domingo, 7 de fevereiro de 2010

616 entrevista Jackson Hebert

Direto da Paraíba, mesma terra onde surgiu um dos mais célebres desenhistas da Marvel, mais um nome se destaca no mercado americano de quadrinhos. Jackson Hebert, que teve suas origens no Estúdio Made in PB, e desde então conquistou seu espaço lá fora realizando trabalhos em Battlestar Gallactica, Sonja e outros projetos da Dynamite Comics, também desenhou como nas páginas de Vingadores/Invasores, minissérie lançada ano passado no Brasil.

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E ele é o primeiro entrevistado pelos 616s em 2010. Aqui, Hebert dá muitas informações complementando a entrevista que deu no Canal 616 de Janeiro. Saiba como começou sua carreira, como foi seu trabalho na série Battlestar Gallactica, o que ele achou de trabalhar pela primeira vez com os heróis Marvel, quais são seus preferidos e muito mais.

Coveiro:
Bom, Jackson, antes de começar gostaria de agradecer sua disponibilidade em responder essa entrevista, agora por email. Assim, esperamos conhecer ainda mais o trabalho que vem desenvolvendo lá fora. Então, pra começar, conta pra gente um pouco de sua história. Quando começou a se interessar sobre quadrinhos, que revistas começou lendo e quando viu que queria investir na carreira de desenhista?

Jack Hebert:
Bom, acho que como na maioria dos casos, eu comecei a me interessar desde criancinha, e sempre tentava me destacar como o melhor desenhista da escola... esse tipo de coisa... aos 9 anos vi uma matério no jornal falando sobre o Mike Deodato desenhando a Mulher Maravilha pra grande DC Comics, isso me empolgou bastante e eu comecei a querer seguir os passos desse paraibano. Mas só comecei a vislumbrar que era possível mesmo ingressar na carreira por volta dos meus 18 anos quando conheci o pessoal do Made in PB, e por tabela, o próprio Mike Deodato.

Jackson Hebert

Cammy:
Como conheceu o estudio Made in PB? Fala um pouco de como foi a sua chegada no grupo na época e a relação que tem com eles até hoje...

Jack Hebert:
Conheci o pessoal do Made in PB no ano 2000 quando eu deixei um desenho meu numa banca de revista. Lembro que o jornaleiro é que mostrou um desenho que eu deixei lá a um dos integrantes do Made in PB, consequentemente nos encontramos nessa mesma banca, e marcamos pra visitar o estudio. Chegando lá tomei conhecimento de um grupo de desenhistas de HQs, onde a maioria desenhava bem mais que eu! Lembro que fiquei muito empolgado em conhecer esse pessoal, e passei a aprender muito com eles, e até hoje sou membro efetivo do grupo.

Coveiro:
Bem, agora conta pra gente o começo de sua jornada no mercado lá fora. Como foi que a GlassHouse chegou até você e quais foram seus primeiros trabalhos?

Jack Hebert:
Ainda no ano 2000 o Deodato trouxe pra João Pessoa o David Campit que ia fazer algumas palestras aqui no Brasil, então o Deodato resolveu improvisar essa palestra do Dave para os desenhistas daqui da paraíba. E por sorte, eu ja estava com o pessoal do Made in PB nessa época, e tive acesso a essa palestra, que foi das 13h até as 21h . Utilizei esse conheciento que adquiri nessa época para o meu crescimento artístico, e 5 anos depois eu ja estava iniciando a minha carreira no mercado americano.

Joao:
E existe alguma preferência da sua parte entre trabalhar em uma editora grande como a Marvel e em uma "indie" como a Dynamite?

Jack Hebert:
Bem, existem muitas vantagens em trabalhar numa editora grande como a Marvel, tais como: salário, maior alcance de sua arte pelo mundo, poder trabalhar em um personagem que você cresceu lendo... mas como o próprio Ivan Reis comentou em um Pod Cast, um desenhista corre o risco de "sumir" trabalhando no meio de tantas feras ja conhecidas no mercado internacional. Com a Dynamite, eu consigo ter o destaque de que preciso pra poder fazer o meu melhor trabalho, e vejo que com o tempo isso se torna uma vantagem minha em relação a uma série de caras que começam com atropelos em uma editora grande. Então, nesse caso, eu prefiro estar na Dynamite e crescer junto com eles.

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Painkiller Jane, por Jack Hebert (2007)

Cammy:
Que tipo de desenho mais gosta de fazer? O que acha mais fácil e mais difícil por no papel??

Jack Hebert:
Gosto muito de desenhar cenas urbanas e contemporâneas. Também gosto muito de desenhar anatomia e perspectivas. O que acho mais difícil de por no papel são cenas com multidões. Ainda mais com os prazos que nós temos.

