direta com uma história dos quadrinhos com a personagem cantando essa mesma canção na fase escrita por Brian Michael Bendis (mais precisamente, na edição #46).
Graças a Alice Eve, a personagem mostrou a que veio nesta temporada, muitas vezes roubando cena dos dois antagonistas. Contudo, os fãs gostariam de ver na verdade ela e Matt Murdock juntos. Talvez até se relacionando de forma mais íntima como foi nos quadrinhos. E seria perfeito se a nova personalidade Tifóide se revelasse como uma assassina a serviço do Rei do Crime. Espero que pela deixa aberta no final desta temporada, Alice Eve não demore pra transitar para a série vizinha e renda aquelas boas histórias da fase do Demolidor escritas por Ann Nocenti.
Coveiro