Eddie:
Jack Hebert antes de qualquer coisa também é um fã? O que você curte ler em matéria de quadrinhos atualmente?

Jack Hebert:
Por causa do meu compromisso profissional, não tenho como acompanhar quadrinhos mensais com regularidade, por isso aproveito para comprar os encadernados que são lançados por algumas editoras aqui no Brasil, assim eu consigo acompanhar algumas sériesde que gosto, o ultimo encadernado que eu li foi o "Wolverine: Inimigo do Estado", porque gosto muito do trabalho de romita jr como narrador, e do Millar como roteirista. Pretendo pegar o material do demolidor também que esta sendo lançado; Demolidor: o homem sem medo de frank miller e jhon romita jr e Demolidor: Demônio da Guarda do Kevin Smith com desenhos de Joe Quesada.


Rafael Felga:
Com qual escritor vc gostaria de trabalhar?

Jack Hebert:
Gostaria muito de poder trabalhar com o Mark Millar e o Brian Michael Bendis.

Logan vs Juggie
Wolverine vs Fanático

Coveiro:
E quais foram suas principais referências como desenhistas no começo de sua carreira. E hoje em dia quem você apontaria como um dos seus preferidos que está trabalhando atualmente no mercado?

Jack Hebert:
Minhas principais influencias foram Jim Lee, Greg Capullo e Mark Silvestri. Atualmente tenho influências de Mike Deodato jr., Brian Hitch, Lee Bermejo, Frank Frazetta e Ivan Reis. Os favoritos são: Deodato e Ivan Reis, na minha opinião, os melhores quadrinistas brasileiros da atualidade.

WOLVERINE
Wolverine, imagem usada para card na primeira HQPB

Brizola:
"Jackson, sou fã de Battlestar Galactica e queria que você falasse um pouco dos seus trabalhos nos quadrinhos da série."

Jack Hebert:
Até então eu não conhecia a série Battlestar Galactica. O que considerei um pecado, logo que passei a acompanhar a série de TV e assistir ao longa. Passei a consumir tudo o que saia de Battlestar Galactica, me tornei fã da série, e acho que isso me ajudou a desenhar a temporada zero (que era um prólogo oficial da série de TV), pois passei a conhecer realmente os personagens, e imaginar que expressões cada personagem faria de acordo com suas peculiaridades. Foi muito bom desenhar a série , inclusive na última edição ja desenhei com saudades dos personagens.

Battlestar Gallactica
Sketch para Battlestar Gallactica Season Zero

Brizola:
"Você conhecia Battlestar Galactica ou teve que pesquisar a respeito? Se conhecia, o que achou da nova versão? Se não conhecia, virou fã depois? E qual o seu personagem favorito de desenhar? E na série?"

Jack Hebert:
Bem, eu meio que respondi parte dessa pergunta na pergunta anterior rsrs. Mas sim, virei fã depois, e o meu personagem favorito é o Bill Adama. Lembro que no começo da série eu o detestava, mas ao longo da série passei a admirá-lo, é um personagem fascinante, e muito bom de desenhar, pois seu rosto é bem marcado e assimétrico. Poderia desenhá-lo mesmo sem referencia fotográfica.

Eddie:
Além da versão em quadrinhos de Battlestar Galactica, tem alguma série de Tv que gostaria de desenhar a versão em HQ um dia?

Jack Hebert:
Não, só Battlestar Galactica mesmo. Pois o ruim de desenhar adaptações de séries de TV é porque limita muito o artista. Principalmente pelo fato de ter que desenhar os personagens com os rostos como os dos atores.


Battlestar GallacticaBattlestar Gallactica


Battlestar Gallactica

Páginas interiores da série Battlestar Gallactica


Joao:
Existe alguma diferença relevante entre desenhar Battlestar Galactica, uma história de sci-fi e uma revista mais tradicional de super-heróis como Vingadores/Invasores?

Jack Hebert:
Existe muita diferença! Trabalhando com super heróis eu posso extravasar tudo o que eu penso sobre aquele personagem, meio que posso criá-lo a meu estilo. E nas adaptações de série eu tenho um formato a seguir, por isso que é bem mais limitado artisticamente.

Jackson Hebert
Cristal, por Jackson Hebert


Eddie:
Quando desenhou Vingadores/Invasores como se sentiu ao desenhar versões modernas e clássicas de heróis? Isso afetou sua arte de alguma forma?

Jack Hebert:
Me senti realizado, e feliz por poder mostrar as minhas versões deles para o público. E foi a primeira vez que eu pude mostrar que o meu estilo de art não é só algo realista, mas também algo que casa muito bem no gênero super herois.


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Arte interior de Vingadores/Invasores

Leo:
O Eddie falou sobre heróis clássicos e contemporâneos. Hoje em dia a linha que divide heróis de vilões é, por muitas vezes, tênue. Você, pessoalmente, gosta dessa complexidade ou sente falta da definição mais clássica de mocinhos e bandidos? E o que você prefere? Heróis ou vilões?

Jack Hebert:
Eu gosto dessa linha tênue sim, pois torna a estória mais interessante. E eu acho que prefiro desenhar mocinhos a bandidos.

Jesse James
Jesse James, série publicada pela Marvel (2009)

Joao:
Trabalhando em spin-offs de Project Superpowers você teve algum contato com Alex Ross? Se sim, como ele é profissionalmente?

Jack Hebert:
Sim, nos falamos algumas vezes por e-mail, e ele é um cara muito gentil , e parece que ele gosta mesmo do trabalho.

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Outra série de Dynamite: Superpowes: The Scarab Supremacy

Coveiro:
Fora Vingadores/Invasores, Superpowers e Battlestar Galactica, você fez outros trabalhos pela Dynamite Entertainment. Fala pra gente quais foram eles e como foi trabalhar nestes projetos.

Jack Hebert:
Sim, teve a Red Sonja que comecei fazendo as capas, depois passei a fazer as capas da Queen Sonja, e hoje faço a arte interna e a capa. Pra mim foi uma evolução suave, pois eu pude conhecer e me adaptar a personagem através das capas, e isso meio que ja me aproxima do público da Sonja para que pudessemos nos encontrar em Queen Sonja. Creio que não será tão fácil pois o público estava acostumado com o traço do Mel Rubi (desenhista do primeiro arco da Queen Sonja), o que aumenta a minha responsabilidade com o público.

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Sonja, o mais recente trabalho de Hebert na Dynamite

Joao:
Existe algum tipo de projeto no qual você não trabalharia de jeito nenhum?

Jack Hebert:
Acho que trabalho com quadrinhos pornôs é algo que eu gostaria de nunca ter que fazer, mas até faria se fosse algo que realmente eu precisasse para poder pagar as contas.

Eddie:
Quais personagens na Marvel você gostaria de desenhar e por que?

Jack Hebert:
Adoraria desenhar o Wolverine ou o Capitão América! Acho que porque o primeiro gibi que eu realmente lembro de ter chamado a minha atenção foi a X Men anual Nº 2 lançada aqui no Brasil, e tratava-se de uma aventura focada no Wolverine. Acho que desde esse dia que me tornei fã do personagem e creio que hoje eu poderia fazer um trabalho fantástico com a revista dele. E o Capitão pelo visual mesmo, gostei muito de desenhá-lo em Avengers Invaders e creio que poderia também realizar um bom trabalho na revista solo do Capitão.

Jackson Hebert

Coveiro:
Agora, falemos um pouco do que você anda fazendo atualmente, que é a arte interna de Queen Sonja. Como está sendo assumir os desenhos dessa personagem? E quais são seus futuros projetos? Dá pra dar uma dica pra gente do que está para vir?

Jack Hebert:
Atualmente estou desenhando a Queen Sonja, onde permanecerei por mais 2 arcos, e após a Queen Sonja vem um trabalho bem bacana na Dynamite, mas ainda não poderei revelar o que é, infelizmente.

Jackson Hebert

Joao:
Tony Daniel, em Batman, vem exercendo a função dupla de roteirista/desenhista. Você tem alguma pretensão em trabalhar na criação/redação de personagens próprios, ou mesmo com algum já existente? Há alguma criação original sua de que poderia falar e nos mostrar?

Jack Hebert:
Não não tenho pretensão em participar desenvolvendo roteiros, até porque foi uma coisa que eu naturalmente me mantive afastado, pois meu foco mesmo era ser desenhista, era interpretar roteiros e dar a minha leitura. E existem pelo menos uns 3 projetos autorais que eu venho desenvolvendo com alguns colegas meus, infelizmente não poderei dar mais detalhes, mas posso divulgar algumas imagens.

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Algumas imagens do projeto pessoal de Hebert


Coveiro:
Bom, Jackson, agradecemos a sua disponibilidade para responder nossas perguntas e esperamos muito em breve voltar a entrevistá-lo aqui, com um trabalho na Marvel. Obrigado e Sucesso!

Jack Hebert:
Muito obrigado a todos pela oportunidade de poder divulgar meus trabalhos, e sucesso!



Sonja
Sonja, num poster de divulgação da HQPB, que acabou virado capa

Bom, para quem não viu a entrevista do Hebert e do pessoal do Estúdio Made in PB, vale a pena clicar aqui e dar uma espiadinha. A matéria sobre o pessoal do estúdio feita em 2009 encontra-se aqui! E se acham que acaba por aqui nossa série de matérias sobre os desenhistas paraíbanos, saibam que estão redondamente enganados. Aguardem ansiosamente o Canal 616 de Fevereiro...

Editorial 616

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